MEDIUNIDADE OSTENSIVA
Lembrando que a questão fenomênica é acessória e não mais constitui ponto essencial para as propostas doutrinárias, Emmanuel admoesta: São muito poucas as casas espíritas que se podem entregar ao exercício da mediunidade. Os dirigentes vigilantes devem intensificar reuniões de estudos teóricos, meditação e debates racionais para entendimentos seguros, fugindo de um prematuro intercâmbio com as forças advindas do além-túmulo. (1)
Para melhor compreendermos os objetivos da mediunidade nos seus matizes básicos, temos que separar, com discernimento, o exercício mediúnico, dos postulados Espíritas e definirmos fenômeno, por elemento material de análise e Espiritismo, como a base teórica que esclarece os fenômenos. Esse comportamento é para nos libertarmos das fantasias, mitos e crendices. Em face disso, ressaltamos a urgente necessidade do estudo continuado do Livro dos Médiuns, um compêndio insuperável para o entendimento da sensibilidade mediúnica.
A palavra médium advém do latim, medium, ou seja: meio, intermediário. Pessoa que pode servir de intermediário entre os Espíritos e os homens conforme instrui Allan Kardec.
Incorreremos em grave distorção doutrinária se concluirmos que todos nós somos mais ou menos médiuns no sentido restrito e usual da palavra, ou seja, se julgarmos que todos podem produzir manifestações ostensivas, tais como psicofonia, psicografia, efeitos físicos, etc.. Um aspecto central, relativo à natureza da mediunidade, acha-se exposto na resposta à pergunta que Kardec endereçou aos Espíritos : “O desenvolvimento da mediunidade guarda proporção com o desenvolvimento moral dos médiuns? Não; a faculdade propriamente dita prende-se ao organismo; independe do moral. O mesmo, porém, não se dá com o seu uso, que pode ser bom ou mau, conforme as qualidades do médium”. (2)
Infere-se, do exposto, que mediunidade (ostensiva) é faculdade especial que certas pessoas possuem para servirem de intermediárias entre os Espíritos e os homens. É de origem orgânica e independe da condição moral do médium, de suas crenças, de seu desenvolvimento intelectual.
No parágrafo 200, de O Livro dos Médiuns, Allan Kardec deixa claro que não há senão um único meio de constatar a existência da faculdade mediúnica em alguém: a experimentação. Ou seja, só poderemos saber se uma pessoa é médium, observando se ela é, efetivamente, capaz de servir de intermediária aos Espíritos desencarnados. Isso, naturalmente, remete-nos à importante questão do estudo metódico e educação da mediunidade.
O desenvolvimento da faculdade mediúnica depende da natureza mais ou menos expansível do perispírito(*) do médium e da maior ou menor facilidade de assimilação das energias dos Espíritos; depende, portanto, do organismo e pode ser desenvolvida quando existir um relacionamento fluídico entre o médium e o espírito comunicante; caso contrário, não há fórmula sacramental para desenvolver esse dom de Deus.
Incorre em erro grave quem queira forçar, a todo custo, o desenvolvimento de uma faculdade que ainda não aflorou, pois, como sabemos todos os homens têm o seu grau de mediunidade, nas mais variadas posições evolutivas (...) (3) Emmanuel explica à questão 384 no livro O Consolador: Dever-se-á provocar o desenvolvimento da mediunidade? Ninguém deverá forçar o desenvolvimento dessa ou daquela faculdade, porque, nesse terreno, toda a espontaneidade é necessária; observando-se contudo, a floração mediúnica espontânea, nas expressões mais simples, deve-se aceitar o evento com as melhores disposições de trabalho e boa-vontade (...)(4) E reitera: A mediunidade não deve ser fruto de precipitação nesse ou naquele setor da atividade doutrinária, porquanto, em tal assunto, toda a espontaneidade é indispensável, considerando-se que as tarefas mediúnicas são dirigidas pelos mentores do plano espiritual. (5)
Estejamos, pois, vigilantes quanto à aplicação prática da mediunidade, lamentavelmente, tão mal conduzida em nossas hostes. As pessoas quando procuram os centros espíritas, cedo ou tarde, são encaminhadas, irrefletidamente, às chamadas reuniões de desenvolvimento mediúnico, antes mesmo de se evangelizarem ou nem mesmo apresentarem indícios rudimentares dessa faculdade. Os orientadores argumentam que, se são pessoas que apresentam desequilíbrios múltiplos de saúde que desafiam a perícia médica, ou se revelam distúrbios de comportamento que, de alguma forma, fogem aos costumes estipulados pela sociedade, devem entregar-se, imediatamente, ao desenvolvimento da mediunidade, o que é um absurdo. Sugerem, ainda, que, se alguém tem grande interesse pelo Espiritismo, ela tem todas as condições para o exercício do sublime mandato mediúnico, incorrendo em outro grande erro.
Recordemos, porém, que a educação mediúnica promovida nos centros espíritas não deve, jamais, ser entendida como aprendizado de técnicas e métodos para fazer surgir a mediunidade, mas, exclusivamente, como aperfeiçoamento e norteamento eficaz para o equilibrado das faculdades brotadas naturalmente, o que conduz ao aperfeiçoamento moral do médium por meio do estudo sério e de seus esforços continuados para o ajuste de suas práticas às recomendações evangélicas.
“Os médiuns que fazem mau uso de suas faculdades, que não se servem delas para o bem, ou que não as aproveitam para se instruírem, sofrerão as conseqüências dessa falta? Se delas fizerem mau uso, serão punidos duplamente, porque têm um meio a mais de se esclarecerem e não o aproveitam. Aquele que vê claro e tropeça é mais censurável do que o cego que cai no fosso.” (6)
Emmanuel ainda alerta: O exercício da mediunidade nas tarefas espíritas exige larga disciplina mental, moral e física, assim como grande equilíbrio das emoções. (7)
Portanto, a mediunidade mal exercida significará sofrimento para o médium, pois, a invigilância por falta de conhecimento prévio de seus mecanismos, fatalmente, o conduzirá à confusão, à dúvida, à mentira, insuflando o egoísmo, o orgulho, a vaidade e o personalismo. Mediunidade sem estudo sério da doutrina e sem Jesus sedimenta a emissão de forças mentais deletérias, abrindo espaço à perseguição dos Espíritos que insistem em permanecer nas trevas.
(*) O perispírito desempenha papel de suma importância no processo, sendo o mesmo o agente de todos os fenômenos mediúnicos, e estes só podendo produzir-se pela ação recíproca dos fluidos que emitem o médium e o Espírito, temos como regra sem exceções que, ocorrendo um fenômeno de comunicação com o mundo espiritual, necessariamente haverá a participação de um médium. Em alguns casos, como em certas manifestações de efeitos físicos, não se nota a presença do médium, mas podemos estar certos de que haverá alguém, em algum lugar, servindo de médium, ainda mesmo que este não esteja consciente do papel que desempenha.
Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
Site: http://jorgehessen.net
FONTES:
(1) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, RJ: Ed.FEB-2000, ditado pelo Espírito Emmanuel, questão
(2) Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, RJ: Ed. FEB, 1997, parágrafo 226
(3) Xavier,Francisco Cândido. O Consolador, RJ: Ed.FEB-2000, ditado pelo Espírito Emmanuel, questão 383
(4) Idem Ibidem questão 384
(5) Idem Ibidem
(6) Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, RJ: Ed. FEB, 1997, parágrafo 226
(7) Xavier, Francisco Cândido. Encontro Marcado, Capítulo Examinando a Mediunidade, ditado pelo Espírito Emmanuel
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