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08 dezembro 2007

Sexo e Vida - Dr. Alberto de Almeida

Sexo e Vida

Em O Livro dos Espíritos lê-se na pergunta 200: “Os Espíritos têm sexo?” Respondem os imortais: “Não como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos”.

A energia sexual é inerente ao ser espiritual, se estruturando com o passar do tempo na longa viagem evolutiva do princípio anímico. Desde “o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo”, o potencial sexual vem se desenvol­vendo pelos reinos da Natureza Cósmica.

Desse modo, está no mineral desde a intimidade do átomo nas forças de interação atômica, até a força gravitacional sus­tentando os sistemas planetários na composição da harmonia das galáxias.

No vegetal, essa força se apresenta mais expressiva median­te a polarização sexual, quando o princípio germinativo é per­mutado através do vento, dos insetos etc.

Avançando para o reino animal, a sexualidade ganha novas dimensões, exteriorizando-se na sua feição instintual com os caracteres morfológicos e funcionais que consagram o macho e a fêmea.

Já no homem, a estruturação da energia criadora alcança nova amplitude ao se manifestar, de vez que ela deve estar conectada à razão, às emoções e à moral, a fim de atingir suas finalidades sublimes.

Portanto, a energia sexual incorpora novos atributos à me­dida que jornadeia da atração-mineral para a sensibilidade-vegetal, e desta ao instinto-animal, a fim de desaguar no senti­mento-hominal.

A energia sexual no ser humano
No espírito encarnado, portanto, as forças sexuais se mos­tram bem complexas nas suas funções

a) A reprodução: através dela, o sexo assegura a perpetua­ção da espécie, a estruturação do corpo físico, a constituição da família, a viabilização da Lei da Reencarnação.

b) A permuta de energias entre os parceiros da comunhão sexual, seja física ou espiritual.

Pela troca energética entre o casal, a sexualidade assume manifestação mais refinada, pois que ela se exterioriza de for­ma sutil como alimento magnético de sustentação das almas que se enlaçam num relacionamento sexual baseado na confi­ança e na fidelidade, no amor e no discernimento.

É nessa circunstância que se compreende a responsa­bili­dade recíproca daqueles que assumem um compromisso afetivo, tendo em vista a presença do circuito de forças fluídicas que se estabelece, quer a comunhão afetiva alcance a dimen­são física, quer se limite apenas à esfera psíquica, tal como su­cede nas relações amorosas em que, por algum motivo, não há o sexo propriamente dito.

Possível, portanto, se torna compreender a precariedade das relações estritamente genitais, posto que se assenta somente no corpo físico, deixando um grande vazio para as almas, a despeito de atingirem o orgasmo; sentem o prazer biológico, porém não experimentam o êxtase do amor, manifesto na complementação magnética plenificadora dos seres.

Fácil também é perceber o desperdício das energias de vida pela masturbação; os prejuízos da prostituição, dos encontros promíscuos, do sexo sem respeito.

c) A canalização da energia criadora para obras beneméritas do conhecimento e da estesia, da assistência social e do amor, na ampliação e concretização do progresso da humanidade.

Quando, por qualquer motivo, a energia sexual não dispõe da possibilidade de expressão pela via genitálica, ainda assim ela não se extingue, nem desaparece.

Esse potencial criador pode ser bloqueado pela castração indevida e gerar distúrbios de diferentes matizes para o ser, todavia, se canalizado adequadamente, é fator de saúde inte­gral, incrementando a evolução do espírito. Por isso, a alma que vive em abstenção sexual pela castidade com equilíbrio, pode e deve sublimar a sua energia procriadora para outras modalidades de expressão criativa, através da sua orientação para as ações no campo da cultura e da arte, da intelectualidade e do sentimento, da filantropia e da caridade, contribuindo para a expansão do bem, do belo e do bom na Terra.

A energia sexual jamais poderá ser aniquilada, seja por im­posição religiosa, seja por trauma psicológico, podendo, con­tudo, ser transmutada agenciando as grandes construções do espírito na escalada da evolução sem fim.

A Doutrina Espírita apresenta a sexualidade despida da conotação religiosa dogmática que consagrou o sexo pecami­noso, sujo, proibido e demoníaco; todavia também não legiti­ma a postura da sociedade contemporânea que forjou o sexo objeto de consumo, libertino, vulgar.

A perspectiva espiritista é da energia criadora, que necessita estar balizada pela razão e sentimento, pelo respeito e entendi­mento, pela fidelidade e amor, a fim de engendrar a plenitude e a paz. Um sexo para a vida, e não uma vida para o sexo.

A visão espírita
Emmanuel sintetiza com sabedoria o pensamento espírita:

“Não proibição, mas educação.

Não abstinência imposta, mas emprego digno com devido respeito aos outros e a si mesmo.

Não indisciplina, mas controle.

Não impulso livre, mas responsabilidade.

Fora disso é teorizar simplesmente, para depois aprender ou reaprender com a experiência. Sem isso, será enganar-nos, lutar sem proveito, sofrer e recomeçar a obra de sublimação pessoal, tantas vezes quantas se fizerem precisas, pelos meca­nismos da reencarnação, porque a aplicação do sexo, ante a luz do amor e da vida, é assunto pertinente à consciência de cada um.”

O Espiritismo resgata a visão crística da sexualidade bem definida no célebre encontro com uma mulher:

“...disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na Lei nos mandou Moisés que tais mu­lheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?

Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes dis­se: Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire a pedra.
...Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor.

Então lhe disse Jesus: Nem eu tão pouco te condeno: vai, e não peques mais.”

A proposta espírita é a da compreensão amorosa e educativa do ser humano. Nem apedrejamento, nem conivência culposa; nem julgamento arbitrário, nem a omissão da indiferença.

Só o amor desvelado por Jesus é suficientemente forte para controlar e direcionar o impulso sexual, na edificação da felicidade permanente.

Cristo ao indagar, por três vezes, se Pedro o amava, nos permitiu refletir simbolicamente sobre o amadurecimento do nosso potencial afetivo-sexual.

Sexo e evolução
Didaticamente situaríamos em três níveis esse crescimento:

a) o primeiro traduz um amor infantil, caracterizado pelo apego, desejo e posse; é a paixão egóica; o sexo é instintivo, egoísta, “para mim”.

b) o segundo revela um amor adulto, que experimenta o carinho, a solidarização; o ego está bem estruturado; o sexo é sentimento, partilha, “comigo”.

c) o terceiro descortina um amor sábio, expressando desapego, renúncia, sacrifício; há a transcendência do ego; o sexo é sublimação, doação, “a partir de mim”.

Daí precisarmos amar um pouco mais a cada dia, pra lograrmos cristificar nossa sexualidade.

Escrito por Dr. Alberto de Almeida
Artigo publicado na edição 07 da Revista Cristã de Espiritismo.

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