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30 setembro 2014

A Boa Morte - Marcus Vinicius de Azevedo Braga

 

A BOA MORTE 


     
A morte não existe...Bem verdade...mas tem um negócio aí, um fenômeno natural, uma tal de transição que merece toda a nossa atenção! Esse breve artigo procura tratar o que significa, em termos espíritas, nos prepararmos para uma boa morte. O fato de sermos espíritas não nos credencia a uma transição tranquila, mas sim o uso desse conhecimento libertador na promoção do homem de bem que necessita renascer em nós em cada reencarnação.
     
Algumas igrejas católicas tem a sua denominação como “Nossa Senhora da Boa Morte” ou ainda “Nosso Senhor do Bom Fim”, resgatando a antiga preocupação do ser humano com morrer bem. Morrer bem, para a sabedoria popular, indica o morrer dormindo ou de forma imediata, rechaçando a morte lenta e com sofrimento. Na lógica espírita, de forma inversa, os ensinos dos espíritos nos dizem que o sofrimento traz a reflexão que auxilia o processo de desligamento.

A mesma igreja católica do “Bom fim” tem como um de seus sacramentos Extrema Unção, ou Unção dos Enfermos, conferido à pessoas que estão em estado grave de doença, buscando aliviá-lo e prepará-lo para a transição. Os egípcios enchiam a tumba de riquezas e alimentos para atender ao morto do outro lado. No campo da medicina, atualmente, se discute a humanização do momento do desencarne, com cuidados paliativos a enfermos já sem possibilidades terapêuticas.

 Percebe-se que o fenômeno da morte é complexo e passar por ele com “sucesso” é oriundo de vários fatores, que ultrapassam aquele momento fatídico. Assim como planejamos a nossa reencarnação, com o auxílio dos amigos espirituais, a nossa vida como encarnados demanda um “Plano de morte”, o qual nos preparemos para esse momento, transcendendo as questões de herança, doações de órgãos, custas ou tipos de jazigo.
     
Na doutrina espírita, a discussão do bom desenlace se apresenta na literatura mediúnica, como uma relação direta com a conduta na vida encarnada, com o desapego do espírito. Como dito no livro “Obreiros da vida eterna” (André Luiz pela pena de Chico Xavier), “Morrer é mais fácil do que nascer”, desmistificando o temor pela morte, mas revelando também, a mesma obra, que grande parte de nossos sofrimentos no desencarne são derivados da decepção pelos avanços não obtidos na encarnação.
     
A morte, para nós espíritas, é um fenômeno natural, que não o desejamos, mas que o compreendemos, e apesar dessa compreensão, não estamos livres da perturbação natural da transição. Não temos credenciais de uma boa morte, dado que esta se vincula ao aspecto moral, como ilustrado no trecho da obra “Voltei” (Irmão Jacob na pena de Chico Xavier), que narra a volta de operoso trabalhador espírita: “Quantas vezes; julguei que morrer constituísse mera libertação, que a alma, ao se desvencilhar dos laços carnais, voejaria em plena atmosfera usando as faculdades volitivas! Entretanto, se é fácil alijar o veículo físico, é muito difícil abandonar a velha morada do mundo. Posso hoje dizer que os elos morais são muito mais fortes que os liames da carne e, se o homem não se preparou, convenientemente, para a renúncia aos hábitos antigos e comodidades dos sentidos corporais, demorar-se-á preso ao mesmo campo de luta em que a veste de carne se decompõe e desaparece.
     
Seria ilusório acharmos que a boa morte seria um privilégio nosso, por termos o conhecimento espírita! A vinculação com a conduta terrena é límpida no processo de preparação para uma boa morte! Da mesma forma, a doutrina espírita aponta a inexistência de santificações no momento da partida e indica sim o fim de um ciclo reencarnatório, no qual continuamos sendo nós mesmos, apenas concluintes de uma etapa importante e se ajustando a uma nova realidade, a vida espiritual.
     
Sobre essa questão, merece destaque também as palavras do espírito Emmanuel, na obra “O Consolador”, também psicografada por Chico Xavier: “A morte não prodigaliza estados miraculosos para a nossa consciência. Desencarnar é mudar de plano, como alguém que se transferisse de uma cidade para outra, aí no mundo, sem que o fato lhe altere as enfermidades ou as virtudes com a simples modificação dos aspectos exteriores. Importa observar apenas a ampliação desses aspectos, comparando-se o plano terrestre com a esfera de ação dos desencarnados.”
     
Inimigos continuam inimigos, nós continuamos com a nossa bagagem de imperfeições e apenas apeamos do trem, para se preparar para um novo estágio de nossa existência. Como toda transição, é complicada...Após a morte, na outra vida, nos encontraremos com nós mesmos, pois “(...) se queres conhecer o lugar que te espera, depois da morte, examina o que fazes contigo mesmo nas horas livres.”, nas palavras também de Emmanuel, na obra “Justiça Divina”:
     
Assim, um preparo para a boa morte não implica em negar esse fenômeno, ou ainda, colocá-lo no centro de nossas preocupações. Faz-se mister enxergá-lo como uma ocorrência inexorável da vida, uma transição de planos que já enfrentamos outras vezes e que está subordinado, estritamente, a nossa conduta terrena, na construção da reforma íntima e na superação das diferenças de nosso passado reencarnatório.  
     
Vivamos a nossa vida, com trabalho e alegria, amando e sendo amados, sem esquecer que um dia retornaremos a pátria espiritual, que longe de ser um céu ou um inferno, é uma nova etapa de existência, na vida que continua. Teremos a nossa transição, encontraremos os que nos precederam, e teremos uma boa morte, sorridentes, se tivemos uma boa vida, fazendo o nosso próximo sorrir.

  

29 setembro 2014

O Amor é uma Decisão - Wellington Balbo


 O AMOR É UMA DECISÃO


Motivo de conversas de botequim, passando por músicas, poesias e reflexões dos grandes filósofos, o tema “Amor” sempre esteve em pauta desde que o mundo é mundo.

E o tema, claro, não passou despercebido pelo codificador do Espiritismo, Allan Kardec, que fez várias referências ao amor. Entretanto, destaco esta que considero esclarecedora e consta na questão de 938 de O livro dos Espíritos:

Vejamos o que Kardec comenta:

“A Natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser amado. Um dos maiores gozos que lhe são concedidos na Terra é o de encontrar corações que com o seu simpatizem. Dá-lhe ela, assim, as primícias da felicidade que o aguarda no mundo dos Espíritos perfeitos, onde tudo é amor e benignidade. Desse gozo está excluído o egoísta”.

Belíssimo comentário. Temos, todos, a necessidade de amarmos e de sermos amados. Uma via de mão dupla. A felicidade que gozamos está no dar e receber e não apenas no receber.

Entretanto, todos querem, na maioria das vezes, receber o amor. Afinal, quem não quer ser amado? Seja amor de pai, mãe, irmãos, amigos, todos almejam serem amados. Por isso, nestas breves linhas abro uma brecha e pretendo convidá-los a refletir:

Queremos tanto sermos amados, mas... Será que amamos na mesma proporção em que somos amados?

Eu amo! Dirão muitos.

No entanto, será que amamos realmente?

Costumo indagar a plateia nas palestras: O que você faria se o amor de sua vida lhe diz: “Descobri que o meu caminho não é mais com você. Peço, pois, licença para despedir-me e seguir minha vida de outra forma”. Será que diríamos: Se é esta sua decisão, embora triste eu a respeito e torcerei pela sua felicidade! Ou, será que diríamos: Ingrato (a)! Depois de tantos anos me abandona. Ah, pagará caro!

Será que o nosso amor é tão grande a ponto de respeitar a decisão do outro?

Fácil? Claro que não, até porque poucos de nós tem o desprendimento necessário para amar desta forma.

Outro dia em conversa com um amigo ele me disse: O amor é uma decisão! E arrematou: O amor é o mais sobre dos sentimentos e quando eu decido amar alguém tenho que estar ciente de que esta pessoa poderá não me amar da forma como eu a amo. Confesso que de início não concordei. Sempre achei que não escolhemos amar, que o amor entra sem pedir licença.

E fiquei a refletir por alguns dias até chegar a conclusão de que o amigo, um filósofo, estava certo: O amor é mesmo uma decisão! Eu escolho amar, respeitar, compreender. Descobri, então, que quem entra sem pedir licença é a paixão, avassaladora como sempre, mas o amor não. E amar equivale a sobretudo respeitar as decisões do outro, mesmo que estas nos excluam. O que fazer diante do ente que nos deixa? O que fazer em face do amor que se vai? Quem ama respeita o direito de escolha do outro, sempre.

Eis porque amar nos faz exercitar o que temos de mais belo em nosso ser que são as virtudes de respeitar, compreender, renunciar, abdicar e tantas outras mais.

Se é bom ser amado, se é nosso objetivo sermos amados, tenhamos a certeza que amar é ainda melhor. Amar é uma decisão, uma sábia decisão, e como seres pensantes podemos decidir amar a qualquer momento. Eis um exercício diário e constante para nosso aperfeiçoamento como seres humanos.

O amor, Ah, o amor é sempre uma decisão, diria meu amigo filósofo!


28 setembro 2014

Por que uns se curam, e outros, não? - Davilson Silva


POR QUE UNS SE CURAM E OUTROS NÃO?

Há motivos que explicam por que uma pessoa é curada, e outra não, se ambas buscam o auxílio da cirurgia mediúnica. Às vezes, o portador de uma moléstia entrega-se ao desespero — a doença é incurável, ou de cura difícil. Então, ele procura um médium. Por imaginá-lo ligado ao fantástico, ao extraordinário, espera um súbito milagre.

Se em cirurgias mediúnicas não se deve contar com um “milagre”, que dirá com um milagre instantâneo! A pessoa pode ou não conseguir bom êxito, por exemplo, numa cirurgia feita a distância através da irradiação fluídica no perispírito, ao dormir, ou executada com ou sem corte no corpo físico por meio de um médium de operações mediúnicas. Depende muito de um estado psíquico, de uma reciprocidade fluídica, oriunda de certa característica ectoplasmática.

O emprego desse tipo de energia psíquica é rigorosamente submetido a controle por Médicos Desencarnados e outras Entidades dedicadas à Medicina Transcendental. O êxito das intervenções cirúrgicas espirituais corresponde, muito mais do que se imagina, ao comportamento do enfermo, havendo pormenores importantes a se observar.

Fluidos saudáveis do enfermo tornam bem mais fáceis as tarefas dos Benfeitores Espirituais. Como resultado, podem ocorrer curas milagrosas (milagrosas, no sentido etimológico do termo milagre, de mirari, que significa: admirável, coisa extraordinária, surpreendente, e não um ato que contraria leis divinas, leis justas e perfeitas). Trata-se essa magna tarefa de um “processo de refluidificação”, consoante disposições metódicas, lembrando um tratamento hemoterápico.

Como exemplo e só para ilustrar, vale dizer que essa prática respeitante à medicina terrena consiste em o médico estimular o vigor do paciente. Como se sabe, o médico extrai uma quantidade de sangue para reinjetá-lo, quer de modo direto de indivíduo a indivíduo, quer apenas do sangue armazenado no paciente, daí, efetuar-se o que chamamos transfusão de sangue. Assim, acontece mais ou menos na terapêutica transcendental, o que se denomina “fluidoterapia”, numa alusão a “passes”, método muito comum e aplicado em centros espíritas kardecistas.

Sem efeito colateral — Na transfusão que citamos como exemplo, ou seja, a praticada pela medicina terrena, observam-se rigorosas medidas a fim de não causar danos ao receptor. No caso do receptor submetido à cirurgia espiritual, não há efeitos colaterais, tendo ele, todavia, que observar esta medida absolutamente necessária: a manutenção de um bom nível de pensamentos e sentimentos.

Outro motivo para o êxito das cirurgias está nos preparativos básicos. Torna-se também necessária a observação de outras regras fundamentais, sem deixar de cumprir sequer um item recomendado pelo núcleo ao qual se recorre (cada núcleo possui preceitos e critérios peculiares). Tais indicações orientam e dizem como o assistido deve se portar e dar início ao procedimento.

Se durante a cirurgia a distância ou na presença do médium, no local onde ele opere, o assistido não proporcionar os meios solicitados para se submeter ao processo cirúrgico, os Espíritos executores desse mister terão seriíssimas dificuldades. O primeiro passo, e o mais fácil a ser cumprido, é a facilitação do conjunto de caracteres próprios e exclusivos da pessoa, tais como: nome, idade, residência, local onde se encontra. Por via de regra, há nos centros espíritas o Livro de Vibrações, ou Livro de Irradiações.

Porém não adianta o assistido escrever nome e todos os informes, o que, reitero, facilita sobremodo o trabalho dos Benfeitores, se o indivíduo não cumpre um regime alimentar adequado, se não se encontra no local data e hora preestabelecidos, se não se mantém, sobretudo, tranquilo. O assistido que não estiver devidamente preparado e em paz consigo mesmo, cuja mente esteja saturada de fluidos sombrios em virtude de uma irritabilidade, de alguma altercação ou por outro motivo menos feliz, não alcançará a benfazeja assistência dos Médicos do Espaço, onde quer que esteja, de um modo ou de outro.

Constituem obstáculo, para terapeutas e cirurgiões espirituais, a maledicência, intriga, brigas familiares, além de mais este empeço: um recinto de pessoas viciadas. Isso impede o caridoso ato, sendo realmente difícil para os Espíritos atuarem num local onde há tabagistas, consumidores de bebidas alcoólicas, de outras drogas, desregramentos diversos e atitudes licenciosas. Os fluidos irradiados a distância ou aplicados diretamente no enfermo encontram resistência ante tais fluidos agressivos e danosos.

Nessas circunstâncias, os Benfeitores esbarrarão com os referidos impedimentos. A influência das energias salutares não predominará, sejam estas emitidas a distância, interferindo no perispírito, durante o sono, ou manipuladas diretamente no corpo físico do paciente. Os Espíritos quase nada ou mesmo nada poderão fazer pelo assistido.

Descrença atrapalha — A incerteza e o pessimismo representam outro obstáculo. Ora, se o enfermo duvida, mantendo-se em nível vibratório de descrença, de indisciplina, da mesma forma nada poderá ocorrer. Por se tratar de uma questão de foro íntimo, neste caso, os Espíritos tenderão a levar em conta o seu livre-arbítrio. Torna-se imprescindível a confiança na Providência, uma firme esperança no auxílio do médico espiritual, lembrando, além disso, do fator médium. Ele é o meio entre Espíritos e homens, e sua idoneidade e atributos morais são indispensáveis.

Ainda que com toda a fé e boa vontade expressada na disciplina e observância dos preparativos, se de um jeito ou de outro o enfermo não se cura, há certo pressuposto. Conforme a Lei de Ação e Reação, ou Lei da Causa e Efeito, fatos anteriores bons e maus sempre deixam prever os que hão de seguir-se; desse modo, se a pessoa não se cura, há de existir fortes razões regenerativas. Vejamos o que a esse respeito diz o Espírito Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier. Segundo Emmanuel: “Há criaturas doentes que lastimam a retenção no leito e choram aflitas, não porque desejem renovar concepções acerca dos sagrados fundamentos da vida, mas por se sentirem impossibilitadas de prolongar os próprios desatinos”.* Daí, a máxima de Jesus, em Mateus, capítulo 16, versículo 27: “A cada um será dado segundo suas obras” (entendendo-se por “obras” toda a caridade moral que se deve praticar sem condicionantes).

A máxima de Jesus exprime o princípio da Lei do Mérito, decorrência da Lei de Causa e Efeito, também conhecida por “carma”, conforme os antigos filósofos da Índia. E se eu afirmar que a pessoa pode até conseguir uma cura instantânea?... Pois bem. Seja como for, sim, tudo é possível (“tudo posso Naquele que me fortalece”, conforme Epístola 1ª. de Paulo aos Filipenses, cap. 4º., vers. 13), principalmente, se nos consagramos a uma causa nobre em benefício do próximo, da Humanidade. Bem entendido: “tudo posso”, mas segundo lei do mérito.

Em vista do exposto, o êxito das cirurgias realizadas no tecido etérico perispiritual ou diretamente no tecido muscular faz parte de uma série de pormenores. E quem foi que disse que não podemos servir-nos da Medicina dos Espíritos para nos livrar de uma doença?!

Todavia, paciência. Determinadas moléstias incuráveis, toda deformidade física, no fundo, exprimem um bem, se a pessoa tiver de sofrer-lhes os efeitos. Revolta, pensamentos de castigo ou de paga de dívida, ou de supor que sofremos uma injustiça e outras ideias do gênero, só dilatam as atribulações. Logo, consideremos a dor que nos infelicite o dia-a-dia qual escoadouro de nossos defeitos morais, como algo que restaura e equilibra os sentimentos, experiência necessária que, certamente, trará como resultado a nossa perfeita felicidade, ou bem-aventurança.

DAVILSON SILVA

Notas:

* Francisco Cândido Xavier, Pão Nosso, 21. ed. Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, 2001. Tema 44, p. 99.
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27 setembro 2014

Esquizofrenia, estado vibratório perturbado da Alma - Davilson Silva

 


ESQUIZOFRENIA, ESTADO VIBRATÓRIO PERTUBADO DA ALMA


Chamamos apenas de estado vibratório de uma mente desequilibrada o que a Medicina chama de esquizofrenia... Já dissera o vetusto Platão: “O grande erro de nossa época [da época dele, e por que não da nossa?] no tratamento do corpo humano é os médicos separarem a alma do corpo”. Psiquiatras declaram saber muito pouco sobre essa “doença”, vendo nos medicamentos pesados a única saída para, no máximo, um controle de sintomas.

Iniciemos nossas considerações sobre a mente e o processo mental. Antes, mente é a própria Alma, ou Espírito encarnado, ou psique, pensamento, entendimento etc. A mente opera o ato de formar ou combinar pensamentos, ideias, refletindo, raciocinando e abrangendo tudo quanto vemos, sentimos ou alcançamos com a inteligência. Asseveramos de novo a respeito de mente (ou nous, physis, por oposição a corpo físico, segundo antigos gregos): é o efeito da própria sequência de estados mentais por meio dos quais ela, ao residir no princípio de suas demarcações cognitivas, manifesta seus pendores.

Essa energia de grande efeito dá lugar aos anseios que exterioriza e às diretrizes que admite. Possui uma força que dela provém com imensa aptidão de produzir admiráveis reações químicas, e das mais variadas, fragmentando ou restabelecendo os elementos de um todo matério-espiritual. Nesse passo, pensar é criar, e certas ideias originam-se do âmbito da razão inerente a toda criatura humana, sob determinados aspectos, em geral, subjetivos.

Falamos dessa disposição inata, adquirida à força das circunstâncias, inseparável da marcha evolutiva: a faculdade de avaliar, julgar, ponderar ideias e estabelecer relações lógicas. Essa capacidade pode acolher um conteúdo luminoso, das coisas santas, ou encerrar em si laivos de sombra. A mente ensombrecida pela intransigência arrimada ao orgulho e ao egoísmo certamente que sofrerá as injunções do açoite da Dor sem perceber quanto seria feliz pelos recursos morais que possui...

Obsessões espirituais — A Alma sob efeito de refluídas repulsas não conseguirá mesmo atinar para os benefícios salutares da prece, da meditação, da vigilância e da ação edificante com o propósito de exercer a amizade fraterna pura e verdadeira, daí, as obsessões espirituais. De desencarnado para encarnado, sucedem perseguições crônicas, odientas, vexatórias, causadoras de enormes danos ao objeto do rancor. (1) Por sinal, escreveu Joanna de Ângelis:

Vinganças pessoais são patenteadas por temperamentos empedernidos no mal que se resolveram retardar a marcha ascensional, a fim de promoverem a desdita dos seus adversários, apesar de também pagando o preço do sofrimento. (2)

Nisso, a série de casos entre duas mentes vencidas pela amargura a que se fixaram, acaba criando lamentável seguimento de alienação obsessiva. Por conseguinte, a intensidade do grau de débitos morais de uma para com a outra, consoante exigências da Lei de Causa e Efeito, dá continuidade a uma ordem de fatos que retornam ao fato inicial, na entrada e saída de corpos em trânsito pela via do reparo. Só assim, as doenças orgânicas e mentais ensejam à Alma debilitada, pelo ato de sofrer, a responsabilidade do seu inferno particular, motivado pelo orgulho, pelo melindre e a antipatia. É o que a lógica espírita explica, e justifica!, cujas provas chovem aos borbotões para quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir.

Além de tais argumentos, dizemos de passagem que, em matéria de assunto patogenético, o Espiritismo de há muito descortinou um novo horizonte, e “eles” não viram... Tendo em vista diminuir as misérias humanas, no campo sutil das perturbações traduzidas no organismo físico, o Espiritismo tornou manifesto o que ficou obscuro acerca do assunto espírito-matéria. Só ele foi capaz de demonstrar singular diferença entre a cultura terrestre e a espiritual, esclarecendo que o corpo dos homens não passa de produto de uma condensação fluídica, designado por lei de hereditariedade, obedecendo exclusivamente aos imperativos da existência terrestre.

O brilho da luz espírita, essa luz viva, intensa, vai ao longe da simples convicção de que a Alma é imortal, ao estender mão fraterna e cooperante, especialmente à Psiquiatria e à Psicologia. Objetivando tornar bem mais inteligível o sentido da zona oculta do complexo núcleo das atividades da mente, o Espiritismo realça ainda mais a inteligência divina. Somente na sabedoria divina, dá ele a saber, que encontraremos as cabíveis respostas de toda coordenação, de toda boa proporção e harmonia universais em seus pontos mais entranháveis, do contrário, a soma dos conhecimentos científicos de contínuo gravitará em torno do acanhado círculo das próprias observações, sobretudo no que tange a doenças do campo mental.

Em outras palavras tornamos a referir: toda enfermidade diz respeito a estados vibratórios perturbados da Alma. Mas uma grande parcela de médicos e suas considerações situadas de um único lado acham meras respostas orgânicas. Demoram-se em hipóteses, por vezes, obscuras, ambíguas, declaradas em artigos, em palestras para no fim dizerem que lhe desconhecem a causa.

Contradições médicas — A despeito de a Organização Mundial de Saúde (OMS) admitir o fator “humano integral”, relativo à saúde, isto é, ao estado de bem-estar completo da criatura humana, uma grande parcela de médicos prefere ignorar esse reconhecimento em ordem. Saúde, mais explicitamente, segundo conceito da OMS, quer dizer bem-estar biológico, social, ecológico e espiritual da criatura humana. Contrariamente a esse claríssimo enunciado, as escolas de medicina seguem à margem dos problemas psicológicos humanos.

Que surpreendente incoerência! O Código Internacional de Doenças (CID) reconhece o estado de transe medianímico como algo congênito ao homem e inseparável dele, distinguindo-o do estado de transe mórbido. Quem quiser conferir, basta verificar o parágrafo 10 do item F 44.3 do referido código em que se destaca o fenômeno mediúnico de incorporação, considerando-o perfeitamente normal, pois, ainda de acordo com o CID, a influência dos Espíritos através de pessoas (médiuns) nada tem a ver com doenças psicóticas. Mas os elementos da classe médica teimam em tatear a matéria qual se a causa dos transtornos psicóticos como a esquizofrenia se restringisse à porção do encéfalo que ocupa, na caixa craniana, toda a parte superior e anterior. Ora! A mente é para o cérebro o que as ondas hertzianas são para o rádio!

Por exemplo: Emmanuel disse que a psicologia e a psiquiatria, entre homens atuais, conhecem tanto do espírito quanto um botânico que, restrito ao movimento do círculo de observações do solo, tentasse julgar um continente vasto e inexplorado por alguns talos de erva, crescidos ao alcance de suas mãos...

O ideal seria o médico procurar saber até que ponto a obsessão espiritual exerce influência no conjunto de dados, em que se baseia o gênero da doença, conforme sintomas oferecidos pelo paciente. Portanto, não vá na conversa de quem rotule de psicóticas, de esquizofrênicas as pessoas que dizem ouvir vozes ou ver vultos, principalmente na conversa daqueles que podem empanturrá-las de antipsicóticos fortes.V Se o prezado leitor ou a prezada leitora souberem de alguém próximo ou distante que ouve vozes ou vê imagens estranhas, não significa que ele seja uma aberração da Natureza. Tudo é muito relativo. A esquizofrenia origina-se na obsessão espiritual que pode se tornar em lamentável quadro de imprevistas consequências. Enfim, esquizofrenia, no fundo, não passa, algumas vezes, de certo grau de mediunidade latente, a reclamar pra ontem reforma íntima e serviço devotado ao próximo com Jesus por amor a Deus.

DAVILSON SILVA
davsilva.sp@gmail.com

Notas: 

1 - Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, 62. ed. São Paulo, Lake — Livraria Allan Kardec 

2 - Editora, 2001, capítulo 10ọ, item 6, p. 134. 2 - Divaldo P. Franco, No Limiar do Infinito (pelo Espírito Joanna de Ângelis), 1. ed. Livraria Espírita Alvorada — Editora, 1977, tema 17, p. 129. 

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26 setembro 2014

Médiuns de ontem e de hoje - Christina Nunes


MÉDIUNS DE ONTEM E HOJE

Na excelente obra Os Cátaros e a Heresia Católica, Hermínio Miranda discorre detalhadamente a respeito das características da linda sociedade cristã, cátara, que floresceu na região do Languedoc, no sul da França, nos idos do século XIII. Considerada herética pela Igreja Católica, em razão de afrontar resolutamente dogmas já pétreos, através dos quais se via o legado espiritual de Jesus para o mundo completamente distorcido. Dentre as convicções de vanguarda defendidas pelos crentes cátaros existia, já, a da evolução do Espírito ao longo das vidas sucessivas, e também tratavam sobre as ocorrências mediúnicas que, para aquele povo simples dos séculos XII e XIII, se constituíam não mais do que em fatos comuns, com os quais lidavam com naturalidade, e dos quais falavam naturalmente para as suas crianças.

Viram-se, assim, em apuros, na conjuntura delicada do momento histórico no qual começaram a ameaçar o poderio religioso e político da Igreja, ao passo em que iam amealhando crescente simpatia em regiões várias da Europa. E, com a investida das Cruzadas Albigenses e, em sequência, encurralados pela Inquisição em tempos imediatamente posteriores, quis o poder do clero extinguir, decidida e definitivamente, aquele povo e suas ideias mais fiéis aos verdadeiros ensinamentos de Jesus – respeitando como iguais as mulheres e a liberdade de pensamento, refutando duramente a pompa das hierarquias sacerdotais e vários de seus dogmas centrais, e, sobretudo, falando abertamente de mediunidade e reencarnação, um conceito em absoluto renegado pelo Alto Clero nos postulados da doutrina cristã, nada embora tivesse o próprio Cristo discorrido sobre ele com naturalidade, ao longo de sua missão sacrificial.

A obra de Hermínio Miranda trata com brilhantismo ímpar do tema, e, em seu conteúdo, nos oferece a narração de um caso interessante, que ilustra aos espíritas atuais que a realidade do dom mediunidade é atributo comum ao ser humano de hoje como em todo tempo histórico, indistintamente. Narra o caso de Arnaud Gélis, um personagem peculiar do começo do século XIV que, naqueles tempos difíceis de martírios, era médium confesso. Submetido ao cerco férreo da Inquisição, no entanto, continuou agindo e falando não mais do que do mesmo modo natural, espontâneo, sincero, sobre a sua convivência diária com os Espíritos, que diante dele se materializavam e conversavam, sem-cerimônia, provenientes das mais disparatadas situações sociais; dotados de variegadas características individuais, de personalidade, temperamentos e, mesmo, vestimentas – para profunda ira de seu inquisidor, Jacques Fournier, bispo de Pamiers, e, aliás, futuro papa, resoluto em atribuir heresia a todo aquele que afrontasse a prepotência Católica em definir o que, ao ser humano comum, deveria ser considerado como expressão da verdade no que se referia ao que os postulados religiosos queriam outorgar ditatorialmente, para melhor manutenção do poder temporal e de domínio e manipulação das consciências do mundo.

Todavia, não havia como Arnaud não se comportar, à compreensão despótica do inquisidor, como um continuador encarniçado da já secular heresia cátara, se bem não fosse ele, faticamente, um seguidor do catarismo - e não há, a esta altura, no século XXI, um modo de descartarmos esta hipótese. Arnaud fora iniciado nas suas práticas mediúnicas, conforme nos elucida Hermínio Miranda com base em seus estudos históricos, justamente sob a batuta de um cônego da catedral de Pamiers, Hugues de Dufort, por volta de 1311 ou 1312. Fora a orientação do Espírito de um cônego, assim, que levara Gélis a assumir a sua então tida como “macabra” atividade de comunicação com os defuntos. (1)

Textualmente, Miranda nos diz, às fls. 184 de sua obra:

“Gélis não tinha culpa de ser médium. Os Espíritos que ele via e com os quais conversava e dos quais recebia recados a serem transmitidos aos vivos eram uma realidade indiscutível. A realidade que Gélis testemunhava não conferia com a que a Igreja adotara e impunha. Para o chamado Cristianismo de então – e que perdura até hoje – as almas dos ‘mortos’ têm que ficar quietinhas nos seus túmulos até o dia mágico da ressurreição da carne, quando então lhes seria dada a destinação final. Ainda que isto fosse admissível para as que tenham ido parar no purgatório, não se aplicaria a mesma norma para as que teriam ido para o céu ou para o inferno. Já não são, estas, destinações definitivas? Ademais, as almas pareciam ignorar os dogmas e as proibições e continuavam a se manifestar ao pobre médium.

Para a desgraça de Gélis, ele as via por toda parte e com elas se entendia. Os sacerdotes mortos, por mais elevadas que tenham sido suas posições hierárquicas no mundo dos vivos – bispos e até arcebispos – não estavam no céu, e sim perambulando pelos lugares ermos, obviamente infelizes, perdidos, sem rumo nem destino (...)”.

Mas não era só Dufort que se apresentava aos colóquios com Gélis, mas “muitos outros veneráveis cônegos, como Hugues de Ros, Athon d’Unzent, Pierre Durand. O cenário em que se manifestavam era aquele mesmo que frequentaram enquanto ‘vivos’ – o claustro dos mosteiros ou as igrejas ou as igrejas às quais estavam ligados (...). Os mortos, segundo Gélis, sentiam frio no inverno e tinham sede no verão. (...)” (2)

Hermínio menciona em parágrafos posteriores que, segundo o conteúdo da obra de Christian Bernadac, estudioso histórico, inclusive, simpático à causa e às interpretações católicas distorcidas do catarismo, na qual encontramos a descrição desses registros inquisitoriais, Arnaud Gélis não seria considerado um mal-intencionado ou fraudador consciente - mas visionário alucinado! Um pobre infeliz, autoiludido, crente nas próprias fantasias, provavelmente, induzidas pelas influências do diabo. Muito provavelmente, padecendo de distúrbios mentais!

Ora, amigo leitor e leitora, onde, e em quantas vezes, nos tempos atuais, já vimos a repetição da mesma história? De vez que, em muitos quesitos importantes, vitais mesmo, os dogmas cristãos em nada se modificaram, e em se observando a trajetória daqueles que hoje em dia, guardadas as semelhanças de compreensão destas realidades da vida, bem poderiam ser tachados de neocátaros, em quantos episódios não soubemos de semelhante perseguição desfechada por pessoas que apenas se transferiram de séculos, repetindo, nem mais nem menos, do que as mesmas vivências infortunadas contra Arnaud Gélis?

Descartando a bem-vinda circunstância de não mais haver tribunais inquisitoriais – hoje travestidos para modalidades mais sutis de repressão, diluídos na sociedade –, quantos casos semelhantes já não nos chegaram ao conhecimento, ou foram duramente experimentados por aqueles de nós de dentro do Movimento Espírita? Fatos lamentáveis havidos com médiuns de todas as esferas de ação, ou com aqueles cujas atividades são de maior expressão pública, como Chico Xavier ou Divaldo Franco, ilustram, ainda hoje, a intolerância, a brutal incompreensão originada na ignorância mais absoluta da realidade destes acontecimentos comuns de interatividade entre habitantes das esferas corpóreas e incorpóreas!

O ‘nunca ninguém voltou para contar como é’, para nossa profunda perplexidade, ainda impera em milhares de mentalidades e corações mal-informados sobre o que vige nas leis imutáveis do Criador para a destinação de todas as criaturas. Resultado de séculos malfadados de adulteração da verdade maior e definitiva pelas religiões institucionalizadas, para favorecer interesses temporais de poder e dominação das consciências reencarnadas no mundo em lento processo de avanço espiritual, eis-nos, ainda, médiuns atuantes de maior ou menor expressão pública, às voltas com a cegueira das reações das massas para com aquilo que constitui não mais do que manifestação cotidiana de uma lei natural – apenas que ainda mal compreendida pelas mentalidades adormecidas e pela ciência renitente nos paradigmas obsoletos para a aferição do funcionamento dos mecanismos maiores que regem a vida no universo.

Não haveria, pois, naqueles tempos, como Arnaud Gélis agir de modo diverso da sinceridade cristalina com que lidava com a simples expressão pessoal da realidade diária de sua convivência multidimensional – como hoje, também, não há outro caminho, mais honesto, mais reto, aos médiuns contemporâneos, do que resistir bravamente à ainda opressora resistência dos investimentos de interesse ou das limitações individuais para se aceitar pacificamente o que simplesmente não podemos mais negar ou rejeitar, em detrimento de uma verdade mais ampla das coisas.

É, pois, finda a era de se favorecer mentiras que não merecem prevalecer por mais tempo, num mundo que, com atraso, deve deixar para trás o lastimável estado de quarentena cósmica causada pela resistência do ser humano em avançar espiritualmente, não nos permitindo, assim, a bênção de nos colocarmos em situação de cidadãos universais, em coexistência pacífica com os habitantes dos muitos mundos e dimensões das mais variadas expressões vitais espalhados pelo infinito.

É o exigível, para a consolidação de uma humanidade menos egoísta e mais responsável em bases meritórias de responsabilidade própria, por um futuro de maior felicidade, harmonia e entendimento, com avanços significativos em todos os níveis de convivência que haverão de transportar a Terra, de fato, para o estágio mais grato de planeta de regeneração.

(1) Hermínio Miranda – Os Cátaros e a Heresia Católica – Ed. Lachâtre – Capítulo Uma Reformatação do Catolicismo – pág. 184.

(2) Hermínio Miranda – Os Cátaros e a Heresia Católica – Ed. Lachâtre – Uma Reformatação do Catolicismo – pág. 184 e seguintes.

Autoria: Christina Nunes


25 setembro 2014

Por que a população da Terra aumenta se os Espíritos que vão e vêm são os mesmos? - Paulo Artur Gonçalves

 

POR QUE A POPULAÇÃO DA TERRA AUMENTA SE OS ESPÍRITOS QUE VÃO E VÊM SÃO OS MESMOS?

Toda vez que se fala em reencarnação alguém vem com a clássica pergunta: Se ela existe e os Espíritos são os mesmos que vão e vêm, como se explica o aumento da população do mundo? 
 
É isto que vamos comentar.

A crença na reencarnação é uma das mais antigas da humanidade. A primeira referência documentada foi encontrada num papiro egípcio de 3.000 anos a.C.

O Espiritismo surgiu no século 19 e veio reafirmar esta crença e, além disso, esclarecer as regras às quais ela está submetida.

Dentre as explicações do Espiritismo, temos:

1. Espírito é o princípio inteligente do universo e Deus criou a todos, sem exceção, simples e ignorantes, porém com uma vontade enorme de progredir, digo evoluir.
 
2. A evolução se dá tanto no plano material como espiritual. Quanto mais primitivo o Espírito, mais ele precisa do plano material. 
 
3. À medida que o Espírito vai se purificando, menos ele precisa deste nosso plano material. 
 
4. O Espírito, quando no topo da evolução, não precisa reencarnar mais. São Espíritos puros. 
 
5. Quanto às almas dos animais, por não estarem ainda desenvolvendo a inteligência racional (desenvolvem só a inteligência instintiva), a vida no plano material para elas é suficiente. A reencarnação pode ser de imediato (pode ser, não significa que é, depende da disponibilidade de corpos).  

HÁ ESPÍRITOS QUE REENCARNAM DE IMEDIATO 

6. Reencarnar é uma oportunidade abençoada em face da dificuldade pertinente à disponibilidade de corpos. Não há acessibilidade plena à reencarnação. Logo, há fila. 
 
7. Há Espíritos que reencarnam de imediato e há outros que chegam a demorar séculos. Curva normal (Gauss)? 
 
8. Há cerca de 3 a 4 Espíritos desencarnados para cada 1 encarnado. Isto foi dito há algum tempo, quando a população da Terra – número de encarnados – era cerca de 6 bilhões. Logo, o número de Espíritos, no total, seria de 24 a 30 bilhões de indivíduos.

9. A Terra, nem de longe, é o único planeta habitado no universo. Como disse Jesus: há muitas moradas na casa de meu pai.

10. Um Espírito pode ir a qualquer ponto do universo pela velocidade do pensamento, sendo que aos menos evoluídos muitas regiões lhes são interditadas. 
 
11. Ao se deslocar de um orbe para outro, o Espírito deixa no orbe de origem seu perispírito, por este ser de uma matéria sutil e, por ser matéria, está submetido às leis da física. Um perispírito para se deslocar tem como limite a velocidade da luz, não podendo acompanhar o Espírito que se desloca na velocidade do pensamento. Assim, o Espírito toma no orbe de destino outro perispírito com a natureza da matéria de lá. 

O CICLO REENCARNATÓRIO TERIA 280 ANOS 

 Daí podemos tirar algumas conclusões que são:
  • Tempos médios entre duas reencarnações:                      
No princípio da evolução, o homo sapiens, por ser muito próximo de um animal, podia reencarnar de imediato. Logo, se houvesse acessibilidade plena a corpos, seu tempo no plano espiritual, entre encarnações, seria próximo de zero.

No final da escala da evolução para os Espíritos puros, o tempo entre reencarnações é infinito.
 
  • Ciclo reencarnatório: 
 
A relação de 4:1 só é válida para o ponto da escala evolutiva em que nos encontramos; assim, se a expectativa de vida, neste ponto, é de 70 anos, um Espírito espera na média 280 anos desencarnado para encarnar por 70 anos. 
 
Isto totaliza 280 anos entre os estados de encarnado e desencarnado, a que estamos chamando de ciclo reencarnatório. 
 
Nesse período de tempo estão somados os tempos da necessidade evolutiva e o de fila de espera pela falta de acessibilidade plena de corpos. 
 
Para efeito de simplificação do modelo, vamos admitir que agora a acessibilidade seja plena e assim os 280 anos é a nossa média atual para um ciclo (encarnado e desencarnado).

Essa média assemelha-se à média de uma curva normal (Gauss) e, desta forma, nas extremidades da mesma existirá uma pequena percentagem de Espíritos que reencarnam quase de imediato, bem como outra que demora muito mais que a média. Também haverá uma quantidade muito grande de pontos intermediários.

A EVOLUÇÃO SE DÁ EM PEQUENOS PASSOS

No ano 1 da Era Cristã (nascimento de Jesus), segundo artigo publicado na revista Época, de 6 de junho de 2011, éramos 300 milhões de Espíritos encarnados. 
 
Admitindo que o tempo de desencarnado era igual ao tempo de encarnado (relação 1:1) e ainda mantendo a acessibilidade plena, o número total de Espíritos no planeta era de 600 milhões. 
 
Se a expectativa de vida fosse 35 anos, um ciclo reencarnatório durava 70 anos.

Se mantivermos o ciclo reencarnatório atual de 280 anos e acrescentarmos uma limitação de acessibilidade, esse número poderia ser aumentado em 4 vezes (4=280/70) o que aumenta o número total de Espíritos para 2,4 bilhões. Isto é, 10% dos 24 bilhões citados.

Para fechar a conta, o ciclo reencarnatório deveria ser de 2.800 anos o que significaria que pode haver ainda Espíritos do tempo de Jesus por reencarnar. 
 
Chegamos aí a um absurdo, simplesmente comparando o grau de civilização de um homem daquela época com o de hoje. Absurdo porque isto representa um salto enorme na evolução, fato que o Espiritismo ensina que não ocorre. 
 
A evolução se dá em pequenos passos, submetida, porém, a uma lei de crescimento exponencial, como começou a ocorrer nos últimos três séculos.

O artigo da revista citado traz dados da população global desde 200 mil anos a.C. 
 
ESPÍRITOS MIGRARAM DE OUTROS ORBES PARA CÁ

A seguir, o resumo:

ano 200 mil a.C. – 10 mil (homo sapiens)
ano 10 mil a.C. –  1 milhão (início da agricultura)
Ano 1 – 300 milhões (início da Era Cristã)
ano 1.000 d.C. – 310 milhões
ano 1.500 d.C. – 500 milhões
ano 1.801 d.C. – 1 bilhão
ano 1.900 d.C. – 1,7 bilhão
ano 2.000 d.C. – 6 bilhões
ano 2.011 d.C. – 7 bilhões.

Se compararmos o ano 1 com o ano 1.800 (século 19), quando a população da Terra era de 1 bilhão de Espíritos encarnados, as contas já ficam aceitáveis.
Assim, nos três últimos séculos deve ter havido migração de Espíritos de outros pontos do universo para cá.     
 
Por outro lado, se compararmos o ano 1 com 1.800, essa necessidade de migração apresenta-se bem reduzida, pois, atuando só nos parâmetros de redução do tempo de espera, expectativa de vida média e tempo médio no plano espiritual (erraticidade), o crescimento da população encarnada nos parece razoável. 
 
Tivemos grandes saltos nos séculos 19, 20 e 21. O século 19 ficou marcado pelo início da expansão do conhecimento, o 20 pelo crescimento da indústria e o 21 pela tecnologia.

EVOLUIR É COMO FAZER DOCE DE LEITE...

Para fazer doce de leite (bão demais sô!) até chegar a querer dar o ponto, deve-se cozinhar um tanto. Vamos fazer de conta que evoluir é como fazer doce de leite... Quando um orbe passa de uma categoria para outra (de primitivo para prova e expiação e daí para regeneração), é porque chegou ao ponto.

Assim, do século 1 ao 17, a evolução foi muito pequena e nosso orbe estava, por assim dizer, cozinhando os Espíritos, que aqui viviam quase num sistema evolutivo fechado, sem muita interação migratória com outros orbes.

No final do século 18 fomos chegando até o ponto de começar a vislumbrar uma mudança de mundo de prova e expiação para regeneração.

Para chegar a este ponto, levamos dois mil séculos (200.000 anos), a contar do evento do homo sapiens. Se contarmos do início da formação da Terra, já serão 45 milhões de séculos ou 4,5 bilhões de anos.

Se cozinhar por 2 mil ou 45 milhões de séculos é dar o ponto, só em 2 séculos este ponto será um evento muito raro. Ele deve ser aproveitado por quem já estiver na condição para tal. Como a Terra, muitos outros orbes estão cozinhando também, porém sem chegar ao ponto, como conjunto. 
 
Os Espíritos que isoladamente chegam “ao ponto” (minoria do braço superior da curva normal) têm que migrar para outro orbe onde a média já está no ponto. Como a nossa Terra está chegando “ao ponto”, muitos deles vêm para cá.

O Livro dos Espíritos explica que um Espírito pode migrar para qualquer ponto do universo na velocidade do pensamento. Para tal ele deixa seu perispírito no orbe de origem e toma outro perispírito no orbe de destino, já com a matéria de lá. 
 
A CHAMADA RAÇA ADÂMICA VEIO DE OUTRO ORBE

Isso aconteceu com o que o Espiritismo chama de integrantes da raça adâmica, quando vieram para cá, vindos de outro orbe, no momento que passamos de mundo primitivo para provas e expiação. (1)

São poucos Espíritos de muitos orbes, o que na soma dá uma quantidade grande.

Agora, no século 21, somam-se a esses Espíritos outros que virão de orbes mais adiantados para ajudar no processo de transição que já se iniciou.

Assim, esse aumento da massa de Espíritos é explicável e deve ter uma redução quando finalizar a passagem de mundo de prova e expiação para regeneração, porque os Espíritos que permanecerem no braço inferior da curva normal não chegaram “ao ponto”. Terão que sair para um outro mundo que ainda está cozinhando no estágio de prova e expiação, ou entrando nele.

Se a maioria dos Espíritos que estão migrando para cá vem de mundo de provas e expiação, como uma oportunidade de melhorar, uma minoria vem de mundos mais adiantados, já no estágio de regeneração, para nos auxiliar nesta transição.
Esses Espíritos, somados aos daqui mesmo, que já alcançaram a ponta do braço superior da curva normal, são os missionários desta transição que já estamos passando, conforme citado no Apocalipse, um dos livros que compõem o Novo Testamento.

(1)
Kardec ensina que a raça adâmica veio de outro orbe, há +- 6 mil anos, porém não a nomeia. Existem outros autores que ensinam que pertencem a um sistema evolutivo chamado Capela, que é composto de uma certa quantidade de orbes e que essa migração ocorreu há milhares de anos. A diferença entre Kardec e estes está no nome e na localização do ponto de origem, bem como no tempo em que isso ocorreu, e não no fato em si.

O fato comum a ambos é que um outro orbe, que não a Terra, passou da categoria de mundos de Prova e Expiação para mundo de Regeneração.

Quando isso se deu, alguns Espíritos não tinham condições evolutivas de lá continuar e tiveram de ser removidos. Logo, foram de lá exilados. Esses Espíritos vieram para a nossa Terra, que por aquela época estava evoluindo de Mundo Primitivo para Prova e Expiação.

Também existe a crença de que esses Espíritos exilados aqui receberam a denominação de raça adâmica, e o sentimento de Paraíso perdido se refere ao mundo do qual eles vieram. 
 
A Terra de hoje, comparada com ela mesma, quando era primitiva, não pode ser considerada um paraíso?

Autoria: Paulo Artur Gonçalves