(by Michael Goh)
“CAUSA E EFEITO” – UMA LEI, MUITAS HISTÓRIAS E DOLOROSOS PRANTOS
O Airbus A320, da companhia aérea
Germanwings, que caiu no sudeste dos Alpes franceses durante um voo
entre Barcelona, na Espanha, e Düsseldorf, na Alemanha, com 144
passageiros e seis tripulantes a bordo, provocou uma sobressalto
psíquico da comunidade internacional. Segundo o The Weather Channel
francês, as condições meteorológicas eram boas no momento do acidente.
Todavia, o copiloto Andreas Lubitz, de 27 anos, que sofria de transtorno
de ansiedade generalizada (TAG), segundo informou o jornal francês “Le
Parisien”, derrubou o avião deliberadamente.
Todos
os fatos dantescos precisam ter uma explicação lógica e coerente, até
porque nos Estatutos do Criador não há espaços para injustiças e
categoricamente o acaso é mera ficção, ainda mesmo quando os fatos
desnorteantes se nos afigurem incompreensíveis. Não obstante, a insana
atitude suicida de Andreas Lubitz, obviamente estamos diante de um
evidente acontecimento de resgate coletivo. Dessa forma, o ressarcimento
dos débitos pretéritos, o resgate de nossas ações opostas ao bem e ao
amor pode e deve acontecer de diversas formas, até mesmo coletivamente.
A
rigor, as transgressões coletivas às Leis de Deus devem ser expiadas
coletivamente pelos mesmos personagens que juntos as violaram, e os
mentores estão sempre trabalhando, ajudando a todos nós, reunindo-nos em
grupos de forma a favorecer a correção de rumo, amparando-nos e nos
fortalecendo para darmos conta daquilo a que nos propomos, além de nos
equilibrarem para podermos auxiliar o outro com nossos pensamentos
positivos.
Dores que burilam almas
O
objetivo das diversas dores é “fazer-nos avançar mais depressa” (1). Os
desastres coletivos, se observarmos sob o ponto de vista espiritual,
fundamentando nossa reflexão nos princípios da Doutrina Espírita, têm
finalidades saneadoras que extraem densas sobrecargas das mentes
culpadas e significam a concretização da justiça integral, pois a
Justiça Divina, para o reequilíbrio do homem, recorre a processos
depuradores e liberativos, de que não podemos escapar. Pois a função da
dor é ampliar horizontes para realmente vislumbrarmos os sólidos
caminhos amorosos do equilíbrio.
Muitos
desses “acertos de contas” são demonstrados pelos Espíritos, em
diversas obras da literatura espírita. André Luiz narra um desastre
aéreo, em que o piloto, confuso pelo denso nevoeiro, não conseguiu
evitar o choque da grande aeronave, espatifando-se contra a montanha.
Neste caso, um instrutor espiritual comenta que “as vítimas certamente
cometeram faltas em outras épocas, atirando irmãos indefesos da parte
superior de torres altíssimas para que seus corpos se espatifassem no
chão; suicidas que lançaram-se de altos picos ou edifícios, que por
enquanto só encontraram recursos em tão angustiante episódio para
transformarem a própria situação”. (2)
Como
entender a magnanimidade da Bondade de Deus e o ensinamento do Cristo
ante as mortes coletivas, ocorridas em l961, naquele sinistro incêndio
do “Gran Circus Norte-Americano”, em Niterói? Como compreender os óbitos
registrados no terremoto que atingiu a cidade histórica de Bam, no Irã,
no final de 2003? Como explicar o acidente com o Boeing da Flash
Airlines, que ocorreu no Egito, provocando a morte de 148 pessoas que
estavam a bordo daquela aeronave, em 3 de janeiro de 2004? Qual o
significado dos que foram tragados pelas águas da Tsunami, tragédia
cujas dimensões deixaram o mundo inteiro consternado? O que pensar ainda
sobre o naufrágio do Titanic, transatlântico que transportava cerca de
2.200 pessoas? O que dizer das quase 3.000 vítimas decorrentes do ataque
às Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, a 11 de setembro
de 2001? Como interpretar tais episódios e ante os destinos humanos?
Na consternação o homem adquire experiência
Para
as tragédias coletivas, somente o Espiritismo tem as respostas lógicas,
profundas e claras, que explicam, esclarecem e, por via de
consequência, consolam os corações humanos perante os ressaibos
amargosos dessas situações. O fato é que nós criamos a culpa, e nós
mesmos formatamos os processos para extinguir os efeitos. Ante as
situações trágicas da Terra, o ser humano adquire mais experiência e
mais energias iluminativas no cérebro e no coração para defender-se e
valorizar cada instante de sua vida. Com as verdades reveladas pelo
Espiritismo, compreende-se hoje a justiça das provações, entendendo-as
como sendo uma amortização de débitos de vidas pregressas.
Autores
espirituais explicam que indivíduos envolvidos em crimes violentos, no
passado e também no presente, a lei os traz de volta, por terem
descuidado da ética evangélica. Retornam e se agrupam em determinado
tempo e local, sofrendo mortes acidentais de várias naturezas, inclusive
nas calamidades naturais. Assim, antes de reencarnarmos, sob o peso de
débitos coletivos, somos informados, na espiritualidade, dos riscos a
que estamos sujeitos e das formas pelas quais podemos quitar a dívida.
Porém, o fato por si só não é determinístico, até porque vai depender de
circunstâncias várias em nossas vidas a sua consumação, uma vez que a
lei cármica admite flexibilidade, quando o amor rege a vida e “o amor
cobre uma multidão de pecados.” (3)
Nossos
registros históricos pelas vias reencarnatórias muitas vezes acusam o
nosso envolvimento em tristes episódios, nos quais causamos dor e
sofrimento ao nosso próximo. Muitas vezes, em nome do Cristo, ateamos
fogo às pessoas nos campos, nas embarcações e nas cidades, num processo
cego de perseguição aos “infiéis”. Com o tempo, ante os açoites da
consciência, deparando com o remorso, rogamos o retorno à Terra pelo
renascimento físico, com prévia programação, para a desencarnação
coletiva, em dolorosas experiências de incêndios, afogamentos e outras
tantas situações traumáticas para aliviar o tormento que nos comprime a
mente.
Ao reencarnarmos, atraídos
por uma força magnética (sintonia vibratória), consequente dos crimes
praticados coletivamente, reunimo-nos circunstancialmente e, por meio de
situações drásticas, colhemos o mesmo mal que perpetramos contra nossas
vítimas indefesas de antanho. Portanto, as faltas coletivamente
cometidas pelas pessoas (que retornam à vida física) são expiadas
solidariamente, em razão dos vínculos espirituais entre elas existentes.
Destarte, explica Emmanuel: “na provação coletiva verifica-se a
convocação dos Espíritos encarnados, participantes do mesmo débito, com
referência ao passado delituoso e obscuro. O mecanismo da justiça, na
lei das compensações, funciona então espontaneamente, através dos
prepostos do Cristo, que convocam os comparsas na dívida do pretérito
para os resgates em comum, razão por que, muitas vezes, intitulais –
doloroso acaso – às circunstâncias que reúnem as criaturas mais díspares
no mesmo acidente, que lhes ocasiona a morte do corpo físico ou as mais
variadas mutilações, no quadro dos seus compromissos individuais.” (4)
Fatalidade ou evento do destino?
Embora
muitos acidentes nos comovam profundamente, seriam as tragédias
suficientes para o resgate de crimes cruéis praticados no pretérito
remoto? Estamos convencidos de que não, muito embora as situações – como
essa 24 de março de 2015 (queda do Airbus A320) – nos levam a
questionar, como por exemplo: Por que esses acontecimentos funestos que
despertam tanta compaixão? Seria uma Fatalidade? Coisa do destino? Que
conceitos estão nos desenhos semânticos dessas palavras?
Para
o espírita, “fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da
morte” (5), pois como disseram os Espíritos a Kardec: “quando é chegado o
momento de retorno para o Plano Espiritual, nada “te livrará”, e
frequentemente o Espírito também sabe o gênero de morte por que partirá
da terra”, “pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou
daquela existência”. (6)
Mais ainda: “Graças à Lei de Ação e Reação e ao
Livre-Arbítrio, o homem pode evitar acontecimentos que deveriam
realizar-se, como também permitir outros que não estavam previstos”. (7)
A fatalidade só existe como algo temporário, frente à nossa condição de
imortais, com a finalidade de “retomada de rumo”. Fatalidade e destino
inflexível não se coadunam com os preceitos kardequianos.
Quem crê ser
“vítima da fatalidade” culpa somente o mundo exterior pelos seus erros e
se recusa a admitir a conexão que existe entre eles.
Provas escolhidas
O
homem comum, nos seus interesses mesquinhos, não considera a dor senão
como resgate e pagamento, desconhecendo o gozo de padecer por cooperar,
sinceramente, na edificação do Reino do Cristo. Para aquele que se
compraz na caminhada pelos atalhos do mal, a própria Lei se incumbirá de
trazê-lo de retorno às vias do bem. O passado muitas vezes determina o
presente, que por sua vez determina o futuro. “Quem com ferro fere, com
ferro será ferido” (8), disse o Mestre. Porém, cabe uma ressalva: nem
todo sofrimento é expiação. No item 9, cap. V, de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, Allan Kardec assinala: “Não se deve crer, entretanto, que
todo sofrimento porque se passa neste mundo seja, necessariamente, o
indício de uma determinada falta: trata-se, frequentemente, de simples
provas escolhidas pelo Espírito para sua purificação, para acelerar o
seu adiantamento”.(9) São claras as palavras do Codificador.
Não
estão corretos aqueles que generalizam e afirmam que todo sofrimento é
resultado de erros praticados no passado. O desenvolvimento das
potencialidades, a subida evolutiva requer trabalho, esforço, superar
desafios. Nesse caso é a provação, e não a expiação, ou seja, são as
tarefas a que o Espírito se submete, a seu próprio pedido, com vistas ao
seu progresso, à conquista de um futuro melhor.
A finalidade da Suprema Lei
Dentro
do princípio de Causa e Efeito, quem, em conjunto com outras pessoas,
agrediu o próximo, não teria que ressarcir o débito em conjunto? É esse o
chamado “carma coletivo”. (10) Toda ação que praticamos, boa ou má,
recebemos de volta como reação. Nosso passado determina nosso presente,
não existindo, pois, favoritismos, predestinações ou arbítrios divinos. A
doutrina espírita não prega o fatalismo e nem o conformismo cego diante
das tragédias da vida, mesmo das chamadas tragédias coletivas. O que o
Espiritismo ensina é que a lei é uma só: para cada ação que praticamos,
colheremos a reação.
O importante
aos que ficam por aqui, na Terra, para que tenham o avanço espiritual
devido, é não falir pela lamentação, pela revolta, pois “as grandes
provas são quase sempre um indício de um fim de sofrimento e de
aperfeiçoamento do Espírito, desde que sejam aceitas por amor a
Deus”.(11)
Diante do exposto,
asseguramos que a função da dor é expandir horizontes, para
verdadeiramente divisarmos os reais logradouros harmônicos do
equilíbrio. Por isto, diante dos compromissos “cármicos”, em expiações
coletivas ou individuais, lembremo-nos sempre de que a finalidade da Lei
de Deus é a perfeição do Espírito, e que estamos a cada dia caminhando
nessa destinação, onde o nosso esforço pessoal e a busca da paz estarão
agindo a nosso favor, minimizando ao máximo o peso das dívidas do
passado.
Jorge Hessen
Fonte: A Luz na Mente
Referências bibliográficas:
[1]Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 1979, questão 737
[2]Xavier, Francisco Cândido. Ação e Reação, Cap. XVIII, RJ: Ed FEB, 2005
[3]I Pedro 4:8
[4]Xavier, Francisco Cândido. O Consolado, RJ: Ed FEB, 2002, questão 250
[5]Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 1979, questão 851 a 867
[6]Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 1979, questão 851 a 867
[7]Idem
[8]JOÃO. 18:11
[9]Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, item 9, cap. V
[10]A
palavra karma é oriunda da raiz sânscrita “kri”, cujo significado é
ação. Karma é portanto, Lei de Causa e Efeito, ou ainda, de acordo com a
terceira lei de Newton, conhecida como o “princípio da ação-e-reação”,
que diz: “a toda ação corresponde uma reação, com mesma intensidade,
mesma direção, mas de sentido contrário”. E o Cristo, ao recolocar a
orelha do centurião romano, decepada pela espada de Pedro, sentenciou:
“Pedro, embainha tua espada, pois quem com ferro fere, com ferro será
ferido”. Podemos notar, aí, dois enunciados da mesma Lei de Ação e
Reação: um, de maneira científica e, outro, de modo místico. O vulgo diz
: “Quem semeia vento, colhe tempestade”.
[11]Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, RJ: Ed FEB, 1989, Cap.14,
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