Não obstante a defecção de Caim e o abandono de José, filho de Jacob, o nome de irmão é talvez um dos títulos mais doces que existem no mundo.
O verdadeiro amor fraternal não pede compensações, não experimenta ciúme, não é exclusivista. Reclama somente a felicidade do objeto amado, com a qual se contenta.
Jesus chamava irmãos a todos os seguidores de seu ideal divino e seus legítimos continuadores viviam em comunidade fraternal.
Os cristãos martirizados nos circos penetravam na arena abraçados e felizes. Damas do patriciado davam as mãos a escravas misérrimas, unidas para o sacrifício. Não se conheciam antes. As filhas dos romanos aristocráticos haviam nascido no berço da dominação, enquanto as servas dos nobres haviam chegado ao mundo à sombra do cativeiro. Enfrentavam, porém, as feras sacrílegas, de mãos entrelaçadas, porque o Evangelho do Reino Celeste lhes revelara o doce mistério da sublime fraternidade. Eram irmãs, diante do Eterno: era tudo o que podiam saber no supremo holocausto a Jesus-Cristo, por quem vertiam o sangue generoso e renovador. Francisco de Assis, abnegado companheiro dos homens e da Natureza, sentia-se irmão do lobo de Gúbio, ao qual dirigia a palavra em nome de Deus. Paulo de Tarso, o apóstolo da gentilidade, escrevendo aos hebreus, que representavam o povo escolhido, recomenda-lhes, no versículo primeiro do capítulo treze, a conservação do amor fraternal.
Paulo tinha razões sérias para emitir o conselho porque, se não podemos opinar sobre o amor angélico, inacessível ainda ao nosso entendimento, podemos algo dizer sobre os afetos humanos. E nas atividades além do túmulo, a legítima ligação fraternal, sublime e constante, elevada e sincera, é talvez a única que jamais surpreende ou desconcerta. Constituindo reais exceções os enlaces das almas em união imperecível, na face do planeta, em regra geral os cônjuges, depois da morte, descobrem, por fim, que consumiram imensas quantidades de combustível das paixões para aprenderem a ser bons irmãos um do outro. Filhos e pais, nas mesmas circunstâncias, adquirem expressivos ensinamentos, em virtude dos imperativos da reencarnação.
Muitas vezes, a consangüinidade constitui o cadinho purificador.
O devotamento fraterno, porém, alcança culminâncias divinas. A realidade não lhe embacia o clarão, nem a morte lhe desfigura a beleza. Continua sempre, como as árvores generosas que dilatam as raízes, cobrindo-se de flores e de frutos.
O irmão não conhece os dramas passionais dos desejos desatendidos, não exige considerações exteriores, não solicita senão a ventura dos que lhe gozam o carinho e a dedicação. Por isso mesmo, embora estejamos muito distantes da plena execução da regra áurea, a Humanidade não será integralmente feliz, enquanto o amor fraternal não estabelecer o seu império no mundo.
Semelhantes considerações vieram-me ao raciocínio, ao receber a visita de uma senhora recentemente desencarnada. A pobre criatura, ainda estremunhada, ao acordar de longo pesadelo terrestre, perguntou-me por certo escritor que já se livrou do corpo enfermo há alguns anos.
Ante minha surpresa, explicava-se, atenciosa:
– Trata-se dum homem de letras que escreveu na mocidade algumas páginas cômicas do anedotário fescenino, tornando-se na idade madura um grande amigo dos que sofriam, pela sua nova compreensão.
– Já sei – disse-lhe sorrindo –, a princípio ele molhava a pena no vermelhão com que se pintam os palhaços inteligentes para atender as exigências do público, em seguida ensopou-a no vasto tinteiro das lágrimas. Começou bebendo o vinho adocicado da fantasia para vomitar, mais tarde, o vinagre amargoso do desengano.
– Isso mesmo – respondeu curiosa.
E acrescentou:
– Esse homem morreu e continuou escrevendo. Ninguém o via, nem o ouvia. Entretanto, à maneira do viajante que manda notícias de longe, prosseguiu, animando os companheiros de luta, falando-lhes do estranho e belo país a que fora recolhida sua alma, sendo reconhecido por todos nós, através de seu pensamento mais vivo que nunca. Ser-me-á tão difícil encontrá-la?
Observando-me o silêncio, pronunciou um nome que me era familiar.
Interrompi-a, porém, espantado, acentuando:
– Ouça, minha amiga! chame-o pelo “doce nome”.
– Doce nome?
– Sim, chame-o “irmão” e talvez compareça ao seu encontro.
E porque a interlocutora revelasse profundo assombro no olhar, esclareci, bem humorado:
– Conheço a pessoa que procura, e devo-lhe, boa irmã, explicações. Como a senhora sabe, o nome é uma túnica com que nos diferenciamos uns doa outros. Ora, na Terra, o único manto que valia a pena ser disputado era, efetivamente, o do Cristo, sobre o qual os soldados lançaram a sorte. Como não ignora, alguns amigos do companheiro a que se refere, exigiram-lhe, por entusiástico amor, a túnica, depois do transe definitivo do corpo, e ele, receoso de uma consagração que não merecia, pediu a Deus um traje novo e atirou seu antigo manto no vale sombrio do esquecimento a da morte.
Por: Irmão X (Humberto de Campos) Do livro: Lázaro Redivivo, Médium: Francisco Cândido Xavier
O verdadeiro amor fraternal não pede compensações, não experimenta ciúme, não é exclusivista. Reclama somente a felicidade do objeto amado, com a qual se contenta.
Jesus chamava irmãos a todos os seguidores de seu ideal divino e seus legítimos continuadores viviam em comunidade fraternal.
Os cristãos martirizados nos circos penetravam na arena abraçados e felizes. Damas do patriciado davam as mãos a escravas misérrimas, unidas para o sacrifício. Não se conheciam antes. As filhas dos romanos aristocráticos haviam nascido no berço da dominação, enquanto as servas dos nobres haviam chegado ao mundo à sombra do cativeiro. Enfrentavam, porém, as feras sacrílegas, de mãos entrelaçadas, porque o Evangelho do Reino Celeste lhes revelara o doce mistério da sublime fraternidade. Eram irmãs, diante do Eterno: era tudo o que podiam saber no supremo holocausto a Jesus-Cristo, por quem vertiam o sangue generoso e renovador. Francisco de Assis, abnegado companheiro dos homens e da Natureza, sentia-se irmão do lobo de Gúbio, ao qual dirigia a palavra em nome de Deus. Paulo de Tarso, o apóstolo da gentilidade, escrevendo aos hebreus, que representavam o povo escolhido, recomenda-lhes, no versículo primeiro do capítulo treze, a conservação do amor fraternal.
Paulo tinha razões sérias para emitir o conselho porque, se não podemos opinar sobre o amor angélico, inacessível ainda ao nosso entendimento, podemos algo dizer sobre os afetos humanos. E nas atividades além do túmulo, a legítima ligação fraternal, sublime e constante, elevada e sincera, é talvez a única que jamais surpreende ou desconcerta. Constituindo reais exceções os enlaces das almas em união imperecível, na face do planeta, em regra geral os cônjuges, depois da morte, descobrem, por fim, que consumiram imensas quantidades de combustível das paixões para aprenderem a ser bons irmãos um do outro. Filhos e pais, nas mesmas circunstâncias, adquirem expressivos ensinamentos, em virtude dos imperativos da reencarnação.
Muitas vezes, a consangüinidade constitui o cadinho purificador.
O devotamento fraterno, porém, alcança culminâncias divinas. A realidade não lhe embacia o clarão, nem a morte lhe desfigura a beleza. Continua sempre, como as árvores generosas que dilatam as raízes, cobrindo-se de flores e de frutos.
O irmão não conhece os dramas passionais dos desejos desatendidos, não exige considerações exteriores, não solicita senão a ventura dos que lhe gozam o carinho e a dedicação. Por isso mesmo, embora estejamos muito distantes da plena execução da regra áurea, a Humanidade não será integralmente feliz, enquanto o amor fraternal não estabelecer o seu império no mundo.
Semelhantes considerações vieram-me ao raciocínio, ao receber a visita de uma senhora recentemente desencarnada. A pobre criatura, ainda estremunhada, ao acordar de longo pesadelo terrestre, perguntou-me por certo escritor que já se livrou do corpo enfermo há alguns anos.
Ante minha surpresa, explicava-se, atenciosa:
– Trata-se dum homem de letras que escreveu na mocidade algumas páginas cômicas do anedotário fescenino, tornando-se na idade madura um grande amigo dos que sofriam, pela sua nova compreensão.
– Já sei – disse-lhe sorrindo –, a princípio ele molhava a pena no vermelhão com que se pintam os palhaços inteligentes para atender as exigências do público, em seguida ensopou-a no vasto tinteiro das lágrimas. Começou bebendo o vinho adocicado da fantasia para vomitar, mais tarde, o vinagre amargoso do desengano.
– Isso mesmo – respondeu curiosa.
E acrescentou:
– Esse homem morreu e continuou escrevendo. Ninguém o via, nem o ouvia. Entretanto, à maneira do viajante que manda notícias de longe, prosseguiu, animando os companheiros de luta, falando-lhes do estranho e belo país a que fora recolhida sua alma, sendo reconhecido por todos nós, através de seu pensamento mais vivo que nunca. Ser-me-á tão difícil encontrá-la?
Observando-me o silêncio, pronunciou um nome que me era familiar.
Interrompi-a, porém, espantado, acentuando:
– Ouça, minha amiga! chame-o pelo “doce nome”.
– Doce nome?
– Sim, chame-o “irmão” e talvez compareça ao seu encontro.
E porque a interlocutora revelasse profundo assombro no olhar, esclareci, bem humorado:
– Conheço a pessoa que procura, e devo-lhe, boa irmã, explicações. Como a senhora sabe, o nome é uma túnica com que nos diferenciamos uns doa outros. Ora, na Terra, o único manto que valia a pena ser disputado era, efetivamente, o do Cristo, sobre o qual os soldados lançaram a sorte. Como não ignora, alguns amigos do companheiro a que se refere, exigiram-lhe, por entusiástico amor, a túnica, depois do transe definitivo do corpo, e ele, receoso de uma consagração que não merecia, pediu a Deus um traje novo e atirou seu antigo manto no vale sombrio do esquecimento a da morte.
Por: Irmão X (Humberto de Campos) Do livro: Lázaro Redivivo, Médium: Francisco Cândido Xavier
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