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16 abril 2010

Bico de Luz - Richard Simonetti

BICO DE LUZ

Um homem transitava por estrada deserta, altas horas. Noite escura, sem luar, estrelas apagadas... Seguia apreensivo. Por ali ocorriam, não raro, assaltos... Percebeu que alguém o acompanhava.

- Olá! Quem vem aí? - perguntou, assustado.

Não obteve resposta. Apressou-se, no que foi imitado pela perseguidor. Correu... O desconhecido também. Apavorado, em desabalada carreira, tão rápido quanto suas pernas o permitiam, coração a galopar no peito, pulmões em brasa, passou diante de um bico de luz. Olhou para trás e, como por encanto, o medo desvaneceu-se. Seu perseguidor era apenas um velho burro, acostumado a acompanhar andarilhos.

A história assemelha-se ao que ocorre com a morte. A imortalidade é algo intuitivo na criatura humana. No entanto, muitos têm medo, porque desconhecem inteiramente o processo e o que os espera na espiritualidade.

As religiões, que deveriam preparar os fiéis para a vida além-túmulo, conscientizando-os da sobrevivência e descerrando a cortina que separa os dois mundos, pouco fazem nesse sentido, porquanto limitam-se a incursões pelo terreno da fantasia.

O Espiritismo é o "bico de luz" que ilumina os caminhos misteriosos do retorno, afugentando temores irracionais e constrangimentos perturbadores. Com a Doutrina Espírita podemos encarar a morte com serenidade, preparando-nos para enfrentá-la. Isso é muito importante, fundamental mesmo, já que se trata da única certeza da existência humana: todos morreremos um dia!

A Terra é uma oficina de trabalho para os que desenvolvem atividades edificantes, em favor da própria renovação; um hospital para os que corrigem desajustes nascidos de viciações pretéritas; uma prisão, em expiação dolorosa, para os que resgatam débitos relacionados com crimes cometidos em existências anteriores; uma escola para os que já compreendem que a vida não é mero acidente biológico, nem a existência humana uma simples jornada recreativa; mas não é o nosso lar. Este está no plano espiritual, onde podemos viver em plenitude, sem as limitações impostas pelo corpo carnal.

Compreensível, pois, que nos preparemos, superando temores e dúvidas, inquietações e enganos, a fim de que, ao chegar nossa hora, estejamos habilitados a um retorno equilibrado e feliz.

O primeiro passo nesse sentido é o de tirar da morte o aspecto fúnebre, mórbido, temível, sobrenatural... Há condicionamentos milenares nesse sentido. Há pessoas que simplesmente recusam-se a conceber o falecimento der um familiar ou o seu próprio. Transferem o assunto para um futuro remoto. Por isso se desajustam quando chega o tempo da separação

"Onde está, ó morte, o teu aguilhão?" - pergunta o apóstolo Paulo (I Co 15:55), a demonstrar que a fé supera os temores e angústias da grande transição. O Espiritismo nos oferece recursos para encarar a morte com idêntica fortaleza de ânimo, inspirados, igualmente, na fé. Uma fé que não é arroubo de emoção. Uma fé lógica, racional, consciente. Uma fé inabalável de que conhece e sabe o que o espera, esforçando-se para que o espere o melhor.

De "Quem tem medo da morte?",
de Richard Simonetti

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