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31 maio 2012

Os Desígnios de Deus - Joanna de Ângelis


OS DESÍGNIOS DE DEUS

Em momento algum deixa de confiar nos desígnios de Deus.

Não te encontras à deriva, apesar de supores que o rumo para a felicidade perdeu-se em definitivo.

A ausência aparente de respostas diretas aos teus apelos e necessidades faz parte de uma programática para o teu bem.

Sem que o percebas, chegam-te os socorros imprescindíveis para o equilíbrio e êxito, sem os quais, certamente, não suportarás as provas a que te propuseste por impositivo da próprio evolução.

*

Muitas pessoas resvalam na loucura, porque deixaram de preservar os contatos com Deus.

Criaturas sem conta arrojaram-se ao suicídio ou foram a ele atiradas, por perderem a confiança em Deus.

Expressivo número de homens rebolca-se nas paixões inferiores, por duvidar do auxílio de Deus.

Parasitos emocionais, perturbados espirituais iníquos e perversos, são pessoas que se negaram à vinculação com Deus, deixando-se tresvariar nos abismos em que se comprazem, por estarem em rebelião também contra eles mesmos.

Deus nunca abandona!

O homem, porém, a si mesmo se abandona, vitimado pelo egoísmo e os seus sequazes que, nutridos pela invigilância de cada um, terminam por dominá-lo.

*

Interrogas-te, em silêncio, como determinadas pessoas suportam vicissitudes e abandonos, ruínas econômicas e aflições morais, ingratidões e violências como se nada lhes estivesse, aparentemente, acontecendo.

Não fosse uma observação mais acurada, não lhes descobririas os infortúnios ocultos.

Sucede, porém, que esses corações crucificados nos impositivos da redenção, ao invés de reagirem pela agressividade inútil, confiam e esperam em Deus com alegria e superação das dificuldades, a fim de se libertarem do mal e alcançarem a plenitude que Deus concede a todos aqueles que se Lhe entregam aos desígnios superiores.

De “OTIMISMO’
De Divaldo P. Franco
Pelo Espírito Joanna de Ângelis

30 maio 2012

A Caridade Desconhecida - Neio Lúcio


A CARIDADE DESCONHECIDA

A conversação em casa de Pedro versava, nessa noite, sobre a prática do bem, com a viva colaboração verbal de todos.

Como expressar a compaixão, sem dinheiro? Por que meios incentivar a beneficência, sem recursos monetários? Com essas interrogativas, grandes nomes da fortuna material eram invocados e a maioria inclinava-se a admitir que somente os poderosos da Terra se encontravam à altura de estimular a piedade ativa, quando o Mestre interferiu, opinando, bondoso: — Um sincero devoto da Lei foi exortado por determinações do Céu ao exercício da beneficência; entretanto, vivia em pobreza extrema e não podia, de modo algum, retirar a mínima parcela de seu salário para o socorro aos semelhantes.

Em verdade, dava de si mesmo, quanto possível, em boas palavras e gestos pessoais de conforto e estímulo a quantos se achavam em sofrimento e dificuldade; porém, magoava-lhe o coração a impossibilidade de distribuir agasalho e pão com os andrajosos e famintos à margem de sua estrada.

Rodeado de filhinhos pequeninos, era escravo do lar que lhe absorvia o suor.

Reconheceu, todavia, que, se lhe era vedado o esforço na caridade pública, podia perfeitamente guerrear o mal, em todas as circunstâncias de sua marcha pela Terra.

Assim é que passou a extinguir, com incessante atenção, todos os pensamentos inferiores que lhe eram sugeridos; quando em contacto com pessoas interessadas na maledicência, retraía- se, cortês, e, em respondendo a alguma interpelação direta, recordava essa ou aquela pequena virtude da vítima ausente; se alguém, diante dele, dava pasto à cólera fácil, considerava a ira como enfermidade digna de tratamento e recolhia-se à quietude; insultos alheios batiam-lhe no espírito à maneira de calhaus em barril de mel, porquanto, além de não reagir, prosseguia tratando o ofensor com a fraternidade habitual; a calúnia não encontrava acesso em sua alma, de vez que toda denúncia torpe se perdia, inútil, em seu grande silêncio; reparando ameaças sobre a tranqüilidade de alguém, tentava desfazer as nuvens da incompreensão, sem alarde, antes que assumissem feição tempestuosa; se alguma sentença condenatória bailava em torno do próximo, mobilizava, espontâneo, todas as possibilidades ao seu alcance na defesa delicada e imperceptível; seu zelo contra a incursão e a extensão do mal era tão fortemente minucioso que chegava a retirar detritos e pedras da via pública, para que não oferecessem perigo aos transeuntes.

Adotando essas diretrizes, chegou ao termo da jornada humana, incapaz de atender às sugestões da beneficência que o mundo conhece.

Jamais pudera estender uma tigela de sopa ou ofertar uma pele de carneiro aos irmãos necessitados.

Nessa posição, a morte buscou-o ao tribunal divino, onde o servidor humilde compareceu receoso e desalentado.

Temia o julgamento das autoridades celestes, quando, de improviso, foi aureolado por brilhante diadema, e, porque indagasse, em lágrimas, a razão do inesperado prêmio, foi informado de que a sublime recompensa se referia à sua triunfante posição na guerra contra o mal, em que se fizera valoroso empreiteiro.

Fixou o Mestre nos aprendizes o olhar percuciente e calmo e concluiu, em tom amigo: — Distribuamos o pão e a cobertura, acendamos luz para a ignorância e intensifiquemos a fraternidade aniquilando a discórdia, mas não nos esqueçamos do combate metódico e sereno contra o mal, em esforço diário, convictos de que, nessa batalha santificante, conquistaremos a divina coroa da caridade desconhecida.


Pelo Espírito Neio Lúcio
Do livro: Jesus no Lar
Médium: Francisco Cândido Xavier

29 maio 2012

Cuidados de Deus - Momento Espírita


Cuidados de Deus


O hábito de reclamar é muito difundido.

Em toda parte, as criaturas reclamam.

Filhos em relação aos pais, cônjuges entre si, patrões e empregados, vizinhos, amigos e meros conhecidos.

Reclamões não faltam.

Já pessoas genuinamente gratas são um tanto raras.

Quem presta atenção no que falta costuma não notar o que tem.

Esse mau hábito é especialmente triste em se tratando da Divindade.

Porque Deus é o Senhor do Universo.

Dele procedem todas as bênçãos e oportunidades.

Ele cria todos os Espíritos e lhes viabiliza existências incontáveis a fim de que se aprimorem.

Cerca-os dos mais ternos cuidados.
Providencia-lhes corpos, vidas e amores.

Inclusive cuida de boicotar seus desatinos mais graves, para que não se compliquem em excesso.
Entretanto, curiosamente, os homens ainda se sentem no direito de reclamar do Eterno.

Imaginam ter direito a mais do que recebem.

Desejam tranquilidade, riqueza, poder, fama e beleza.

Contudo, nesse querer fantasioso, esquecem-se de notar e agradecer o muito que recebem.

Olvidam a bênção dos tempos de paz, nos quais podem perseguir seus sonhos.

Não valorizam a família na qual nasceram.

Os pais que lhes cercaram os primeiros passos de cuidados.

As escolas nas quais foram matriculados.

Os professores que os instruíram.

A saúde do corpo, a existência em um país pacífico, os amigos...

Acham natural possuir tantos tesouros.

Ocorre que nem todos podem desfrutar simultaneamente dos mesmos dons.

A vida na Terra constitui uma estação de aprendizado.

Nela, as experiências variam ao Infinito.

Há os que experienciam a saúde, enquanto outros vivem a enfermidade.

Os com facilidades materiais e os de vida mais modesta.

As posições se alternam no curso dos séculos.

O papel de cada homem é ser digno e fraterno na posição em que se encontra.

Utilizar os tesouros que recebeu da vida, a fim de crescer em talentos e virtudes.

E, especialmente, entender que o próximo é um irmão de caminhada.

Ele também deseja ser feliz e viver em paz.

É igualmente um filho de Deus.

Tendo isso em mente, urge repensar os próprios hábitos.

Identificar os inúmeros cuidados recebidos de Deus.

Ser grato por todos eles e cessar de reclamar por bobagens.

Quanto à gratidão, ela tem uma forma muito especial de se manifestar.

Consiste no amparo ao semelhante em estado de sofrimento ou abandono.

A bondade para com o próximo é uma forma de gratidão que o homem pode oferecer ao seu Criador.

Pense nisso.

Redação do Momento Espírita

28 maio 2012

Ofícios da Alma - Kelvin Van Dine


OFÍCIOS DA ALMA

Assunto digno de ser examinado com profundez. Pensemos nele. Você já verificou a dificuldade que encontramos para viver a existência que é nossa, isto é, o dever que o mundo nos confiou?

Habitualmente solicitamos a reencarnação, antes do berço, com o empenho dentro do qual suspiramos por emprego digno nas atividades terrestres. No plano físico disputamos cargos rendosos, na esfera espiritual pedimos encargos edificantes.

Interpretemos os compromissos a que nos impomos, na experiência humana, como sendo ofícios da alma. Requisitamos ofícios de pai, mãe, esposa, filho, filha, irmão e irmã e tarefas múltiplas tituladas diversamente no quadro das missões de natureza moral.

Recebidas as concessões, quando já nos achamos na oficina do mundo, não raros, eis-nos à caça de fuga, incapazes de aceitar o trabalho que nos pertence.

Tal fato quase sempre acontece no lar, onde somos exortados ao serviço que imploramos, para dar mostras de nossa habitação aos apostolados maiores, junto da Humanidade.

Revelados os problemas que nos cabem resolver, adornamo-nos com pretextos medidos a gesto brando e repetimos antes da deserção: “fiz o que era possível”, “não tenho culpa”, “sei que estou com a razão” ou “isso não está nas minhas forças”.

Se usufruímos posição de ceder, queremos tomar. Se precisamos testemunhar obediência e disciplina, adotamos aspiração ao mando favorecendo o desequilíbrio.

Da atitude desarrazoada à frente das pequeninas iniciativas de renúncia construtiva a que somos chamados, passamos da união à separação, do estímulo do louvor ao vinagre da queixa, do esclarecimento ao bate-boca, da vigilância à aventura.

Atingido esse ponto, somos tão-somente a pessoa frustrada, para quem os Bons Espíritos — mesmo os benfeitores que nos auxiliaram a renascer — conseguem por acréscimos de misericórdia, na Benemerência Divina, uma ou outra ocupação deficitária.

Aproveita-se desse modo, nos princípios de bondade, os salvados de naufrágio ou de incêndio, que, no caso mostram maior teor de lástima, de vez que são vítimas de desastres morais provocados por eles próprios.

Se você suporta conosco o exame deste tema, medite enquanto pode compreender-nos tranquilamente.

Tolere a responsabilidade presente, esquecendo-se para melhor cumpri-la. Todos vivemos facilmente, muito difícil é e será sempre viver a existência que é nossa.

Mas não se iluda. Ser-nos-á possível fugir ao dever por séculos e séculos, mas estejamos convencidos de que a nossa obrigação tem o nosso endereço e, de qualquer maneira, se encontra a caminho procurando por nós.

De “Técnica de Viver”
De Waldo Vieira
pelo Espírito de Kelvin Van Dine

27 maio 2012

Dons Espirituais - Claudio Fajardo de Castro


DONS ESPIRITUAIS

"Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes"

Dons espirituais é o mesmo que dons do Espírito, isto é, qualidade natural deste.

O apóstolo dos gentios foi sem dúvida o maior divulgador das verdades contidas na Boa Nova deixada por Jesus, sendo que historiadores modernos afirmam que sem ele não haveria cristianismo.

Por ser sabedor da necessidade de todos os discípulos do Senhor, de todas as eras, deixar de lado a ignorância, ele assim inicia o décimo segundo capítulo desta importantíssima epístola aos coríntios:

Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.

A ignorância é um dos sentimentos que mais prejudicam o Espírito em sua caminhada evolucional, poderíamos dizer que ela é, sem dúvida nenhuma, o germe de todas as imperfeições. Se no princípio da evolução ela é natural, como nos afirmam os Espíritos superiores na questão 115 de O Livro dos Espíritos, com o desenvolver das possibilidades da criatura ela se torna entrave ao crescimento de todas possibilidades humanas.

O Espírito foi criado por Deus de Sua própria Substância, o que o fez imortal. Deste modo podemos dizer que Deus deixou Sua marca impressa na criatura, ou que permaneceu nela através da Consciência que situa em sua profundidade. É a Imanência Divina.

Se tivesse plena consciência deste fato o Espírito erraria muito menos realizando sua evolução sem passar pela fieira do mal como nos alertam as Entidades Redatoras da Doutrina Espírita.1

Ela, a ignorância, é a conselheira do orgulho, este algoz que escraviza o Ser nas armadilhas do personalismo, pois o orgulhoso nada mais é do que alguém que julgando-se superior e sábio fecha as portas para o recebimento de novas revelações, o que o libertaria da imperfeições com uma dose maior de conforto e segurança.

Se desejarmos seguir nossa caminhada rumo à perfeição com menores contrariedades e sujeitos a menos dores, estejamos atentos ao que diz o apóstolo:

Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes.

No que diz respeito às possibilidades mediúnicas que todos possuímos a afirmativa do filho de Tarso é também de grande valia. Muitos são os espíritas que adentram as portas das Casas Espíritas já desejando ingressar no serviço mediúnico como se, simplesmente este anseio bastasse para a realização de um bom trabalho em favor dos semelhantes dos dois planos da vida.

Para que possamos ser médiuns dentro da concepção kardequiana é preciso estudo, e muito estudo, além das conquistas morais que distinguem os postulantes ao serviço cristão.

As reuniões de estudo são, além disso, de imensa utilidade para os médiuns de manifestações inteligentes, para aqueles, sobretudo, que seriamente desejam aperfeiçoar-se e que a elas não comparecerem dominados por tola presunção de infalibilidade.2

Assim, o iluminado codificador resume, concordando com Paulo, a nossa necessidade de cada vez mais aprendermos para melhor servirmos distanciados do orgulho, da presunção ou de qualquer sentimento inferior que nos afaste do objetivo pleno de sermos úteis em qualquer tarefa a realizar.

1 O Livro dos Espíritos, questão 120.

2 O Livro dos Médiuns item 329


Claudio Fajardo de Castro (Juiz de Fora/MG), é bancário, escritor desde 1997, dedica-se ao estudo do Novo Testamento à luz da Doutrina. Coordenou curso de Espiritismo no Centro Espírita Amor e Caridade em Goiânia – GO, denominado de Curso de Espiritismo e Evangelho. A partir daí surgiram seus livros: O Sermão do Monte, Jesus Terapeuta I e II, O Sermão Profético e O Sermão do Cenáculo, todos publicados pela Editora Itapuã.

Blogs: http://espiritismoeevangelho.blogspot.com/

e-mail: fajardo1960@gmail.com

26 maio 2012

Categorias Espíritas - Allan Kardec


AS CATEGORIAS ESPÍRITAS
Discurso I


Não sois mais principiantes em Espiritismo. Assim, hoje deixarei de lado os detalhes práticos sobre os quais, devo reconhecer, estais suficientemente esclarecidos, para considerar a questão sob um aspecto mais largo, sobretudo em suas conseqüências. Este lado da questão é grave, o mais grave incontesta-velmente, pois que mostra o objeto para onde se inclina a Doutrina e os meios para atingi-lo. Serei um pouco longo, talvez, pois o assunto é muito vasto e, contudo, restaria ainda muito a dizer para o completar. Assim, reclamarei vossa indulgência considerando que, não podendo ficar convosco senão por algum tempo, sou forçado a dizer de uma só vez o que, em outras circunstâncias, eu teria dividido em várias partes.

Antes de abordar o ângulo principal do assunto, creio dever examiná-lo de um ponto de vista que, de certo modo, me é pessoal. Todavia, se não se tratasse senão de uma questão individual, seguramente com ela eu não me ocuparia; porém, ela se liga a várias questões gerais, podendo resultar instruções para todo mundo. Foi esse o motivo que me levou a aproveitar esta ocasião para explicar a causa de certos antagonismos que muita gente se admira de encontrar em meu caminho.

No estado atual das coisas aqui na Terra, qual é o homem que não tem inimigos? Para não os ter, fora preciso não estar na Terra, por ser esta a conseqüência da inferioridade relativa de nosso globo e de sua destinação como mundo de expiação. Para isso, bastaria fazer o bem? Oh! Não; o Cristo não está aí para o provar? Se, pois, o Cristo, a bondade por excelência, foi alvo de tudo quanto a maldade pôde imaginar, por que nos admirarmos de que assim suceda com aqueles que valem cem vezes menos?

O homem que pratica o bem - isto dito em tese geral - deve, pois, esperar contar com a ingratidão, ter contra ele aqueles que, não o praticando, são ciumentos da estima concedida aos que o praticam. Os primeiros, não se sentindo fortalecidos para se elevarem, procuram rebaixar os outros ao seu nível, pondo em xeque, pela maledicência ou pela calúnia, aqueles que os ofuscam.

Ouve-se constantemente dizer que a ingratidão com que somos pagos endurece o coração e nos torna egoístas; falar assim é provar que se tem o coração fácil de ser endurecido, porquanto esse temor não poderia deter o homem verdadeiramente bom. O reconhecimento já é uma remuneração do bem que se faz; praticá-lo tendo em vista esta remuneração, é fazê-lo por interesse. E depois, quem sabe se aquele a quem se faz um favor, e do qual nada se espera, não será levado a melhores sentimentos por um reto proceder? É talvez um meio de levá-lo a refletir, de abrandar sua alma, de salvá-lo! Esta esperança é uma nobre ambição; se nos decepcionamos, não teremos realizado o que nos cabia realizar.

Entretanto, não se deve crer que um benefício que permanece estéril na Terra seja sempre improdutivo; muitas vezes é um grão semeado que só germina na vida futura do beneficiado. Várias vezes já observamos Espíritos, ingratos como homens, serem tocados, como Espíritos, pelo bem que lhes haviam feito, e essa lembrança, despertando neles bons pensamentos, facilita-lhes o caminho do bem e do arrependimento, contribuindo para abreviar-lhes os sofrimentos. Só o Espiritismo poderia revelar este resultado da beneficência; só a ele estava dado, pelas comunicações de além túmulo, mostrar o lado caridoso desta máxima: Um benefício jamais é perdido, em lugar do sentido egoísta que lhe atribuem. Mas, voltemos ao que nos concerne.

Pondo de lado qualquer questão pessoal, tenho adversários naturais nos inimigos do Espiritismo. Não penseis que me lastime: longe disto! Quanto maior é a animosidade deles, tanto mais ela comprova a importância que a Doutrina assume aos seus olhos; se fosse uma coisa sem conseqüência, uma dessas utopias que já nascem inviáveis, não lhe prestariam atenção, nem a mim. Não vedes escritos muito mais hostis que os meus quanto aos preconceitos, e nos quais as expressões não são mais moderadas do que a ousadia dos pensamentos, sem que, no entanto, digam uma única palavra? Dar-se-ia o mesmo com as doutrinas que procuro difundir, se permanecessem restritas às folhas de um livro. Mas, o que pode parecer mais surpreendente, é que eu tenha adversários, mesmo entre os adeptos do Espiritismo. Ora, é aqui que uma explicação se faz necessária.

Entre os que adotam as idéias espíritas, há, como bem sabeis, três categorias bem distintas:

1. Os que crêem pura e simplesmente nos fenômenos das manifestações, mas que não lhes deduzem nenhuma conseqüência moral;

2. Os que vêem o lado moral, mas o aplicam aos outros e não a si próprios;

3. Os que aceitam para si mesmos todas as conseqüências da Doutrina, e que praticam ou se esforçam por praticar a sua moral.

Estes, vós bem o sabeis, são os verdadeiros espíritas, os espíritas cristãos. Esta distinção é importante, porque explica bem as anomalias aparentes. Sem isso seria difícil compreender-se a conduta de certas pessoas. Ora, o que reza esta moral? Amai-vos uns aos outros; perdoai aos vossos inimigos; retribuí o mal com o bem; não tenhais ódio, nem rancor, nem animosidade, nem inveja, nem ciúme; sede severos para convosco mesmos e indulgentes para com os outros. Tais devem ser os sentimentos de um verdadeiro espírita, daquele que vê o fundo e não a forma, que põe o Espírito acima da matéria; este pode ter inimigos, mas não é inimigo de ninguém, pois não deseja o mal a ninguém e, com mais forte razão, não procura fazer o mal a quem quer que seja.

Como vedes, senhores, este é um princípio geral, do qual todo mundo pode tirar proveito. Se, pois, tenho inimigos, não podem ser contados entre os espíritas desta categoria, porque, admitindo-se que tivessem legítimos motivos de queixa contra mim, o que me esforço por evitar, isto não seria motivo para me odiarem, considerando-se que não fiz mal a ninguém. O Espiritismo tem por divisa: Fora da caridade não há salvação, o que significa dizer: Fora da caridade não há verdadeiros espíritas. Concito-vos a inscrever, doravante, esta dupla máxima em vossa bandeira, porque ela resume ao mesmo tempo a finalidade do Espiritismo e o dever que ele impõe.

Texto extraído do Discurso pronunciado nas Reuniões Gerais dos Espíritas de Lyon e Bordeaux, do livro Viagem Espírita em 1862 e outras viagens de Kardec, de Allan Kardec, FEB, 2005.

25 maio 2012

O Caminho - Joanna de Ângelis


O CAMINHO

Diante do turbilhão de problemas e conflitos, aturdido e receoso, a um passo do desequilíbrio, indagas, sem diretriz: - Onde a via a seguir? Qual a conduta a adotar?
Certamente, todo empreendimento deve ser precedido de planificação, de roteiro, de programa. Sem esses fatores, o comportamento faz-se anárquico, e o trabalho se dirige à desordem.
A experiência carnal é uma viagem que o espírito empreende com os objetivos definidos pela Divindade, que a todos reserva a perfeição.
Como alcançá-la, e em quanto tempo, depende de cada viajor.

Multiplicam-se os caminhos que terminarão por levar à meta.
Alguns conduzem a despenhadeiros, a desertos, a pantanais, a regiões perigosas.
Outros se desdobram convidativos e repletos de distrações, prazeres, comodidades, engodos, passadismos.
Poucos se caracterizam pelo esforço que deve ser envidado para conquistá-los, vencendo, etapa a etapa, as dificuldades e impedimentos.
Uns levam à ruína demorada, que envilece e infelicita.
Vários dão acesso à glória transitória, ao poder arbitrário, às regalias que o túmulo interrompe.
Jesus, porém, foi peremptório ao asseverar:
-Eu sou o caminho - informando ser a única opção para chegar-se a Deus.

Se te encontras a ponto de desistir na luta, intenta-o outra vez e busca Jesus.
Se te abateste e não tens ninguém ao lado para oferecer-te a mão, recorre a Jesus.
Se te sentes abandonado e vencido, após mil tentames malsucedidos no mundo, apela a Jesus.
Se te deparas perdido e sem rumo, apega-te a Jesus.
Se te defrontas com impedimentos que te parecem intransponíveis, procura Jesus.
Se nada mais esperas na jornada, recomeça com Jesus.

Se avanças com êxito, não te esqueças de Jesus.
Se estás cercado de carinho e amor, impregna-te de Jesus.
Se a jornada se te faz amena, agradece a Jesus.
Se encontras conforto e alegria no crescimento íntimo, não te separes de Jesus
Se acreditas na vitória, que antevês, apoia-te em Jesus.
Se te sentes inundado de paz e fé, Jesus está contigo.

Em qualquer trecho do caminho da tua evolução, Jesus deve ser o teu apoio, a tua direção, a tua meta, tendo em mente que através d’Ele e com Ele te plenificarás, alcançando Deus.
O mais, são ilusões e engodos. Não te equivoques, nem enganes a ninguém.


Autor: Joanna de Ângelis (espírito)
Psicografia de Divaldo Franco
Livro: Momentos Enriquecedores

24 maio 2012

Sublimidade Terrena - Miramez


SUBLIMIDADE TERRENA

Fora do corpo, é mais fácil para o Espírito compreender a verdadeira grandeza, como aconteceu com uma das rainhas de França que, ao chegar no mundo espiritual, notou que algum dos que foram por ela comandados se encontravam em melhores situações espirituais que ela, sentindo-se envergonhada diante daquele quadro que, de pronto, não poderia aceitar. Diante da evidência, foi obrigada a obedecer às leis que regulam a vida.

Eis que, se falamos mais diretamente aos espíritas, eles devem entender esses acontecimentos no plano em que se encontram, para não se arrependerem no mundo espiritual, se conservarem o orgulho e alimentarem o egoísmo. Que procurem libertar-se, ainda no corpo físico, das invirtudes que, por vezes, dominam seus sentimentos, para chegarem livres ao mundo da verdade, compreendendo que o amor conserva a vida no intenso trabalho onde a serenidade converte a alma para a beneficência, o cultivo do perdão e da luz.

O esplendor da alma na Terra pode corresponder a sofrimento na vida espiritual, se a mencionada posição desconhece o nosso guia espiritual: Jesus. Devem os abastados averiguar se a sua riqueza não está servindo de motivo de embaraços à aquisição da sua moral cristã.

É de bom alvitre reconhecer que a realeza terrena pode ser uma experiência na Terra, mas que, no amanhã, pode-se estar sem ela, por não saber usá-la adequadamente. Assim a beleza, assim a sabedoria, assim o comando das massas.. E para tanto, devemos reconhecer a essência da Doutrina Espírita que, por amor de Deus, nos envia os recursos necessários, nos fazendo aprender o que nos falta para a paz do coração e a reconhecer Jesus como o Diretor deste planeta, sendo Ele o caminho para todo o rebanho da Terra.

A prática das virtudes enumeradas pelo Evangelho nos livra de todo o peso de faltas inumeráveis em vidas sucessivas e das ilusões, tanto quanto das paixões da Terra, e nos libertam para a grandeza da vida imortal. A realeza que devemos ter é a grandeza do amor e da caridade, duas forças em uma, que nos levam à felicidade, além do perdão e da fraternidade, deixando o clima da alegria assegurar o nosso bem-estar, alimentando a fé, divina e humana, para que se complete a harmonia espiritual, iluminando o campo imenso da vida íntima.

De "Máximas de Luz"
ESE - Cap. II - Item 8
De João Nunes Maia
Espírito Miramez

23 maio 2012

Assédio das Sombras, amparo da Luz - Bruno J. Gimenes/Cristopher


Assédio das Sombras, amparo da Luz


No momento atual da humanidade, já sabemos, já lemos e já experienciamos que todos somos assediados espiritualmente. Esse assédio pode ser por parte da Luz ou das Sombras.

A nossa sintonia pessoal, a qual é construída com base nas nossas emoções, pensamentos, sentimentos e atitudes, determinam o que vamos atrair: assedio da luz ou das sombras. Mesmo assim, ainda podemos estar sintonizados em vibrações nobres e sermos assediados pelas sombras, como também podemos estar sintonizados em condições precárias a ainda assim, sermos assediados pelos seres de Luz.

Quando o assédio é feito por seres destituídos de amor e respeito, sem fins de moral elevada, os consideramos obsessores.

Quando o assédio é feito por seres com objetivos elevados, sintonizados com o bem maior, os consideramos como amparadores, guias, mentores o amigos espirituais.

Pela natureza da vida sabemos, a interação entre plano espiritual e plano físico é tão íntima como a relação do ovo e da sua casca, pois estão intimamente ligados. Um existe para que o outro exista, portanto estão interagindo o tempo todo.

O plano físico e o plano espiritual coexistem no espaço de nossa existência, ou seja, não temos como bloquear essa interação, mas temos como trabalhar no sentido de fazer com que essa “troca” seja a mais saudável possível...


Não há como evitar, o assédio espiritual é constante, atuante, exatamente como o ar que respiramos. A nossa escolha é se respiraremos um ar puro ou poluído, que na prática quer dizer, se nossa sintonia será estabelecida com os assediadores do bem ou do mal.

Agora, nesse exato momento que você lê esse texto, você está naturalmente em sintonia com o plano espiritual, então faça uma oração de coração aberto, receptivo, com intenção pautada no amor, para que os seres de luz venham até você e lhe inspirem os melhores valores e sentimentos. Só isso basta por hora!

Então silencie a mente e sinta a melhoria no seu padrão vibracional, pois sua energia pessoal melhorará em instantes. Se você gosta de testar tudo na prática, então avalie agora e veja os resultados.

O mais importante é que saibamos definitivamente, que quando agirmos com descaso, sem consciência, sem atenção a princípios e valores de elevada moral, pautados no amor, no equilíbrio, no respeito e na regra de ouro* presente em todas as religiões, como consequência natural, seremos assediados pelo lado sombra da existência espiritual.

Quanto mais assédio do mal, mais medo, mais egoísmo, mais distração consciencial, mais doença, mais ignorância.

Quanto mais assédio do bem, mas coragem, mais altruísmo, mais prosperidade, mas consciência espiritual e mais alegria de viver.

Não precisamos enxergar, ouvir ou ver o assédio da luz para que ela aja em nossas vidas, assim como não precisamos ver a energia elétrica para que ela atue, bem como não precisamos ver o ar para respirá-lo. Entretanto, de forma simples e objetiva, precisamos focar nossos pensamentos e atitudes no sentido do bem maior, para desfrutarmos de assédios espirituais de seres de elevado quilate moral, e dessa forma recebermos as bênçãos que é viver nessa sintonia. É simples, é fácil e é transformador viver com essa atenção e essa consciência.

*Regra de ouro: não faça para o seu próximo o que não gostaria que lhe fizesse e ame seu próximo como a ti mesmo.

Por: Bruno J. Gimenes
Orientado espiritualmente por Cristopher

22 maio 2012

O Poder da Oração - Marcos Paterra


O Poder da Oração

Quando se diz “o poder da oração”, temos de ter em mente seus processos e seus motivos, afinal muitos a usam com intenções maldosas, como desejar mal a outrem, nesse tocante vem em nossa mente a frase : “Acatemos na oração a presença da luz que nos descortina a estrada para a Vida Superior, sem prevalecer-nos dela, a fim de queixar-nos de outrem ou espancar verbalmente seja a quem seja, quando a nossa comunhão com Deus e com a Espiritualidade Superior não seja possível em lugar à parte, no silêncio do coração, conforme a recomendação de Jesus.”[1]

A oração tem um poder fabuloso, e vou o tentar descrever nesse artigo, para tanto vou me embasar cientificamente em pesquisas de autores não espíritas.

O Dr. Jeff Levin[2], pesquisador do National Institute for Healthcare Research, autor do Livro “Deus, Fé e Saúde”, realiza estudo científico de como fatores espirituais previnem a incidência de enfermidades em determinadas regiões e a mortalidade, e promovem a saúde e o bem-estar - estabelecendo o relacionamento existente entre ciência, medicina e espiritualidade. Entre vários exemplos pode-se citar que pacientes internados em UTI coronariana por meio de estudo duplo-cego[3], aleatorizado, com dois grupos paralelos, que receberam ou não prece.

Resultado: o grupo que recebeu prece (por 28 dias) obteve melhores escores de evolução na UTI coronariana do que os que não receberam; não houve diferença na duração da hospitalização entre os dois grupos. [4]

“A prece é o meio que o cérebro moderno tem para se conectar com estados de consciência ancestrais poderosos"[5]

Um estudo, publicado no mês de Fevereiro/2011, na revista Psychiatry Research: Neuroimaging,[6] sugere que meditar (orar) por apenas 30 minutos por dia, durante oito semanas, pode aumentar a densidade de massa cinzenta em regiões do cérebro associada à memória, stress e empatia.

Nesta mesma revista informa os “Benefícios da Meditação e Estado de Prece” :

  • Regula o ritmo respiratório e o ritmo cardíaco;
  • Aumenta o fluxo de sangue para as células;
  • Reduz o nível do hormônio cortisol, principal responsável pela morte de neurônios;
  • Permite níveis profundos de relaxamento e bem-estar; Excelente terapia para pessoas com pressão alta;
  • Reduz muito a ansiedade e o estresse (estima-se que 50% de todas as doenças são devido ao alto nível de estresse.)

Para os médiuns a oração é preciosa, ajuda a comunicação com espíritos afins.

“Quando desejamos nos comunicar com os espíritos desencarnados estaremos numa determinada frequência psíquica para tal. Se quisermos mudá-la teremos de alterar a emoção ou o pensamento. O estado de oração é uma forma de mudança de ambos. A sintonia não se dá apenas por um momento e em estado de oração, mas principalmente pelo modo de ser do indivíduo, pela sua natureza íntima, pelos sentimentos e ideias de que é portador.”[7]

Em uma instituição espírita temos por habito efetuar preces antes e após as reuniões sejam elas públicas ou mediúnicas, sem dogmatismos ou beatismos, apenas para ajudar outros e/ou facilitar as comunicações mediúnicas.

“A oração, antes forma petitória ou bajulatória, ganha conotação como forma de comunicação com Deus a fim de Lhes conhecer os objetivos ou corrigir rumos pessoais. A oração é ação em favor de si e de outrem. É um poderoso antídoto às agressões psíquicas. Não há lugar para altares, oferendas ou sacrifícios. O único sacrifício exigido é o sacro ofício de fazer o Bem ao alcance de cada um.”[8]

Publicado em Março 2012 pelo jornal “O Clarim”


NOTAS

[1] Trecho retirado do livro “Sinal Verde” de Francisco C. Xavier, Cap. 50 “Ante a Oração” pelo espírito de André Luiz -Composto e Impresso pelo INSTITUTO DE DIFUSÃO ESPÍRITA; Araras/SP

[2] Epidemiologista social formado em religião, sociologia, saúde pública, medicina preventiva e gerontologia na Universidade Duke, na Universidade da Carolina do Norte, na Divisão Médica da Universidade do Texas e na Universidade de Michigan.

[3] Termo médico Duplo-cego: nem o paciente, nem quem realiza as pesquisas sabem quem está recebendo a prece; reduz vieses de interpretação dos resultados e evita o efeito placebo.

[4] Informação proveniente de http://poderdaprece.tripod.com/estudo.html

[5] Gregg Jacobs, professor assistente de psiquiatria na Escola de Medicina de Harvard.

[6] http://www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/463/a-meditacao-e-ca...

[7] Retirado do livro: “Psicologia e Mediunidade”; pag.53; Cap. Mediunidade e Sintonia ; Autor : Adenáuer Novaes - Salvador: Fundação Lar Harmonia, 10/2002

[8] Trecho retirado do livro: “Psicologia e Espiritualidade – Cap. Trabalhando Visando colaborar com Deus, Pag.163; autor : Adenáuer Marcos Ferraz de Novaes- Ed. Fundação Harmonia; Salvador/BA 1999.


Marcos Paterra (João Pessoa/PB) - é articulista e membro do movimento espírita paraibano, colaborador de diversos sites e jornais espíritas. Email: marcos.paterra@gmail.com

21 maio 2012

Campanha Diferente - Irmão X


CAMPANHA DIFERENTE

Esperava por você justamente aqui, para tratarmos de assunto sério, - falou-me Capistrano, velho amigo agora no Plano Espiritual, que conheci maduro e próspero, em pequena loja do Botafogo, ao tempo em que ainda me acomodava à carcaça enferma.

Em torno de nós, na esquina da rua Real Grandeza, grupos fraternos de amigos desencarnados chasqueavam, alegres, dos carros que despejavam criaturas e flores pra as comemorações dos finados, junto ao aristocrático cemitério São João Batista.

Corbelhas e buquês, recordando jóias da primavera, derramavam-se de mãos ricas e pobres, engelhadas e juvenis, em homenagem aos afetos queridos, que quase todos os visitantes supunham para sempre estatelados ali no chão.

- Soube, meu caro, - prosseguiu Capistrano singularmente abatido, - que você ainda escreve para os vivos do mundo...

E, apontando para respeitável matrona, acompanhada de dois carregadores portando ricos vasos, continuou:

- Grafe uma crônica, recomendando a extinção de semelhante excessos. Mostre a inconveniência do orgulho na casa dos mortos imaginários da Terra, que hoje reconhecemos deve ser um recinto de silêncio e oração. Em toda a parte, o progresso marca no mundo admiráveis alterações. Guerras modificam a geografia, apóstolos renovam leis, a civilização aprimora-se, engenhos varrem o espaço, indicando a astronáutica do futuro, no entanto, com raras exceções de alguns países que estão convertendo necrópoles em jardins, os nossos cemitérios repousam estanques, lembrando parques improdutivos, onde se alinham primorosas plantas de pedra sobre montões de batatas podres. Órgãos de fiscalização e sistemas de vigilância controlam mercados e alfândegas, na salvaguarda dos interesses públicos e ninguém coibe os investimentos vãos em tanta riqueza morta.

Capistrano fitou-nos, como a verificar o efeito das palavras que pronunciara, veemente, e seguiu adiante:

- Imagine você que também errei por faltar-me orientação. Tive uma filha única que foi todo o encanto de minha viuvez dolorida. Marília, aos dezoito janeiros, era a luz de minhalma. Criei-a com todo o enternecimento do jardineiro que observa, enlevado, o crescimento de uma flor predileta. Entretanto, mimada por meus caprichos paternos, minha inexperiente menina negou-me todas as previsões. Enamorou-se, na praia, de um rapaz doidivanas, que se entregava aos exercícios da bola, e, certa feita, menosprezada por ele, tomou violenta dose de corrosivo relegando-me à solidão. Ao vê-la, nas raias da agonia, sem que meu amor pudesse arrebatá-la ao domínio da morte, rendi-me dementado, a total desespero. Nunca averiguei as razões que lhe ditaram atitude assim tão drástica e jamais procurei o moço anônimo que, decerto, ao abandoná-la, não teria a intenção de fazê-la infeliz. Passei, no entanto, a cultuar-lhe loucamente a memória. Despendi mais da metade de minhas singelas economias para erigir-lhe um túmulo de alto preço... E, por vinte anos consecutivos, adorei o monumento inútil, lavando frisos, fazendo lumes, mudando enfeites, plantando flores. Envelheci chorando sobre a lápide, e quando os meus olhos divisavam o custoso jazigo, tateava o relevo das chorosas legendas...

Um dia, chegou minha vez. O coração parou, deslocando-me do corpo hirto. No entanto, embora desencarnado, apeguei-me ao sepulcro que venerava, estirando-me nele. Se amigos logravam afastar-me para esse ou aquele mister, acabava tornando ao formoso monstro de mármore para lamentar-me a clamar pela filha que não conseguia ver. Quatro anos rolaram sobre minha aflitiva situação, quando, em determinada manhã, experimentei comentário indizível, sentindo-me à feição da terra gelada que se reaviva ao calor do sol. Inexplicavelmente contemplava Marília na tela da saudade, qual se lhe fosse receber, de novo, o beijo de amor e luz, quando antigo orientador buscou-me, presto, e conduzindo-me, bondoso, à rua General Polidoro, apontou-me um homem suarento e cansado, a carregar ternamente, nos próprios braços, triste menina muda, paralítica e pobre... Ao fixar-lhe os olhos embaciados de criança-problema, a realidade espiritual clareou-me a razão. Surpreendera Marília reencarnada, em rudes padecimentos expiatórios, e, mais tarde, vim a saber que renascera por filha do mesmo homem que lhe fora motivo ao gesto tremendo de deserção... Desde essa hora, fugi das ilusões que me prendiam a pesadelo tão longo!... Acordei renovado, para novamente respirar e viver, trabalhar e servir...

Capistrano enxugou o pranto que lhe corria copioso e ajuntou com amargura:

- Escreva, meu amigo, escreva às criaturas humanas e informe, claramente, que os vivos da espiritualidade agradecem o respeito e o carinho com que se lhes dignificam os restos, mas rogue para que se abstenham destes quadros fantásticos de vaidade ostentosa, com que se pretende honrar o nome dos que partiram... Peça para que socorram as crianças desajustadas e enfermas, enjeitadas e infelizes com o dinheiro mumificado nestes cofres de cinza... Diga-lhes para que se compadeçam dos meninos desamparados e que provavelmente, muitos daqueles entes inolvidáveis que procuram nos carneiros de luxo, estão hoje em provações cruéis, nos institutos de correção ou no leito dos hospitais, na ociosidade das ruas ou em pardieiros esburacados que o progresso esqueceu... Fale da reencarnação e explique-lhes que muitos dos imaginados mortos que ainda amam, jazem sepulcros em corpos vivos, quase sempre, desnutridos e atormentados, suplicando alimento e remédio, refúgio e consolação...

A palavra do amigo silenciou, embargada de lágrimas, e aqui me encontro, atendendo à promessa de redizer-lhe a história numa página simples. Entretanto, não guardo a pretensão de ser prontamente compreendido, de vez que se estivesse na avenida Rio Branco ou na Praça Mauá, envergando impecável costume de linho inglês, entre homens ainda encarnados, eu diria também que este caso é um conto de mortos para mortos, e que os mortos devem estar mortos sem preocupar a ninguém.

Pelo Espírito Irmão X
Do livro: Relatos da Vida
Médium: Francisco Cândido Xavier

20 maio 2012

Os Sinais de Renovação - Neio Lúcio


OS SINAIS DE RENOVAÇÃO

Ante a assembléia familiar, o Mestre tomou a palavra e falou, persuasivo: — E quando o Reino Divino estiver às portas dos homens, a alma do mundo estará renovada.

O mais poderoso não será o mais desapiedado e, sim, o que mais ame.

O vencedor não será aquele que guerrear o inimigo exterior até à morte em rios de sangue, mas o que combater a iniquidade e a ignorância, dentro de si mesmo, até à extinção do mal, nos círculos da própria natureza.

O mais eloqüente não será o dono do mais belo discurso, mas, sim, o que aliar as palavras santificantes aos próprios atos, elevando o padrão da vida, no lugar onde estiver.

O mais nobre não será o detentor do maior número de títulos que lhe conferem a transitória dominação em propriedades efêmeras da Terra, mas aquele que acumular, mais intensamente, os créditos do amor e da gratidão nos corações das mães e das crianças, dos velhos e dos enfermos, dos homens leais e honestos, operosos e dignos, humildes e generosos.

O mais respeitável não será o dispensador de ouro e poder armado e, sim, o de melhor coração.

O mais santo não será o que se isola em altares do supremo orgulho espiritual, evitando o contacto dos que padecem, por temer a degradação e a imundície, mas sim, aquele que descer da própria grandeza, estendendo mãos fraternas aos miseráveis e sofredores, elevando-lhes a alma dilacerada aos planos da alegria e do entendimento.

O mais puro não será o que foge ao intercâmbio com os maus e criminosos confessos, mas aquele que se mergulha no lodo para salvar os irmãos decaídos, sem contaminar-se.

O mais sábio não será o possuidor de mais livros e teorias, mas justamente aquele que, embora saiba pouco, procura acender uma luz nas sombras que ainda envolvem o irmão mais próximo...

O Amigo Divino pousou os olhos lúcidos na noite clara que resplandecia, lá fora, em pleno coração da Natureza, fez longo intervalo e acentuou:

— Nessa época sublime, os homens não se ausentarão do lar em combate aos próprios irmãos, por exigências de conquista ou pelo ódio de raça, em tempestades de lágrimas e sangue, porquanto estarão guerreando as trevas da ignorância, as chagas da enfermidade, as angústias da fome e as torturas morais de todos os matizes...

Quando o arado substituir o carro suntuoso dos triunfadores, nas exibições públicas de grandeza coletiva; quando o livro edificante absorver o lugar da espada no espírito do povo; quando a bondade e a sabedoria presidirem às competições das criaturas para que os bons sejam venerados; quando o sacrifício pessoal em proveito de todos constituir a honra legítima da individualidade, a fim de que a paz e o amor não se percam, dentro da vida — então uma Nova Humanidade estará no berço luminoso do Divino Reino...

Nesse ponto, a palavra doce e soberana fez branda pausa e, lá fora, na tepidez da noite suave, as estrelas fulgentes, a cintilarem no alto, pareciam saudar essa era distante...

Pelo Espírito Neio Lúcio
Do Livro: Jesus no Lar
Médium: Francisco Cândido Xavier

19 maio 2012

As Gerações Futuras - Vinícius


As Gerações Futuras

As gerações futuras não serão diferentes da presente, com todos os seus defeitos e prejuízos de ordem moral, se não tratarmos da educação da infância e da juventude; dessa juventude que será a sociedade de amanhã.

Jesus disse que não se põe remendo de pano novo em roupa velha, por isso que a rasgadura se tornará maior. E, igualmente, não se põe vinho novo em odres velhos, porque estes não resistem à sua fermentação, e se rompem.

É claro que o Excelso Mestre se refere, nesta alegoria, à natureza do ideal que propagava, do qual era a viva encarnação. Esse ideal novo, reformador, quase revolucionário, revestido pela Terceira Revelação, deve ser anunciado, de preferência à juventude, às crianças, porquanto estes elementos representam a terra virgem, aberta à boa sementeira. Semear no meio de abrolhos e semear em terreno isentam de ervas daninhas hão de dar resultados bem diversos.

As messes, de uma e de outra, dessas culturas, serão, por certo, distintas, dizendo por si mesmas qual delas é a mais vantajosa.

E, meus amigos, até agora, não temos feito outra coisa senão semear no meio de cardos, remendar roupa velha com pano novo e deitar o vinho espumante da vindima espírita em odres carunchentos, incapazes de suportarem a sua fermentação.

Educar é salvar, é remir, é libertar; é desenvolver os poderes ocultos, mergulhados nas profundezas das nossas almas.

A diferença entre um sábio e um ignorante; entre o bom e o mau; o santo e o criminoso; o justo e o ímpio - nada mais é que o efeito da educação. Entre aquelas que edificam e aqueles que destroem; entre os que tiram a vida do seu próximo levando por toda parte a desolação e a ruína e aqueles que dão a vida própria a prol do bem da coletividade, verifica-se, apenas uma dessemelhança: educação - na sua acepção verdadeira, que significa o harmônico desenvolvimento das faculdades espirituais. Os homens são todos iguais. A diferença entre eles não é de essência, mas de grau evolutivo determinado pela educação.

Conta-se que Licurgo, célebre orador ateniense, fora, certa ocasião, convidado para falar sobre a Educação. Aceitou o convite, sob a condição de lhe concederem três meses de prazo. Findo esse tempo, apresentou-se perante numerosa e seleta assembleia, que aguardava, ávida de curiosidade, a palavra do consagrado tribuno.

Licurgo apareceu, então, trazendo consigo dois cães e duas lebres. Soltou o primeiro mastim e uma das lebres. A cena foi chocante e bárbara. O cão avança furioso sobre a lebre e a despedaça. Soltou, em seguida, o segundo cachorro e a outra lebre. Aquele pôs-se a brincar com esta amistosamente. Ambos os animais corriam de um para outro lado, encontrando-se aqui e acolá para se afagarem mutuamente.

Ergue-se, então, Licurgo na tribuna e conclui, dirigindo-se ao seleto auditório:

"Eis aí o que é a educação. O primeiro cão é da mesma raça e idade que o segundo. Foi tratado e alimentado em idênticas condições. A diferença entre eles, é que um foi educado, e o outro não."

O objetivo máximo do Espiritismo é precisamente esse: educar para salvar. Iluminar o interior dos homens para libertar a Humanidade de todas as formas de selvajaria; de todas as modalidades de crueza e de impiedade; e de todas as atitudes e gestos de rivalidade feroz e deselegância moral. Esta conquista diz respeito ao sentimento, ao senso religioso, que os homens do século perderam, ou melhor, que jamais chegaram a possuir.

De "O Mestre na educação"
De Vinícius (Pedro Camargo)

18 maio 2012

Seja Feita a Divina Vontade - Emmanuel


SEJA FEITA A DIVINA VONTADE

Não aflijas o próprio coração, pedindo ao Céu aquilo que realmente não constitui nossa necessidade essencial.

Recorda, em tuas orações, que a Vontade Divina endereça-nos, cada dia, concessões que representam a provisão de recursos imprescindíveis ao nosso enriquecimento real.

Observa, na sucessividade das horas, as bênçãos do Todo Misericordioso.

Aparecem, quase todas, em forma de trabalho nos pequenos sacrifícios que o mundo nos reclama.

Aqui, é a família exigindo compreensão.

Ali, é uma obrigação social que devemos cumprir.

Além, é o imposto do reconhecimento que não nos cabe sonegar.

Mais além, é o companheiro de caminho que nos pede auxílio e entendimento.

Guarda a boa vontade no coração e o serviço nas atitudes, à frente da Humanidade e da Natureza, e perceberás que não é preciso bater às Portas do Céu com demasiadas súplicas ou com excessivas aflições.

Repara os nossos irmãos menos felizes que procuram a fortuna amoedada ou que buscaram os títulos da autoridade terrestre.

Quase todos avançam atormentados, ao calor de braseiros invisíveis, suspirando pela paz que temporariamente perderam, em recebendo compromissos prematuros.

É possível que sejas convocado à luta da direção ou à mordomia do ouro; é provável que amanhã sejas conduzido aos mais altos postos, na orientação do povo ou no esclarecimento das almas...

Se isso, porém, está nos Desígnios do Senhor, não precisas inquietar-te através de requisições e rogativas sem qualquer razão de ser.

Não intentes a aquisição de bens ou responsabilidades para os quais ainda não te habilitaste.

A árvore, sem angústia, cresce para a colheita e a fonte, sem violência, desliza no espaço e no tempo, acabando por encontrar a serenidade do grande oceano.

Cumpre o dever de hoje, com segurança e tranqüilidade, sê, antes de tudo, correto e irrepreensível para com os outros e para contigo mesmo, e o Plano de Eterna Sabedoria te alçará gradativamente a serviços sempre mais expressivos e sempre mais importantes, porque na confiança de tua fidelidade ao Bem, estarás repetindo com Amor de Jesus: "Seja feita, Senhor, a Tua Vontade, assim na Terra como nos Céus".

Pelo Espírito Emmanuel
Do livro: Sentinelas da Luz
Médium: Francisco Cândido Xavier

17 maio 2012

Reflita sobre isso - Anônimo


REFLITA SOBRE ISSO

Você pergunta!
"Jesus" responde

Você questiona!
"Ele" esclarece

Você duvida!
"Ele" lhe mostra

Você quer!
"Ele" lhe dá

Você esmorece!
"Ele" lhe fortalece

Você se desliga!
"Ele" te ascende

Você, sempre você; quer tudo e não dá nada!

"Ele" dá tudo e não cobra nada!


um espirito Amigo



Mensagem recebida através da psicografia de Ramirez, em 15/05/2012, no Grupo Espiríta Casa do Caminho de S.Vicente

16 maio 2012

Ante a Verdade Divina - Eurípedes Barsanulfo


Ante a Verdade Divina

Toda a trajetória existencial dos seres inteligentes em mundos como a Terra, desde as eras mais primárias quanto brutas, até os esplendores do conhecimento e técnica, organização e sentimentos que hodiernamente ornam a história humana, no rumo de substanciosas conquistas, diz respeito à consciência do Infinito, quando a imersão das potências da alma se conjugam, em movimentos de força e luz, ao Excelso Criador de tudo e de todos nós!

A verdade é o templo do Espírito e por isso mesmo, somente a verdade a se insinuar em todos os tempos e a fazer surgir ciências e filosofias, religiões e tratados, sistemas e condições de trabalho promotor, é o alimento dos seres em quaisquer etapas de sua marcha ascensional.

A educação, por isso, é a proposta magna e o campo dadivoso de superação para todas as criaturas ...

As imantações embrionárias dos reinos mineral e vegetal já noticiam o labor sacrossanto da verdade em expansão educativa ou evolucional.

Das gravitações simples aos apogeus das simetrias cristalóides, das singelas expressões das algas nos mares tépidos de antanho até o complexo labor da fotossíntese promotora do reino verde, expressões e formas se casam, laborando a vida e irradiando potências.

As conjugações psíquicas, em espécies de famílias e grupos são notas do amor que é o elã eterno, força divinal, a tudo embebendo e a tudo enaltecendo até o infinito.

A mente humana é a síntese de todas as condições e de todas as formas que nesse orbe singelo tiveram e ainda têm vez, de modo que o Espírito consciente de si próprio é a mais alta conquista a que se pode projetar os habitantes dessa Humanidade sofredora e ainda negadora de Deus !

Irmãos:

O Espiritismo, como Ciência do Infinito, em ação didática a favor da libertação humana para Cristo é o Caminho !

Em seus dons sublimes, encarnados e desencarnados rompem, se o desejam, o casulo dos preconceitos e da ignorância, dos jogos personalistas e das vaidades sem razão.

Atendei aos encargos que vos convidam à própria melhoria, mas considerai que a obra educativa do Espírito, proposta pelo insígne Allan Kardec, devidamente orientado por Jesus, passa pelo esforço do saber real, em que todo o empenho por uma Terra melhor, com devoção à felicidade dos semelhantes, torna-se condição sine qua non!

Estamos convosco, como alguém que busca orquestrar ideais e ações cadenciadas, com foco na verdade revelada e em louvor da redenção de todos !

Aplicai as equações da luz cristã redivivas no Consolador, e conhecereis o infinito de Deus: a verdade divina.

Eurípedes Barsanulfo

Mensagem psicografada pelo médium Wagner Gomes da Paixão, dia 29 de abril de 2012, durante o 15º Congresso Estadual de Espiritismo, da USE, em Franca.

15 maio 2012

Compromisso Espírita - José Herculano Pires



COMPROMISSO ESPÍRITA

Irmãos Espíritas!

Deus, a Força e a Luz do Universo, nos promova a paz nas realizações do Bem!

O túmulo é o portal revelador de nossos potenciais e no conjunto de valores que formam nossa cultura intelecto-moral, vemo-nos em nossas lutas em substanciosa revisão de nossas prerrogativas...

O Espiritismo – podemos reafirmar em lucidez e já indene das impressões humanas – é a mais sublime síntese dos fundamentos cósmicos que fizeram nascer, na Terra, os exemplos irretocáveis de Jesus, com seu Evangelho de Sabedoria e Amor!

Erramos na marcha do Movimento Espírita; equivocamo-nos ao expressar emoções e indignações a respeito de pessoas e instituições; sabotamos a verdade de Deus quando nos concedemos poderes que tão só existem, reais, nos seres redimidos do materialismo e dos sentimentos convenientes.

Por isso e por dever de consciência espiritual, guardamos no coração a certeza de que a Codificação Espírita é o centro das mais lúcidas e potentes realizações cognitivas – obviamente refinado instrumento filosófico-científico para apreciação ideal e efetiva do Evangelho Cristão.

A filosofia prossegue pelo Infinito, porque se no globo terráqueo a inércia mental e os vícios do comportamento conspurcam, geralmente os quadros da cultura, na Vida Espiritual mais equilibrada, o que se contém no nascedouro espírita, por méritos e trabalho de Allan Kardec, se nos patenteia e a nós descortina facetas e campos de aprendizado, de realizações no eterno dom do Amor.

O que a Revelação dos Espíritos oferece à Humanidade será capaz de inspirar os novos modelos de regeneração humana, desde as escolas elementares às universidades, desde o lar aos templos...

O Espírito da Verdade legou à Família Humana os códigos de sua definitiva emancipação para os mundos do Infinito e nenhuma Entidade Espiritual, por mais evolvida seja, poderá fazer por cada um de nós o dever de esforçar por conhecer e de se disciplinar por aplicar.

Fé e razão, amor e abnegação, esperança e serviço são princípios invioláveis.

Desejando sinceramente que todos nos irmanemos na Luz revelada para as transformações morais do Planeta, registramos o nosso respeito a todos e o êxito de nossas esperanças por uma Terra mais elevada e solidária no Bem!

José Herculano Pires

Mensagem psicografada pelo médium Wagner Gomes da Paixão, dia 29 de abril de 2012, durante o 15º Congresso Estadual de Espiritismo, da USE, em Franca.

14 maio 2012

Questão de Provas - Irmão X


QUESTÃO DE PROVAS

Em recente campanha de propaganda do Espiritismo, abriu-se estranha fervura no arraial materialista, que se julgou na obrigação de defender as muralhas da sombra e da morte.

Porque homens dignos e respeitáveis se colocavam ao lado dos humildes, convertendo-se em advogados da razão e da lógica, os pequenos vândalos do ateísmo surgiram a campo, improvisando conceituação apressada, a favor do negativismo renitente.

Na vida das abelhas laboriosas verificam-se acontecimentos semelhantes. De quando em quando, a colméia sofre a ameaça de invasores cruéis que se caracterizam pela inutilidade e pelo vampirismo. Se as sentinelas não funcionam e se não há bastante estoque de cera para isolar os detritos na região do esquecimento, é provável que se perca, irremediavelmente, a colheita do mel. Felizmente, porém, as operárias trabalham afanosamente, tocadas de amor e fidelidade ao dever, e os insetos perturbadores passam como a nuvem de gafanhotos, abandonando a colméia libertada.

As instituições espiritistas dos tempos modernos, à maneira das igrejas apostólicas primitivas, sofrem o assédio da incompreensão sistemática, através das acusações gratuitas de toda sorte. E os espiritualistas de hoje, como sucedia aos seguidores de Jesus, no passado, segundo os que rezam na cartilha do convencionalismo, são responsáveis por todos os males. Todavia, o que mais espantou na referida campanha, foi a multiplicidade dos convites estranhos, endereçados por homens inteligentes às almas dos “mortos”!

Porque alguns poetas e escritores desencarnados, de Portugal e do Brasil, se lembraram dos amigos, escrevendo-lhes algumas páginas de gratidão e saudade, alguns vivos da Terra, habituados ao jogo dos raciocínios palavrosos, reagiram fervorosamente, lançando reptos aos Espíritos do “outro mundo”, como os cavalheiros medievais, que atrevidamente lançavam a luva em desafio. Os desencarnados, porém, ouviram e sorriram, impassíveis, porque, de fato, não se sentiam na posição de contadores. Não haviam surrupiado dinheiro nem desrespeitado as leis vigentes; não escreveram palavras torpes, nem roubaram segredos dos grandes magnatas da indústria; não trouxeram invenções destruidoras, nem instituíram ódios políticos e raciais. Em suma, não chegaram nem mesmo a pedir aos amigos que acreditassem em suas palavras sinceras e fraternais.

Mas os defensores da negação sistemática se aliaram, de modo surpreendente, aos devotos do “deixa estar como está” dos credos sectaristas, e houve a explosão das cóleras sagradas.

Nem a ira de Júpiter, no Olimpo, entre os deuses, seria tão desvairada, porque Júpiter se enfurecia numa época em que o mundo não ia além da floresta e do mar. Os companheiros materialistas, porém, enraiveceram-se contra nós, quando já a medicina mobiliza os mais eficientes recursos contra as moléstias do fígado, e quando sábios eminentes se congregam para solucionar transcendentes questões do sofrimento humano. Como não lhes era possível destruir o trabalho realizado pelos semeadores do bem, no silêncio do anonimato construtivo, endereçaram estranhos apelos aos espíritos desencarnados para que lhes trouxessem as provas da sobrevivência. Não queriam respirar a veneração devida a um templo: reclamavam o picadeiro. No entanto, agora, quando a economia dirigida costuma queimar trigo e os parques de diversões aperfeiçoam os entretenimentos, é impossível repetir a exigência de “pão e circo”, dos alegres e despreocupados romanos do tempo de Juvenal...

Houve quem pedisse o regresso de Schubert para que o grande compositor terminasse a sua Sinfonia Inacabada. Reclamavam outros a presença do casal Curie para demonstrações radiológicas, acrescidas dos conhecimentos adquiridos além do sepulcro. Apareceram pessoas chamando Leonardo da Vinci para que lhes pintasse a fé no centro do crânio, e um escritor respeitável, de alma nobre e coração generoso, apareceu inexplicavelmente na arena, propondo-se apresentar complicado problema de matemática às almas do “outro mundo”. Hiparco e Ptolomeu regressariam reverentes, atendendo a questões de trigonometria, e Diofanto, o matemático grego, viria, pressuroso, solucionar novos enigmas algébricos, assombrando os seus semelhantes do século XX. Enquanto isso, os médiuns seriam promovidos, automàticamente, a enciclopédia humana.

Nenhuma realização nesse particular, entretanto, resolveria o problema da fé viva. Muitos Espíritos desencarnados já vieram e satisfizeram a estranhos caprichos dos investigadores exigentes, mas restou sempre lugar para a desconfiança destrutiva. Invoca-se a telepatia, nas mais diversas ocasiões, para justificar todos os fatos, e se a telepatia não chega, surgem teorias apressadas que deixam os materialistas “como dantes, no quartel de Abrantes”.

Há mais de meio século, esforçam-se os Espíritos dos “mortos” para iluminar o caminho dos vivos, referentemente às certezas consoladoras da vida imperecível. A crença, porém, como o fruto, tem a sua época de amadurecimento necessário. Os homens de bom senso, que morrem antes dos outros, compreendem a extensão das fraquezas que caracterizam os seus irmãos de Humanidade. Sabem que não se pode pedir determinados testemunhos ou certas equações intelectuais aos menores de espírito, que constituem vastíssimas fileiras no campo evolutivo. Conhecem, igualmente, os gigantes da inteligência, que afrontam as verdades eternas com o estilete do sarcasmo, sem desconhecerem as responsabilidades que assumem, vacilantes embora, entre as considerações exteriores e as imposições da consciência. Os desencarnados esclarecidos, porém, não podem hesitar diante do quadro divino das realidades eternas e continuam preferindo o silêncio com o trabalho edificante na elevação geral. Não podem, em obediência a princípios de ordem divina que lhes regem as atividades e relações, voltar à camaradagem inferior, comentando vulgaridades e pilhérias de mau gosto, satisfazendo ao caprichoso critério dos antigos companheiros atolados nas velhas fantasias. Não dispõem de tempo para solucionar quebra-cabeças, em atenção a exigências descabidas, sem nenhum valor essencial na aquisição da fé. Mas... quem sabe? talvez possam ser úteis, mais tarde, aos seus amigos, em horas de extremo interesse do espírito, na solução de problemas de importância fundamental para eles, no campo infinito da vida eterna.

Pelo Espírito Irmão X
Do livro: Lázaro Redivivo
Médium: Francisco Cândido Xavier

13 maio 2012

Retrato de Mãe - Maria Dolores


Retrato de Mãe

Depois de muito tempo,
sobre os quadros sombrios do calvário.
Judas, cego no além, errava solitário...
Era triste a paisagem, o céu era nevoento...

Cansado de remorso e sofrimento,
Sentara-se a chorar...
Nisso, nobre mulher de planos superiores,
Nimbada de celestes esplendores,
Que ele não conseguia divisar,
Chega e afaga a cabeça do infeliz.
Em seguida, num tom de carinho profundo,
Quase que em oração ela diz:
- Meu filho, porque choras?
Acaso não sabeis? – replica o interpelado,
Claramente agressivo.
Sou um morto e estou vivo.
Matei-me e novamente estou de pé,
Sem consolo, sem lar, sem amor e sem fé...
Não ouvistes falar em Judas, o traidor?
Sou eu que aniquilei a vida do Senhor...
A princípio, julguei poder fazê-lo rei,
Mas apenas lhe impus, sacrifício, martírio, sangue e cruz.
E em flagelo e aflição
Eis que a minha vida agora se reduz...
Afastai-vos de mim,
Deixai-me padecer neste inferno sem fim...
Nada me pergunteis, retirai-vos senhora,
Nada sabeis da mágoa que me agita...
O assunto que lastimo é unicamente meu...
No entanto a dama calma respondeu:
- Meu filho, sei que choras, sei que lutas,
Sei a dor que causa o remorso que escutas...
Venho apenas falar-te
Que Deus é sempre amor em toda parte...
E acrescentou serena:
- A bondade de Deus jamais condena:
Venho por mãe a ti, buscando um filho amado.
Sofre com paciência a dor e a prova.
Terás em breve, uma existência nova...
Não te sintas sozinho ou desprezado!
Judas interrompeu-a e bradou, rude e pasmo:
- Mãe? Não venhais aqui com mentira e sarcasmo.
Depois de me enforcar num galho de figueira,
Para acordar na dor,
Sem mais poder fugir à vida verdadeira.
Fui procurar consolo e força de viver.
Ao pé da pobre mãe que forjara o ser !..
Ela me viu chorando e escutou meus lamentos.
Mas teve medo dos meus sofrimentos.
Expulsou-me a esconjuros,
Chamou-me monstro, por sinal
Disse que eu era
Unicamente o espírito do mal,
Intimidou-me a terrível retrocesso,
Mandando que apressasse o meu regresso
Para a zona infernal de onde eu vinha...
Ah ! Detesto lembrar a horrível mãe que eu tinha...
Não me faleis de mães, não me faleis de amor,
Sou apenas um monstro sofredor...

Inda assim – disse a dama docemente:
- Por mais recuses, não me altero,
Amo-te filho meu, amo-te e quero
Ver-te de novo a vida
Maravilhosamente revestida
De paz e luz, de fé e elevação...
Virás comigo à terra,
Perderás pouco a pouco, o ânimo violento,
Terás o coração
Nas águas de bendito esquecimento.
Numa existência de esperança,
Levar-te-ei comigo
A remansoso abrigo.
Dar-te-ei outra mãe ! Pensa e descansa !...
E Judas neste instante.
Como quem olvidasse a própria dor gigante,
Ou como quem se desgarra
De pesadelo atroz,
Perguntou: - quem sois vós?
Que me falais assim, sabendo-me traidor?
Sois divina mulher, irradiando amor,
Ou anjo celestial de quem pressinto a luz?
No entanto ela a fitá-lo frente a frente,
Respondeu simplesmente:
- Meu filho, eu sou a mãe de Jesus!!!

Do livro "Momentos de Ouro"
Maria Dolores (Espírito)
Francisco C. Xavier (psicografia)

12 maio 2012

Trabalhando os Trabalhadores - Joana Abranches


TRABALHANDO OS TRABALHADORES

Uma das coisas mais complexas no cotidiano de uma Casa Espírita é administrar as diferenças comportamentais entre os trabalhadores. Aqui e ali, por um motivo ou por outro, pipocam os atritos e melindres, muitas vezes encobertos pelo silêncio em nome da “caridade”, mas evidentes nos olhares atravessados, nos recadinhos indiretos e não raras vezes no afastamento inexplicável daquele companheiro que parecia tão entusiasmado... Quando chega a este ponto é que a guerra de persona, idéias e vibrações já atingiu o seu ponto máximo.


Não desanimemos. Onde há gente há problemas. Graças a Deus!... Porque onde há gente há também muito trabalho a ser feito e muita oportunidade de crescimento espiritual em contato com o outro. A grande questão é como trabalhar as tais diferenças de forma que, apesar delas, haja uma convivência realmente fraterna e saudável sem prejuízo do trabalho.


Todos somos diferentes e isso obedece a um propósito Divino. A natureza é assim. Se os iguais se atraem, os diferentes se complementam. Aquilo que para mim é prazeroso e fácil de realizar, já não é para o outro e vice-versa. É preciso apenas saber identificar, respeitar e integrar essas diferenças, abandonando aquele equivocado conceito de uniformidade que robotiza, que exige consenso em nome de uma harmonia questionável e disponibilidade integral em nome da dedicação; Que deixa implícita a exigência de todos rezarmos na mesma cartilha e de estarmos aptos e disponíveis todo o tempo a todo o tipo de tarefa na Casa Espírita se quisermos figurar no rol dos “trabalhadores da última hora”, dos “escolhidos”. Pronto. Já temos aí o esteriótipo criado e “sacramentado”. Quem não se enquadrar está fora.


Este é o ponto. Os problemas nos Grupos Espíritas acontecem não por causa das diferenças, mas pela nossa inabilidade em trabalhar com elas enquanto trabalhadores e lideranças.


Lembremos que a diversidade das flores e ramagens é que confere a beleza e harmonia que nos encanta num jardim, mas por trás de tudo está o trabalho do paisagista, que traçou canteiros e reuniu espécies, combinando cores, formas e, sobretudo, considerando os níveis de resistência e fragilidade para dispor a localização de cada planta. O mesmo se dá na Instituição Espírita. Companheiros com características diversas de personalidade, amadurecimento e aptidão podem estabelecer uma perfeita harmonia em sua diversidade. Mas o “paisagismo” cabe aos dirigentes.


Quem não conhece no seu grupo, por exemplo, alguém que se encaixe no perfil trabalhador “Faz-tudo”? Isso mesmo. Ele parece ter mil e uma utilidades. Dinâmico, disponível, ágil, este companheiro pode ser extremamente útil na execução de atividades práticas. Mas não o chame para reuniões de planejamento porque ou não vai comparecer ou vai cochilar. Para ele é um martírio ficar parado.


Já tem aquele que é o “viajante de plantão”; é aquele companheiro idealista, que sonha, faz projetos para o futuro e de vez em quando chega com uma idéia fantástica que ele jura que foi uma inspiração do mundo espiritual (e não importa de onde venha se for viável e positiva). Excelente para atuar no planejamento, estruturação e reestruturação das atividades, com ele em cena não há acomodação que resista. Está sempre propondo, ousando, criando, buscando alternativas inovadoras para a solução de velhos problemas de uma forma que “ninguém tinha pensado nisso antes...”Mas na hora de desmontar uma mesa... é parafuso pra todo lado e martelada no dedo.


Ah, e que grupo não tem o “certinho”? Extremamente racional e organizado, tudo ele anota, quantifica, formaliza. Para ele tudo tem que estar “preto no branco”. Quem melhor para atuar na área administrativa? Afinal, registrar, fazer contas, controlar e distribuir recursos na medida certa é com ele mesmo.


Por outro lado temos o “artista”, aquele que não abre mão do lúdico e está sempre a inserir música, teatro e outras manifestações de arte em todas as atividades. Graças ao seu espírito sensível e talentoso as reuniões comemorativas vão estar salpicadas daquela chama de emoção e entusiasmo tão necessária para reabastecer os ânimos e impulsionar pra frente. Ideal para desenvolver trabalhos que envolvam crianças e jovens, este companheiro sacode a mesmice, dá aquele toque de motivação e estimula como ninguém a integração fraterna.


Não poderíamos esquecer ainda do “paizão” ou “mãezona” do grupo. Afetivos, sensíveis, conciliadores, os companheiros com este perfil tem o poder de unir, reunir, apaziguar, conferir um sentido real de família à equipe. Sua habilidade em promover o diálogo e quebrar resistências quando há conflitos é imensa porque falam diretamente ao coração dos demais. Queridos e respeitados pelo amor e equilíbrio que irradiam, esses irmãos são fundamentais para a manutenção da paz na Instituição. São elementos que, entre outros, podem dar uma contribuição importantíssima nas reuniões de Atendimento Fraterno, pois possuem um elevado grau de afetividade que os dispõe naturalmente a acolher e abraçar os que sofrem.


Temos ainda o introspectivo, o extrovertido, o estudioso, o afoito, o ponderado, o questionador, o acomodado, o “modernoso”, o conservador e por aí vai. E quem de nós se aventuraria a discorrer sobre a maior ou menor importância deste ou daquele trabalhador, conforme os perfis aqui relacionados?


Na verdade todos se completam. Todos são insubstituíveis e indispensáveis em suas peculiaridades porque - enquanto não conseguimos ser perfeitos - este é um excelente exercício de aperfeiçoamento, já que é imprescindível aparar as arestas para nos encaixar nesse desafiador quebra cabeças que é formar uma equipe onde somos chamados a trabalhar para nada mais nada menos do que Jesus.


Quando interiorizamos isto buscamos o entendimento. E quando buscamos o entendimento - olhem só que coisa maravilhosa! – as peças se encaixam. Enquanto uns sonham outros ponderam, enquanto uns planejam outros concretizam, enquanto uns organizam outros adornam, enquanto uns são música outros são livro, enquanto uns são silêncio outros são sonoridade. E assim vamos nós. Trabalhando com as diferenças e assegurando a continuidade da obra. Enquanto isso estamos crescendo, amadurecendo, aprendendo a fazer concessões, a ser voto vencido, a discordar sem “rosnar” e tantos outros exercícios de reforma íntima.


O grande e real problema é este radicalismo autoritário ainda tão impregnado nas lideranças, que inadvertidamente impõem o enquadramento de seres diferentes em um padrão de comportamento rígido e único.
Todo mundo tem que pensar igual, tem que ter a mesma disponibilidade, senão é sinal de que não se esforçou o suficiente. Alguém aí tem um “esforçômetro”?
Sim, porque para medir o quanto cada companheiro está se esforçando para dar a sua contribuição, mesmo que aparentemente pequena, precisaríamos de um.


O segredo é nos valer das diferenças para potencializar o trabalho. Ninguém espere mar de rosas. Impossível não haver conflito onde existe diversidade, imperfeição e forças espirituais contrárias prontas para acionar o estopim do orgulho e da vaidade tão presentes ainda em todos nós. Aqui é aquele companheiro veterano que rejeita as novas idéias dos recém-chegados porque só ele é o detentor absoluto da experiência; ali é outro que chega querendo mudar tudo, desconsiderando aqueles que ali já estavam muito antes da sua chegada construindo o que ele encontrou; Acolá é aquele que quer colocar o mundo dentro da casa espírita; mais além é aquele outro que quer tirar a casa espírita do mundo... e um sem fim de situações corriqueiras no cotidiano espírita.


Cabe às lideranças estabelecer um processo de observação e pacificação. Há que se administrar os conflitos para que as relações não sejam abaladas, pois o relacionamento interpessoal é a coluna vertebral da Casa Espírita; se ele está abalado, não se caminha ou se caminha para o caos. E não adianta julgar. Não adianta vir com aquele discurso que o fulano é espírita e deveria agir assim ou assado, porque todos nós sentimos na pele a dificuldade de sermos na prática tudo o que, teoricamente, sabemos que precisamos ser. Como já dizia o meu velho e sábio avô “muitas pessoas entraram para o Espiritismo, mas o Espiritismo ainda não entrou nelas”... e por falar nisso... Será que o Espiritismo, de verdade, já “entrou” em nós de forma tal que nos confira autoridade para avaliar os demais companheiros como bons ou maus espíritas? Há que se ter a humildade de admitir que todos estamos engatinhando em relação à transformação moral que nos fará o verdadeiro espírita que ainda não somos. Só assim trocaremos o dedo em riste por mãos unidas no mesmo esforço.


Um eficaz antídoto contra os atritos é promover a avaliação periódica das atividades do grupo. Mas avaliar não é colocar os companheiros no paredão. Avaliar é reunir todos os trabalhadores sistemáticamente, num clima familiar, onde todos são ouvidos de forma democrática e imparcial; é levar a equipe a se debruçar sobre o que está sendo feito, discutir sobre as dificuldades e possibilidades, mantendo, aperfeiçoando ou corrigindo a rota onde for necessário.


Mas é também urgente repensar as decisões de cima pra baixo. Não raro, a diretoria decide e os demais trabalhadores executam, sem que de alguma forma tenham sido ouvidos enquanto elementos fundamentais para a execução das tarefas. Questionar nem pensar, sob pena de serem incluídos imediatamente no tratamento de desobsessão diante da afirmativa paternalista que ”o nosso irmão está precisando muito de preces...” esta é a pena impiedosa de descredibilização “caridosamente” imputada àqueles que ousam “subverter” a ordem vigente.


E diante disto a gente se pergunta: Quando é que nós espíritas vamos conseguir estabelecer a diferença entre hierarquia e autoritarismo? Quando é que vamos parar de medir o valor dos companheiros pelos cargos que ocupam ou pelos títulos que ostentam? Quando é que vamos parar, enquanto dirigentes, de usar os trabalhadores enquanto mão de obra passiva para projetos que não são de todos, mas de alguns? Quando é que vamos parar de tomar questionamentos legítimos como ofensas pessoais e influência de obsessores? Já passou da hora de abandonar tais heranças reacionárias de existências passadas e avançar para a postura simples, respeitosa e justa que minimamente se espera de uma liderança espírita.


A saída é um diálogo constante, fraterno e o mais transparente possível, recorrendo a uma conversa amorosa, não só nas reuniões regulares de avaliação, que é o momento certo de refletir sobre o que não anda bem, mas buscando este diálogo no cotidiano da Instituição - em nível individual ou coletivo - sempre que os problemas surgirem. Omissão por medo de provocar ruptura é um equívoco. Se não criamos coragem de pegar o boi pelos chifres, intervindo junto aos conflitos e divergências quando necessário, estaremos perigosamente contribuindo para que se avolumem. Esconder os problemas não nos liberta deles, pelo contrário, faz com que ganhem força. E de repente lá estão eles, nas conversas de corredor, nos afastamentos repentinos ou nos debates acalorados em momentos impróprios, determinando de forma totalmente negativa a dinâmica das relações e, consequentemente, da Instituição.


Poeira acumulada debaixo do tapete leva a uma alergia tal que aos poucos vai tornando impossível a permanência no ambiente, ou seja, se fecharmos os olhos às dificuldades, quando os abrirmos poderemos tristemente constatar o esvaziamento da Casa, de forma literal ou pior: O desencanto, a ausência da fraternidade legítima, a presença pela “obrigatoriedade”de cumprir o compromisso e não pela alegria de estar junto, que é a base de tudo.


A responsabilidade é grande. Se não quisermos ser “cegos a guiar cegos”, precisamos compreender que conhecimento doutrinário, por si só, não habilita ninguém a estar à frente de Instituições Espíritas. É preciso também muita autocrítica e um mínimo de humildade. Quando convidados a assumir a liderança de nossos grupos, antes devemos nos perguntar se temos perfil para tal, se temos equilíbrio suficiente para atuar como mediadores, aglutinadores, pacificadores, como líderes e não chefes ou donos de coisa alguma, porque senão, ao menor estranhamento vamos ser os primeiros a pegar a nossa malinha e sair por aí atrás do utópico grupo ideal, deixando para trás companheiros divididos e desnorteados.


As chances de êxito são infinitamente maiores quando nos dispomos a exercitar esse tal amor, que não é algo tão longínquo quanto podemos supor; que começa se expressando simplesmente pela valorização dos pontos positivos dos companheiros, em detrimento dos negativos que possam ter; que se faz presente no exercício da tolerância, não porque somos bonzinhos e amamos todos os companheiros de forma igual - porque isto não acontece nesse estágio em que nos encontramos - mas porque temos consciência de que todos estamos no mesmo barco em termos de deficiências espirituais e que cada um precisa da tolerância do outro.


Se não buscarmos nutrir pelos companheiros esse amor possível, vamos continuar brincando de espírita bonzinho e, no fundo, só nos aturando, assim como qualquer profissional no seu ambiente de trabalho. Mas se existir afeto, a gente cede aqui, cede ali ou não cede, porque existem coisas que não dá para transigir, mas diz o que tem que dizer de uma forma sincera, porém amorosa, fraterna e, lembrando Jesus, vamos conversando com o nosso irmão em reservado “e se ele vos entender”, diz o mestre,”então tereis ganho o vosso irmão”.


Difícil?... Mas quem foi que disse que é fácil evoluir... e que se evolui sem conviver?!? Pensemos
nisto.




* Joana Abranches - Assistente Social e Presidente da Sociedade Espírita AmorFraterno – Vitória/ES.