Todo ato de generosidade ou de altruísmo traz em sua natureza as blandícias do amor fraterno, que possibilita a elevação moral e espiritual.
A construção da felicidade é um projeto de vida que todas as criaturas anseiam e para o qual trabalham com imensa sofreguidão. É também o porquê de espíritos se candidatarem para a grande viagem de provas e expiações, presentemente em trâmite pelo belíssimo planeta Terra, anelando construir essa exultação na mansão dos mais puros sentimentos d’alma.
Não há dúvida de que são aspirações pulcras para edificar o castelo destinado à habitação do espírito, conscientes de que esse galardão não será fácil de obter, pois o caminho a ser percorrido tem abrolhos, espinhos e tormentas, razão pela qual muitos se deixam descoraçoar nos calhaus dos exames a que se submetem.
Indispensável anotar que os que vêm na retaguarda da existência, sem esforço, anelam por dias de formosura, de alegria e de prazer, imaginando que o mundo onde habitam seja um planeta de veraneio. Não é. Os profitentes do Espiritismo sabem muito bem que o orbe é de provas e expiações, ou sob outra dicção, os viandantes são responsáveis pela edificação de tudo que cativam na jornada, em direção ao progresso a que estão destinados.
A avenida para a conquista da felicidade é alinhar-se na corrente do bem, máxime porque esse proceder traduz as lições do Divino Jardineiro para amar ao próximo e fazer a ele tudo o que se deseja para si, pois todo ato de generosidade ou de altruísmo traz em sua natureza as blandícias do amor fraterno, que possibilita a elevação moral e espiritual dos que o praticam, servindo de arrimo para conduzir os que se esforçam por ter puro o coração.
Sem contradita, é esse o curso para atingir as culminâncias dos altiplanos celestiais, pois no dizer do poeta Carlos Drummond de Andrade: “A vida é uma sucessão de acontecimentos.” Traduzindo esse sentimento poético, poder-se-á dizer que se colocam em movimento as energias poderosas do universo para trabalhar a favor dos sentimentos puros ou nebulosos, e é exatamente com esse arrimo que se afirma: todo bem que se faz advoga a favor daquele que o pratica, quando menos se espera.
Nesse sentido, ainda que se admita no exercício do livre-arbítrio, a existência de criaturas que optam pela porta larga, o que é inconteste é a existência daqueles que transitam por esse mundo belo, colorido e consentido, construindo o edifício da bem-aventurança. Trata-se de arautos do bem que trabalham incansavelmente iluminando o caminho daqueles que vêm na retaguarda, razão por que colocam setas luminosas indicando o caminho para os esplendores celestes. Entre eles, não será reprochável anotar: Mohandas Karamchand Gandhi; Martin Luther King Jr.; Dr. Bezerra de Menezes; Santa Madre Teresa, nascida em Calcutá; Eurípedes Barsanulfo; Léon Denis, o emérito educador; Hippolyte Léon Denizard Rivail, conhecido também como Allan Kardec; Cairbar Schutel, o Bandeirante do Espiritismo, fundador da Casa Editora O Clarim e, entre tantos construtores da corrente do bem, o enviado do Pai Celestial, Jesus de Nazaré.
Para ilustrar o tema sub óculis e discursar a favor da edificação das algemas do bem, demonstrando à sociedade que não há necessidade de fazer das naturais dificuldades um holocausto, diga-se que, de fato, há sempre um gesto de amor, uma palavra de carinho, de ajuda, permitindo distender e expandir o bem em todas as direções, como ensinou o Sublime Mensageiro, para a edificação do palácio da esperança, anelado por todos na grande viagem da vida.
Para bem sedimentar os conceitos que devem servir de espeque aos interessados em se incorporarem na corrente do bem, para desfrutarem da felicidade proposta pelo Divino Jardineiro, há uma história sobre a vida de um personagem conhecido por Bryan, tema de filme, que ora se relata, parafraseando ao sabor das emoções e da verve do articulista para dessedentar a sede de aprendizado dos candidatos à alegria de viver. Conta-se que certa feita, um homem viu um carro parado à beira de uma estrada, e ao lado do veículo – por sinal, um veículo top de linha, um Mercedes-Benz – uma senhora demonstrando certa idade, apesar de bem vestida, encontrava-se sozinha e estampava no rosto preocupação, na tarde chuvosa, fria e obnubilada. Bryan, apesar do entardecer, logo notou que ela precisava de ajuda. Estacionou seu velho carro na frente daquele luxuoso automóvel e foi ao encontro daquela senhora com aparência de quem precisava de ajuda. Ao caminhar para o seu propósito de ajudar a anciã, ainda ouvia nitidamente a carroceria de sua envelhecida camionete sendo sacudida pelo motor recauchutado, e ao se aproximar da reluzente Mercedes, a mulher sorriu-lhe, mas não pôde disfarçar o medo estampado em seu olhar, diante de sua aparência, malvestido. Pensou consigo mesma: “Que será de mim?”
Ninguém tinha parado para ajudá-la em mais de uma hora. Quem era aquele homem? Ele iria machucá-la? Ele parecia pobre e faminto, e não tinha um aspecto confiável.
Bryan, ao seu turno, sensível em sua alma, quiçá ajudado pelo seu anjo da guarda, percebeu que ela estava morrendo de medo, máxime porque ele bem conhecia o que ela estava sentindo; era aquele pavor do desconhecido, um arrepio que só as pessoas na eminencia de um perigo já sentiram, por isso ele disse: “Senhora, eu estou aqui para ajudá-la. Por que a senhora não espera dentro do carro enquanto vejo se posso solucionar o problema de seu veículo, afinal aqui está muito frio. A propósito, meu nome é Bryan Anderson.”
Em verdade, o problema do carrão da mulher era um simples pneu furado, mas considerando sua idade certamente era um imenso desafio. Disso sabendo, Bryan engatinhou para baixo do veículo e procurou sozinho a melhor posição para ajustar o macaco. Em pouco tempo conseguiu trocar o pneu, mas ficou com as mãos sujas e os dedos machucados, pequeno contratempo enquanto ele apertava os parafusos da roda, e ela, abaixando o vidro da janela, começou a conversar com ele. A senhorinha contou que não era daquela região e ali estava de passagem. De qualquer forma estava muito feliz pela ajuda recebida e não sabia como agradecê-lo por seus préstimos. Bryan em resposta apenas sorriu. Agora, já aliviada de suas preocupações iniciais, a idosa mulher perguntou quanto lhe devia, dizendo que pagaria a quantia que ele pedisse, até porque pensava consigo mesma em todas as coisas terríveis que poderiam ter acontecido, caso essa bondosa pessoa não tivesse parado. Bryan respondeu que o serviço nada custara, porque para ele este ato de auxílio não tinha sido um trabalho e confessava-lhe, na intimidade de seu coração, que apenas auxiliava alguém que precisava de sua ajuda. Para ele, isso já era o suficiente, porque tinha por hábito assim proceder, máxime porque Deus sabia quantas outras pessoas já o tinham auxiliado e socorrido no passado e que em verdade, esse era o seu modo de vida e não tinha nenhuma intenção de mudar o seu procedimento.
A mulher, imensamente agradecida – até pelas reservas mentais que fizera –, insistiu, e ele então para não lhe parecer mal educado, disse-lhe se ela realmente quisesse ter esse gesto de generosidade, que o pagamento fosse então na mesma moeda. Admirou-se a anciã, tentando imaginar como fazer para atender à solicitação de seu benfeitor. Bryan, percebendo o embaraço, disse-lhe em voz suave que da próxima vez que ela visse alguém precisando de ajuda, que ela oferecesse àquela pessoa a assistência necessária. Em seguida, despediram-se; Bryan esperou que a mulher partisse e retornou ao seu caminho, pensando consigo mesmo que as dificuldades não eram privilégio de ninguém e que ele mesmo também estava experimentando naquele dia frio o sabor das experiências amargas, mas apesar de tudo, sentia-se feliz e agradecido pela vida, confiante em Deus, conforme a sua fé no Senhor da Vida.
Alguns quilômetros depois, a senhora avistou uma pequena lanchonete. Ela entrou para comer alguma coisa, refazer-se das tensões pelas quais passara e relaxar um pouco antes de reiniciar o trecho final de sua viagem. Tratava-se de um lugar sombrio de pouco conforto e do lado de fora havia duas bombas de gasolina caindo aos pedaços. Nesse instante, uma garçonete, vendo que a idosa tinha o cabelo molhado da chuva fina, carinhosamente lhe trouxe uma toalha seca, auxiliando-a a recompor-se, e a pretexto de descontraí-la, a atendente, portadora de um sorriso doce, com ela conversou. A personagem desse relato, mulher experiente da vida, percebeu que a garçonete estava grávida de cerca de oito meses, pensou que deveria ser muito cansativo trabalhar de pé com uma barriga já tão grande e se questionou como alguém que tinha tão pouco podia ser tão gentil e amorosa com os outros. Neste momento ela se lembrou de Bryan.
Após terminar sua refeição, a cliente pagou a conta com uma nota de US$ 100 e a garçonete foi pegar o trocado. Contudo ao voltar para entregar o troco, qual não foi a sua surpresa ao perceber que a senhora não estava mais na mesa. Estupefata diante da significativa gorjeta, meditava consigo o porquê de tanta generosidade, quando viu algo escrito em um guardanapo. Lágrimas escorreram dos seus olhos ao ler a mensagem: “Você não me deve nada. Eu também já estive no seu lugar. Um dia alguém me ajudou da mesma maneira que eu estou te ajudando. Se você quiser me agradecer, então faça o seguinte: não deixe que esta corrente do bem acabe e pare em você; distenda em favor do próximo.”
Sob o pedaço de papel estavam mais quatro notas de US$ 100. No restaurante, aquela foi uma tarde movimentada, com muitas mesas para limpar e clientes para servir, mas a garçonete conseguiu chegar até o fim do dia ainda sorrindo. Ao chegar em casa e deitar na cama, ela ficou meditando sobre a bênção daquele dinheiro e sobre a mensagem que a nobre idosa escreveu.
Oh! Meu Deus. Como aquela mulher poderia ter adivinhado o quanto ela e seu esposo estavam precisando daquela ajuda? Com o marido desempregado e o nascimento do bebê no próximo mês, as coisas ficariam muito mais difíceis. A garçonete, ainda uma menina, sabia muito bem as dificuldades do consorte e o quanto ele estava preocupado. Foi nesse momento que ao vê-lo dormindo ao seu lado, com a consciência e o semblante tranquilos, ela lhe dá um beijo e sussurrou no seu ouvido: “Vai ficar tudo bem. Eu te amo, Bryan Anderson.”
Sem dúvida, comove os corações generosos saber que a construção da felicidade necessita despertar para a realidade da existência com os ensinamentos de Jesus, fazendo ao próximo aquilo que se deseja para si, pois isso é tarefa para hoje, envolvendo-se nas inúmeras oportunidades que a trajetória da existência oferece aos viajores construindo a felicidade.
Revista Internacional de Espiritismo • Outubro 2017