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31 dezembro 2014

Mortes Prematuras - Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante



O CONHECIMENTO QUE A VIDA CONTINUA NOS PERMITE MANTER A CHAMA DA ESPERANÇA VIVA, POIS UM DIA NOS REENCONTRAREMOS.

“Que a morte não vos apavore mais, meus amigos; ela é uma etapa para vós, se soubestes viver bem; é uma felicidade, se merecestes dignamente e bem cumpristes as vossas provas. Repito-vos: coragem e boa vontade! Não ligueis senão um preço medíocre aos bens da Terra, e sereis recompensados; pode-se gozar muito, sem retirar o bem-estar dos outros, e sem fazer-se, moralmente, um mal imenso. Que a terra me seja leve!” (O Céu e o Inferno, 2ª Parte, cap. II, Espíritos Felizes, Editora Ide, 48ª edição)

Para aqueles que ficam, a saudade acalentada pelo desconhecimento provoca a sensação de perda, mas a Doutrina Espírita nos traz a luz clarificadora do entendimento. As questões 934 a 936 de O Livro dos Espíritos versam sobre a separação de pessoas amadas pela desencarnação e a possível e aparente profanação em virtude das comunicações espíritas.

Quando estamos momentaneamente separados de quem amamos, sofremos com a sua ausência, mas nos felicitamos em saber que continuam vivos. O conhecimento espírita nos permite isso. Com relação à profanação, em virtude das comunicações mediúnicas, os espíritos respondem: “Não pode haver nisso profanação quando há recolhimento, e quando a evocação é feita com recolhimento e decoro”. Invertamos a história. Se tivéssemos partido e chegasse ao nosso conhecimento que os que ficaram quisessem notícias nossas porque sentem saudades, isto nos deixaria mais aliviados, porque nos sentiríamos amados. Pois bem, o mesmo ocorre com os nossos familiares queridos que nos antecederam no retorno ao plano espiritual.

Kardec, em um de seus comentários às questões elencadas, nos diz que a Doutrina Espírita “(…) pelas relações que nos faculta manter com eles, nos oferece uma suprema consolação numa das causas mais legítimas de dor”. Só em saber que poderemos desde já, se assim for permitido, manter contato com os que já partiram, imensa alegria nos invade a alma. Mais ainda: o conhecimento que a vida continua nos permite manter a chama da esperança viva em nós que, se não for agora, um dia nos reencontraremos, pois nenhum de nós terá um fim. É semelhante a um familiar que precisa isolar-se em virtude de uma doença ou porque precisa dedicar-se aos estudos. Por um tempo nos será interditado o contato, mas após tal período nos reencontraremos e nos felicitaremos pelo sucesso do empreendimento ou pela cura da doença.

Acreditar na fatalidade é automaticamente negar a existência de Deus. Deus, que entre outros atributos é onisciente, onipresente, todo sabedoria e bondade, como permitiria que ficássemos jogados ao acaso, em vez de seguirmos a lei de causa e efeito? Isto sim nos parece muito mais justo. Às vezes, o ignorante orgulhoso prefere negar-se a conhecer uma verdade do que curvar-se perante ela e assumir a sua falta de conhecimento, para que possa abarcar todos os pontos.

Por quantos desregramentos morais o ser humano passa, os quais seus familiares, que o amam, prefeririam que antes tivesse partido a permanecer naquele sofrimento. É claro que há um quê de egoísmo e de orgulho pela vergonha que possam ser objeto. Mas também há um pouco de piedade por não querer ver o outro sofrer. Nós sabemos que os que desencarnam em tenra idade cumprem um complemento de encarnação e que nesta cabe-lhes poucos anos, constituindo prova para os pais também.

O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu capítulo V, item 21, nos traz uma bela mensagem do Senhor Sanson sobre perda de pessoas amadas: “Mortes prematuras”. À primeira vista pode parecer que o texto aborda de uma forma quase romanesca o fenômeno morte, mas ao lermos em O Céu e o Inferno (2ª Parte, cap. II, Espíritos Felizes, Editora Ide, 48ª edição) o preâmbulo e as evocações feitas a ele (Sanson) no pós-desencarne, veremos que se trata de um homem que amava a vida, mesmo padecendo de cruéis sofrimentos no último ano encarnado e, mesmo não tendo o correspondente religioso nos seus filhos, fez do Espiritismo sua bandeira de conduta, permitindo-se passar por uma verdadeira autópsia espiritual por parte dos confrades, a fim de comprovar a veracidade da comunicabilidade dos espíritos. Desencarnou em 21 de abril de 1862, dando a primeira comunicação dois dias após na câmara mortuária ao lado do corpo que era velado. Transmitindo a mensagem que encabeça o artigo para ser lida na cerimônia do cemitério.

Então não nos causa estranheza quando ele nos fala: “Vós que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração chamando esses entes bem-amados e, se pedirdes a Deus para os abençoar, sentireis em vós essas poderosas consolações que secam as lágrimas; essas aspirações maravilhosas que vos mostrarão o futuro prometido pelo soberano Senhor” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu capítulo V, item 21, Editora Ide, 320ª edição).

Ele faz uma verdadeira evocação pedindo que as pessoas antes de blasfemarem contra Deus por ter “levado” um ser amado, orem ao Pai pedindo forças. Nós não sabemos delimitar o nosso futuro. Estamos falando aqui de tempo de encarnação. Só Deus o sabe, precisamos confiar n’Ele.

A separação de seres amados será mais dolorosa em virtude da culpa e do remorso de não termos agido conforme o outro merecia; de não termos feito todo o bem que poderíamos ao outro; de termos açambarcado momentos felizes com o outro em detrimento de coisas menores; de termos menoscabado o valor do outro, procurando sobrepor-nos. Enfim, por não termos agido para com o outro como gostaríamos que outro tivesse agido para conosco. Saudade é algo que nos acompanha e não precisa o outro ter desencarnado. Remorso disfarçado de saudade repercute n’alma, perturbando-nos os passos e interditando a caminhada.

Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante
Fonte: site "Mensagens Espíritas"

30 dezembro 2014

Instrução - Emmanuel

 

INSTRUÇÃO

Já se disse que duas asas conduzirão o espírito humano à presença de Deus.

Uma chama-se Amor, a outra, Sabedoria.

Pelo amor, que, acima de tudo, é serviço aos semelhantes, a criatura se ilumina e aformoseia por dentro, emitindo, em favor dos outros, o reflexo de suas próprias virtudes; e, pela sabedoria, que começa na aquisição do conhecimento, recolhe a influência dos vanguardeiros do progresso, que lhe comunicam os reflexos da própria grandeza, impelindo-a para o Alto.

Através do amor valorizamo-nos para a vida.

Através da sabedoria somos pela vida valorizados.

Daí o imperativo de marcharem juntas a inteligência e a bondade.

Bondade que ignora é assim como o poço amigo em plena sombra, a dessedentar o viajor sem ensinar-lhe o caminho.

Inteligência que não ama pode ser comparada a valioso poste de aviso, que traça ao peregrino informes de rumo certo, deixando-o sucumbir ao tormento da sede.

Todos temos necessidade de instrução e de amor.

Estudar e servir são rotas inevitáveis na obra de elevação.

Toda a cultura intelectual é formada em cadeia de gradativa expansão.

As civilizações sucedem-se, ininterruptas, ao influxo da herança mental.

A arte, na palavra ou na música, no buril ou no pincel, evolui e se aprimora, por intermédio da repercussão a exprimir-se no trabalho dos cultivadores do belo, que se inspiram uns nos outros.

A escola é um centro de indução espiritual, onde os mestres de hoje continuam a tarefa dos instrutores de ontem.

O livro representa vigoroso ímã de força atrativa, plasmando as emoções e concepções de que nascem os grandes movimentos da Humanidade, em todos os setores da religião e da ciência, da opinião e da técnica, do pensamento e do trabalho. Por esse dínamo de energia criadora, encontramos os mais adiantados serviços de telementação, porqüanto, a imensas distâncias, no espaço e no tempo, incorporamos as idéias dos espíritos superiores que passaram por nós, há Séculos.

Sócrates reflete-se nas páginas dos discípulos que lhe comungavam a intimidade, e, ainda hoje, consumimos os elevados pensamentos de que foi ele o portador.

Retrata-se Jesus nos livros dos apóstolos que lhe dilataram a obra, e temos no Evangelho um espelho cristalino em que o Mestre se reproduz, por divina reflexão, orientando a conduta humana para a construção do Reino de Deus entre as criaturas.

Conhecer é patrocinar a libertação de nós mesmos, colocando-nos a caminho de novos horizontes na vida.

Corre-nos, pois, o dever de estudar sempre, escolhendo o melhor para que as nossas idéias e exemplos reflitam as idéias e os exemplos dos paladinos da luz.

Pelo Espírito Emmanuel
Do livro: Pensamento e Vida
Médium: Francisco Cândido Xavier

29 dezembro 2014

Umbral - Frater Luz



UMBRAL

Umbral - Nome atribuído a uma localidade do chamado "astral inferior", onde se estabelecem os espíritos de baixa vibração espiritual, que precisam pagar por infrações cometidas contra as leis de Deus.

Em geral são:
  • suicidas,
  • homicidas,
  • almas desajustadas
  • e cometedoras de graves delitos.

Sua descrição não foge muito as descrições dantescas do inferno. E aí pode estar uma das razões da lenda de um inferno de fogo e enxofre. Porém a realidade dos espíritos que expiam no umbral é bem diferente e por que não dizer bem pior que a do inferno dogmatizado fora do espiritismo:

  • O espírito, não raro, sofre incessantemente com a visão de seu suicídio ou de seus crimes. Às vezes, por anos a fio, revê sem parar o instante em que com um tiro tirava a própria vida, sente a carne sendo dilacerada pelo projétil, vê a condição desamparada de seus filhos que porventura tenha deixado, é constantemente acusado de assassino, numa guerra psicológica fora de nossa compreensão.
  • Muitas vezes sente fome ou sede insuportáveis, as vezes por anos seguidos.
  • Sente frio ou calor inenarráveis.
  • E muito frequentemente sentem o seu próprio corpo sendo consumido pelos vermes, o vê se deteriorando e sente todas as sensações decorrentes deste estado de putrefação.
O umbral se caracteriza, na linguagem dos espíritos, como um lugar de extremo sofrimento, "de choro e ranger de dentes". Muitas vezes o espírito, tão ignorante, desencarna, passa ali vários anos e mesmo assim ignora sua condição de desencarnado. Segundo as descrições dos espíritos superiores, o umbral é a sede dos espíritos de baixo desenvolvimento espiritual da terra, e sua descrição é, não raro, de um lugar de trevas povoado de dor, gritos de sofrimento, gemidos, de um insuportável cheiro pútrido, o que já é suficiente para caracterizar o nível moral dos que ali residem . Essa descrição deve ser tomada como uma constante, pois o umbral, como já relatado alhures, se trata do nome do lugar onde existem essas características básicas e para onde os espíritos inferiores são encaminhados para resgatar dívidas, crimes e infrações.

O umbral se localiza próximo a crosta terrestre. E é importantíssimo lembrar a maior diferença entre o umbral e o inferno descrito fora do espiritismo:

No inferno de algumas religiões a alma infeliz recebe uma sentença eterna de sofrer nas chamas do inferno para todo o sempre.

Segundo a doutrina espírita, o umbral é a região onde o espírito desregrado permanece temporariamente, até que lhe seja permitida uma nova_encarnação para que possa, sob o jugo da matéria, resgatar melhor suas dívidas para com Deus ou expiar para que possa continuar caminhando para frente rumo a sua evolução. Porque no espiritismo não existe uma lei de Deus que condene ou felicite um espírito eternamente, pois existe a lei da reencarnação, e uma imposição assim estaria claramente negando a tão falada justiça divina, que os adversários do espiritismo tanto proclamam, mas se contradizem totalmente ao impor penas eternas para uma alma que só teve uma encarnação para praticar o bem e o mal.

Muitos não conseguem ou não procuram entender por qual motivo alguns nascem numa família rica, saudável e carinhosa, enquanto outros vêm numa sarjeta sob os cuidados de uma mãe destituída de carinho, com um pai envolvido com o crime, ou ainda em condições subumanas, etc. E é por esses motivos que só o espiritismo consegue explicar racionalmente a lógica da vida e a misericórdia de Deus, sem se contradizer em nenhum momento, pois se o motivo da dor ou da alegria não têm explicação na vida atual, é porque a resposta encontra-se em existências anteriores.

Fontes:
  • www.guia.heu.nom.br;
  • "O Martírio dos Suicidas", de Almerindoi Martins de Castro;
  • "Nosso Lar', de André Luiz", por psicografia de Chico Xavier;
  • "Nos Bastidores da Obsessão", de Manoel Philomeno de Miranda, Por Divaldo Pereira Franco;
  • "O Céu e o Inferno", de Allan kardec; Romeu Leonilo Wagner, Belém, Pará.

FRATERLUZ - Fraternidade Espírita Luz do Cristianismo 


28 dezembro 2014

Sobre o Adultério e a Prostituição - Emmanuel


SOBRE O ADULTÉRIO E A PROSTITUIÇÃO


Atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver isento de pecado, disse Jesus. Esta sentença faz da indulgência um dever para nós outros porque ninguém há que não necessite, para si próprio, de indulgência. Ela nos ensina que não devemos julgar com mais severidade os outros, do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar em outrem aquilo de que nos absolvemos. Antes de profligarmos a alguém uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita. Do item 13, do Cap. X, de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

É curioso notar que Jesus, em se tratando de faltas e quedas, nos domínios do espírito, haja escolhido aquela da mulher, em falhas do sexo, para pronunciar a sua inolvidável sentença: “aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra”. Dir-se-ia que no rol das defecções, deserções, fraquezas e delitos do mundo, os problemas afetivos se mostram de tal modo encravados no ser humano que pessoa alguma da Terra haja escapado, no cardume das existências consecutivas, aos chamados “erros do amor”.

Penetre cada um de nós os recessos da própria alma, e, se consegue apresentar comportamento irrepreensível, no imediatismo da vida prática, ante os dias que correm, indague-se, com sinceridade, quanto às próprias tendências. Quem não haja varado transes difíceis, nas áreas do coração, no período da reencarnação em que se encontre, investigue as próprias inclinações e anseios no campo íntimo, e, em sã consciência, verificará que não se acha ausente do emaranhado de conflitos, que remanescem do acervo de lutas sexuais da Humanidade.

Desses embates multimilenares, restam, ainda, por feridas sangrentas no organismo da coletividade, o adultério que, de futuro, será classificado na patologia das doenças da alma, extinguindo-se, por fim, com remédio adequado, e a prostituição que reúne em si homens e mulheres que se entregam às relações sexuais, mediante paga, estabelecendo mercados afetivos. Qual ocorre aos flagelos da guerra, da pirataria, da violência homicida e da escravidão que acompanham a comunidade terrestre, há milênios, diluindo-se, muito pouco a pouco, o adultério e a prostituição ainda permanecem, na Terra, por instrumentos de prova e expiação, destinados naturalmente a desaparecer, na equação dos direitos do homem e da mulher, que se harmonizarão pelo mesmo peso, na balança do progresso e da vida.

Note-se que o lenocínio de hoje, conquanto situado fora da lei, é o herdeiro dos bordéis autorizados por regulamentação oficial, em muitas regiões, como sucedia notadamente na Grécia e na Roma antigas, em que os estabelecimentos dessa natureza eram constantemente nutridos por levas de jovens mulheres orientais, direta ou indiretamente adquiridas, à feição de alimárias, para misteres de aluguel. Tantos foram os desvarios dos Espíritos em evolução no Planeta – Espíritos entre os quais muito raros de nós, os companheiros da Terra, não nos achamos incluídos – que decerto Jesus, personalizando na mulher sofredora a família humana, pronunciou a inesquecível sentença, convocando os homens, supostamente puros em matéria de sexualidade, a lançarem sobre a companheira infeliz a primeira pedra.

Evidentemente, o mundo avança para mais elevadas condições de existência. Fenômenos de transição explodem aqui e ali, comunicando renovação. E, com semelhantes ocorrências, surge para as nações o problema da educação espiritual, para que a educação do sexo não se faça irrisão com palavras brilhantes mascarando a licenciosidade. Quando cada criatura for respeitada em seu foro íntimo, para que o amor se consagre por vínculo divino, muito mais de alma para alma que de corpo para corpo, com a dignidade do trabalho e do aperfeiçoamento pessoal luzindo na presença de cada uma, então os conceitos de adultério e prostituição se farão distanciados do cotidiano, de vez que a compreensão apaziguará o coração humano e a chamada desventura afetiva não terá razão de ser.


Do livro “Vida e Sexo”
Pelo Espírito Emmanuel
Psicografia: Chico Xavier

27 dezembro 2014

Os Heróis da Era Nova - Vianna de Carvalho


OS HERÓIS DA ERA NOVA

Programada a vinda de Jesus-Cristo à Terra, as Coortes espirituais apresentaram-se espontaneamente para contribuir da melhor maneira possível em favor do messianato divino

Na política, na arte, na filosofia, tomaram o corpo físico Espíritos nobres que deveriam desempenhar papel de relevância, a fim de que a doutrina do amor encontrasse ressonância na sociedade sedenta de alucinações e prazeres.

O Império Romano ainda se encontrava em plena glória, a grandeza das conquistas e o Fausto deslumbrante dominavam quase toda a Terra conhecida, demonstrando o poder da força das legiões e da habilidade do governo central.

As antes famosas cidades gregas, ora em declínio, contribuíam com filhos ilustres para a grandeza de Roma, na condição de pedagogos, médicos e servidores, embora ainda ostentassem as magníficas edificações do passado e sua cultura permanecesse esplendorosa, apesar da ausência dos grandes filósofos de outrora.

Éfeso erguia-se suntuosa, derramando-se próxima das águas azuis-turquesa do Egeu, em pleno Fausto da Jônia, na Anatólia, visitada pelos romanos ilustres e outros povos que vinham negociar habilmente e distrair-se nos seus banhos e teatros espetaculares…

Ali encontrava-se o famoso templo de Ártemis, a deusa da abundância – anteriormente Cibele e mais tarde Diana, a caçadora – uma das sete maravilhas do mundo antigo. As grandiosas colunas que o ornavam, produziam deslumbramento nos visitantes e podiam ser notadas desde o mar, a quase cinco quilômetros de distância…

Destruído e reconstruído várias vezes, incendiado por um louco, os seus escombros denotam, ainda hoje, a audácia e a beleza dos seus construtores, inclusive Praxíteles e Escopas, dois dos mais famosos do mundo que o enriqueceram com estátuas extraordinárias e perfeitas. A deusa era elaborada em mármore polido e ornada de ouro, apresentando as características da exuberância…

Por Éfeso passaram filósofos, que lá viveram e legaram à humanidade páginas de inconfundível beleza, quais foram Heráclito (de Éfeso) e Tales de Mileto… Situada em um ponto importante, que liga o Oriente ao Ocidente, era um local de cruzamento entre Mileto e a Jônia.

A cidade, envolvente e tumultuada, nas terras de Esmirna, repousava desde então em verdejante vale cercado de montanhas altaneiras e protetoras, proporcionando-lhe temperaturas agradáveis, embora úmidas, nas diferentes épocas do ano.

Suas festividades em abril chegavam a atrair um milhão de pessoas, embora fosse habitada por umas duzentas e cinqüenta mil, que vinham das redondezas, assim como de distantes terras, quais Jerusalém e Atenas…

Foi embelezada por atenienses, espartanos, romanos e conquistadores diversos, entre os quais o rei Creso da Lídia, egípcios, persas, Alexandre Magno da Macedônia, vencida e ressuscitada por turcos, bizantinos, otomanos, havendo exercido, no seu esplendor, uma grande importância para o Cristianismo nascente, com quase dois mil anos desde quando fundada, antes que os jônios a dominassem no século XI A.C.

Durante o cruel reinado de Cláudio, que expulsou os judeus de Roma, Paulo, que se encontrava em Atenas, desceu na direção de Jerusalém, passando por Corinto, onde se fez acompanhar pelos amigos queridos Áquila e Prisca, visitando outras cidades e chegando a Éfeso, ali apresentando a sua primeira exposição sobre Jesus, na sinagoga local.

Depois, embora solicitado para que ficasse por mais tempo, prometeu retornar, dali seguindo a Cesaréia, de onde rumou a Jerusalém…

Nesse ínterim, um erudito judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, trouxe o verbo inflamado a Éfeso iluminando as consciências que se lhe acercavam, dando-lhes conhecimento da mensagem de Jesus.

A cidade-capital foi beneficiada pelo apostolado de Paulo, que ali viveu por vários anos e, posteriormente, por João, que iniciou, nas suas terras, a escrita das suas memórias, que passou à posteridade como o seu Evangelho, tendo erguido sua residência num dos montes periféricos da cidade, onde, mais tarde, passou a residir, até a sua desencarnação, a Mãe Santíssima da Humanidade.

A casinha de pedras foi erguida nos arredores da cidade, em uma encosta, a 350 metros acima do nível do mar entre oliveiras e verdejante relva, mas de onde se podia vê-lo…

Os enfrentamentos entre os pensadores gregos, efésios e outros, aferrados aos deuses ancestrais do seu panteão, e os ministros do Evangelho nascente fizeram-se formosos dialeticamente e agressivos emocionalmente.

Ao mesmo tempo, o farisaísmo, que predominava nas sinagogas erguidas em toda parte onde viviam os judeus, sempre se levantava com ferocidade para combater Jesus e naturalmente aqueles que se Lhe fizeram mensageiros, conduzindo ao cárcere, muitas vezes, esses notáveis Espíritos que jamais desfaleciam nas refregas ou temiam qualquer tipo de hostilidade.

Paulo de Tarso, que ali esteve por diversas vezes, demonstrou com eloqüência incomum a grandeza da palavra do Crucificado nazareno sensibilizando os ouvintes que se multiplicavam, dando início à construção das primeiras células de discípulos cristãos, conforme os denominara Lucas...

Numa dessas ocasiões, no auge do entusiasmo, o apóstolo dos gentios declarou que Jesus se encontrava acima de todos os deuses, naturalmente incluindo Ártemis, que era fonte de renda para a cidade e para artesãos, funcionários, sacerdotes e exploradores em geral…

Um joalheiro famoso de nome Demétrio, que produzia miniaturas de prata da deusa, tomando conhecimento de que os deuses fabricados pelos humanos não eram sagrados, conforme Paulo proclamara, receou que a deusa perdesse o prestígio e, por conseqüência, ele e os demais artesãos ficassem seriamente prejudicados, deu início a um movimento que atraiu tanta gente ao grande Teatro, gritando Ártemis de Éfeso é grande, recitando orações e homenagens, que o ato redundou num pleito, quando as autoridades, por fim, convidaram o apóstolo a abandonar a cidade…

Logo depois, João deu início ali ao seu ministério de amor, atraindo verdadeiras multidões que o ouviam fascinadas.

Ele e Paulo tornaram-se os ministros do reino de Deus, enfrentando as vãs filosofias e apresentando a incomparável mensagem do amor do Mestre, atitudes essas que os levaram ao testemunho por diversas vezes, sem os abater ou os atemorizar.

A coragem desses heróis da Era Nova constitui um dos grandes e fascinantes estímulos para todos quantos desejam servir ao Bem, porquanto nada havia que os intimidasse ou lhes diminuísse o entusiasmo no trabalho a que se entregavam.

Humilhações, suplícios, cárcere e morte não lhes constituíam impedimento à divulgação da Verdade, tão impregnados se encontravam da certeza da imortalidade do Espírito, que as suas vidas ainda hoje constituem modelos de abnegação e de sacrifício comovedores.

Foram eles e muitos outros que se olvidaram de si mesmos para permitirem que Jesus prosseguisse arrebanhando as multidões, que a Mensagem de Luz chegou aos dias modernos, embora as alterações que sofreu, conservando, no entanto, a sua pulcritude nos conteúdos insuperáveis do amor, da compaixão, da humildade, do perdão, da caridade e da sobrevivência espiritual, ainda conduzindo milhões de vidas na direção do Mestre Insuperado.

Nenhuma edificação do Bem alcança a sua gloriosa destinação dispensando os heróis da abnegação e da renúncia. Incompreendidos, no início, suportam as dificuldades mais sérias confiantes no resultado dos esforços, vencendo as intempéries de todo tipo e os enfrentamentos mais covardes e rudes, traiçoeiros e ignóbeis, firmes na decisão, até o momento em que o triunfo do ideal os aureola com o martírio demorado…

O Cristianismo é a saga de homens e mulheres admiráveis que, fascinados por Jesus, tudo abandonaram para melhor O servirem, vencendo distâncias imensas sob o Sol inclemente e as chuvas torrenciais, dominados pela presença d’Aquele que nunca os abandonou, conforme lhes houvera prometido.

Sucederam-se os séculos, e, periodicamente, eles retornaram às grandes Éfesos terrestres, sacudindo a comodidade e revolucionando as idéias, firmes no convite à transformação moral e ao amor em plenitude, pagando o alto preço da audácia da fé que não se mancomuna com os interesses sórdidos dos comensais da ilusão.

Com o advento do Espiritismo, trazendo Jesus e Sua mensagem de volta, os desafios fizeram-se inadiáveis e, desde os dias de Allan Kardec, Espíritos portadores de grande vigor moral tomaram a indumentária carnal para levarem a Nova Revelação à humanidade distraída e desinteressada do reino de Deus…

Pagando altos preços de incompreensões e calúnias perversas, de competições desastrosas e perseguições doentias, ei-los seguindo altaneiros com os sentimentos colocados no Mestre de amor, superando-se a si mesmos e pondo marcos definidores dos tempos, a fim de que aqueles que virão depois deles dêem prosseguimento ao programa de libertação e de felicidade.

Eles sabem que são os desbravadores, os audazes desmatadores da ignorância e que o seu ministério é o de quebrar os tabus, vencer as hostilidades, suportar o peso das injunções penosas, facilitando a tarefa dos porvindouros apóstolos do Bem.

Incansáveis, prosseguem, anônimos uns, conhecidos outros, todos porém unidos na Causa comum da Doutrina Espírita, de forma a torná-la conhecida pelas suas palavras lúcidas e sábias, respeitada pelos seus atos desataviados e transparentes, pela sua coragem de não revidar o mal com outro mal, uma com outra calúnia, não se permitindo transformar em inimigo de outrem, mesmo que esse lhe seja inimigo, felizes e certos da vitória final.

Esses heróis que se consomem, na condição de combustível do lume que derrama claridade por onde passam, encontram-se sob o amparo do seu Senhor, conforme Paulo, João evangelista, Barnabé, Pedro, Tiago… e todos os pioneiros da nascente doutrina de Jesus que modificou a história da sociedade, preparando o campo de lutas para este momento de ciência, de tecnologia, de conhecimentos filosóficos e éticos, de arte e beleza, de telecomunicações e convivência virtual, quando o Espiritismo implantará na Terra, com os seus paradigmas grandiosos, a sociedade feliz e livre da ignorância para sempre.

Vianna de Carvalho

Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, no dia 22 de maio de 2007, quando de sua visita a Éfeso (Esmirna), Turquia.

26 dezembro 2014

Fé Racionada - José Passini

 

FÉ RACIOCINADA
 
“Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em  todas  as  épocas da Humanidade.” (1)

 Em torno da fé existem inúmeras afirmativas negando-lhe o caráter racional. Segundo alguns teólogos, raciocina-se sobre a crença, mas não sobre a fé. A fé, segundo eles, é uma virtude, um dom que transcende a própria razão.

 Por colocarem-na como virtude ou dom transcendental, pertencente exclusivamente à área do sentimento, é que muitas pessoas confundem emoção com fé. Por isso, é comum pessoas dizerem  ter sentido uma fé imensa, capaz de levá-las a grandes realizações, no momento em que ouviam o relato de passagens do Evangelho, ou de ações levadas a efeito por benfeitores da Humanidade, ou até mesmo em decorrência da simples leitura de uma página edificante. A emoção, a vibração espiritual que os atos nobres suscitam nas almas já portadoras de alguma sensibilidade não pode ser confundida com fé. O estado emocional é transitório, enquanto a fé é permanente. A emoção, se analisada e orientada pela inteligência, pode ser auxiliar valiosa para levar a criatura a modificar-se para melhor. Entretanto, se não for esclarecida pela razão pode conduzir ao fanatismo, à chamada fé cega, que é a negação da própria fé.

 O mundo está cheio de exemplos tristes dos frutos do fanatismo religioso. Em nome da fé, quantas perseguições, quantas mortes e até guerras? Ainda nos dias atuais, principalmente na semana santa, existem pessoas que vertem seu próprio sangue, ferindo seus corpos, ou se entregam a privações terríveis no intuito de mostrar sua fé em Deus. Se raciocinassem, veriam que Deus, como Pai amoroso, bom e misericordioso, nunca poderia ser homenageado com o derramamento do sangue dos Seus filhos. Essa concepção de um deus sanguinário, combateu-a o Profeta Elias, séculos antes de Jesus, quando enfrentou os sacerdotes adoradores do deus Baal. (I Reis, 18: 22 a 40).

 Aprende-se no Espiritismo que, na sua caminhada evolutiva, o Espírito vai conhecendo as leis de Deus, vai percebendo-lhes a perfeição e, quanto mais as conhece, mais se identifica com elas, mais confia na justiça e no amor do Criador, mais se conscientiza da Sua perfeição, mais tem fé. Essa a fé que nasce do entendimento. Inabalável, indestrutível.

 Emmanuel ensina: “Ter fé é guardar no coração a luminosa certeza em Deus, certeza que ultrapassou o âmbito da crença religiosa, fazendo o coração repousar numa energia constante de realização divina da personalidade. Conseguir a fé é alcançar a possibilidade de não mais dizer eu creio, mas afirmar eu sei, com todos os valores da razão, tocados pela luz do sentimento.” (2).

 A fé que o Espiritismo preconiza não é uma fé contemplativa, capaz de levar uma pessoa à imobilidade, em situações de êxtase, em que fica aguardando providências de Deus em seu favor. Ao contrário, é uma fé dinâmica, edificada vagarosa e conscientemente pelo Espírito, à medida que evolui, conforme ensina Emmanuel: “A árvore da fé viva não cresce no coração miraculosamente. A conquista da crença edificante não é serviço de menor esforço. A maioria das pessoas admite que a fé constitua milagrosa auréola doada a alguns espíritos privilegiados pelo favor divino.” (3)

 A fé espírita não é aquela que se fixa em objetos materiais como cruzes, escapulários, bentinhos, talismãs, amuletos, medalhas, etc. O espírita tem fé em Deus, em Jesus, nos bons Espíritos, entidades dotadas de sentimento e de inteligência, seres capazes de movimentar recursos em seu favor. Essa fé é muito diferente da crença infantil num pretenso poder mágico de objetos materiais, que não poderiam jamais movimentar, com inteligência e sentimento, recursos a benefício de alguém.

 Entretanto, é lícito se indague sobre a origem da fé raciocinada. Teria ela nascido com o Espiritismo? Não, a fé raciocinada nos vem de Jesus, dos ensinamentos do seu Evangelho. O Mestre mudou completamente o próprio conceito de religião, introduzindo no campo até então puramente emocional da fé, o componente razão, entendimento. Ninguém, até Jesus, fez tantos apelos ao raciocínio no âmbito religioso. Kardec, conhecedor profundo da atuação de Jesus, o conhecia, não como um místico, mas como um educador de almas que, ao tempo em que tocava o sentimento daqueles que o ouviam, sabia também levá-los ao entendimento das lições.. Por isso, tem a Doutrina Espírita essa característica de racionalidade. E não podia ser de outra forma, de vez que ao Espiritismo coube o papel de reviver o Cristianismo na sua pureza, simplicidade e pujança originais.

 Jesus nunca explorou a emoção de ninguém. Sua fala, mansa e humilde, precisa e firme, era dirigida ao sentimento e à inteligência. Suas lições foram sempre pautadas no diálogo, através do qual propunha o exame racional daquilo que ensinava.

 Censurado por haver curado uma mulher paralítica num sábado, bem poderia deixar que a própria cura falasse por ele, mas não perdeu a oportunidade de, através de uma pergunta, fazer pensar aqueles que o ouviam: “(...) no sábado não desprende da manjedoura cada um de vós o seu boi, ou o jumento, e não o leva a beber? E não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de Abraão, a qual há dezoito anos Satanás a tinha presa?” (Lc, 13: 15 e 16).

 De outra feita, ele próprio perguntou aos doutores da lei, antes de curar um homem: “É lícito curar no sábado?” (Lc, 14: 3). Como não respondessem, Jesus curou o hidrópico e o despediu. Depois, ele volta a inquiri-los, a fim de conscientizá-los de que acima da letra morta há uma interpretação racional, inteligente: “Qual de vós o que, caindo-lhe num poço, em dia de sábado, o jumento ou o boi, o não tire logo?” (Lc, 14: 5).

 “E orando, não useis de vãs repetições...” (Mt, 6: 7). Quer o Mestre dizer que devemos orar com plena consciência daquilo que falamos, que a nossa oração não seja uma repetição emocional de uma fórmula decorada, como se fosse algo recitado ou declamado. Ao contrário, que seja uma mensagem conscientemente elaborada, com um conteúdo de comunicação dirigida ao Alto, e que não seja uma simples ladainha.

 Jesus, ao conversar com a samaritana, à beira do poço de Jacó, demonstra que não necessitava de inquirir alguém para informar-se de algo. Ali deixa claro para ela que conhecia-lhe o passado como a palma de sua mão. (Jo, 4: 17). Entretanto, freqüentemente fazia perguntas para suscitar dúvida no seu interlocutor, a fim de fazê-lo pensar, raciocinar e não receber passivamente um ensinamento: “Qual é mais fácil? Dizer: Os teus pecados te são perdoados; ou dizer: Levanta-te e anda?” (Lc, 5: 23).

 Ao invés de fazer um discurso eloqüente e emocionado sobre a Providência Divina, o Mestre busca, através de perguntas, levar seus ouvintes a pensarem, a raciocinarem sobre Deus. Depois de lhes ter falado sobre os lírios do campo, dizendo que Deus os veste, e compara sua vestimenta ao luxo do rei Salomão: “Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?” (Mt, 6: 30).

 “E qual de vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhos pedirem?” (Mt, 7: 9 a 11). Também por essa passagem pode-se ver que Jesus não buscava levar ninguém a uma adoração emotiva, a uma fé cega. Ele poderia ter dito, por exemplo que se deve ter fé em Deus, criador de tudo o que existe, que é bom, amoroso, misericordioso, providente etc. Mas não, só isso não bastava. Se ficasse só nessas afirmações, teria suscitado uma fé passiva. Ele queria fazer as criaturas entenderem, através de uma comparação, que o Todo Poderoso deveria ser, necessariamente, melhor que um pai terreno e, portanto, capaz de dar maiores bens aos Seus filhos.

 Os apelos que Jesus, nas suas lições, fazia não só ao sentimento, mas também à inteligência, foi objeto de estudo até mesmo fora do ambiente religioso, por um médico psiquiatra, Augusto Jorge Cury, quando diz: “... ele não anulava arte de pensar, ao contrário, era um mestre intrigante nessa arte. Cristo não discorria sobre uma fé sem inteligência. Para ele, primeiro se deveria exercer a capacidade de pensar e refletir antes de crer, depois vinha o crer sem duvidar. Se estudarmos os quatro evangelhos e investigarmos a maneira como Cristo regia e expressava seus pensamentos, constataremos que pensar com liberdade e consciência era uma obra-prima para ele.” (4)

 O trecho do Novo Testamento que mais evidencia o ambiente pedagógico, de diálogo, de liberdade de análise, na busca de esclarecimentos, que Jesus propiciava a todos que ouviam-lhe as lições é, certamente, o assim chamado “A Transfiguração”. Registra Mateus, no capítulo 17, que Jesus subiu a um alto monte, acompanhado de Pedro, Tiago e João. O Mestre orou e se transfigurou, cobrindo-se de luz, ao tempo em que apareceram – seguramente materializados, pois que os três discípulos os viram – Moisés e Elias, que conversaram com ele. Passado o momento sublime, ao regressarem, o Mestre ordena aos discípulos que não contem nada do que acontecera até ele ressuscitasse. É de se imaginar o contentamento e a emoção que devem ter sentido aqueles discípulos ao contemplarem Jesus coberto de luz, Moisés, o pai dos profetas, e o grande profeta Elias.  Entretanto, eles não se detiveram em atitude de contemplação mística, de deslumbramento. Pelo contrário, o raciocínio funcionou imediatamente, na busca de resposta para algo que lhes pareceu estranho: “E os discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem então os escribas que é mister que Elias venha primeiro?” (Mt, 17: 10).  Por que a pergunta? Ora, havia sido predito pelos profetas – e os escribas sempre o repetiam – que o Mestre seria precedido por Elias, que voltaria para preparar-lhe o caminho. Os discípulos, vendo Elias desencarnado, deduziram que algo estava errado: ou as profecias não espelhavam a verdade, ou aquele que se apresentara e conversara com Jesus não era Elias, ou Jesus não era o Messias! Jesus, com a tranqüilidade daqueles que detêm a verdade, respondendo, disse-lhes: “Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do homem.” (Mt, 17: 12). E, em seguida, conclui o Evangelista: “Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista.” (Mt, 17: 13). Tudo estava certo. A profecia já se havia cumprido. (5)

 Diante do que se acabou de ver, conclui-se que Jesus foi um pedagogo e não um místico. Sabia atrair seus ouvintes com as doces consolações da fé, mas não alimentava atitudes de deslumbramento contemplativo, face aos apelos ao raciocínio com que mesclava suas sublimes lições. Encaminhava-os ao entendimento lógico, racional dos fatos! Jesus, como Mestre admirável que foi, soube criar um clima de diálogo aberto. Foi essa liberdade que levou os discípulos a buscarem imediatamente esclarecimento sobre a aparição de Elias, embora a pergunta formulada por eles contivesse embutido um grave questionamento, qual seja o da própria condição de Messias do seu Mestre. Jesus não se sente agastado e, com a segurança daqueles que estão com a Verdade, os esclarece. Assim, vê-se claramente que Jesus não impunha suas idéias, não violentava consciências, nem exigia fé cega, sem exame. Não. Sua mensagem sempre foi dirigida ao intelecto e ao sentimento, bases legítimas da fé raciocinada, que o Espiritismo veio reviver.

Referências:

1. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 9, item 7
2. O Consolador, perg. 354
3. Caminho, Verdade e Vida, cap. 40
4. Análise da Inteligência de Cristo, pág. 18
5. Bíblia Sagrada, trad. João Ferreira d'Almeida (todas as citações)

José Passini
Publicado no Reformador – fev. 2005

25 dezembro 2014

Página do Natal - Emmanuel



PÁGINA DO NATAL


“Luz para alumiar as nações.” – Lucas, 2-32


Há claridade nos incêndios destruidores que consomem vidas e bens...

Resplendor sinistro transparece nos bombardeios que trazem a morte.

Reflexos radiosos surgem no lança-chamas.

Relâmpagos estranhos assinalam a movimentação das armas de fogo...

No Evangelho, porém, é diferente...

Comentando o Natal, assevera Lucas que o Cristo é a luz para alumiar as nações.

Não chegou impondo normas ou pensamento religioso.

Não interpelou governantes sobre processos políticos.

Não disputou com os filósofos quanto às origens dos homens.

Não concorreu com os cientistas na demonstração de aspectos parciais e transitórios da vida...

Fez luz no espírito eterno...

Embora tivesse o ministério endereçando aos povos do mundo, não marcou a sua presença com expressões coletivas de poder, quais exército e sacerdócio, armamentos e tribunais.

Trouxe claridade para todos, projetando-a de si mesmo.

Revelou a grandeza do serviço à coletividade, por intermédio da consagração pessoal ao Bem infinito...

Nas reminiscências do Natal do Senhor, meu amigo, medita no próprio roteiro.

Tens suficiente luz para a marcha?

Que espécie de claridade acendes no caminho?

Foge ao brilho fatal dos curtos-circuitos da cólera, não te contentes com a lanterninha da vaidade que imita o pirilampo em vôo baixo, dentro da noite, apaga a labareda do ciúme e da discórdia que atira corações aos precipícios do crime e do sofrimento.

Se procuras o Mestre Divino e a experiência cristã, lembra-te de que na Terra há clarões que ameaçam, perturbam, confundem e anunciam arrasamento...

Estarás realmente cooperando com o Cristo, na extinção das trevas, acendendo em ti mesmo aquela sublime luz para alumiar?


Emmanuel
Mensagem "Página do Natal"
Do livro "Segue-me", Francisco Cândido Xavier

24 dezembro 2014

Natal com Jesus. Qual Jesus? - Francisco Muniz


NATAL COM JESUS
QUAL JESUS?

Soou estranho esse título? Há mais de um Jesus? A julgar pelo modo como o Natal é comemorado atualmente, poderíamos dizer que sim, há outro Jesus diferente daquele apregoado pelos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, um Jesus que enche os olhos e parece estar distante dos corações. 

Há um Jesus que se confunde nas luzes e vitrines coloridas das lojas, um Jesus vendido a prestações e a peso de muito ouro. E há o Jesus submerso nas consciências, lutando por se fazer presente numa festa que se faz em nome dele e da qual ele raramente participa, pois não é sequer convidado.

E no entanto Ele está constantemente convidando os homens de boa vontade para uma festa inigualavelmente melhor. Uma festa sem troca de presentinhos, mas de incessante doação; sem mesas fartas de apetitosas iguarias, mas plena de pães espirituais para as alma famintas e sedentas de afeto; sem enfeites em árvores artificiais, mas rica de significado para as mentes que se deixam esclarecer pelas luzes da Verdade. Uma festa, enfim, que não se faz apenas uma vez por ano, mas sempre, porque tal é o sentido do Natal: o nascimento e a vivência cotidiana do Cristo na vida de cada um de nós.

Há um Natal lá fora, mas nesse o Cristo não nasce, pois não há coração onde ele possa nascer e viver.

O Cristo está afastado das relações comerciais onde prepondera o desejo do lucro e nega as necessidades dos carentes do pão material. Não há Jesus onde as consciências passam ao largo dos problemas sociais e dos dramas individuais vigentes tanto nos casebres miseráveis quanto nos palácios suntuosos. Só haverá Jesus onde a semente da cristandade, plantada há mais de dois mil anos, já germina, produzindo frutos de fraternidade e amorosa convivência entre todos, sejam ricos ou pobres, doentes ou sãos, felizes ou tristes.

"Estou por demais tocado de compaixão pelas vossas misérias, por vossa imensa fraqueza, para não estender mão segura aos infelizes que, vendo o Céus, teimam em cair no abismo do erro", diz-nos o Cristo, ou o Espírito de Verdade, no capítulo VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo. É caso de nos fazer pensar, a nós, que nos dizemos espíritas e, por consequência, verdadeiros cristãos e ainda teimamos em observar tradições que de há muito já não deveriam fazer parte de nosso comportamento.

Mas vemo-nos, anos após ano, ensinando a nossos filhos e netos a fantasia de um "Papai Noel" e, assim, ainda negando, como Pedro, o Cristo em nós...

Francisco Muniz
Fonte: Alma Espírita

23 dezembro 2014

O Consumismo - O Eremita Espírita


O CONSUMISMO


Na proximidade do Natal, volta à pauta a questão do consumismo, que tira o sono de muita gente. Essa forma de descontrole foi, inclusive, tema da recente reportagem “Por que gastamos mais dinheiro do que temos?”, da jornalista Verônica Mambrini, para o portal IG.

“Costumo fazer shoppingterapia em situações de extrema ansiedade ou em liquidações imperdíveis. No momento, estou bem controlada, com alguns escorregões” – revela, na matéria, a consultora em relações internacionais Ana Paula Rassi, que cancelou o cartão de crédito para se proteger.

Segundo Sheila Maia, professora do curso de administração e especialista em finanças pessoais da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro, não há mal em realizar desejos, mas é preciso aprender a diferenciar o desejo e a necessidade, já que crédito é para emergências.

“Em fevereiro tem carnaval e as operadoras de turismo dividem em dez vezes os pacotes. Logo depois tem a Páscoa, com ovos parcelados. Em maio, Dia das Mães, mais parcelas. Dia dos Namorados em junho, Dia dos Pais em agosto, Dia das Crianças em outubro. No Natal, mais presentes.

Em janeiro, IPTU, IPVA. Não tem jeito, vira uma bola de neve” – diz Sheila.

Como ressalta a matéria, é preciso organização para saber quanto da renda pode ser comprometida e controle para não estender no prazo o pagamento de itens que podem ser quitados à vista. Como parcelas pequenas dão a falsa sensação de “caber no bolso”, a pessoa se ilude sobre o tamanho da dívida total e se endivida.

Embora não trate diretamente do tema consumismo, no capítulo “Excesso e você”, do livro “O Espírito da Verdade” (ed. FEB), psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira, André Luiz, ao recordar que Espiritismo é caridade em movimento, tece alguns comentários igualmente oportunos aos que enfrentam o problema do consumismo. Adverte, por exemplo, que não devemos converter o próprio lar em museu.

“Utensílio inútil em casa será utilidade na casa alheia. O desapego começa das pequeninas coisas, e o objeto conservado, sem aplicação no recesso da moradia, explora os sentimentos do morador. A verdadeira morte começa na estagnação.

Quem faz circular os empréstimos de Deus, renova o próprio caminho” – diz o benfeitor, acrescentando que devemos transfigurar os apetrechos que nos sejam inúteis em forças vivas do bem. “Retire da despensa os gêneros alimentícios que descansam esquecidos, para a distribuição fraterna aos companheiros de estômago atormentado.

Reviste o guarda-roupa, libertando os cabides das vestes que você não usa, conduzindo-as aos viajores desnudos da estrada.

Estenda os pares de sapatos, que lhe sobram, aos pés descalços que transitam em derredor. Elimine do mobiliário as peças excedentes, aumentando a alegria das habitações menos felizes. Revolva os guardados em gavetas ou porões, dando aplicação aos objetos parados de seu uso pessoal. Transforme em patrimônio alheio os livros empoeirados que você não consulta, endereçando-os ao leitor sem recursos.

Examine a bolsa, dando um pouco mais que os simples compromissos da fraternidade, mostrando gratidão pelos acréscimos da Divina Misericórdia que você recebe.” E prossegue na sua lição de desapego e fraternidade: “Ofereça ao irmão comum alguma relíquia ou lembrança afetiva de parentes e amigos, ora na Pátria Espiritual, enviando aos que partiram maior contentamento com tal gesto. Renovemos a vida constantemente, cada ano, cada mês, cada dia... Previna-se hoje contra o remorso amanhã. O excesso de nossa vida cria a necessidade do semelhante. Ajude a casa de assistência coletiva. Divulgue o livro nobre. Medique os enfermos. Aplaque a fome alheia. Enxugue lágrimas. Socorra feridas. Quando buscamos a intimidade do Senhor, os valores mumificados em nossas mãos ressurgem nas mãos dos outros, em exaltação de amor e luz para todas as criaturas de Deus.”



Boletim SEI 2206


22 dezembro 2014

Aspecto da Vida dos Recém-Desencarnados - Mauro Paiva Fonseca



ASPECTO DA VIDA DOS RECÉM-DESENCARNADOS

Através das instruções de pesquisadores, dos conhecimentos hauridos em diálogos com Espíritos desencarnados, que já alcançaram certo grau de independência e evolução, e da vivência freqüente com Espíritos enfermos nas sessões mediúnicas de tratamento, podemos afirmar a existência de um princípio geral, que orienta a situação do Espírito, após seu retorno ao plano extrafísico: ao deixar a vida material, gravita automaticamente para a posição que lhe seja peculiar.

Evidentemente, o tempo em que isto ocorre é extremamente variável, dependendo dos fatores que influenciaram a desencarnação, do móvel moral/intelectual conquistado durante a experiência terrena que acabou de deixar, e do acervo remanescente das existências anteriores, referentes ao comprometimento com o automatismo da lei de causa e efeito.

A situação em que a alma se encontrará não lhe acrescentará nada, nem em poder, nem em conhecimento, nem em liberdade, além do que já possua. Apenas certa agudez de percepção lhe fará sentir-se diferente da condição anterior de encarnada.

A invisibilidade e a intangibilidade serão as características comuns a todos os desencarnados, com relação aos que deixaram na retaguarda, passando a perceber, com nitidez, os também desencarnados que estejam na sua situação evolutiva, ou abaixo dela.

Quanto aos Espíritos de grau superior, somente são vistos ou percebidos, se assim o desejarem.

O abalo da desencarnação, em muitos casos, não deixa o Espírito perceber a realidade da própria situação, isto é, não acredita que morreu tal a identidade entre a aparência do corpo físico e a do espiritual, que é semelhante.

Como no mundo espiritual “o pensamento é tudo”, o Espírito reforça a realidade físico-espiritual em que se encontra, consolidando a forma ideoplástica do próprio aspecto com que se sente exteriorizar na nova situação.

À vontade, que é a força modeladora do pensamento, dependendo de sua intensidade, promoverá a consecução dos objetivos que o Espírito pretenda alcançar. O retorno ao reduto doméstico, por exemplo, algumas vezes é conseguido pelo anseio forte que o desencarnado demonstre, embora ele não perceba como o conseguiu. O que o desencarnante leva consigo, da vida material para a espiritual? – Apenas as conquistas do intelecto e as realizações, boas ou más, no campo moral! O pensamento, sendo a força por excelência na vida extrafísica, aqueles que se mantenham preocupados com os assuntos e bens da vida material recém-abandonada conservam-se presos a eles, o que lhes dificulta sobremaneira a ascensão a patamares espirituais mais elevados.

Uma expressiva quantidade de recém-libertos do corpo se compraz em manter-se ligada às sensações da vida física, na ilusão de que assim prolongariam a condição de “vivos”. Para conseguir tais sensações, alimentam-se das energias sugadas dos encarnados, que se lhes assemelham moral e intelectualmente.

Esses encarnados funcionam como “pontes vivas”. Os que se viciaram no álcool, nas drogas ou nos desvios da sensualidade conseguem justapor-se aos seus “hospedeiros”, sugando-lhes as energias encharcadas daquele estado vibratório que os satisfaz.

Há pessoas que se espantam ao saberem que o vampirismo é uma realidade; entretanto, nada há nisso de anormal. A permuta de energias é um acontecimento lógico, já que as duas mentes participantes objetivam o mesmo resultado!

É um erro muito generalizado às pessoas começarem a fazer pedidos de ajuda e proteção aos recém-desencarnados, como se somente o fato de haverem deixado a vida material lhes acrescentasse poderes que nunca possuíram.

Na grande maioria das desencarnações, os Espíritos não têm condição de resolver ao menos os problemas imediatos surgidos com a nova situação. As necessidades materiais continuam presentes, até que a sublimação da alma se complete.

O períspirito, que é o plano organogênico do corpo físico, mantém íntegros todos os sistemas do corpo somático; órgãos, vísceras e tecidos têm suas formações, partindo desse plano. (*)

Assim, ao desencarnar, os órgãos permanecem existindo no corpo espiritual, arrastando consigo as necessidades próprias de cada um. Com a natural evolução da alma, a satisfação das necessidades exigidas por eles vai desaparecendo, com tempo muito variável, de um Espírito para outro, até extinguir-se, já que o Espírito se mantém com outros recursos de alimentação energética, como a respiração e a absorção pranaiama.

Os desencarnados que fazem a passagem em elevado estado de debilidade são recolhidos a hospitais espirituais existentes nas regiões próximas à Crosta, onde são tratados quase como se encarnados fossem, e alimentados normalmente com caldos, sucos, etc. Na verdade, a necessidade desses recursos existe mais por causa do estado mental dos pacientes do que por exigência do corpo espiritual.

Não é imediatamente que o Espírito se liberta da escravidão dos sentidos. Somente à proporção que o domínio mental se vai ampliando e intensificando é que ele vai se inteirando da nova realidade, e eles, os sentidos, irão deixando de atuar como necessidade imperiosa.

(*) Ver O consolador, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco C. Xavier. Ed. FEB, pergunta no 30.


Mauro Paiva Fonseca
Extraído da Revista Reformador, Dezembro/2006, p36-37.



21 dezembro 2014

Luz Inextinguível - Vianna de Carvalho



LUZ INEXTINGUÍVEL

Mais poderoso do que os povos e as suas realizações através dos séculos, o Livro de cada época é um marco decisivo na história da evolução do pensamento.

Os Vedas, ditados por Brama aos richis, enriqueceram a India de espiritualidade durante milênios, e o Vedanta, que tem por objeto a sua explicação mística, até hoje domina a alma filosófica do povo hindu, iluminando-a com luz inextinguível.

A Pérsia milenária deixou-se conduzir pelo Zendavestá, atribuído a Zoroastro, e inundou-se de sabedoria que, há milênios, lhe norteia os caminhos, na busca da Imortalidade.

Israel, entre tormentos e inquietações, tem encontrado no Antigo Testamento, há quase cinco mil anos, o roteiro espiritual da liberdade buscada em todos os séculos.

Toda a Arábia passou a beber nas fontes augustas do Alcorão a Mensagem de Alá, transmitida ao Profeta em visões.

Desde então, sejam os pensamentos de Marco Aurélio ou os conceitos de Sócrates, apresentados por Platão, as poesias de Vergílio ou as antigas tragédias de Sófocles, o Novo Testamento, que nos apresenta a nobre vida do Homem que se fez maior do que a Humanidade, ou os Sermões de Vieira, o Livro é uma luz incomparável, colocando marcos históricos nos fastos da Humanidade.

Seja através da Divina Comédia, de Dante Alighieri, ou da Obra grandiosa de Cervantes, ou manuseando os conceitos de Castelar, após a Imprensa o homem passou a considerar o Livro como um monumento colossal dentro do qual se pode refugiar a Civilização, mesmo quando o horror da guerra ameaça a vida de extermínio total...

O Século XIX com as conquistas fulgurantes da Ciência, com as conclusões notáveis da Filosofia e com as pesquisas na Moral e na Religião, recebeu, numa Obra, o mais vigoroso trabalho filosófico de que se tem notícia: «O Livro dos Espíritos» que, embora a singeleza com que foi apresentado, em Paris, se fez o marco básico dos tempos novos, clareando mentes e conduzindo almas ao aprisco da paz, onde é possível uma felicidade imorredoura. Isto porque «O Livro dos Espíritos» difere, na essência, na estrutura e na planificação, de todos os que o precederam como daqueles que lhe vieram depois.

Não é a Obra de um homem nem a manifestação revelada de um só Espírito. É, talvez, a maior síntese que a Humanidade já leu em Filosofia Espiritualista, porquanto examina as consequências morais, através das Civilizações, apresentando os efeitos calamitosos dos desequilíbrios sociais, no homem reencarnado...

Não é um diálogo entre a alma que inquire e a voz que responde, embora o método dialético em que se apresenta. E' grandioso, igualmente, pelas conclusões do indagador e, na sua síntese preciosa, vai além dos problemas filosóficos, demorando-se em estudos de ordem metafísica, sociológica... Tentando oferecer soluções claras às diversidades étnicas, dentro de princípios essencialmente morais, conduzindo o pensamento em superior roteiro, capaz de libertar o homem das expiações amargas e dolorosas, em que se vem debatendo.

«O Livro dos Espíritos» é um Sol conduzindo, intrinsecamente, o seu próprio combustível. Guarda, na sua planificação, sabiamente, toda a Doutrina Espírita Codificada. Nele estão em germe os livros que viriam depois, abrindo novos horizontes à Ciência em «O Livro dos Médiuns», clareando os meandros da Religião em «O Evangelho...”. », explicando a essência da vida e sua origem em «A Gênese» e apresentando em «O Céu e o Inferno» consolações e punições necessárias ao progresso da alma encarnada ou desencarnada. E mais do que isto, a Introdução e os Prolegômenos deram origem aos opúsculos «Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita» e ao «O que é o Espiritismo».

Monumento mais grandioso que as tradicionais obras da Engenharia que o tempo corrói, «O Livro dos Espíritos» amplia o pensamento filosófico da Humanidade, derramando luz sobre a Razão entorpecida nas limitações do materialismo.

Espíritas! Homenageando a data de publicação d'«O Livro dos Espíritos», banhemo-nos na sua luz, estudando-o carinhosamente.

Não o olhar precipitado de quem se empolga com a narrativa romanceada, não a observação impensada de quem procura concluir antes de terminar o conteúdo, mas, estudo sério para sorvê-lo lentamente na taça augusta da meditação, e exame continuado e intermitente para absorver o pensamento divino que os Espíritos Superiores trouxeram ao espírito de escol do «Professor Rivail», o escolhido para projeção da Mensagem grandiosa que brilha como farol sublime na Doutrina Espírita.

Divulgá-lo e entendê-lo, senti-lo e apresentá-lo ao mundo é tarefa inadiável que a todos, espíritas e Espíritos, nos impomos como corolário natural das nossas convicções.

E recordando o seu aparecimento em Paris, há 113 anos, penetremo-nos de sua sublime mensagem, tornando-nos interiormente iluminados, para levar essa chama grandiosa às gerações do futuro, como ainda brilha entre nós a palavra de Crisna, Moisés, Jesus e tantos outros Embaixadores do Céu, e que «O Livro dos Espíritos» confirma e aclara.


Vianna de Carvalho
Por Divaldo P. Franco
Reformador’ (FEB) Abril 1970