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15 novembro 2020

O triste pacote de erros - Cristina Sarraf

 
O TRISTE PACOTE DE ERROS

Toda ideia nova encontra resistência e objeções, sobretudo quando não dá apoio a paradigmas, hábitos e crenças arraigados. Normal. Até porque não é por ser nova que deve ser apoiada, e sim por renovar moralmente e melhorar os conceitos e a vida das pessoas. O Espiritismo insere-se nessa situação de novidade, no século XIX. Já estamos no XXI…

O caráter altemente renovador e inovador de ideias e modos de entender a vida, que o caracteriza, encontrou rapidamente, um contingente grande de pessoas ávidas por sair das injustiças sociais e do marasmo das obrigações religiosas, detentoras do medo da punição divina. Mas também encontrou inimigos ferrenhos, ostensivos e disfarçados, até mesmo em seu meio.

Gigantescas a dedicação e a convicção de Kardec. Gigantescas as dificuldades encaradas com coragem, dor e dedicadíssimo prosseguimento de sua tarefa, sem polêmicas, acusações ou arrefecimento. Avisado estava e confiou!

Mas o tempo da completa “revolução” das ideias ainda não havia chegado nem para os adeptos do Espiritismo e muito menos para a humanidade. Ainda não chegou… Mas 150 anos depois já se pode ver com clareza que um grande e elaborado desvio, aparentemente natural, engripou a divulgação dos Princípios do Espiritismo, em detalhes relevantes.

Tão relevantes que descaracterizaram exatamente o grande diferencial libertador trazido ao mundo pelo trabalho exaustivo de Kardec. Ou seja, a divulgação desse desvio deu a aparência de o Espiritismo ser um repetidor de conceitos religiosos já entranhados na sociedade, com pequenas mudanças de ideias e nomes; fazendo dos espíritas, no geral, pessoas crédulas, carregando uma espécie de canga nas costas, cheios de culpas, medo e hipocrisia. Exatamente o que Jesus apontou como condenável e o próprio Espiritismo veio substituir integralmente, mostrando a incoerência e o grande engodo de se pensar assim.

É o que chamo de “pacote de erros”. Ei-lo:

Deus tido como um ser, juiz condenador, pune e premia, intervêm na vida das pessoas, decidindo e escolhendo acontecimentos, conforme seja obedecido ou não;

Reencarnação não vista como nova oportunidade, mas sim, para pagar “pecados”, desobediências e erros de vidas passadas; quanto maior a dificuldades, maior o “crime” cometido;

corpo físico escolhido por outros Espíritos, conforme os erros;

muitos estão na última oportunidade para se tornarem bons ou serão punidos com a expulsão para um planeta inferior;

Evolução dependente da intervenção dos Espíritos bons e superires, e não uma conquista pessoal; deve-se ser perfeito, ou seja, fala-se do processo evolutivo individual, gradual e eterno, mas é uma espécie de conto de fadas, que não funciona, por causa do medo da punição aos erros;

Arbítrio livre para que se obedeça o que dizem ser as leis/regras estabelecidas por Deus, e jamais se questionar a vida ou querer ser livre, porque isso acarreta erros e punições cada vez maiores. Kardec: o arbítrio se desenvolve proporcionalmente ao desenvolvimento evolutivo de cada Espírito;

Causa e efeito/ação e reação como lei moral que não existe no Epiritismo, gerando o falso entendimento de um determinismo das leis de Deus, que sujeita os Espíritos a serem punidos na medida em que erram; resultando disso as culpas, conceito também ausente no Espiritismo, mas vivo nas religiões e subjugador de consciências. Kardec deixou bem claro: livre arbítrio e consequências naturais, proporcionais às nuances evolutivas de cada Espírito; nada de castigos e prêmios divinos;

Desconhecimento de que são os pensamentos que determinam a vida de cada um, por qualificarem fluidicamente o perispírito e criarem condições semelhantes no corpo físico; em seu lugar entra a obediência cega e medrosa, bem como o dever de seguir os líderes e autoridades, para não errar e ser punido com uma reencarnação de dificuldades, defeitos e sofrimento;

Perispírito tendo um cordão de prata que o liga ao corpo durante a encarnação, sendo que isso é só uma ilusão de ótica, quando o Espírito se afasta do corpo que dorme;

dificuldade dos Espiritos superiores em ajudar habitantes dos mundos inferiores, pois têm que sofrer por tempos para adensar seu perispírito;

Erros, culpas e desvios de rota marcam fisicamente o perispirito, deixando todos verem as dívidas do Espírito. Imperfeição moral é apenas falta de evolução;

Mediunidade como causa de caridade aos infelizes sofredores e maus; o portador trás culpas graves do passado; e quando utilizada em reuniões espíritas, diminui as dívidas do médium, privilegiado por Deus e os bons Espíritos; bons médiuns são intermediários apenas de bons e elevados Espíritos e suas mensagens são para serem adotadas e seguidas;

Desencarnados, os Espíritos culpados pagam duramente seus erros, com dores e sofrimentos físicos atrozes, passando longos períodos no umbral; espíritas estão mais aptos a ficarem equilibrados logo após a desencarnação; os Espíritos bons e elevados como Jesus, choram por causa de nossos erros e calamidades; sofrem por nós;

Pessoas dígnas, obedientes, temerosas a Deus, boas não são influenciadas por Espíritos mal intencionados e vingativos…

Cristina Sarraf
Fonte: Espiritismo na Rede

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