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30 novembro 2012

Morte, Cremação de Cadáveres e Doação de Órgãos -




Morte, Cremação de Cadáveres e 
Doação de Órgãos
 Seminário

MORTE

1. Existe alguma diferença entre morte e desencarnação?

Morte física e desencarnação não ocorrem simultaneamente. A pessoa morre quando o corpo denso deixa de funcionar, admitindo-se hoje, para caracterização do óbito, o conceito de morte encefálica, chamada também de morte cerebral. A desencarnação é outra coisa: a alma desencarna quando se completa o desligamento, o que demanda algumas horas ou alguns dias.

Podemos valer-nos, assim, do vocábulo morte e do verbo morrer e seus derivados, como Kardec fartamente utilizou. (Ver o artigo "A morte na terminologia espírita", O Imortal de agosto/93, pág. 14).

Como nos diz André Luiz ("Estude e Viva, pág. 119): "Desencarnação é libertação da alma, morte é outra coisa. Morte constitui cessação da vida, apodrecimento, bolor".

Fixemos, assim, alguns conceitos, que serão fundamentais sobretudo quando tratarmos da extração de órgãos como coração, pulmão, fígado, rins e pâncreas, que, consoante o cardiologista Alfredo Inácio Fiorelli, coordenador da Central de Transplantes da Secretaria Estadual de Saúde de S. Paulo, devem ser retirados com o coração do doador ainda funcionando.

A morte encefálica, descrita pela primeira vez na França, na década de 50, significa que as estruturas vitais do encéfalo, necessárias para manter a consciência e a vida vegetativa, encontram-se lesadas irreversivelmente. Em outras palavras, o tronco cerebral não funciona, não existe mais a atividade cerebral, há total ausência de circulação sangüínea no cérebro e o eletroencefalograma mostrará o silêncio elétrico cerebral.

Não confundi-la com estado vegetativo, pois neste uma parte do cérebro ainda funciona, visto que a lesão terá atingido parte das células neurológicas, mas não as estruturas do encéfalo.

O Conselho Federal de Medicina estabeleceu, em 1991, através da Resolução no 1346, que a morte encefálica corresponde a um estado definitivo e irreversível de morte, podendo ser utilizada, sem qualquer dúvida, para a retirada de órgãos para transplantes.)

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2. A alma só deixa o corpo após a cessação completa da vida orgânica?

(Como regra geral tem-se que a separação da alma não se dá instantaneamente; ao contrário, ela se liberta gradualmente e não como um pássaro cativo que, de repente, ganhasse a liberdade. O ensinamento espírita é bem claro: rompidos os laços que a retinham ao corpo, a alma se liberta. (L.E., 155).)

Há, porém, uma curiosa e importante exceção a esse princípio, como se vê na questão no 156 d' O Livro dos Espíritos, em que Kardec indaga: "A separação definitiva da alma e do corpo pode ocorrer antes da cessação completa da vida orgânica?". Resposta: "Algumas vezes, na agonia, a alma já deixou o corpo e não há mais que a vida orgânica. O homem não tem mais consciência de si mesmo e, entretanto, lhe resta ainda um sopro de vida. O corpo é uma máquina que o coração movimenta; existe enquanto o coração faz circular o sangue nas veias, e para isso não necessita da alma".  (Veja a tal respeito o ensinamento contido no item 136-A do Livro dos Espíritos, onde se diz que a vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode animar um corpo sem vida.)

Quando Kardec obteve essa resposta não existia o conceito de morte cerebral. Ele se reportava então, com certeza, ao coma profundo, com alguma atividade cerebral ou à própria morte encefálica. Ora, se na agonia isso pode se dar, podemos deduzir com razoável dose de certeza que na morte encefálica o corpo é como "uma máquina que o coração movimento" e "para isso não necessita da alma".

André Luiz trata do tema no cap. XVI, Mecanismos da mente - Secção da medula, de "Evolução em Dois Mundos", em que nos diz:

"... depois de seccionada a medula de um paciente se observa, de imediato, a insensibilidade completa, o relaxamento muscular, a paralisia e a eliminação dos reflexos somáticos e viscerais, em todas as partes que recebem os nervos nascidos abaixo do ponto em que se verificou o prejuízo."

Acrescenta André que essa paralisia e insensibilidade procedem do desligamento das regiões do corpo espiritual, correspondentes nos tecidos orgânicos e no cérebro, qual se desse a retirada da força elétrica de determinado setor.

Conclui André: "Semelhante desligamento, porém, não se verifica de todo, o que acarretaria, quando em níveis altos, irreversivelmente, o processo liberatório da alma com a desencarnação".

Com essas palavras, André está afirmando que, havendo uma lesão irreversível numa região do sistema nervoso central, ocorrerá desligamento das regiões do corpo espiritual correspondentes à zona atingida do corpo físico, e se a região lesada corresponder a níveis mais altos, isto é, regiões mais próximas do cérebro, ocorrerá o processo liberatório da alma. Ora, se a lesão irreversível atingir o próprio encéfalo, que é o centro regulador da vida, o desprendimento da alma se fará de forma automática.)

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3. Como se processa o desprendimento da alma, uma vez morto o corpo?    A prece pode ser útil ao desprendimento da alma?

(De um modo geral, o Espírito continua ligado ao corpo enquanto são nele muito fortes as impressões da existência física. Indivíduos materialistas ficam retidos por mais tempo, até que a impregnação fluídica animalizada de que se revestem seja reduzida a níveis compatíveis com o desligamento. Essa demora no desprendimento é, no entanto, necessária, para que o desencarnante tenha menores dificuldades para ajustar-se às realidades espirituais.

O desprendimento começa pelas extremidades e vai-se completando na medida em que são desligados os laços fluídicos que prendem o Espírito ao corpo. No livro "Obreiros da Vida Eterna", cap. XIII, o instrutor Jerônimo informa que há três regiões orgânicas fundamentais que demandam extremo cuidado nos serviços de liberação da alma: o centro vegetativo, ligado ao ventre, como sede das manifestações fisiológicas; o centro emocional, zona dos sentimentos e desejos, sediado no tórax, e o centro mental, situado no cérebro. Essa foi a ordem em que ele atuou para facilitar o desprendimento de Dimas, descrito no referido livro.


A prece é muito útil no desprendimento do Espírito. Allan Kardec relata no livro "O Céu e o Inferno" o caso Augusto Michel, ocorrido em 1863, o qual pediu a um médium fosse até o cemitério orar no seu túmulo. O Espírito de Augusto Michel suplicou tanto, que o médium atendeu e, no próprio cemitério, ele comunicou-se agradecido, aliviado da constrição que antes o fazia preso ao corpo. Ao comentar o caso, Kardec indaga se o costume quase geral de orar ao pé dos defuntos não proviria da intuição inconsciente que se tem desse efeito.)

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4. A perturbação que se segue à morte é um acontecimento normal?

(Ernesto Bozzano, no seu livro "A Crise da Morte", após examinar 18 casos cientificamente documentados sobre as fases do fenômeno da morte, enumera em 12 pontos as suas conclusões. Dentre eles, destacamos os seguintes: a) todos afirmaram terem ignorado, durante algum tempo, que estavam mortos;  b) quase todos passaram por uma fase mais ou menos longa de "sono reparador"; c) os Espíritos dos mortos gravitam fatalmente e automaticamente para a esfera espiritual que lhes convém, por virtude da "lei de afinidade".

Léon Denis, em seu livro "Depois da Morte", explica que a separação da alma do corpo é seguida por um período de perturbação. Esse tempo é breve para o espírito justo e bom, que logo se separa com todos os esplendores da vida celeste, mas muito longo, às vezes durando anos inteiros, para as almas culpadas, impregnadas de fluidos grosseiros.

A perturbação que se segue ao momento da morte é tratada em minúcias nos itens 149 a 165 d' "O Livro dos Espíritos". O estado de perturbação é um fato natural em todos nós e varia de acordo com o grau de elevação moral do desencarnante (L.E., 163 e 164).)

CREMAÇÃO

1. A Igreja Católica admite a cremação de cadáveres humanos?

(A incineração dos cadáveres humanos remonta à antigüidade. Na Idade do Ferro já existiam as necrópoles de incineração, como os "campos de urnas" de Alpiarça, atribuídos à época céltica, e a necrópole de Alcácer do Sal, 300 anos a.C. A cremação constituía regra na Grécia primitiva e entre os romanos e ainda hoje é costume em várias regiões do globo, como a Índia e Portugal.
A Igreja, já nos primórdios do Cristianismo, proibia a cremação, e o Clero romano a condena até nos dias atuais, certamente por coerência com o dogma da ressurreição dos corpos, definido no 4o. Concílio de Latrão e confirmado no 11o. Concílio de Toledo, realizado em 675.

O Código de Direito Canônico estabelece no cânon 1240, 5o, estarem privados de sepultura eclesiástica os que mandarem, antes de morrer, cremar o seu corpo, além do que não farão jus a qualquer missa exequial e a nenhum outro ofício fúnebre.)

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2. Há vantagens na cremação de cadáveres?

(Foi em 1774 que se iniciou o movimento pró-cremação, iniciado pelo abade Scipion Piattoli, o qual se expandiu pela Suíça, Alemanha, Inglaterra, França etc. Na França, uma lei de 1886 consagra o direito à escolha pela sepultura ou pela cremação.

No campo econômico, a vantagem da incineração é evidente. As despesas de funeral seriam reduzidas enormemente. O espaço físico destinado aos cemitérios não seria necessário. Ao invés de mausoléus, uma urna pequena resolveria o problema.

No aspecto higiênico ou sanitário, a cremação é a solução ideal. Alguns cientistas opinam pela incineração obrigatória em casos de morte por moléstia contagiosa, como tifo, varíola, escarlatina (doença infecciosa aguda, caracterizada por febre, erupção de pequenos pontos vermelhos e descamação em largas placas) e outras. Nas epidemias, só o fogo pode ensejar um saneamento em regra.)

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3. Há desvantagens na cremação de cadáveres?

(No campo jurídico, apontam-se alguns argumentos contrários à cremação, pois, destruído o cadáver, a cremação impediria qualquer verificação post-mortem que se fizesse necessária.

No aspecto espiritual Léon Denis aponta uma desvantagem, pois que, em geral, a cremação provoca desprendimento mais rápido, mais brusco e violento da entidade desencarnante, sendo mesmo doloroso para a alma apegada à Terra. Determinados Espíritos permanecem algum tempo imantados ao corpo material após o transe da morte, como acontece principalmente com os suicidas.

O rompimento do cordão fluídico nem sempre se consuma num curto espaço de tempo. Nessas condições, o desencarnado é como se fosse um morto-vivo cuja percepção sensória, para sua desventura, continua presente e atuante. A cremação viria causar-lhe um angustiante trauma, o que seria "aumentar a aflição ao aflito".)

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4. Qual é a posição espírita sobre a cremação de cadáveres?

(Além da posição, já vista, de Léon Denis, o que existe são posições esparsas. Richard Simonetti entende que, embora o cadáver não transmita sensações ao Espírito, este experimentará obviamente "impressões extremamente desagradáveis" se no ato crematório a entidade estiver ainda ligada ao corpo.

Paul Bodier acha que "a incineração, tal como se pratica entre nós, é, com efeito, prematura demais". Talvez, por isso a inumação devesse ser o processo normal, só se cremando os cadáveres com sinais evidentes de putrefação.

Emmanuel esclarece, através de Chico Xavier, que "a cremação é legítima para todos aqueles que a desejam, desde que haja um período de, pelo menos, 72 horas de expectação para a ocorrência em qualquer forno crematório". (Veja "Pinga-Fogo na TV Tupi-SP", realizado em 1971.)

Allan Kardec, ao que nos consta, não cuidou especificamente do assunto, o que equivale a dizer que a Doutrina Espírita não tem uma posição firmada sobre a cremação de cadáveres.)

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

1. Como o Espiritismo encara os transplantes de órgãos?


(O assunto não foi, evidentemente, tratado por Kardec, mas o Dr. Jorge Andréa, no seu livro "Psicologia Espírita", págs. 42 e 43, examinando o tema, assevera que não há nenhuma dúvida de que, nas condições atuais da vida em que nos encontramos, os transplantes devem ser utilizados. "A conquista da ciência é força cósmica positiva que não deve ser relegada a posição secundária por pieguismos religiosos. Por isso, chegará o dia em que poderemos avaliar até que ponto as influências espirituais se encontram nesses mecanismos, a fim de que as intervenções sejam coroadas de êxito e pleno entendimento".


Perguntaram a Chico Xavier se os Espíritos consideram os  transplantes de órgãos prática contrária às leis naturais. Chico respondeu ("Entrevistas"): "Não. Eles dizem que assim como nós aproveitamos uma peça de roupa que não tem utilidade para determinado amigo, e esse amigo, considerando a nossa penúria material, nos cede essa peça de roupa, é muito natural, aos nos desvencilharmos do corpo físico, venhamos a doar os órgãos prestantes a companheiros necessitados deles, que possam utilizá-los com segurança e proveito".)

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2. Todos podemos doar nossos órgãos ou há casos em que isso não se recomenda?


(E' claro que todos podemos. A extração de um órgão não produz reflexos traumatizantes no perispírito do doador. O que lesa o perispírito, que é nosso corpo espiritual, são as atitudes incorretas perpetradas pelo indivíduo, e não o que é feito a ele ou ao seu corpo por outras pessoas. Além disso, o doador desencarnado é, muitas vezes, beneficiado pelas preces e pelas vibrações de gratidão e carinho por parte do receptor e de sua família. A integridade, pois, do perispírito está intimamente relacionada com a vida que levamos e não com o tipo de morte que sofremos ou com a destinação de nossos despojos.


Há casos, no entanto, que a doação ou a extração de órgãos não se recomenda. No dia 6 de fevereiro de 1996, atendemos um Espírito em sofrimento, que recebera o coração de um jovem morto num acidente, o qual, sem haver compreendido que desencarnara, o atormentava no plano espiritual, reclamando o coração de volta. Curiosamente, o Espírito que recebera o órgão sabia estar desencarnado e lembrava até haver doado as córneas a outra pessoa.

Indagaram a Chico Xavier: "Chico, você acha que o espírita deve doar as suas córneas? Não haveria nesse caso repercussões para o lado do perispírito, uma vez que elas devem ser retiradas momentos após a desencarnação do indivíduo?". Respondeu o bondoso médium mineiro  ("Folha Espírita", nov/82, apud "Chico, de Francisco", pág. 84): "Sempre que a pessoa cultive desinteresse absoluto em tudo aquilo que ela cede para alguém, sem perguntar ao beneficiado o que fez da dádiva recebida, sem desejar qualquer remuneração, nem mesmo aquela que a pessoa humana habitualmente espera com o nome de compreensão, sem aguardar gratidão alguma, isto é, se a pessoa chegou a um ponto de evolução em que a noção de posse não mais a preocupa, esta criatura está em condições de dar, porque não vai afetar o perispírito em coisa alguma. No caso contrário, se a pessoa se sente prejudicada por isso ou por aquilo no curso da vida, ou tenha receio de perder utilidades que julga pertencer-lhe, esta criatura traz a mente vinculada ao apego a determinadas vantagens da existência e com certeza, após a morte do corpo, se inclinará para reclamações descabidas, gerando perturbação em seu próprio campo íntimo. Se a pessoa tiver qualquer apego à posse, inclusive dos objetos, das propriedades, dos afetos, ela não deve dar, porque ela se perturbará".)
Anos depois dessa resposta, registrou-se o caso Wladimir, o jovem suicida que foi aliviado em seus sofrimentos post-mortem graças às preces decorrentes da doação de córneas por ele feita, mostrando que, mesmo em mortes traumáticas como essa, a caridade da doação, quando praticada pelo próprio desencarnante, é largamente compensada pelas leis de Deus. (O caso Wladimir é narrado no livro “Quem tem medo da morte?”, de Richard Simonetti.)

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Sobre problema de rejeição, ver:

  • estudo publicado na revista "New England Journal of Medicine", a respeito de doação entre cônjuges, apud SEI, pág. 2, de 3 de fevereiro de 1996;

  • estudo feito em Juiz de Fora, pág. 3, item II, que arrola 4 possíveis causas.    


Astolfo O. de Oliveira Filho


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