DÉJÁ VU
A expressão déjà vu é de origem francesa e pode ser traduzida como "já visto". Como já ter estado em um determinado lugar ou já ter vivido certa situação presente, quando na realidade isto não era de conhecimento anterior. Em alguns casos ocorre a habilidade de predizer os eventos que acontecerão em seguida, o que é denominado premonição. Outras vezes, a pessoa pode determinar o tempo exato e o local onde a experiência original ocorreu.
Quando pensamos já ter visto um filme, lido um livro, conhecido uma pessoa, estado em um lugar sem nunca ter ido neste local, ficamos confusos, com dúvida, e temos a sensação de uma experiência déjà vu. Porém o déjà vu clássico nos dá a sensação de estranheza, de estarmos vivenciando uma experiência do passado.
Hans Holzer, em seu livro Vida Além Vida, descreve o seguinte: "a maioria dessas experiências déjà vu pode ser explicada com base na precognição. Uma experiência é prevista e não é registrada na hora. Mais tarde, quando a experiência se torna uma realidade objetiva e a pessoa passa por ela, de repente lembra-se "em um piscar de olhos" que já a conhecia. Em outras palavras, a maioria das experiências déjà vu nada mais são do que incidentes precógnitos esquecidos. Contudo, existe uma pequena parte dessas experiências que não pode ser explicada dessa maneira. Entre elas está em ir a uma cidade ou a uma casa pela primeira vez e prever com exatidão como é a casa ou a cidade – a ponto até de conhecer os cômodos, os móveis, a disposição de objetos e outros detalhes que estão muito além do âmbito da precognição normal. (...) Em geral, as experiências precógnitas são parciais e enfatizam certos pontos notáveis, talvez alguns detalhes, mas nunca todo o quadro. Quando o número de detalhes lembrado torna-se muito grande, temos que desconfiar sempre de que se trata de lembranças de uma encarnação passada".
A explicação médica
Os psicólogos e psiquiatras explicam que o sistema de memória temporal – que nos informa a idade, a data dos acontecimentos memorizados - sofre um lapso e nos informa como se fosse antiga uma memória que na verdade foi armazenada centésimos de segundos antes. Ou seja, você tem a sensação de já ter estado em um lugar, e já esteve mesmo, mas dois centésimos de segundos atrás, e fica achando que foi ontem ou há uma semana ou até anos.
Em 1955, Wilder Penfield fez uma experiência em que estimulava eletricamente lóbulos temporais, encontrando um bom número de experiências de déjà vu. As estatísticas mostram que cerca de 30% da população já teve alguma experiência déjà vu. Porém, este fenômeno ocorre com mais freqüência em indivíduos com distúrbios neuropatológicos, como a esquizofrenia e a epilepsia. Há também uma predisposição maior por fatores não patológicos, como fadiga, estresse, traumas emocionais, excesso de álcool e drogas.
É um assunto muito interessante, considerada a forma como o fenômeno se processa. Há diversas teorias sobre esse fenômeno, como a psicodinâmica, reencarnação e sonhos, ilusão epiléptica, holografia, distorção do senso de tempo e transferência entre hemisférios cerebrais. Na psicodinâmica, Freud dizia que o déjà vu resultava da lembrança de desejos inconscientes ou fantasias do passado que eram ativadas pela situação presente. Também o déjà vu poderia ser uma autodefesa, ou seja, nosso inconsciente processava a informação de que aquilo já havia acontecido, por isto, não devia temer, pois já havia passado por aquela experiência anteriormente. Essa teoria não explica os casos de premonição, nem de lembranças de datas e locais onde ocorreram eventos no passado e que ninguém conhecia. Nas teorias que associam o déjà vu a sonhos ou desdobramento do espírito, onde o espírito teria realmente vivido estes fatos, livre do corpo, surgiriam as lembranças de encarnações passadas, o que levaria à rememoração na encarnação presente.
Na ilusão epiléptica, há a teoria do dr. John Jackson, que associa o déjà vu a um sintoma de epilepsia psicomotora, devido à grande incidência de casos de "déjà senti" entre os pacientes epilépticos.
A holografia seria a memória que pode ser armazenada no cérebro como holograma tridimensional, em que pequenas partes de uma figura podem ser utilizadas para reconstruir o todo. Segundo essa teoria, o déjà vu ocorreria quando uma peça de um holograma presente fosse coincidente com outra peça de um holograma no passado. Ou seja, você vê uma foto de uma determinada cidade; tempos depois, você esquece estas imagens e as deixa armazenadas na memória como um holograma. Algum dia, quando você visitar essa cidade da foto, poderá ocorrer um déjà vu, por você se sentir familiarizado com as imagens, sem recordar-se de onde elas vêm.
Estado de percepção alterado
A distorção do senso de tempo é quando sem ter entrado ainda no estado de consciência, percebemos a situação ao nosso redor. Dessa forma, o tempo parece ser maior do que o normal. Quando entramos no estado de consciência, a situação que já havíamos percebido no estado inconsciente parece-nos uma lembrança do passado. A transferência entre hemisférios cerebrais significa a transferência de informações entre os dois hemisférios do cérebro, que normalmente ocorre em alguns milésimos de segundos. Porém, se esse tempo aumentar para cerca de um minuto, o hemisfério não dominante receberá a informação duas vezes, sendo uma diretamente e outra do outro hemisfério. Dessa forma, ele terá a sensação que os eventos presentes já aconteceram no passado.
Há carência de publicações e depoimentos sobre este assunto. Um rapaz descreveu sua experiência déjà vu na internet, num site renomado. Ele conta que no passado já sofreu catalepsia e teve muito déjà vu, que duravam desde dois a quinze minutos. Ele diz que em uma determinada época de sua vida teve que sair do Brasil e foi trabalhar em um posto de gasolina em Portugal. Um dia chegou um caminhão para abastecer. Enquanto ele se dirigia até o cliente, ativou-se espontaneamente um dèjá vu. Ele sabia que era um processo bioquímico e estava convencido de que aquela cena já tinha acontecido. Ele também podia pensar que a única coisa que não tinha acontecido era justamente ele saber que era um déjà vu. Então, em frações de segundos, pensou: "ora, aqui estou eu mais uma vez com esta ‘coisa’. Vou aproveitar para fazer um teste: se o déjà vu for informação somente do passado que está sendo processada por vias não convencionais, eu não serei capaz de adivinhar a quantidade de óleo diesel que o cliente vai desejar". Após ter esse pensamento extremamente rápido, aquela própria sensação de que tudo aquilo já tinha acontecido, modificou-se e passou a incluir também a sensação de que o cliente iria querer 2.000 escudos de combustível. Lembrou-se, enquanto se aproximava do caminhão, de que aquela quantidade era muito improvável, devido ele já estar acostumado a abastecer no mínimo 5.000 escudos para aquele tipo de veículo pesado. Foi tudo muito rápido e o cliente pediu 2.000 escudos. A sensação de déjà vu continuou, com a idéia de que aquilo já tinha acontecido, com exceção de sua operação mental discursiva; ele sabia que aquilo era um déjà vu e ele tinha livre arbítrio para alterar, seja para confirmar ou para prever o evento seguinte. Ele comenta que seu acontecimento poderia ser interpretado de forma diferente por um terceiro observador porque poderiam argumentar de que houve uma adivinhação, porém, antes de atender o cliente, ele digitou os 2.000 escudos na máquina de combustível, de forma que isto não poderia ser interpretado mais como uma simples operação mental inversa, devido ao fato de que o evento real se concretizou no devir de outras pessoas sem estado de déjà vu.
Experiências com o déjà vu
Como achei interessante seu depoimento, pedi, via e-mail, mais explicações. Essa pessoa me respondeu o seguinte: "um aspecto importante que gostaria de observar é que por muito tempo estive atento à percepção desta ocorrência o suficiente para poder discriminar quando há somente um déjà vu e quando ocorre a possibilidade de adivinhação concreta em torno de eventos particulares. Isto é, quando o déjà vu ocorre há em minha consciência um ‘discurso livre’ cujas operações mentais permitem inferências antecipadas sobre eventos futuros. Por outras palavras, naquele estado há um discernimento concreto do que é a sensação imediata do ‘já visto’ e do que é pensamento on-line sobre qual evento vai efetivamente ocorrer no futuro independente do déjà vu".
Relatos interessantes são encontrados sobre esse fenômeno. Isso não quer dizer que todas as respostas serão encontradas, mas poderão ter uma visão mais ampla do fenômeno e analisar com mais precisão as teorias defendidas nesta experiência específica.
Voltemos ao livro de Hans Holzer, numa história em que ele descreve a experiência déjà vu de um soldado: "durante a Segunda Guerra Mundial, um soldado se viu na Bélgica. Enquanto seus companheiros se perguntavam como entrar em determinada casa em uma cidadezinha daquele país, ele lhes mostrou o caminho e subiu a escada à frente deles, explicando, enquanto subia, onde ficava cada cômodo. Quando, depois disso, lhe perguntaram se havia estado ali antes, ele negou, dizendo que nunca havia deixado seu lar nos Estados Unidos, e estava dizendo a verdade. Não conseguia explicar como, de repente, se vira dotado de um conhecimento que não possuía em condições normais".
Devemos ter cuidado para que uma ilusão não se confunda com uma experiência déjà vu. O termo déjà vu se tornou popular dando amplo sentido a tudo que nos parece familiar. A experiência déjà vu é muito profunda e o sentimento é de estranheza. Devem ser separadas, as teorias de reencarnação, sonhos ou desdobramentos, das teorias de desejos inconscientes, fantasias do passado, mecanismo de autodefesa, ilusão epiléptica, entre outras, para melhor discernimento do que realmente é um déjà vu e o que é apenas uma ilusão de nossa imaginação fértil.
Escrito por Marco Tulio Michalik
Este artigo foi publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 35
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