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16 agosto 2009

Honestidade - Raul Teixeira

Honestidade

Na nossa vida diária, é muito importante a relação que estabelecemos com os outros. O nosso próximo, sem dúvida alguma, é a extensão de nós mesmos e, por causa disto, temos que convir quanto à importância desse relacionamento social.

Ouve-se falar dos períodos, das fases em que o mundo é acicatado pelos atos negativos, pela desonestidade, pelo desplante, pelo antiético ou pelo imoral.

Naturalmente que, quando pensamos nessas coisas, avaliamos todos esses fenômenos relacionados aos outros: Fulano, Beltrano, Cicrano são desonestos.

Mas, em que se constitui a desonestidade?

A princípio, poderemos pensar que a desonestidade seja o indivíduo furtar, roubar, tornar-se um criminoso, um traficante, alguma coisa que agrida a estrutura da sociedade, alguma coisa que denigra a condição humana.

Dizemos que esse indivíduo é desonesto. Alguém que fraude alguma coisa, fraude o imposto de renda, fraude os compromissos que tem que cumprir, minta para não dar conta dos seus deveres. Chamamos essa pessoa de desonesta.

E quase nunca nos apercebemos relativamente ao nosso próprio grau de desonestidade.

No entanto, mais importante do que refletirmos em torno da desonestidade, será falarmos a respeito da virtude oposta, que é a honestidade.

Parece que o velho Rui Barbosa, na sua época, previu um fenômeno que hoje estamos vivenciando. Dizia o Águia de Haia que chegaria um tempo em que o desplante antiético e imoral seria de tal nível que o indivíduo, que o homem teria vergonha de ser honesto.

Parece-nos que isto vem acontecendo cada dia com maior intensidade. As pessoas, de modo geral, passaram a desejar se nivelar por baixo. Parece que, para muita gente, o bom é nivelar-se pelo inferior.

Parece que é feio a pessoa ser digna, ser nobre, ser boa. Quando o indivíduo é do bem se diz que ele é moralista e passamos a ter uma vergonha enorme de ser moralista, como se moralista fosse um palavrão, como se ser moralista fosse uma ofensa. E, desse modo, vamos abrindo mão dessa prerrogativa de ser honesto.

Então se vê quanto a garotada, a juventude sem muito boa orientação, gosta de acompanhar os seus ídolos desonestos. Os ídolos dos filmes, da criminalidade, os bandidos da tela.

Certamente, isso merece a nossa observação cuidadosa, isso merece nossos olhos atentos para que possamos orientar a nossa criança e o nosso jovem para os valores da honestidade.

A virtude da honestidade é fundamentalmente a virtude da coerência. Ninguém pode ser honesto se não for coerente.

E nos perguntamos: Mas o indivíduo será honesto por quê? Será honesto para quê?

Deveremos viver a honestidade porque a honestidade nos confere harmonia interior, paz de consciência. É a honestidade que nos faz viver harmonicamente com a sociedade dos justos, dos bons, dos equilibrados, daqueles que são indivíduos do bem.

Todo processo de honestidade então reclamará a nossa coerência, e é essa coerência que deve tomar a nossa atenção. Todas as pessoas costumam ter aquilo que chamamos de sua escala de valores.

Há indivíduos para os quais seus valores maiores se acham nas coisas materiais, nas coisas imediatistas. Há aqueles que admitem que seus valores primordiais devem se encontrar nas questões sensíveis, nas questões psíquicas, espirituais, afetivas.

Aí, então, encontramos o fio da navalha., É exatamente aí que muita gente se fere, é exatamente aí que muita gente se corta, porque a honestidade, sendo a virtude da coerência, propõe que estabeleçamos uma escala de valores, e nessa escala de valores nós pontuaremos no topo, colocaremos na cabeceira aquilo que é mais importante para nós, aquilo que mais desejamos perseguir na nossa vida. E,a partir disto,teremos um incentivo a mais para vivenciar a honestidade.

* * *

A partir dessa concepção de que todos precisamos ter uma escala de valores e,quer tenhamos consciência disso ou não, todos temos a nossa escala de valores, passamos a verificar que a honestidade precisa começar por nós.

Devemos aprender a ser honestos conosco mesmos. Mas, o que seria essa honestidade autovivenciada, vivenciada conosco mesmos?

Fundamentalmente deveríamos aprender a vivenciar, a pôr em prática as verdades que vamos conhecendo gradativamente. Ninguém consegue colocar em prática, da noite para o dia, um novo ensinamento, uma nova proposta moral.

Aprendemos que, primeiro se desenvolve esse aspecto intelectual da vida. Primeiro aprendemos coisas em nível intelectual e depois, com essa experiência que o intelecto vai nos dando, conseguimos colocar em prática pouco a pouco.

É por isso que vemos muita gente religiosa, que vive de forma estranhíssima. Vemos muitos médicos pneumologistas que fumam. Encontramos pessoas que tratam da mente dos outros, enlouquecendo a própria mente através dos expedientes mais estranhos.

Encontramos as criaturas que se entregam às drogas. O tabaco é uma droga. Mas eles ensinam para os outros como manter a saúde, eles pedem a Deus que lhes preserve a saúde, eles pedem a Deus que lhes dê saúde.

A honestidade é a virtude da coerência. Mas, como pode ser coerente uma pessoa que pede a Deus saúde e queima saúde na ponta dos cigarros, dos charutos, dos cachimbos?

Como pode ser coerente uma pessoa que pede a Deus equilíbrio e se encharca de alcoólicos que o faz perder a lucidez?

Como pode alguém pedir a Deus paz na Terra, paz para si, para a sociedade, se tem os nervos à flor da pele; se é uma pessoa de pavio curto; se não suporta ouvir nada de ninguém; nada que a contrarie; se é uma pessoa que somente gosta de ouvir elogios? Ela é completamente desfocada da coerência.

Desse modo, é importantíssimo que aprendamos a ser honestos conosco. Aqueles princípios já aprendidos, e que são positivos para nossa vida, vamos começar a fazer esforços para colocá-los em atuação.

É natural, teremos que fazer esforços. Somos Espíritos que provimos de um passado muito remoto, de muitos equívocos diante da consciência, muitos erros, muita tragédia que realizamos conosco mesmos e com os outros.

Agora, que estamos desejosos de nos voltar para o bem, para o amor, para a luz, aprendamos gradativamente a ter essa coerência, a vivenciar o bem que pregamos para os outros, a atuar na paz que queremos para o mundo, a participar desse movimento de renovação do nosso planeta. E isto significa ser honesto com os nossos princípios.

A honestidade não será somente a criatura não roubar, não furtar, não matar, não mentir. Começaremos a ver que quem é capaz de mentir, de fraudar, de denegrir, de caluniar, será capaz de roubar, porque já começa por roubar a paz dos outros, por roubar o espaço do outro.

Toda criatura que é capaz de iludir as pessoas, de contar vantagens para tirar proveito, será capaz de matar, será capaz de sequestrar porque quem não é fiel no mínimo, como ensinou Jesus Cristo, nunca conseguirá ser fiel no máximo.

Se não conseguimos ser fiéis nas coisas que estão mais facilmente sob o nosso controle, será muito difícil controlar as coisas que nos exijam muito mais sacrifício.

É importantíssimo verificar que, nesses dias tumultuados do planeta, sentimos a necessidade da honestidade.

Quando sentirmos alguma coisa em relação a alguém, boa ou não, digamos a esse alguém e não ao entorno, nos trabalhos da intriga, da maledicência, da fofoca: Fulano, não gostei do que você fez. Beltrano, por que você fez isto comigo? Qual era a sua intenção?

Mas, quando gostarmos, também tenhamos a grandeza de dizer: Muito obrigado. Meus parabéns. Você foi muito feliz e me fez muito bem.

A honestidade é essa virtude que não teme dizer sim, e nem teme dizer não.

É por isto que o Apóstolo Paulo nos pergunta em Atos dos Apóstolos: Que vínheis fazendo pelos caminhos? Vede prudentemente como andais. Andai como filhos da luz.

E todo filho da luz, todo ser lucigênito, não pode andar sem espalhar claridade. Isto é ser honesto.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 137, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em abril de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 26.04.2009

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