RELACIONAMENTO SEXUAL E AFETO
Para as manifestações mecanizadas da vida biológica, o corpo carnal esculpiu os respectivos instrumentos que permitem o exercício mecânico da sexualidade. No entanto, na estrutura íntima de cada ser, o sexo acontece na dimensão da mente, estabelecendo-se, então, os seus contornos de força magnética permutada, alimento compartilhado nos atos da afetividade que, de qualquer forma, independem das constituições morfológicas para que possam ser exteriorizados.
Renascendo na condição masculina e feminina, ao longo de suas jornadas evolutivas, cada Espírito deve amadurecer nas duas esferas entre as quais orbita, polarizando-se a sexualidade biológica em cada renascimento, naquele padrão de masculino ou feminino dentro do qual deverá exercer as vivências que lhe cabem nas aquisições de experiência e maturidade.
Assim, a afetividade é o laço que une os Espíritos e que, na sua vertente sexual morfológica, pode ser expressada através dos encontros íntimos, nos quais os órgãos físicos dão a oportunidade do compartilhar gametas, sensações, estímulos, sonhos, prazeres, realizando a parte que lhes cabe na manifestação da sexualidade biológica, ajudando na perpetuação da espécie, além de facultar a aproximação de criaturas, nos processos do conhecimento íntimo e da criação de vínculos.
Por isso, não é em decorrência da liberação dos hormônios ou secreções compartilhados que os seres humanos se veem atrelados aos parceiros com os quais comungam tais momentos de intimidade.
Durante tais atos, se entre ambos existe afinidade de emoções, ocorre intensa troca de energias fecundantes e estimulantes, no nível vibratório de seus Espíritos, saciando-os naqueles desejos de reconhecimento, de segurança afetiva, de calma interior, de serenidade na autoestima.
Exatamente por ser algo muito maior do que simplesmente um processo de procriação de novos corpos, nas junções mecânicas de gametas, os encontros íntimos devem ser aqueles que sirvam para estas trocas de boas energias, para as quais, mais do que os compromissos legais ou humanos, deve estar observado o sentimento sincero como condição indispensável para que aquele ato não seja, apenas, um encontro de músculos e carnes e, sim, um contato de prazer que envolva a alma como um todo, nas criações lúdicas, nas alegrias divididas entre dois Espíritos que se querem, muito mais do que apenas dois corpos que se procuram.
Poderão muitos, afeiçoados ao chamado “amor livre” como meio de satisfação de necessidades que dizem ser biológicas, defender a realização do sexo pelo sexo, como forma de extravasamento de suas necessidades reprimidas.
Reconhecemos que, numa sociedade que está sedenta por novidades, com uma juventude agitada e ansiosa, infelizmente, tal procedimento é uma realidade nos dias de hoje, com pessoas que se permitem todo tipo de convivência sexual promíscua e sem vínculos no afeto, vivendo verdadeiras orgias nas quais os envolvidos, muitas vezes, se mascaram para que não sejam reconhecidos, ou se mantêm em ambientes penumbrosos para que não estejam em situação constrangedora com outros que o identifiquem.
No entanto, quando ainda existe algum princípio moral dentro
daqueles que se permitem tais comportamentos, depois que passa a exaltação dos sentidos de um tipo de aventura carnal insana como essa, costuma eclodir em suas consciências uma sensação amarga, uma vergonha do que fizeram, uma repulsa por si mesmos.
Muitos se obrigam a longos banhos por meio dos quais desejam limpar-se por fora da lama íntima, abrindo espaço em seus pensamentos para os complexos de culpa e sofrendo com a possibilidade de que essa vida dúbia lhes seja descoberta pelos amigos ou familiares, aumentando-lhes a inquietação.
Outros amortecem as fibras da própria consciência, considerando essas orgias como normais em uma sociedade sem regras morais claras, aceitando as práticas sexuais da maioria como maneira de atender aos mecanismos do automatismo carnal, sempre recorrendo ao velho chavão do “A CARNE É FRACA”, frase que utilizam como esconderijo para as próprias torpezas.
No entanto, em nenhum desses casos, os Espíritos encarnados que se permitem práticas promíscuas, que se dediquem à da troca de casais, a multiplicidade de parceiros, às aventuras extraconjugais, à homossexualidade, à bissexualidade, conseguem isolar-se dos processos angustiosos de uma afetividade não correspondida.
Em todos os casos, o motivador dessas buscas costuma ser, no fundo, o estado de carência ou insatisfação das criaturas, ansiosas por construírem relacionamentos estáveis ao lado daquelas pessoas com quem compartilhem o prazer físico, ponto comum que poderá, quem sabe, transformar-se em início de afinização ou em um relacionamento que valha a pena ser vivido.
Os problemas afetivos do presente correspondem, invariavelmente, a compromissos enraizados nas práticas de outras vidas, repercutindo, hoje, em mecanismos de frustração, de transtornos mentais ou emocionais, em dificuldades de relacionamento.
Algumas pessoas se veem obrigadas ou escolhem se manter solitárias, não se deixando enveredar pelos caminhos difíceis dos envolvimentos físicos confusos. Para essas criaturas, tais circunstâncias correspondem ao regime que reequilibra a emoção desajustada com aqueles que são impostos às pessoas que precisam reconquistar a saúde através das terapias de contenção, transformando-se em períodos de necessária reflexão diante dos compromissos do passado.
A afetividade mal experimentada em nossas antigas jornadas corresponde a um processo de adulteração de nossos centros de energia correspondentes, impondo-se, então, para muitos que o viveram de maneira desregrada, cerceamentos temporários para que se reequilibrem, preparando-os para as futuras aquisições no terreno do Amor Verdadeiro o qual tem, nas trocas sexuais, um dos instrumentos de sua exteriorização.
Trata-se, então, de processos de educação ou reprogramação das inclinações do Espírito faltoso de outras épocas que, como num processo de isolamento temporário, precisa fortalecer-se nas bases de uma afetividade sadia, para que, mais tarde, possa construir o sólido edifício de suas novas aquisições na área da emoção.
Assim, a solidão, nestes casos, funciona como um período de observação a manter a pessoa em uma espécie de quarentena, que tanto serve para protegê-la de si mesma quanto para proteger os outros de sua presença provocante ou ameaçadora. Os períodos de estiagem afetiva a que algumas pessoas se veem compelidas pela vida ou a que se permitem como escolha pessoal têm essa função, a purificar seu entendimento e prepará-las para coisas mais belas que o futuro lhes reserva.
Entretanto, toda conduta de alguém que, com a desculpa de não tolerar o isolamento, de não ser capaz de vencer a solidão, de precisar dar vazão às necessidades da carne, o leve a usar seu semelhante como mercadoria, como oportunidade de desafogo, como objeto de prazer para, logo a seguir, descartá-lo à margem da estrada, corresponderá a uma responsabilidade assumida perante aquele que foi usado, física ou emocionalmente, que foi tratado como um simples instrumento de prazer físico.
Na condição de nosso irmão ou irmã com sentimentos e sonhos, torna-se credor daquele que o usou a fim de que possa encontrar reparação futura pelas mesmas mãos que os exploraram.
Por isso, ao invés de nos permitirmos agir ao sabor das tentações produzidas por músculos bem torneados ou corpos bem esculpidos nos atraiam a atenção ou o desejo, lembremo-nos de estabelecer com os seus proprietários uma relação saudável e sincera, que nos permita o envolvimento responsável, ainda que não definitivo, sem lesões afetivas produzidas pela leviandade sem limites.
Quando são verdadeiras e emocionalmente sadias, lastreadas na afetividade autêntica, as manifestações da sexualidade mental poderão ser transportadas também para o campo das exteriorizações físicas, construindo relações amorosas envolventes e sólidas, que não serão perturbadas por nenhum tipo de ameaça, de tentação, de novidade que, ao contrário, são sempre perigosas para aqueles que não se fixaram em uma relação afetiva segura e honesta com o parceiro ou com a parceira de seus momentos de intimidade.
Livro Despedindo-se da Terra, cap. 21
Espírito Lúcius
Psicografia de André Luiz Ruiz
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