O ESPIRITISMO JAMAIS SERÁ SUPERADO
O
Livro dos Espíritos é originário da revelação dos Espíritos por meio da
comunicação mediúnica através da “cesta de bico” [1] e posteriormente
da “cesta-pião”.[2] Buscando a melhoria do processo, Allan Kardec
estudou maneiras mais apropriadas para obtenção de informações do
“além-tumulo”. Contando com a colaboração das médiuns Ruth Celine
Japhet, Aline Carlotti, Caroline Baudin, Julie Baudin e Ermance Dufaux,
que estavam à sua disposição, descobriu o mecanismo da psicografia que
consistia na influência direta do Espírito sobre o médium, controlando
determinadas zonas cerebrais através do perispírito para que a Entidade
pudesse controlar a sua mão e reproduzir a escrita manual.
Henri Sausse, Zeus Wantuil, Ann
Blackwell, principais biógrafos de Allan Kardec, afirmaram que a ideia
de um livro de perguntas e respostas, bem como algumas perguntas, foram
originárias de 50 cadernos fornecidos por um grupo de maçons, entre eles
Victorien Sardou, Pierre-Paul Didier (e seu filho), Tiedeman-Manthèse, e
René Taillandier. Tais pessoas já realizavam pesquisas mediúnicas,
porém não conseguiram alcançar a plena dimensão desse trabalho, e por
isso deliberaram entregar os manuscritos ao professor Rivail, que
constatou naqueles calhamaços profundas revelações que deveriam ser
divulgadas.
Com efeito, em 18 de abril de 1857, o
famoso “filho de Lyon” publicou a 1ª edição de “O Livro dos Espíritos”
dividido em três partes, composto de 501 questionários. Em 1860, lançou a
2ª edição, dessa vez inteiramente refundido e admiravelmente acrescido
para 1019 perguntas, divididas em quatro partes a saber: Causas
primárias, Mundo dos espíritos, Lei morais e Esperanças e consolações.
Esta edição foi publicada pelo editor Paul Didier e se esgotou em apenas
4 meses. De cada parte do Livro dos Espíritos, Allan Kardec desdobrou
os temas resultando nas Obras básicas da Codificação. Observemos o
seguinte: da primeira parte – “Causas primárias” – distribuída em quatro
capítulos e 75 questões, gerou a obra A Gênese. Da segunda parte – “O
mundo dos espíritos” – distribuída em onze capítulos e 537 perguntas,
surgiu O livro dos Médiuns. Da terceira parte – “Leis morais” –
distribuída em nove capítulos e 308 interrogações, nasceu o Evangelho
Segundo Espiritismo e finalmente da quarta parte – “Esperanças e
consolações” – distribuída em dois capítulos e 99 perguntas, resultou O
Céu e o Inferno ou “A Justiça Divina Segundo o Espiritismo”.
A Codificação Espírita consubstanciou-se a
fim de enfrentar os alvoroços provocados pelas desordens ideológicas do
Século XIX e germina no centro cultural do mundo ocidental. Foi
publicado portanto em meio a uma torrente de filosofias que induzia o
homem ao pessimismo, ao ceptismo e ao niilismos. Surgiu no mesmo ano em
que desencarnou o controvertido Augusto Conte, mentor do pensamento
positivista, bastante em voga entre a elite intelectual da época. Surgiu
no meio dos embates da dialética dividida nesse momento em duas fases
nesse – antes e depois do filósofo alemão Hegel – contestador da
dialética socrática.
Com a desencarnação de Hegel surgiram
duas correntes hegelianas, a ortodoxa (de “direita”) e a socialista (de
“esquerda”), esta última representada principalmente por Engel e Marx,
culminando no materialismo histórico. Politicamente, os “direitistas”
hegelianos veiculavam o argumento conservador, colocando o Estado como
personificação da ética, aparecendo no fascismo na Itália, no
nazifascismo na Alemanha e integralismo no Brasil.
Os “esquerdistas” submeteram o
cristianismo a severas críticas, lideradas por Karl Marx, estendendo-se
para a vida social. Em 31 de março de 1848, quando o Espírito do
ex-mascate Charles Rosman assinalava novos horizontes em Hysdesville,
nos EUA, o impaciente Marx publicava em Bruxelas, por ocasião do Segundo
Congresso da Liga Comunista, o famigerado “Manifesto Comunista”,
conclamando a união dos “proletários” da Terra.
O rusguento autor de “O Capital”, sedento
de “liberdade”, defendia fortemente a tese de que a solução das
questões econômicas do mundo seriam através do arrogante socialismo
“científico”, dando asas para o materialismo e/ou comunismo ateu. Em sua
feroz indignação contra a superestrutura do cristianismo, Marx
vociferava que o “a religião era o ópio do povo”, uma autêntica emanação
do “bicho-papão” (capitalismo).
Ainda naqueles idos de 1859 era lançado o
livro que estava destinado a abalar os alicerces da ideia da origem
biológica do homem e dos seres da natureza. O britânico Charles Darwin
entra para a história com o livro intitulado “A origem da vida pela
seleção natural das espécies”. Contudo, desde o seu lançamento, O Livro
dos Espíritos permanece inabalável. Já decorreram 158 anos e o
Espiritismo conserva-se moderno e insuperável nos seus princípios.
A Doutrina dos Espíritos está alicerçada
nos princípios da existência de Deus, da existência e sobrevivência do
Espírito, nas leis morais, na reencarnação, na pluralidade dos mundos
habitados, na comunicabilidade dos Espíritos. Não trata de ocultismos,
não prescreve práticas adivinhatórias, não tem em suas páginas propostas
sacramentais, ritos, nem liturgias. É uma doutrina de base científica,
filosófica e religiosa. Seus argumentos, marchando passo a passo com o
progresso, jamais serão ultrapassados. Se novas descobertas demonstrarem
estar em erro sobre um dos seus pontos, o Espiritismo se renderá
modificando esse ponto suspeito. Se uma verdade vier a ser revelada ele a
incorporara.
Um dos sinais de vitalidade do
Espiritismo é a sua sintonia com o tempo, e isso se reflete nos grupos
acadêmicos de pesquisa sobre os preceitos doutrinários. Nas
universidades há um crescente interesse pela literatura espírita,
mormente especialistas de área de física quântica, matemática,
psicologia, medicina, sociología e história. O fato de se encontrar
estudiosos espíritas entre doutores das principais universidades
brasileiras é uma prova evidente de que o Espiritismo se firmou como
doutrina numa parcela influente do país.
Jorge Hessen
Notas:
[1] Consiste em adaptar-se à
cesta uma haste de madeira (15 cm) inclinada. Por um buraco aberto na
extremidade dessa haste, ou bico, passa-se um lápis bastante comprido
para que sua ponta assente no papel. Pondo o médium os dedos na borda da
cesta, o aparelho todo se agita e o lápis escreve. Obtém-se assim
dissertações de muitas páginas
[2] É uma cestinha de quinze a
vinte centímetros de diâmetro (de madeira ou de vime). Onde adapta-se
um lápis. O movimento da cesta não é automático, como no caso das mesas
girantes; torna-se inteligente. Com esse dispositivo, o lápis, sempre ao
chegar à extremidade da linha, não volta ao ponto de partida para
começar outra, continua a mover-se circularmente, de sorte que a linha
escrita forma uma espiral, tornando necessário voltear muitas vezes o
papel para se ler o que está grafado.
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