A INFLUÊNCIA ESPIRITUAL QUE RECEBEMOS
Estudando as inolvidáveis lições contidas em O Livro dos Espíritos, encontraremos observações preciosas a respeito do processo de interferência com que os nossos irmãos desencarnados se imiscuem em nossas existências terrenas.
Nas perguntas 470 e 472 poderemos encontrar rico manancial de informações, tão rico que, dentro do teor dos fatos que têm marcado a trajetória de nossas personagens até aqui, vale trazê-los ao seu conhecimento, prezado leitor.
“470 – Os Espíritos que procuram nos induzir ao mal e que, assim, colocam em prova nossa firmeza no bem, receberam a missão de o fazer? E se é uma missão que cumprem, onde está a responsabilidade?
Resposta - Nunca o Espírito recebe a missão de fazer o mal. Quando ele o faz é por sua própria vontade e, por conseguinte, lhe suporta as consequências. Deus pode deixá-lo fazer para vos experimentar, mas não lhe ordena, e está em vós repeli-lo.
472 – Os Espíritos que querem nos excitar ao mal o fazem aproveitando das circunstâncias em que nos encontramos ou podem criar essas circunstâncias?
Resposta - Eles aproveitam a circunstância, mas, frequentemente, a provocam, compelindo-vos, inconscientemente, ao objeto da vossa cobiça. Assim, por exemplo, um homem encontra sobre seu caminho uma soma de dinheiro. Não creiais que foram os Espíritos que levaram o dinheiro para esse lugar, mas eles podem dar ao homem o pensamento de dirigir-se a esse ponto e, então, lhe sugerem o pensamento de se apoderar dele, enquanto outros lhe sugerem o de entregar esse dinheiro àquele a quem pertence. Ocorre o mesmo em todas as outras tentações.
Dessas duas perguntas e suas respectivas respostas, podemos entender o quanto nossa conduta, como Espíritos encarnados, é livre.
Observar a sexualidade adulterada nos jogos de sedução e conquistas, nas formas mentirosas de expressão da afetividade, envolvidas pelo cipoal dos interesses escusos, no desejo de tomar, de obter vantagens, de gozar desmesuradamente, de se permitir todo tipo de excessos, pode fazer enrubescer algum leitor mais pudico e que pretendia ver, na obra literária, tão somente o refúgio da fantasia ou da idealização do mundo.
Longe de nós o desejo de constranger ou de ferir as sensibilidades.
No entanto, importa afirmar que é preciso pensar sobre certos assuntos para melhor entender seus mecanismos e auxiliar no combate às dolorosas consequências que surgem quando se faz vista grossa sobre eles.
Em primeiro lugar, gostaríamos de ressaltar que a presente história, se comparada às centenas de outras verídicas que encontramos nos nossos anais espirituais, grotescas, violentas, horripilantes e animalescas, mais se parece a um programa infantil para crianças pré-escolares.
As dores e os dramas experimentados pelos encarnados e testemunhados por todos os Espíritos que os amam na vida verdadeira são uma página dolorosamente repetida quando se referem à sexualidade e à afetividade em geral.
Em segundo lugar, querido(a) leitor(a), olhe à sua volta e identifique se não há algo de doentio em uma sociedade que se vale do recurso da sexualidade para fazer propaganda até de uma caixa de fósforos? Não estará falhando a vigilância humana quando as forças do Espírito procuram elevar os seres para a superioridade moral, ao mesmo tempo em que são eles bombardeados por todos os lados com imagens cenas, apelos e chantagens envolvendo a sedução, a provocação e a sexualidade em todas as suas formas?
O que pensar do discurso pacifista que se fundamentasse na produção de canhões e metralhadoras?
E da propaganda da honestidade feita por criaturas notadamente desonestas?
As consequências desse anacronismo, dessa contradição, correspondem diretamente a uma sociedade confusa e sem direção moral, que não sabe o que defender e que não tem opinião própria suficientemente forte para decidir o que deseja para seus dias futuros.
É certo que todo tipo de construção arbitrária, baseada no moralismo ou puritanismo danificam ou adulteram a noção racional de liberdade de escolha.
No entanto, quando as pessoas se permitem relativizar todos os conceitos e valores, estaremos caminhando para uma sociedade amorfa, onde tudo é válido desde que corresponda à vantagem material almejada.
Se esse é o seu pensamento, assuma-se diante das condutas que acha corretas e adote-as à luz do dia, arcando com os efeitos materiais e espirituais daí decorrentes.
Se seu pensamento é contrário ao que estamos observando no cenário do mundo, assuma-se e exemplifique em você mesmo a sua opção, sem desrespeitar os que escolheram outros caminhos, mas, da mesma maneira, sem se permitir ajustar-se à maioria dissoluta, apenas por ser algo mais confortável de se fazer.
O presente relato, longe de ressaltar o aspecto da lama moral em que boa parte das pessoas se permite, fingindo estar entre veludos e sedas, tem a função de demonstrar como é que o esforço do Bem é incansável para ajudar o encarnado a evitar o abismo, a fugir da queda e a diminuir os riscos que uma vida irresponsável representa a quem a vive, diante das repercussões inflexíveis da lei de causa e efeito.
É uma forma de acordar seu coração para comunicar-lhe um fato inegável – Todos nós sabemos o que você está fazendo.
Até quando somente você é que será o único enganado?
Entretanto, mais do que sabermos de todas as fraquezas humanas, porta aberta para a ação das entidades semelhantes, gostaríamos que não se esquecessem de que não nos apresentamos como juizes a estabelecerem sentenças condenatórias e punições arbitrárias.
Para nós já serão suficientes as dores da consciência pesada no íntimo de cada um. Estaremos ao lado de vocês como irmãos que os visitam nos prostíbulos do mundo para salvá-los da prostituição, seja ela de baixo nível, seja ela das altas rodas sociais.
Estaremos ao lado de cada um como suas testemunhas vivas e como enviados de Deus para ingressarmos nos antros em que os homens se metem com a desculpa de ir buscar o prazer, mas onde se deixam arrastar pelas insanidades das orgias, tentando salvar cada irmão do resvaladouro doloroso do erro, ainda que, para isso, tenhamos que suportar os mais deturpados ambientes.
Estaremos como companheiros fiéis a chorar pela queda moral dos seres que amamos, orando ao Pai, como o fizera o próprio Cristo, solicitando a sua piedade para cada tutelado, alegando a ignorância ou a demência do Espírito, como se repetíssemos a triste e conhecida frase: “perdoa-os, Pai, pois eles não sabem o que fazem”.
Nós os amamos, acima de todas as coisas.
Que isso possa servir de alimento para que vocês também se amem a si mesmos, respeitando-se nas atitudes que escolhem para seus dias, não mais com a ideia de que sejam os Espíritos malignos, “os diabos”, as entidades trevosas, os culpados pelas suas desditas.
Se um desejo de explorar o próximo, de envolvê-lo em teias sedutoras para fraudar seus sentimentos tomar conta de seu íntimo, não se desculpe mais com as antigas desculpas:
- Todo mundo faz isso….
- A vida é assim mesmo….
- Melhor aproveitar enquanto é tempo…
- Se você não fizer, outro vai fazer….
- Que cada um aprenda com o próprio sofrimento…
- Ninguém vai ficar sabendo…
Saiba que se você persistir nesse caminho, encontrará:
- o destino que todo mundo encontra – a dor;
- verá que a vida é o que você terá feito dela – angústias e lágrimas,
- o tempo não deixará de lhe apresentar a conta a ser paga,
- o mesmo destino que o outro encontrou – a vergonha de ter feito o que fez,
- o sofrimento como seu próprio professor.
- uma nuvem de testemunhas espirituais que lhe acompanham os passos, atenta, além de não conseguir fraudar ou enganar a própria consciência que bem sabe o que você resolveu fazer.
Todas as teias da presente narrativa poderiam ser alteradas pelos próprios encarnados se tivessem escolhido melhor seus caminhos, como nos ensina a doutrina dos Espíritos. Buscando semear em nossos corações uma noção elevada de vida, responsável e límpida, a revestir a afetividade com a ternura da verdade, a euforia da alegria, a doçura do calor e o selo da felicidade, o cristianismo espírita tem tentado acordar os corações de boa fé.
Os homens são livres para trilhar todos os caminhos que quiserem. No entanto, nem todos produzirão a tão esperada satisfação afetiva duradoura.
Livro Despedindo-se da Terra, cap. 29
Espírito Lúcius
Psicografia de André Luiz Ruiz