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03 novembro 2020

Esquecimento do Petérito - Joanna de Ângelis


ESQUECIMENTO DE PRETÉRITO

Conquanto estejas informado a respeito da ação do passado sobre o presente, deixas-te dominar quase sempre por dúvidas atrozes que espezinham tuas convicções, fazendo-te sofrer.

Conjecturas quanto ao esquecimento que acompanha o espírito na reencarnação, e supões que esse olvido, de certo modo se faz obstáculo ao discernimento entre amigos e adversários da tua felicidade.

Seria mais justo que, assim pensas, em momentos de rudes provanças, os centros da memória anterior fossem libertados e a censura que frena as recordações deixasse fluir os rios do conhecimento de modo a agires com acerto.

Confessas intimamente o tormento que te consome por caminhares sem o conhecimento do destino, tendo em vista a ignorância do pretérito, assinalando desolação e dor.

E concluis, apressado, que a reencarnação, em tais bases, não expressa condignamente o amor de Nosso Pai, afirmando que, em ti mesmo não encontras, na memória, os fundamentos que favoreçam a segurança que gostarias de possuir para levares de vencida a experiência evolutiva.

Pensas, e no entanto desconheces a mecânica do raciocínio a nascer nos centros cerebrais.

Ages sob impulsos desconhecidos, e ignora a razão deles.

Vives governado por automatismos fisiológicos que te mantém a harmonia orgânica sem lhes conheceres a procedência...

....Vês, ouves, sentes, falas, distingues gostos, no que se refere aos débeis órgãos dos sentidos físicos sem indagações, sem exigências e, todavia, deixas-te conduzir tranqüilamente.

Observa a dificuldade que experimenta uma criatura excepcional aprendendo a falar, comer, controlar os movimentos...

Entenderás, então, que se não te é lícito recordar o passado, a outros espíritos mais esclarecidos e fortes que o teu é permitido navegar no oceano das recordações com alguma segurança e naturalidade....

Ao invés de castigo, o esquecimento das vidas passadas é dádiva celeste.

Desejarias identificar os sicários da tua paz e os cooperadores da tua alegria. Examina, no entanto, as afinidades, considera as emoções junto aos que te cercam, medita e conclui com o auxílio do tempo.

Abre, todavia, os braços, a quantos se acercam de ti, procurando envolvê-los nas vibrações do entendimento e da cordialidade, para fruíres afeição e simpatia.

* * *

Encontras obstáculos afetivos no lar entre os membros da família e experimentas, não raro, asco senão revolta por aqueles a quem deverias amar nas amarras do sangue.

Reações indomáveis, a se manifestarem como animosidade, alquebram o teu ânimo em casa, levando-te a desesperos e atritos lamentáveis.

Acalentas, ou és vítima de idiossincrasias, senão aversões, por filhos ou irmãos, lutando tenazmente por vencer a força negativa que te assoma na presença deles, sem resultados positivos.

A estada na intimidade doméstica se constitui penoso período, encontrando, todavia, motivos de júbilos sob tetos alheios...

....E desejarias recordar o ontem!...

Se em ignorância quanto ao mal que te hajam feito, eles os teus familiares, te sentes incapaz de fitá-los, entendê-los, ajudá-los e amá-los, oferecendo-lhes compreensão e simpatia, como te portarias se, na filha revel identificasses antiga companheira que o adultério arrastou, no irmão consangüíneo o destruidor do antigo ninho de venturas que o tempo não consumiu, no pai ou mãe, no filho ou noutro parente o arquiteto da tua ruína ou a vítima da sua sandice?

Esquecer o mal para agir com acerto é luz de amor na lâmpada da oportunidade.

Ignorar os maus para ajudá-los, significa ensejar-lhes, com igualdade de condições, ocasião de repararem os males que tenham praticado.

Lutar contra a antipatia, procurando ignorar as causas da aversão representa valioso esforço de libertação íntima.

Considerando a pequenez e a inferioridade moral de quantos se encontram na Terra, o abençoado Hospital-Escola para os recalcitrantes, os Excelsos Promotores dos renascimentos fazem que a mente espiritual mergulhe no olvido, a fim de que as lembranças dos atos infelizes não os enlouqueçam e as evocações abençoadas não os paralisem em recordação insensata ou improfícua.

* * *

Jesus, o Egrégio Coordenador da Vida na Orbe, lecionando sobre a necessidade do bem atuante, não poucas vezes exortou ao amor puro e simples com o esquecimento do mal, para que este não se corporificasse em sombra tenebrosa acompanhando nossa consciência. E desejando imprimir com sulcos profundos o ensino sublime, conclamou os que O seguissem a duplicar a bondade em relação aos que nos peçam algo, mandando oferecer a outra face ao agressor para que não fôssemos os promotores do mal ou vitalizadores da impiedade.

E assim o fez por conhecer o abismo que a ignorância da verdade representa e a balisa de luz que significa o amor no caminho da evolução, amor que nos faz esquecer o mal para somente nos lembrarmos do bem...

Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco
Livro: Dimensões da Verdade - 11


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