O CONHECIMENTO QUE A VIDA CONTINUA NOS PERMITE MANTER A CHAMA DA ESPERANÇA VIVA, POIS UM DIA NOS REENCONTRAREMOS.
“Que a morte não vos apavore mais, meus amigos; ela é uma etapa para vós, se soubestes viver bem; é uma felicidade, se merecestes dignamente e bem cumpristes as vossas provas. Repito-vos: coragem e boa vontade! Não ligueis senão um preço medíocre aos bens da Terra, e sereis recompensados; pode-se gozar muito, sem retirar o bem-estar dos outros, e sem fazer-se, moralmente, um mal imenso. Que a terra me seja leve!” (O Céu e o Inferno, 2ª Parte, cap. II, Espíritos Felizes, Editora Ide, 48ª edição)
Para aqueles que ficam, a saudade acalentada pelo desconhecimento provoca a sensação de perda, mas a Doutrina Espírita nos traz a luz clarificadora do entendimento. As questões 934 a 936 de O Livro dos Espíritos versam sobre a separação de pessoas amadas pela desencarnação e a possível e aparente profanação em virtude das comunicações espíritas.
Quando estamos momentaneamente separados de quem amamos, sofremos com a sua ausência, mas nos felicitamos em saber que continuam vivos. O conhecimento espírita nos permite isso. Com relação à profanação, em virtude das comunicações mediúnicas, os espíritos respondem: “Não pode haver nisso profanação quando há recolhimento, e quando a evocação é feita com recolhimento e decoro”. Invertamos a história. Se tivéssemos partido e chegasse ao nosso conhecimento que os que ficaram quisessem notícias nossas porque sentem saudades, isto nos deixaria mais aliviados, porque nos sentiríamos amados. Pois bem, o mesmo ocorre com os nossos familiares queridos que nos antecederam no retorno ao plano espiritual.
Kardec, em um de seus comentários às questões elencadas, nos diz que a Doutrina Espírita “(…) pelas relações que nos faculta manter com eles, nos oferece uma suprema consolação numa das causas mais legítimas de dor”. Só em saber que poderemos desde já, se assim for permitido, manter contato com os que já partiram, imensa alegria nos invade a alma. Mais ainda: o conhecimento que a vida continua nos permite manter a chama da esperança viva em nós que, se não for agora, um dia nos reencontraremos, pois nenhum de nós terá um fim. É semelhante a um familiar que precisa isolar-se em virtude de uma doença ou porque precisa dedicar-se aos estudos. Por um tempo nos será interditado o contato, mas após tal período nos reencontraremos e nos felicitaremos pelo sucesso do empreendimento ou pela cura da doença.
Acreditar na fatalidade é automaticamente negar a existência de Deus. Deus, que entre outros atributos é onisciente, onipresente, todo sabedoria e bondade, como permitiria que ficássemos jogados ao acaso, em vez de seguirmos a lei de causa e efeito? Isto sim nos parece muito mais justo. Às vezes, o ignorante orgulhoso prefere negar-se a conhecer uma verdade do que curvar-se perante ela e assumir a sua falta de conhecimento, para que possa abarcar todos os pontos.
Por quantos desregramentos morais o ser humano passa, os quais seus familiares, que o amam, prefeririam que antes tivesse partido a permanecer naquele sofrimento. É claro que há um quê de egoísmo e de orgulho pela vergonha que possam ser objeto. Mas também há um pouco de piedade por não querer ver o outro sofrer. Nós sabemos que os que desencarnam em tenra idade cumprem um complemento de encarnação e que nesta cabe-lhes poucos anos, constituindo prova para os pais também.
O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu capítulo V, item 21, nos traz uma bela mensagem do Senhor Sanson sobre perda de pessoas amadas: “Mortes prematuras”. À primeira vista pode parecer que o texto aborda de uma forma quase romanesca o fenômeno morte, mas ao lermos em O Céu e o Inferno (2ª Parte, cap. II, Espíritos Felizes, Editora Ide, 48ª edição) o preâmbulo e as evocações feitas a ele (Sanson) no pós-desencarne, veremos que se trata de um homem que amava a vida, mesmo padecendo de cruéis sofrimentos no último ano encarnado e, mesmo não tendo o correspondente religioso nos seus filhos, fez do Espiritismo sua bandeira de conduta, permitindo-se passar por uma verdadeira autópsia espiritual por parte dos confrades, a fim de comprovar a veracidade da comunicabilidade dos espíritos. Desencarnou em 21 de abril de 1862, dando a primeira comunicação dois dias após na câmara mortuária ao lado do corpo que era velado. Transmitindo a mensagem que encabeça o artigo para ser lida na cerimônia do cemitério.
Então não nos causa estranheza quando ele nos fala: “Vós que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração chamando esses entes bem-amados e, se pedirdes a Deus para os abençoar, sentireis em vós essas poderosas consolações que secam as lágrimas; essas aspirações maravilhosas que vos mostrarão o futuro prometido pelo soberano Senhor” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu capítulo V, item 21, Editora Ide, 320ª edição).
Ele faz uma verdadeira evocação pedindo que as pessoas antes de blasfemarem contra Deus por ter “levado” um ser amado, orem ao Pai pedindo forças. Nós não sabemos delimitar o nosso futuro. Estamos falando aqui de tempo de encarnação. Só Deus o sabe, precisamos confiar n’Ele.
A separação de seres amados será mais dolorosa em virtude da culpa e do remorso de não termos agido conforme o outro merecia; de não termos feito todo o bem que poderíamos ao outro; de termos açambarcado momentos felizes com o outro em detrimento de coisas menores; de termos menoscabado o valor do outro, procurando sobrepor-nos. Enfim, por não termos agido para com o outro como gostaríamos que outro tivesse agido para conosco. Saudade é algo que nos acompanha e não precisa o outro ter desencarnado. Remorso disfarçado de saudade repercute n’alma, perturbando-nos os passos e interditando a caminhada.
Walkiria Lúcia de Araújo Cavalcante
Fonte: site "Mensagens Espíritas"