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05 julho 2012

Severos, Porém sem Culpa - Ermance Dufaux


SEVEROS, PORÉM SEM CULPA

Severidade conosco significa vigilância mental ativa, crescente e permanente para não permitirmos hiatos nos esforços educativos das nossas inclinações. Esse cuidado com a personalidade é essencial ao progresso moral e espiritual, porque é exatamente nos instantes de relaxamento interior que costumam brotar o derrotismo, a obsessão e as más idéias; é quando se percebe com mais clareza as insatisfações que vinham sendo esquecidas e superadas no trabalho do bem, nas que sob uma análise descuidada podem tomar proporções onerosas aos projetos de elevação nos quais nos encontramos incursos, levando a decisões precipitadas e imprevisíveis.

Limite tênue existe entre a severidade como regime de disciplina e o sentimento de cobrança que conduz-nos a querer fazer o que ainda não damos conta. Uma imposição para a qual não temos preparo, sendo injustos conosco.

Em tudo deve vigorar o equilíbrio. Ser severo com compassiva tolerância às nossas fragilidades é o que sugere o bom senso e a caridade. Auto-aceitação sem conivência.

No entanto, o sentimento de culpa, com suas lamentáveis conseqüências, tem comparecido em razão de reminiscências da condenação eterna, fundamento da formação religiosa tradicional. Surge na forma de sutil desconfiança na possibilidade verdadeira de crescimento e melhoria individual, gerando uma atmosfera de descrença nos ideais e no seu próprio esforço. Quanto mais passa o tempo, mais a criatura estabelece cobranças no seu aperfeiçoamento moral e, não atingindo os patamares desejados, cai no desânimo e na deserção.

Muitos corações idealistas, portadores de valores forjados no sacrifício da renovação interior, habituaram a julgar-se hipócritas e desleais perante seus deslizes, penetrando as faixas emocionais da autopunição em descaridosos episódios de desamor a si próprios. Esquecem-se do quanto já edificaram de bom na intimidade e optam por fixar-se em crenças negativas, supervalorizando suas imperfeições, negando o autoperdão, caminhando para conflituosos estados íntimos que ativam os sentimentos de desprezo, raiva, desânimo, ansiedade, tristeza, desespero, pessimismo.

Grande diferença existe entre ser imperfeito e estar imperfeito. Não fomos criados para o sofrimento e o mal. O fato de cometer faltas não intencionais faz parte do demorado processo de transformação da personalidade. Os que verdadeiramente nos comprometemos com a melhoria interior precisamos nos das conta de que as vacilantes intenções de ser um homem novo necessitam do otimismo para se concretizar. Não somos infelizes, estamos, temporariamente, infelizes. Não somos deprimidos, estamos, passageiramente, deprimidos. Somos luz, somos deuses.

Trágico equívoco acreditar na perfeição instantânea depois de milhares de anos no cultivo intencional de ervas daninhas no solo do coração. Conhecimento não basta. Quando Jesus afirma o valoroso ensino Conhecereis a verdade e ela vos libertará, certamente não se referia à verdade que permanece na órbita do cérebro, porque se assim fosse todos os espíritas, detentores de largos fachos de luz da verdade, estariam libertos das lutas contra a inferioridade que ainda nos aprisiona nas celas da vaidade e do orgulho. O Mestre referia-se à verdade que atinge as distantes regiões do coração, à verdade sobre nós mesmos, a nossa realidade.

Devemos mergulhar na vida profunda do inconsciente – o desconhecido reino do automatismo – e pesquisar as raízes afetivas de nossas vivências.

Culparmo-nos, pelo mal que ainda não conseguimos vencer, em nada nos melhora. Certamente em alguns casos de personalidade rebelde ela funciona como uma defesa a fim de não desistirmo-nos de lutar, impulsionando a criatura ao recomeço para não agir novamente da mesma forma. Afora isso, é um instrumento pouco eficiente para promover a correção.

Melhora real só obteremos com auto-estima, valorizando, severamente, a parte boa que possuímos, fixando as crenças no homem novo que já desejamos ser, guardando o olhar mental na meta gloriosa de ser hoje melhor que ontem, sem distrair com os chamados inferiores do homem velho que agoniza, mas teima em ressuscitar.

Culpa é tortura e desamor, impulso para baixo.

Severidade é crescimento e auto-amor, motivação para continuar nos desafios de aprimoramento.

Jamais desistamos da melhora. O tempo e a maturidade demonstrarão como é preenchedora a opção que escolhemos sob a égide dos luminosos ideais espíritas-cristãos. Sem perfeccionismo e fazendo o melhor que pudermos, experimentaremos a alegria da vitória, cujo troféu chama-se felicidade.

Livro: Mereça Ser Feliz – Superando as ilusões do orgulho
Médium: Wanderley S. de Oliveira
Espírito Ermance Dufaux


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