REENCARNAÇÃO E CIÊNCIA
Presente nas mais diversas culturas, a reencarnação
desafia o tempo, permanecendo viva na mente e nas crenças
do ser humano. Desde a mais remota antigüidade até os
nossos dias, ela vem sendo a forma mais completa de
explicar os diversos e complexos fenômenos da experiência
humana. Sua credibilidade vem de evidências
experimentais, de provas sob rigoroso controle científico.
A reencarnação é hoje um fato cientificamente
provado. Com fortes evidências sob o ponto de vista da
ciência, já alcançou a atenção dos institutos de pesquisas
das universidades. Não é difícil demonstrar, através de
provas científicas, que a Reencarnação é uma lei universal e
que a evolução humana se processa através dela.
Reencarnar é o retorno a um novo corpo, através de
um novo nascimento, via fecundação, da personalidade
individualizada do ser humano. Retornar significa voltar
com a mesma individualidade anterior. Apesar de mudar-se
de nome não se passa a ser outra pessoa. A personalidade
anterior se modifica a partir do nascimento, com um novo
ambiente, porém o espírito é o mesmo. Encontramos como
sinônimo de reencarnação o termo palingênese, que
significa nascer de novo e o termo metempsicose, de
origem grega, cujo significado aproxima-se do de
reencarnação, porém, ao contrário do conceito espírita, que
só admite o retorno a um corpo humano, aceita também o
regredir às formas animais.
Os mais antigos livros onde encontramos a doutrina
da reencarnação são os Vedas, de cuja matriz surgiram
grande parte das religiões e sistemas filosóficos da Índia, e
que contêm hinos sagrados cuja origem remonta há muitos
anos antes de Cristo. No Egito, as dinastias mais antigas
acreditavam na preexistência da alma, antes do seu
nascimento, assim como na sua pós-existência depois da
morte, e nos muitos nascimentos da alma neste e em outros
mundos.
Religiões significativas da Pérsia, principalmente o
Zoroastrismo, na sua forma genérica popular e dinâmica,
seguiam doutrinas contendo a reencarnação, sendo que no
Zoroastrismo (século VII a. C.) há a concepção de uma
espécie de justiça cósmica de que as almas recebiam os
seus prêmios ou castigos merecidos nas vidas futuras. Há
registros de que da Pérsia a crença da reencarnação foi
levada à Grécia.
A religião ortodoxa Islâmica não aceita nenhuma
doutrina de reencarnação. Apesar disso, algumas escolas
esotéricas dentro do Islamismo – tais como os Sufis e os
Drusos, defendem fortemente a reencarnação. Alguns
místicos islâmicos e poetas sufis como Rumi, Hafiz e
outros, defendiam abertamente a reencarnação.
De acordo com Flavius Josephus, o 1º historiador
judeu do século I d. C., as três escolas antigas de
pensamento e prática da religião judaica – os Saduceus, os
Fariseus e os Essênios – diferenciavam-se acerca do destino
da alma após a morte do corpo. Os Saduceus defendiam que
a alma morre juntamente com o corpo. Os Fariseus
mantiveram a imortalidade da alma, o renascimento das
almas das pessoas boas noutros corpos e o castigo eterno
das almas dos mais fracos. Os Essênios aceitavam a
imortalidade e rejeitavam a reencarnação. O Velho
Testamento contém passagens (Provérbios 8:22-31;
Jeremias 1:4-5) nas quais o autor professa que teriam
existido anteriormente ao nascimento físico, com destaque
para Malachias (4:2-6) que previu o retorno de Elias à
Terra.
No Alasca, entre os índios da tribo Tlingits, é crença
geral que os mesmos sinais e cicatrizes podem reaparecer
no corpo do renascido. Entre os Esquimós, há inúmeros
casos de pessoas que se recordam de suas vidas pregressas.
Diversas tribos americanas, dentre elas os Peles-Vermelhas,
aceitam a reencarnação. Os Winnibagos crêem na
reencarnação. Crença idêntica existe entre os índios
Chippeway. Eles estão certos de que, em seus sonhos,
podem reviver acontecimentos de encarnações passadas.
A principal corrente do Cristianismo ortodoxo, o
Catolicismo, nunca acolheu abertamente a doutrina da
reencarnação nas suas crenças, enquanto pensadores
importantes e seitas dinâmicas abraçaram uma ou outra
versão da doutrina dos renascimentos terrestres. Um
conselho Ecumênico importante (o 2º de Constantinopla,
em 553 d. C.), de acordo com a crença comum
anatematizou todas as concepções da preexistência da alma
e do renascimento, que faziam parte das teses de Orígenes
(185 – 254 d. C.), excomungado em 232 d. C. por adotar a
reencarnação. Um dos expoentes máximos da Igreja,
Clemente de Alexandria (preceptor de Orígenes) aceitava a
reencarnação e, ainda mais, afirmava que São Paulo
também professava tal crença.
Nos Diálogos de Platão - Fedon, Banquete e
República a reencarnação é apresentada como um dos
ensinos de Sócrates. Em República, livro X, p. 614 à 620,
há o episódio de Er, filho de Armênio, originário da
Panfília, que, após 12 dias de morte aparente, recupera-se e
conta o que viu no mundo dos mortos. Relatou como se dá
o retorno das almas para o renascimento.
Anteriormente a Sócrates, pelo menos Pitágoras,
Heráclito e Empédocles expressaram explicitamente idéias
de reencarnação. Em Fedro, Platão atribuiu a Sócrates a
doutrina da existência da alma antes de entrar neste mundo,
assim como a sua sobrevivência.
A despeito da Filosofia e em pleno século XX, as
investigações sobre o tema tomaram novo impulso. Na
França, com Albert Des Rochas, na Índia com Hamendras
Nat Banerjee, nos Estados Unidos, com Ian Stevenson.
Cada um à sua época desenvolvendo diferentes métodos de
pesquisas, a partir de fatos concretos, trouxeram nova luz a
respeito da reencarnação, principalmente introduzindo-a
como objeto de investigação científica.
As pesquisas em torno da reencarnação virificam-se
em vários campos; dentre eles tem-se a Regressão de
Memória e as Lembranças Espontâneas na Infância. Entre
os estudiosos de regressão de memória destaca-se Albert
Des Rochas, Edith Fiore, Denis Kelsey, Morris Netherton,
Helen Wambach e Hermínio Miranda. Todos eles
desenvolveram experiências em torno da regressão de
memória com resultados surpreendentes, que extrapolaram
os espaços científicos, penetrando nos consultórios de
psicólogos como técnica terapêutica.
Nas pesquisas de Lembranças Espontâneas na
Infância, destacam-se os trabalhos de Ian Stevenson, H. N.
Banerjee e Hernani G. Andrade. São pesquisas de grande
credibilidade pelas características da espontaneidade e da
insuspeição em se tratando de crianças. Há milhares de
casos catalogados com a confirmação das informações
sobre vidas passadas que não se resumem a vagas
memórias, mas, sim, a dados precisos, com nomes, datas,
locais e detalhes importantes. Em tais pesquisas verificouse
que, o intervalo de tempo entre uma e outra encarnação
pode variar de dias a séculos.
A necessidade de se estabelecer um princípio diretor,
justo e equânime para justificar a sociedade e suas
complexas relações, coloca a reencarnação como o
mecanismo capaz de exercer a justiça divina e de
possibilitar o crescimento da sociedade. Nada poderia
justificar as contingências do existir com a precisão com
que a reencarnação o faz. As dificuldades e conflitos
humanos passam pela necessidade de uma justificativa
filosófica e até mesmo do ponto de vista do equilíbrio
energético. A reencarnação é a chave para desvendar os
mistérios provocados pelo vazio do conhecimento parcial
que o homem tem sobre si mesmo.
Nem sempre a justiça que se processa pela via da
reencarnação, dá-se imediatamente na encarnação seguinte
do espírito. Os mecanismos educativos podem ocorrer na
mesma existência, sem a necessidade da reencarnação,
como também podem se dar após várias encarnações. O
tempo que leva para que o processo educativo se instale,
dependerá da ocorrência de fatores que propiciem o
aprendizado do espírito. Às vezes, há a necessidade de se
reunir pessoas várias num processo único, o que poderá
levar séculos ou milênios. Deve-se salientar que ninguém,
nenhum ser humano, estará isento do processo de educação.
A reencarnação é mecanismo obrigatório no nível de
evolução em que se encontra a humanidade terrestre.
Ninguém está isento dela. Não há privilégios nem
privilegiados.
Reencarnar sem a lembrança do passado é o
mecanismo que possibilita a convivência de contrários e
daqueles que elevaram a paixão ao seu grau máximo. Sem o
esquecimento das experiências anteriores não é profícua a
reencarnação. Reencarna-se para aprender, para educar-se.
Para crescer a partir de novos elementos, de uma nova
oportunidade, num novo ambiente, onde se possa construir
ou reconstruir seu próprio crescimento. Tal esquecimento
não significa a perda do conhecimento adquirido nas
existências anteriores. O espírito não involui. Não se perde
o que já se sabe. Esquece-se temporariamente o que não é
relevante para o crescimento do espírito. As qualidades, os
defeitos, as emoções, os amores, os ódios, ficam latentes e
participam, de forma subjacente nas relações do
reencarnado, atuando de forma inconsciente.
Muitos espíritos que estiveram juntos em encarnações
anteriores se separam para se reencontrarem mais adiante.
Alguns desafetos quando se vêem se “lembram” do
passado. Pode ocorrer que a inimizade retorne. Como
também os afetos quando se reencontram refazem a mesma
ligação que tiveram no passado. O espírito “enxerga” o
outro espírito, independente do corpo que tem e do grau de
parentesco que possuem. Alguns espíritos não reencarnam
na mesma época que seus afetos e ficam a velar por eles
para que obtenham sucesso naquela encarnação. Ao
libertar-se do corpo, seja durante o sono ou com a morte, o
espírito vai aos poucos retomando sua memória integral.
O retorno através da reencarnação se dá para o
crescimento do espírito. É um processo educativo, e não
punitivo. Encarado dessa forma, não há um número
definido de encarnações para um espírito. Os processos não
se dão de forma linear, isto é, não se passa pelo que se
causou a outrem na mesma proporção. As circunstâncias a
que um espírito está sujeito numa encarnação expiatória são
sempre atenuadas pela Misericórdia Divina. A Lei de Causa
e Efeito não é “olho por olho dente por dente”. Não se deve
interpretar as doenças e outros sofrimentos senão como
processos educativos. Errou-se no passado porque não se
sabia como agir corretamente. Retorna-se para aprender até
não mais se precisar reencarnar.
As idéias inatas, as simpatias e antipatias gratuitas, os
gênios, de alguma forma parecem denunciar uma
experiência anterior. O conhecimento não se produz de
forma mágica. A reencarnação explica tais conhecimentos
“inatos”, como oriundos de existências anteriores. Tudo
então é aprendido pelo espírito. Nada lhe é “dado” de graça.
Se no passado alguém adquiriu uma aptidão qualquer, ela
hoje se manifestaria de alguma maneira.
Em muitos casos os reencarnantes retornam com
marcas de nascença. Trazem cicatrizes denunciadoras de
experiências pregressas. Marcas que, quando não são
creditadas a fatores genéticos, reproduzem-se de uma a
outra existência por mecanismos psíquicos. As experiências
que produziram as marcas foram de tal forma intensas que
gravaram o corpo físico, denunciando a existência de uma
matriz comum onde ficam “guardadas” as impressões do
espírito. Essa matriz é o perispírito. Da mesma forma que
essas marcas, surgem fobias, traumas, que se revelam logo
na primeira infância.
O conceito de reencarnação transcende ao aspecto da
mera crença que está presente nas mais antigas culturas,
tornando-se a base para a compreensão da razão de viver do
homem. A reencarnação não foi concebida como uma teoria
para explicar a realidade, mas é uma realidade que explica e
suscita muitas teorias. As relações humanas estão
carregadas das emoções do passado. Impulsos, estímulos,
reações emotivas, atitudes diversas, não são apenas fruto da
vontade e do meio ambiente, mas principalmente das
experiências pregressas gravadas no psiquismo.
A personalidade integral, que sobrevive à morte, já
possui experiências diversas em matéria de profissões, de
línguas aprendidas, de tipos de sexo, de classe social, de
condição econômica. O fato, por exemplo, de já ter
experienciado viver nos dois tipos de sexo, concede ao ser
humano habilidades para habitar nesse ou naquele corpo,
sem que isso lhe cause qualquer problema quanto à sua
relação com o sexo do corpo escolhido. Uma nova
encarnação representa a construção de uma nova
personalidade no novo meio em que se vai renascer. Os
traumas e conflitos, dessa forma, aparecem tendo como
uma das causas, talvez a principal, essa realidade interna,
anterior, que contracena com a realidade externa. A solidão
e as repetidas e constantes desilusões afetivas podem ser
encaradas como resultantes de processos educativos,
oriundos de experiências mal sucedidas no passado.
O Espiritismo, com Allan Kardec, trouxe de volta a
reencarnação como conhecimento fundamental de sua
doutrina. Através do Espiritismo a reencarnação é analisada
sob o ponto de vista sociológico e moral. A doutrina das
vidas sucessivas é o alicerce da evolução. A frase “Nascer,
morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei” resume
o significado da reencarnação para o Espiritismo.
Adenáuer Marcos Ferraz de Novaes
Da obra; Conhecendo o Espiritismo - Capítulo 6
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