O TEMPLO DO ETERNO
“A razão e a consciência não só guiam nossa apreciação e nossos atos, mas também são os mais seguros meios para adquirir-se e possuir-se a verdade.”
O ensino dos santuários produziu homens realmente prodigiosos pela elevação de vistas e pelo valos das obras realizadas, uma elite de pensadores e de homens de ação, cujos nomes se encontram em todas as páginas da História. Daí saíram os grandes reformadores, os fundadores de religiões, os ardentes propagandistas: Krishina, Zoroastro, Hermes, Moisés, Pitágoras, Platão e Jesus; todos os que tem posto ao alcance das multidões as verdades sublimes que fazem sua superioridade. Laçaram aos ventos a semente que fecunda almas, promulgaram a lei moral, imutável, sempre e em toda parte semelhante a si mesma. Mas, não souberam os discípulos guardar intacta a herança dos mestres. Mortos estes, os seus ensinos ficaram desnaturados e desfigurados por alterações sucessivas. A mediocridade dos homens não era apta a perceber as coisas do espírito, e bem depressa as religiões perderam a sua simplicidade e pureza primitivas. As verdades que tinham sido ensinadas foram sufocadas sob os pormenores de uma interpretação grosseira e material. Abusou-se dos símbolos (*) para chocar a imaginação dos crentes, e, muito breve, a ideia máter ficou sepultada e esquecida...
...A verdade é comparável às gotas de chuva que oscilam na extremidade de um ramo. Enquanto aí ficam suspensas, brilham como puros diamantes aos raios do Sol; desde, porém, que tocam o chão, confundem-se com todas as impurezas. O que nos vem de cima mancha-se ao contato terrestre. Até mesmo ao seio dos templos levou o homem as suas concupiscências e misérias morais. Por isso, em cada religião, o erro, este apanágio da Terra, mistura-se com a verdade, este bem dos céus.
Pergunta-se algumas vezes se a religião é necessária.
A religião (do latim religare, ligar, unir), bem compreendida, deveria ser um laço que predesse os homens entre si, unido-os por um mesmo pensamento ao princípio superior das coisas. Há na alma um sentimento natural que a arrasta para um ideal de perfeição em que se identificam o Bem e a Justiça. Este sentimento, mais nobre que poderemos experimentar, se fosse esclarecido pela Ciência, fortificado pela razão, apoiado na liberdade de consciência, viria a ser o móvel de grandes e generosas ações; mas, manchado, falseado, materializado, tornou-se, muitas vezes, pelas inquietações da teocracia, um instrumento de dominação egoística.
A verdadeira religião é um sentimento; é no coração humano, e não nas formas ou manifestações exteriores, que está o melhor templo do Eterno.
Entre tanto, deve-se compreender que nem todos os homens se acham em vias de atingir esses píncaros intelectuais. Eis porque a tolerância e a benevolência são coisas que se impõem. Se, por um lado, o dever convida-nos a desprender os bons espíritos dos aspectos vulgares da religião, por outro, é preciso nos abstermos de lançar a pedra às almas sofredoras, lacrimosas, incapazes de assimilar noções abstratas, mas que encontram arrimo e conforto na sua fé.
(*) A ideia de Deus, outrora simples e grande nas almas, foi desnaturada pelo temor do inferno.
Autor: Léon Denis
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