TEMPO MENTAL
Na azáfama da vida moderna o aturdimento domina as criaturas humanas que
procuram atender aos muitos compromissos, reais e imaginários, não lhes
permitindo espaço mental para as reflexões saudáveis nem para as
meditações de urgência indispensáveis a uma existência equilibrada.
A parafernália eletrônica facilitando a comunicação, especialmente na
área da futilidade, com as exceções compreensíveis, inquieta os seus
serventuários que se lhes transformam em escravos, telefonando para
diálogos irrelevantes, enviando MSM/s, curiosamente olhando o FACEBOOK, o
TWITTER, o ORKUT ou outros mecanismos de mexericos e novidades,
entregando-se aos jogos de violência ou consultando os sites que lhes
atendem aos específicos tormentos, em nome do falso progresso
tecnológico.
Certamente, vivia-se bem sem muitos dos apetrechos modernos, alguns de
extravagante significado, mais apresentados como status sociais e
econômicos, em razão das suas grifes de luxo e de ilusão, do que pelo
valor da utilidade, responsáveis pela estimulação da ansiedade, dos
jogos de interesse pessoal, das vaidades e das competições doentias.
A falsa necessidade de se acompanhar ao vivo tudo o que se passa no
Planeta, especialmente na área das tragédias e das intrigas entre
celebridades, suas doenças, suas paixões, suas ascensões e quedas
impulsiona os tipos comuns a viverem atrelados, a todo o momento, aos
instrumentos que lhes sacia a sede de frivolidade como forma disfarçada
de fuga psicológica da realidade, escondendo os conflitos perversos que
os afligem.
O ser humano autodesconhece-se enquanto permanece atento aos
acontecimentos exteriores que envolvem outras pessoas, cujas imagens são
mecanismos de transferência das próprias aflições e insegurança,
tornando-as como ídolos ou modelos, invejados uns, enquanto detestados
outros, por parecerem inalcançáveis...
O desfile dos deuses da alta comunicação midiática é contínuo, alguns
sendo substituídos por outros mais audaciosos ou mais bem-remunerados
que, incapazes de gerenciar os valores e a existência, atiram-se ao
desbordamento das paixões servis, porque vivem saturados de bajuladores e
de prazeres incessantes que lhes anulam a capacidade emocional de se
sentir bem.
Com rapidez vivenciam o triunfo e logo após desaparecem em silêncio
sepulcral, sendo trazidos de volta aos holofotes da fama somente quando
transformados em fantasmas inditosos, chamando a atenção por escândalos
ou acontecimentos desditosos que os multiplicadores de opinião vendem
com entusiasmo e comentários chulos, quando não escabrosos...
E certo que proliferam admiráveis expressões de elevação moral e de
dignificação humana, nesse contexto, como não poderia ser diferente, no
entanto, é a grande massa, aquela que é dirigida habilmente pelo mercado
consumidor, que se deixa arrastar pelo fascínio da modernidade com
graves prejuízos para a saúde física, emocional e mental.
Os diálogos pessoais, no momento, cedem lugar às comunicações
eletrônicas, o prazer da convivência entre os amigos é transferido para
as mensagens ligeiras, ortograficamente incorretas e atentatórias à boa
linguagem. Diz-se que são os novos tempos e, sem dúvida, trata-se de um
novo período no processo sociológico e psicológico da Humanidade,
lamentavelmente com resultados bastantes afugentes para os seus áulicos.
A falta de comunhão fraternal, de conversação edificante, de estudos
sociais abrangentes com objetivos libertadores caracteriza o crepúsculo
desta civilização, em um claro-escuro de sentimentos, enquanto surge
nova madrugada anunciando outros valores que estão esquecidos, mas que
são de sabor e significado permanente.
Nesta panorâmica, em consequência, não se dispõe de tempo físico e muito
menos de natureza mental para as aquisições duradouras, aquelas que
elevam os seres humanos às esferas sublimes do pensamento e da
realização espiritual.
Mesmo quando surge algum espaço físico, havendo oportunidade de tempo
cronológico, não existe o de natureza psíquica, porque a mente se
encontra abarrotada de idéias e propostas, compromissos e complexidades
futuristas, inquietando as pessoas que não desejam ficar ultrapassadas
no contexto do grupo social insaciável em que se encontram situadas.
É necessário, dizem, estar bem informadas, desde os lugares onde a
drogadição e os demais vícios são permitidos, aos redutos de luxo ou de
miséria para o prazer exaustivo, assim como para tomar conhecimento de
todas as ocorrências nas diversas tribos, gangues, clubes elegantes e de
alto preço, apesar dos sucessos que ocorrem nos seus interiores e, de
quando em quando, se tornam motivos de escândalos na mídia...
O ser humano é constituído de equipamentos eletrônicos muito delicados,
cujo manejo exige habilidade e experiência, a fim de não gerar
desarmonia no seu funcionamento.
A mente, que se exterioriza através da câmera cerebral, tem necessidade
de harmonia, a fim de processar todos os acontecimentos que lhe dizem
respeito ou aqueles que têm lugar à sua volta, de maneira a bem
administrar a máquina orgânica.
Em razão disso, o pensamento saudável é essencial para uma existência
equilibrada, sendo veículo dos recursos que proporcionam bem ou
mal-estar, de acordo com a onda vibratória em que se expressa.
O atropelamento das ideias, a falta de amadurecimento psicológico, a
ausência da reflexão podem ser comparadas ao fenômeno alimentar,
mediante o qual o indivíduo sobrecarrega o estômago na ânsia de comer
bem, gerando graves distúrbios digestivos de imediato. O mesmo ocorre
nas áreas mental e comportamental.
Impossibilitada a mente de decodificar todos os fatos e informações que
chegam ao arquipélago cerebral, apresentam-se a ansiedade, a
impaciência, gerando descontrole nas neurocomunicações com resultados
perturbadores para o discernimento, a memória, as aspirações
iluminativas, a saúde integral...
O ser humano necessita de silêncio mental, de espaço físico para a autoidentificação, para o autodescobrimento.
Esse interregno entre as atividades irá propiciar-lhe melhor
discernimento em torno dos objetivos existenciais, facultando-lhe
experienciar os prazeres não desgastantes dos sentidos físicos, mas a
fruição da alegria íntima de viver e de poder pensar com liberdade e
altruísmo.
Quando se age sem pensar, inevitavelmente se é convidado a retroceder nas ações intempestivas, refazendo o caminho conquistado.
O silêncio íntimo, que permite ouvir-se a voz da consciência, é de alta
relevância para uma existência feliz, porque permite saber-se o que
realmente se deseja produzir e como fazê-lo de maneira excelente.
A azáfama desequilibra, o excesso de ruídos, a multiplicidade de
interesses desarmoniza, e o ser humano perde o endereço, o rumo da sua
felicidade.
Preserva algum tempo mental para as tuas reflexões, não te deixando
seduzir pelas vozes alteradas dos desconsertos emocionais tidos como
festivos e promotores da alegria.
Resguarda-te na meditação diária, mesmo que seja por um espaço de tempo
reduzido, mas de grande significado para o teu autocontrole, para as
tuas decisões e realizações.
Não sobrecarregues as tuas paisagens mentais com as imagens violentas
dos desejos infrenes e inferiores, com as imposições sociais e seus
fetiches mentirosos, permitindo-te ser livre para pensar e para agir
dentro dos padrões felicitadores da boa ética-moral que encontras nos
ensinamentos de Jesus, que te aguarda após as refregas humanas...
Joanna de Ângelis (espírito)
Psicografia de Divaldo Franco
Livro: Liberta-te do Mal
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