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12 maio 2014

A Alegria Absoluta - Joanna de Ângelis



A ALEGRIA ABSOLUTA


Todos os seres humanos buscam infatigavelmente a alegria perfeita.

São inúmeros os conceitos em torno do fenômeno interior do júbilo em plenitude, quase sempre aureolado de sensações.

São Francisco de Assis teve a coragem de apresentá-la de maneira muito especial, como somente ele poderia fazê-lo, experienciando-a.

Em ditosa oportunidade, enquanto caminhava com o Irmão Leão entre Perugia e Santa Maria dos Anjos, em pleno inverno, padecendo penúrias incontáveis, foi tomado de arrebatamento e, sorrindo eufórico, disse:

Irmão Leão, mesmo que nossos irmãos em todo e qualquer lugar ofereçam um especial exemplo de santidade e de devoção, recorda e escreve no teu coração e no teu espírito, que isso não representa a alegria absoluta.

Logo depois, vencendo o trecho do caminho e ainda em plena exaltação, voltou a afirmar:

Oh! Irmão Leão. Se nossos irmãos puderem curar os cegos, expulsarem demônios, fizerem que mesmo os surdos ouçam, que os paralíticos caminhem e os mudos falem, e mesmo que logrem ressuscitar os mortos depois de quatro dias, escreve, Irmão, que tudo isso não seria razão para a alegria absoluta.

E, continuando a marcha, afirmou com valor e coragem:

Oh! Irmão Leão. Se os irmãos menores possuíssem o dom das línguas e das ciências, e que se encontrassem em condições de profetizar, podendo revelar não apenas as questões do futuro, mas também os segredos do coração da mente, escreve que também essa conquista não representaria a alegria absoluta.

Mais à frente exclamou, emocionado:

Oh! Irmão Leão, cordeirinho de Deus, até mesmo se falassem a linguagem dos anjos e conhecessem a música das estrelas e as forças das plantas, se todos os tesouros do mundo lhes fossem revelados e contassem com a energia dos pássaros e dos peixes, assim como dos outros animais e pessoas, as árvores e os minerais, as raízes e as águas, escreve que todas essas conquistas não seriam a alegria absoluta.

E, por fim, novamente expôs:

Oh! Irmão Leão. Se nossos irmãos pregassem e conseguissem converter os não crentes, escreve que ainda essa maravilhosa honra não constitui a alegria absoluta.

Ante o seu silêncio, o Irmão Leão perguntou-lhe, realmente surpreso:

Querido Pai, rogo-te pelo amor de Deus que me digas o que é a alegria absoluta.

O santo, ainda emocionado, replicou:

Oh! Irmão Leão. Estamos viajando a Santa Maria, molhados totalmente pela chuva e magoados pelo frio, cobertos de musgos e mortos de fome e, ao chegar, chamaremos à porta e o guarda nos perguntará aborrecido:

“Vocês quem são?”

Nós responderemos que somos dois irmãos dele. Mas ele, então, ainda mais aborrecido, voltará a afirmar:

“O que vocês dizem é mentira, são dois vagabundos que andam por aí enganando o mundo, furtando as esmolas dos pobres. Saiam daqui!”

E não nos abrindo a porta e não nos deixando entrar, a neve e a chuva, a fome e a noite gelada ameaçadora e nós toleremos com paciência semelhante injustiça e maus tratos, sem nos aborrecermos, e quando concluamos que o guarda tem razão e reconhecer que não somos dignos e que é Deus quem o manda falar dessa maneira, oh! Irmão Leão, escreve que essa é a alegria absoluta! Ouve ainda, que mais elevado do que todos os dons e bênçãos que o espírito de Jesus Cristo concede aos seus, encontra-se este: o de cada qual superar-se a si mesmo e, por amor ao Excelso Benfeitor, tolerar jovial e gostosamente o castigo, a injúria e o sofrimento.

* * *

Oportunamente, numa das suas viagens, ao desabrigo e sofrimento, chegou a um dos monastérios dos Menores e solicitou albergue durante a noite gelada, havendo sido considerado vagabundo e ladrão, ameaçado de uma surra, tendo a porta pesada sido fechada em sua face...

Sem reclamar nem justificar-se ou fazer-se identificar, por amor ao Nazareno que não tinha uma pedra para reclinar a cabeça, afastou-se louvando-O e bendizendo-O.

Essa opção pelos valores transcendentes dele fez o mais fiel seguidor de Jesus.

* * *

Numa reflexão psicológica moderna, pode-se dizer que o nobre Francisco, muito bem chamado o Pobrezinho de Deus, na sua inocência e submissão à vontade divina, exagerava no comportamento, tendo em vista a atitude que violenta o bom senso e a razão, apresentando sintomas graves de masoquismo, de distúrbio de comportamento.

A visão cristã do sofrimento, porém, difere muito da convencional do prazer, da alegria, da felicidade.

Perseguido, mas não perseguidor, maltratado, porém, nunca maltratando, incompreendido, sem revidar, compreendendo sempre, é a forma de anular a dominação do ego e iniciar a superação da sombra do Self, para alcançar o estado numinoso, a plenitude, a alegria absoluta...

Essa alegria que ele vivenciou até o momento da libertação, dele fez o herói que dilui a sombra e alcança a perfeita identificação do eixo ego-Self.

Se experimentares mudar o rumo das tuas reflexões, pensando na conquista da alegria absoluta, compreenderás que o Pobrezinho tem razão.


Joanna de Ângelis

Psicografia do médium Divaldo Pereira Franco, na manhã de 17 de fevereiro de 2014, na Mansão do Caminho, em Salvador, Bahia.

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