Total de visualizações de página

02 fevereiro 2008

A Expiação - Dr. Inácio Ferreira

A EXPIAÇÃO

Nem todos os lares são formados por Espíritos que se reúnem atraídos por questões passadas entre eles.

Muitos, atraídos por afinidades pessoais em uma ou várias existências, aqui se reencontram para, juntos, resgatarem dívidas recíprocas.

Por vezes, essas afinidades e necessidades de resgates não existem, entre eles.

A fim de pagarem, por si mesmos, faltas pessoais, são submetidos a reencarnações que poderíamos denominar de preparatórias e durante as quais sofrem tormentos contínuos passando por uma vida de provações capazes de modificarem os defeitos e inclinações adquiridos através de vidas sucessivas e que se entranham tão profundamente em seus perispíritos que nenhum conselho, razão desperta ou raciocínio foram capazes de modificar.

Possuem, também, a finalidade de servir como instrumentos de tormento, como provações para outros encarnados que a eles se ligam, a fim de que sofrimentos reflexos sejam capazes de despertar-lhes, também, melhores sentimentos. Se forças poderosas agem para a consolidação dos lares onde os sentimentos amadurecidos os amparam, também, permitem que as inclinações para o mal se cumpram, facilitando-as, até mesmo, a fim de que as conseqüências se façam sentir mais rápidas e com elas, melhores propósitos de regeneração. Um descuidado que sentiu o choque provocado pela eletricidade dificilmente repetirá o ato; um condenado, por um crime qualquer, não o cometerá segunda vez com a mesma facilidade. Para os recalcitrantes, para aqueles que voltam ao erro apesar das conseqüências pelas quais passaram e pretendem praticar outras vezes, ainda, essas mesmas forças poderosas impelem e facilitam mesmo, torturas maiores até ao esfalfamento com o propósito de, acumulando sofrimentos, apressar a caminhada. Neles ainda existem possibilidades de regeneração, motivo pelo qual são impelidos a colher, mais depressa, o resultado da sua semeadura. Os persistentes se regenerarão por outros meios, em outros mundos, onde as condições de vida se acham nos primórdios.

Na história daquele casal de velhos, pressentimos mais um caso para as nossas observações, porém, jamais pensávamos no valor de mais um ensinamento. Ele, com 72 anos de idade. Ela, com 64. Vinham até nós pedir interferência junto de autoridades policiais e políticas para dois filhos: um, foragido, sem notícias há 2 anos, e para o qual desejavam a complacência, atenuando a perseguição tenaz, a fim de que pudessem ver o filho, ainda uma vez, na vida; para o outro, que se achava, em casa, louco, acorrentado, vivendo em uma quase pocilga, a transferência para um Sanatório onde poderia desfrutar de mais conforto. Além deles, uma nora desvirtuada, perdida no torvelinho do mundo. Para si nada desejavam. O sofrimento havia sido tanto na vida, que dispensavam a proteção de Deus e as possibilidades da Medicina, tanto que a morte, naquela idade, com tantas preocupações e tormentos, representava um verdadeiro alivio. Viviam sós, na fazenda, bastante retirada, quase tudo no abandono, ouvindo, dia e noite, os gritos, os gemidos e as lamentações do filho louco. Por vezes, alguns vultos rondando pelas suas terras e nos quais pressentiam policiais, à procura do outro filho. Em cada canto e objeto, a lembrança daquela que, indiferente aos seus tormentos e idade, tudo abandonara.

Parecia mesmo, que uma rajada de desventuras havia assolado o campo das suas vidas destruindo tudo aquilo que procuraram levantar para o repouso da velhice - esperança nos filhos, amparo junto à nora, alegria com os netos futuros, embalados pela paz e tranqüilidade. Na verdade, a situação era bastante desagradável e nada mais representava, para nós, do que as contínuas tragédias dos lares, Espíritos reencarnados, viajares à procura da redenção. Quais os motivos que atormentavam a vida daquelas duas criaturas que viviam, agora, no campo das preocupações morais, colhendo o produto das suas semeaduras? Deveriam ser bem fortes, pois, até mesmo da Justiça Divina, nada mais esperavam. Feito o pedido para nossas observações, assim ouvimos:

“Possuíam uma fazenda, por herança, onde viviam ele, a esposa e dois filhos. Era um lar onde imperavam o egoísmo, a maldade e a inatividade. Arrendavam suas terras a várias famílias e sempre que essas, após um trabalho estafante, se alegravam à espera de colher o produto do seu esforço, plantações e criações, ambos instigavam os filhos a expulsá-Ias, não lhes permitindo levar nada e tudo faziam com requintes de maldade, indiferentes aos rogos, ao choro, à situação precária em que se viam envolvidas. Fortes, maus, os rapazes, instigados pelos velhos, cometiam os maiores absurdos contra aqueles infelizes, certos de que nenhum teria coragem de levar, perante a Justiça, as suas reivindicações. Afastavam-se, temerosos, impotentes, sofrendo humilhações, vivendo ao relento e passando fome até que pudessem arranjar novo serviço. Os velhos e os filhos se exultavam com os novos lucros e nenhum vislumbre de arrependimento ensombrava os seus corações.

Um dos últimos ao ser expulso, reagiu. Foi assassinado por um dos rapazes. Uma filha, sob gargalhadas e ditos brejeiros, infelicitada pelo outro. Atearam fogo ao casebre e os demais da família, esposa e duas crianças, soltas pelo mundo. Após reencarnações intermediárias aqui se acham de novo em provações e expiações. Novamente entregues à exploração de terras, mas já submetidos à Civilização, tempos diferentes daqueles em que a lei amparava os ricos e poderosos, nada ou quase nada conseguiram materialmente, porque os novos arrendatários não se deixavam explorar e eles ainda conservam o vício da indolência. Um filho foragido, inocente, mas sofrendo uma perseguição tenaz e caso interessante para a observação: em reencarnação passada foi um profissional, caçador de negros escravos foragidos. Sempre muito bem armado e montado, recebia régia paga para capturá-los. Forte, mau, impiedoso, conhecedor profundo dos sertões, se comprazia em perseguir, encontrar e apresentar aqueles infelizes para sofrerem castigos impiedosos. O que lhe agradava, sobretudo, era ver a correria daquelas criaturas escravizadas, os seus gestos, as suas posições, a fisionomia desfeita pelo terror, quando encontradas. A maldade era tamanha que chegava a soltá-las para, na recaptura, gozar daquele espetáculo. Agora, também, foragido, evitando cidades e povoações, vive pelos matos e pelas tocas, curtindo privações. O mal por ele praticado não tem a extensão que julga e poderia muito bem ser remediado. Acontece, porém, que uma falange de pretos chefiados por alguns dos antigos escravos por ele perseguidos lhe incutem, dia e noite, sem descanso, idéias de culpas tremendas, tão horríveis, tão pavorosas, que não se arrisca a enfrentar a justiça dos homens. Medo, terror, fisionomia transtornada, inquietação, instabilidade, eis o resultado da sua provação passando pelos mesmos estados de alma que fez passar e sofrer os seus semelhantes.

O filho, louco e encarcerado, veio expiar o crime praticado, assassino sem punição das leis humanas. A nora, transviada e da qual não mais tiveram notícia, um Espírito em provação, expiando erros do passado, cheio de deslizes e servir, ao mesmo tempo, de expiação para os velhos que se acham em preparativos para futuros resgates.

Sim, expiação, porque, no filho foragido sentiam, agora, as mesmas inquietações, mesmas angústias, mesmos cuidados e mesmas saudades que a sua indiferença provocou no seio de tantas famílias. No louco, que precisam amparar, a tortura auditiva relembrando-lhes dia e noite, ora as imprecações, ora o pranto convulsivo daqueles que se viram expulsos e espoliados. Na atitude da nora, a revolta íntima, o orgulho ofendido, a mágoa, a dor que sentiram os pais daquelas que se perderam, também, vitimadas pelos filhos por eles açulados. Como espectadores desses fatos, no isolamento dos campos, sozinhos, engolfados nas desventuras sucessivas, espíritos mais libertos da matéria já gasta, envelhecida, melhor podem receber os eflúvios benéficos que as falanges recuperadoras procuram incutir-lhes no perispírito. Em suas horas de ócio, em suas noites longas, atrozes, como não devem sentir e chorar acontecimentos tão amargos, tão inexoráveis! Naturalmente, pediram muito a Deus, mas a incompreensão humana ainda não percebe que a melhor dádiva de Deus não consiste na obtenção daquilo que o egoísmo deseja – está, sim, na possibilidade da expiação, vendo e sentindo em si mesmo, aquilo que não se deve desejar aos outros. Cada lágrima que aflora aos olhos, no período de expiação, representa uma dívida que se apaga na página imensa das vidas sucessivas. Em todos esses casos, a Justiça dos homens, o ouro material, a maleabilidade política, nada poderiam fazer porque ali se fazia sentir a Justiça de Deus, proporcionando a todos eles oportunidades para o resgate daquilo que ficaram devendo e meios de colherem aquilo que haviam plantado. Naturalmente, em próximas reencarnações, estarão aptos a formar novos lares, nos quais as lembranças do passado, estereotipadas no psiquismo, servirão de escudos contra os sentimentos menos dignos, alicerce onde a sentinela da vigilância não permitirá as mesmas quedas e a repetição dos mesmos erros. Um lar constituído e desfeito pelos granizos das próprias tempestades por eles formadas mas, recebendo, ao mesmo tempo, não da terapêutica humana, mas sim da terapêutica Divina, por intermédio dos medicamentos da dor, da angústia e das torturas morais, os eflúvios regeneradores, antídotos para combater o veneno das ações e dos atas menos dignos.

Quais seriam, para a Psiquiatria, os diagnósticos para: O louco e encarcerado? O foragido da Justiça? A nora transviada? Os velhos, espectadores de desventuras, desses dramas em família? Muito diversos e desorientados porque somente os princípios da reencarnação podem oferecer os conhecimentos para as causas predisponentes, a fim de melhor estabelecer o diagnóstico para aquelas torturas morais e físicas. O mais, são conceitos e teorias ainda uma vez esbarrando-se ao encontro dos túmulos, incapazes de proporcionar tranqüilidade e reconstituir aquele lar, como tantos outros, ainda existem, no Presente, esquecidos das Leis Divinas por se julgarem amparados pelas Leis Humanas.

Fonte:Dr. Inácio Ferreira,
Livro: “A PSIQUIATRIA EM FACE DA REENCARNAÇÃO”,
Edição FEESP

Nenhum comentário: