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12 abril 2014

A Barbárie, a Violência e a Civilização Moderna - Debate sob a ótica Espiritualista


A BARBÁRIE, A VIOLÊNCIA E A CIVILIZAÇÃO MODERNA - DEBATE SOB A ÓTICA ESPIRITUALISTA

Barbárie e civilização

Tem coisas que a gente entende, mas não pode justificar. Talvez uma boa forma de distinguir civilização de barbárie venha daí. Ou seja: o ser civilizado é capaz de entender os atos de barbárie. Entretanto, diante dos valores coletivamente conquistados e individualmente introjectados, não há como justificá-los.

Este início de ano, no Brasil, tem se caracterizado por alguns exemplos bastante significativos desse embate entre civilização e barbárie. No Rio de Janeiro, um garoto de 15 anos ao ser apanhado por populares numa tentativa de assalto, foi amarrado a um poste, sem roupa, e ali deixado por várias horas. A notícia correu o país e, logo, logo, em vários outros pontos, aconteceram cenas semelhantes: suspeitos de roubos foram linchados por populares que se dizem cansados da impunidade com que são tratados presumíveis delinquentes que infestam nossas cidades.

Justiceiros e vândalos

Há alguns sinais de que o estado de barbárie tenta se sobrepor ao estado de Direito. Sem mostrar o rosto, representantes de grupos organizados de “justiceiros” já dão entrevistas detalhando seu “modus operandi” para o cumprimento sumário da “justiça” que dizem não ser feita pelo Estado. De outra parte, na onda de democráticas manifestações que reclamam legítimos direitos ainda sonegados à maioria dos cidadãos do país, vândalos destroem o patrimônio público e privado e atentam contra a vida de inocentes, como foi o caso recente que matou um cinegrafista da TV Bandeirantes. Com esse episódio, inclusive, começam a se levantar dados apontando para a existência de grupos organizados que aliciam e remuneram pessoas, com o único intuito de espalhar o terror e a destruição. Nesse caso, não dá sequer para entender, muito menos para justificar.

Ontem e hoje


Não faltam, diante de episódios como os que estamos a assistir, vozes pregando a iminência do caos. “Nunca houve tanta violência”, dizem. “Nunca o ser humano foi tão mau”, apregoam. Um retrospecto, por menos aprofundado que seja, da História, mostra que não é bem assim. Não é por outra razão que se qualificam como “medievais” procedimentos que o Estado ou a religião adotavam como regras contra o indivíduo, há não mais de 300, 400 ou 500 anos atrás. Não por outro motivo, classificamos como “bárbaras” as relações familiares ou sociais, vigentes em eras mais recuadas de nosso processo evolutivo. O reconhecimento dos atributos de “cidadania” é coisa muito recente, na nossa civilização. Pessoas com algumas dezenas de anos de vida, como é o meu caso, viveram, todos e sem exceção, tempos de muito mais injustiça produzida pelo Estado, pela sociedade, pelas famílias e pelos indivíduos, do que nos tempos de hoje.

Progresso é lei


À luz do espiritismo, progresso é lei. O simples reconhecimento dos direitos individuais e sua institucionalização nos estatutos legais dos países democráticos, como o nosso, representam avanços morais de relevante significado. São conquistas do Espírito na sua saga em busca da justiça, da felicidade, da harmonia social e da paz para todos. É preciso, porém, acreditar na capacidade de os entes sociais que nós próprios integramos se organizarem politicamente e darem cumprimento aos sentimentos de justiça que gritam na alma de cada um. Transformar esses genuínos sentimentos em atos individuais de punição ao infrator – a chamada “justiça pelas próprias mãos” – é transmudá-los em atos de abjeta vingança, compatíveis com a barbárie e em sentido oposto à civilização. Aplaudir os que assim fazem é igualar-se a eles, engrossando o caudal de insanidades, incompatíveis com os avanços já obtidos. É preciso, hoje, dar ao tempo o tempo que nós próprios, ontem, desperdiçamos.


Coluna publicada nos jornais OPINIÃO, do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre,e ABERTURA, do Instituto Cultural Espírita de Santos.

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