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31 dezembro 2015

Esquizofrenia - Joanna de Angelis

 

ESQUIZOFRENIA

“O Ser real é constituído de corpo, mente e espírito. Dessa forma, uma abordagem psicológica para ser verdadeiramente eficaz deve ter uma visão holística do ser, tratando de seu corpo (físico e periespirítico), de sua mente (consciente, inconsciente e subconsciente) e de seu espírito imortal que traz consigo uma bagagem de experiências anteriores à presente existência e está caminhando para a perfeição Divina.” Joanna de Ângelis

Nos transtornos psicóticos profundos, a esquizofrenia destaca-se aterrorizante, face à alienação que impõe ao paciente, afastando-o o convívio social e conduzindo-o à vivência da própria incúria, sem a capacidade de discernimento que se encontra embotada.

Denominada por Freud como "neurose narcisista", indicada por Kraepelin, que estabeleceu como sintoma frequente a "indiferença ou embotamento afetivo", coube a Bleuler assinalar que o paciente é vítima de uma "desagregação do pensamento", que produz uma certa rigidez com extrema "dificuldade de exteriorização dos sentimentos", não sendo, portanto, imune à afetividade. Clinicamente apresenta-se sob três formas, consideradas clássicas: hebefrenia, catatonia e paranóia. Posteriormente foi acrescentada uma outra, que ficou denominada como esquizofrenia simples.

Sem dúvida, fatores hereditários preponderantes impõem o desvio psicótico profundo, graças às impressões vigorosas registradas nos genes desde os primórdios da concepção. Essa terrível afecção mental responde pela falta da associação de idéias, pelo desleixo e abandono do Si em transtorno grave de conduta.

Enfermidades infectocontagiosas e suas sequelas podem, também, desencadear o processo esquizofrênico, em razão dos prejuízos que impõem aos neurônios cerebrais e às suas sinapses, que se desconectam, tornando-se incapazes de enviar as mensagens corretamente de um ao outro, nessa cadeia complexa de informações que transitam através de suas delicadas conexões. Fenômenos orgânicos que promovem grande tensão, como aqueles considerados críticos, tais a puberdade, o catamênio, a menopausa e a andropausa, são arrolados como responsáveis também pelas manifestações lentas e contínuas do transtorno esquizofrênico.

Por outro lado, traumatismos cranianos atingindo o cérebro produzem efeitos equivalentes, perturbando o raciocínio do paciente e afastando-o do convívio da sociedade. Outrossim, fatores exógenos que dizem respeito aos eventos da vida, também respondem pelo transtorno cruel, especialmente nos indivíduos de compleição moral frágil ou marcados por graves distúrbios familiares, sociais, de trabalho, de relacionamento afetivo, que os predispõem às fugas espetaculares para o quase autismo.

Não obstante, deve-se incluir na psicogênese do transtorno esquizofrênico, a consciência de culpa das ações vivenciadas em existências anteriores, quando a delinqüência assinalou o desenvolvimento do Self, hedonista e explorador, que somente utilizou dos amigos e conhecidos para os explorar, traindo-lhes a confiança ou covardemente destruindo-lhes o corpo em horrorosos crimes que não foram justiçados, porque passaram desconhecidos ou as circunstâncias legais não os alcançaram. Não havendo sido liberados pela reparação através dos cometimentos impostos pela Lei vigilante, insculpiram nas delicadas tecelagens vibratórias do corpo perispiritual a responsabilidade infeliz, que ora ressurge como cobrança, necessidade de reparação, impositivo de reequilíbrio, de recomposição social, familial, humana.

Eis que nessa, como noutras ocorrências psicopatológicas, a interferência de seres desencarnados ou de outra dimensão, se assim for mais acessível ao entendimento, impondo sua vontade dominadora sobre aquele que o infelicitou no curso da existência anterior, produz a distonia equivalente àquelas que procedem das psicogêneses internas e externas.

Essa imposiçãso psíquica frequente e insidiosa afeta os neurotransmissores, facultando que moléculas - neuropeptídeos - responsáveis pelo equilíbrio das comunicações, as desconectem, produzindo a alienação. A mente, que não é física, emite ondas especiais que são captadas por outras equivalentes, que sincronizem com as emissões que lhe são direcionadas. Há, em todo o Universo, intercâmbio de mentes, de pensamentos, de vibrações, de campos de energia...

No que diz respeito às afinidades psíquicas, a sintonia vibratória permite que sejam decodificadas mensagens mentais por outros cérebros que as captam, conforme os admiráveis fenômenos parapsicológicos da telepatia, da clarividência, da precognição, da retrocognição, cujas experiências em laboratório tornaram-nos cientificamente comprovados, reais.

É natural, portanto, que não havendo a destruição do Self quando ocorre a morte ou desencarnação do ser humano, a mente prossiga enviando suas mensagens de acordo com as construções emocionais de amor ou de ira, de felicidade ou de desdita, que se fazem captadas por estações mentais ou campos psi, dando curso às inspirações, às percepções enobrecidas ou perturbadoras, facultando o surgimento das nefastas obsessões de efeitos calamitosos.

É muito mais vasto o campo dessas intercorrências espirituais do que se pode imaginar, sucedendo tão amiude, que seria de estranhar-se não as encontrar nos transtornos neuróticos ou psicóticos de qualquer natureza.

O Self, dessa maneira, desenvolve-se mediante as experiências que o acercam do Arquétipo Primacial, no qual haure vitalidade e força, transferindo todas as aquisições nobres ou infelizes para futuros cometimentos, assim ampliando os primeiros e recuperando-se dos segundos, armazenando todas as experiências que o conduzirão à individuação plena, ao numinoso ou sintonia com Deus.

Mergulhando, a princípio, no deus interno, desperta o potencial de sabedoria e de amor que nele jazem, a fim de poder crescer em aplitude no rumo do Deus Criador do Universo...

A saúde mental somente é possível quando o Self, estruturado em valores éticos nobres, compreende a finalidade precípua da existência humana, direcionando os seus sentimentos e conhecimentos em favor da ordem, do progresso, do bem-estar de toda a sociedade.

A liberação do ego arbitrário, desvestido dos implementos da aparência que se exterioriza pela persona, permite a integração do ser na vida em caráter de plenitude.

Todas as terapias acadêmicas procedem, valiosas e oportunas, considerando-se a imensa variedade de fatores preponderantes e predisponentes, para o atendimento da esquizofrenia, não sendo também de desconsiderar-se a fluidoterapia, o esclarecimento do Agente perturbador e o consequente labor de sociabilização do paciente através de grupos de apoio, de atividades espirituais em núcleos próprios onde encontrará compreensão, fraternidade e respeito humano, que o impulsionarão ao encontro com o Si profundo em clima de paz.

Texto de Joanna de Angelis
No livro "Triunfo Pessoal"
Psicografado por Divaldo Franco

30 dezembro 2015

O despertar da Consciência Espiritual - André de Paiva Salum




O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL



A vida, considerada sob qualquer aspecto, inclusive o espiritualista, é uma sucessão de eventos e fenômenos de transformação, obedecendo à lei universal da evolução. Tudo no Universo se transforma e se ajusta em contínuo mecanismo de adaptação e aperfeiçoamento.

A evolução anímica é um desenvolvimento gradual da consciência. A cada etapa do processo evolutivo a consciência se expande e amplia as percepções e concepções de si mesma bem como da vida em geral.

Tudo faz parte desse processo universal, inclusive o estágio evolutivo humano. Ocorre que a evolução da consciência não se dá de forma linear, mas em ciclos que se sucedem e se interpenetram. No final de um ciclo e início de outro mais avançado, ocorrem momentos especiais de crise, de alteração de rumo, de mudança de plano vibratório. Em algumas etapas do processo evolutivo, para alcançar maior nível de consciência a pessoa precisa romper com padrões de conduta que não servem mais ao novo estado; portanto existe uma crise de crescimento. Tais situações são como rupturas no padrão de vida que o ser vinha trilhando de modo condicionado, rumando para patamares de maior expressão, lucidez e liberdade.

Após a conquista da autoconsciência, isto é, a percepção de si mesmo como individualidade pensante, desde os primeiros bruxuleios do raciocínio, em tempos remotos, até as conquistas atuais da razão aprimorada, o despertar tem ocorrido em etapas sucessivas de autossuperação.

Na fase atual vem ocorrendo, para uma parcela significativa da humanidade, o gradual despertamento da consciência espiritual, retirando os seres do estado de semiconsciência em que estagiaram por longos períodos e os convidando a novas conquistas evolutivas.

Esse amadurecimento significa a transferência do foco de consciência do ego ou personalidade para o Self, ou Si espiritual. É o despertar para a realidade do que se é, além da condição em que se está.

Tal processo provoca necessariamente mudanças significativas no modo de ser de quem o experimenta. Tudo se lhe apresenta novo: valores, princípios, leis espirituais até então desconhecidas ou desconsideradas, bem como perspectivas de participação ativa nos movimentos renovadores da sociedade e do mundo...

Todos os seres, mais cedo ou mais tarde, passam pelo despertar da consciência espiritual, que significa reconhecer-se cada um como é: espírito imortal, essência divina em estágio temporário na matéria. Como o nome indica, é um verdadeiro despertar do sono da ignorância em que vivia até então. É um abrir os olhos da alma para realidades que se faziam inexistentes para a cegueira seletiva do ego.

A partir desse despertamento, tudo se transforma, desde a percepção do mundo e das circunstâncias, até os relacionamentos e papéis que se desempenha na vida comunitária.

O despertar espiritual requer, naturalmente, mudanças no estilo de vida e o enfrentamento de novos desafios, que se transformam em excelentes oportunidades de crescimento. No início a incompreensão alheia, as críticas gratuitas, a desconfiança quanto à sinceridade dos novos ideais abraçados, tudo pode parecer conspirar contra as novas aquisições, e são impostas por aparentes adversários do progresso, os quais se incomodam com aquele que lhes mostra perspectivas diferentes e mais elevadas de vida. Desde que persevere nos novos ideais, quem despertou para as realidades do espírito, através do amadurecimento interior, do serviço e da ação edificantes, fortalece-se na fé e na confiança e ganha maior motivação para continuar nas tarefas renovadas e renovadoras do destino individual e, consequentemente, coletivo.

Cada ser tem o seu momento de intensificar a luz interior, após longos períodos em que transitou pelas sombras da ignorância. A humanidade, como sabemos, é composta de seres nos mais diversos níveis evolutivos, portanto heterogênea quanto à luz espiritual que cada um pode expressar. Há seres que, desde há muito, já acenderam a luz em si mesmos e a projetaram para o mundo, na condição de mestres, sábios e santos. Muitos outros, até hoje, manifestam o primarismo que ainda lhes caracteriza a conduta. Daí a necessidade da compaixão diante de todos os irmãos do caminho. Da mesma forma que os seres mais evoluídos nos compreendem e respeitam amorosamente as nossas limitações, precisamos exercitar a compaixão diante dos irmãos que, por enquanto, ainda não despertaram para as verdades espirituais que julgamos compreender.

As religiões podem servir como chamamentos ao despertar dos seguidores, desde que representem convite à reflexão, tomada de consciência e renovação de atitudes perante si mesmos e diante da vida. Caso isso não ocorra, o despertar espiritual pode significar a mudança de opção religiosa, quando a crença professada até então não mais responde aos anseios da alma mais amadurecida. Assim, a conscientização individual requer e promove um despertar concomitante dos caminhos religiosos, pois esses também evoluem para atender às necessidades crescentes de esclarecimento e orientação.

A Doutrina Espírita, como revelação dos tempos modernos, é valioso convite ao despertar espiritual para o ser humano contemporâneo, pois apresenta propostas renovadoras e repletas de ensinamentos e consolações. Fala à razão e toca o coração, tendo assim a força de auxiliar aqueles que já se mostram receptivos aos apelos do Alto para se unirem aos servidores da Nova Era de fraternidade que se anuncia para todo o mundo.


André de Paiva Salum
Fonte: União Espírita de Piracicaba


29 dezembro 2015

Situação do Espírita após a Morte! - Autoria Desconhecida


SITUAÇÃO DO ESPÍRITA APÓS A MORTE!

Muitos espíritas estão desencarnando em situações deploráveis, recebendo socorro em sanatórios no Plano Maior da Vida em virtude das péssimas condições morais e psíquicas em que se encontram. Este quadro é descrito com muita propriedade no livro Tormentos da Obsessão, de Manoel Philomeno de Miranda, psicografado por Divaldo Pereira Franco, que traz informações edificantes para nós, espíritas, sobre a importância de um bom desempenho de nossas funções, assumidas ainda no Mundo Espiritual.

O Espírito Manoel Philomeno de Miranda ressalta que as experiências narradas no livro permitem compreender que “a crença é muito importante, no entanto, a vivência dos postulados exarados na Codificação tem regime de urgência e não pode nem deve ser postergada”. E Bezerra de Menezes, logo no início da obra, lembra que “Jesus acentuou que mais se pedirá àquele a quem mais se deu, considerando-se o grau de responsabilidade pessoal, em razão dos fatores predisponentes e preponderantes para a conduta”.

Em adição, em No Mundo de Chico Xavier, consta informação interessante do Espírito Romeu do Amaral Camargo, tempos depois de sua desencarnação, comentando acerca da situação dos espíritas ao adentrar no Mundo Espiritual. Conta Chico Xavier que Romeu do Amaral “prosseguia trabalhando ativamente em organizações espíritas-cristãs do Plano Superior e que nós, os espíritas, carregamos enormes responsabilidades nos ombros, porque recebemos o conhecimento libertador de que as leis de Deus funcionam na consciência de cada um”. E o Espírito complementa que “não havia visto dentre os companheiros já desencarnados com os quais convivia, um só que não se queixasse de condições deficitárias para com a Doutrina Espírita.

Tão grandes eram as bênçãos recolhidas, que todos admitiam terem saído da experiência física reconhecendo-se endividados para com o Espiritismo Cristão, pelo qual, segundo opinião deles mesmos, deviam ter trabalhado mais”.

Portanto, percebemos dos ensinamentos dos Espíritos que, embora façam referência mais detida às experiências dos espíritas após a morte, a condição de felicidade ou sofrimento destes guarda estreita relação com a vivência dos ensinamentos morais, e por isso, trata-se de possibilidade que acomete qualquer um que, de posse do conhecimento dos valores da Vida Eterna, estagna-se na marcha do progresso, independente de sua religião.

Neste sentido, Eurípedes Barsanulfo, em palestra educativa narrada por Manoel Philomeno de Miranda, alerta que “todo conhecimento superior que se adquire visa ao desenvolvimento moral e espiritual do ser. No que diz respeito às conquistas imortais, a responsabilidade cresce na razão direta daquilo que se assimila. Ninguém tem o direito de acender uma candeia e ocultá-la sob o alqueire, quando há o predomínio de sombras solicitando claridade” (Capítulo 22 do livro Tormentos da Obsessão).

A culpa e os pesares da consciência são maiores quanto melhor o homem sabe o que faz. Kardec conclui primorosamente este ensinamento, afirmando que “a responsabilidade é proporcional aos meios de que ele [o homem] dispõe para compreender o bem e o mal. Assim, mais culpado é, aos olhos de Deus, o homem instruído que pratica uma simples injustiça, do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos” (questão 637 de O Livro dos Espíritos).

Por fim, fiquemos com a exortação de Bezerra de Menezes, orientando para que “cuidemos-nos, todos nós, de nos preservar do mal, suplicando o divino socorro, conforme propôs o incomparável Mestre, na Sua oração dominical, buscando-Lhe o amparo e a inspiração, a fim de podermos transitar com equilíbrio pelos difíceis caminhos da ascensão espiritual” (Capítulo 1 do livro Tormentos da Obsessão).

 Autoria Desconhecida
Site: Espirit Book

28 dezembro 2015

Santa Simplicidade! - Richard Simonetti


 SANTA SIMPLICIDADE!

O condenado foi conduzido ao local onde arderia em chamas, uma das mais cruéis formas de execução adotadas pelos tribunais inquisitoriais, na Idade Média. Nas proximidades, observou, admirado, a iniciativa de uma senhora. Recolhia gravetos secos e os juntava à lenha que seria usada, a fim de facilitar a combustão.

Não se contendo, exclamou:
– Ó santa simplicidade!

Essa observação é atribuída a João Huss (1369-1415), célebre teólogo e sacerdote tcheco, precursor da Reforma Protestante, injustamente condenado à fogueira por atrever-se a contestar determinados dogmas, claramente incompatíveis com a mensagem evangélica. Admirável a sua coragem. Enfrentou com serenidade as chamas, não se furtando ao comentário espirituoso.

Diga-se de passagem: deram-lhe uma última oportunidade para salvar-se da fogueira, renegando suas ideias, ao que redarguiu:

– Deus sabe que nunca ensinei ou preguei o que me tem sido atribuído por falsas testemunhas. Tenho desejado apenas uma coisa 

– a conversão dos homens. Nesta verdade do Evangelho, que tenho transmitido, quero alegremente morrer.

E deixou-se queimar, entoando cânticos de louvor a Jesus.

Postura típica dos grandes missionários. Convictos das ideias que defendem, situam-se acima das limitações de seu tempo e enfrentam o establishment sem temores ou dúvidas, dispostos ao sacrifício da própria vida, a fim de manter fidelidade aos seus princípios.

Como ocorreu com o próprio Cristo, o martírio desses heróis dispara reações em cadeia que culminam com avanços significativos em favor do progresso humano.

O aspecto curioso para o qual chamo sua atenção, amigo leitor, é a iniciativa daquela mulher. Julgava, em santa simplicidade, como destaca o mártir, cumprir piedoso dever. Literalmente, pôs-se a jogar lenha na fogueira, com a placidez de quem colhe flores num jardim.

Essa expressão define uma iniciativa frequente das pessoas, envolvendo palavras e atitudes que tendem a agravar situações complicadas. Há uma diferença significativa: Raramente têm a marca da inocência. Exprimem pura maldade, em expressões assim:

  • Tem razão em desconfiar de seu marido. Eu o vi conversando com uma loira, em atitude suspeita!
  • Sua antipatia por aquele indivíduo é justificável. Noutro dia falou mal de você!
  • Fez bem em afastar-se daquelas pessoas. São expoentes da hipocrisia!
  • Só você mesmo, para tolerar as impertinências desse seu amigo. É um neurótico!
  • Suas informações sobre nosso chefe são fichinha… Sei muito mais!
  • Se fosse comigo procurava a polícia. Botaria na cadeia esse mau-caráter que o prejudicou!
  • Não faça acordo nenhum. Cobre seus direitos, tintim por tintim!

Jesus exalta como bem-aventurados os pacificadores, em O Sermão da Montanha. Informa que serão chamados Filhos de Deus.

Todos somos frutos do amor divino, mas, para que nos habilitemos à condição de herdeiros dos patrimônios celestes, é fundamental que nos disponhamos a trabalhar com o Criador pela pacificação dos homens.

Se fizermos o contrário, não teremos nem mesmo o benefício da “simplicidade” para justificar nossas ações. Em dois mil anos de Cristianismo, estamos todos perfeitamente conscientes de que não devemos jogar lenha ou, mais modernamente, gasolina, na fogueira das dissensões humanas.

Richard Simonetti

27 dezembro 2015

"Selfies" Alienantes - Jorge Hessen

 

“SELFIES” ALIENANTES

As tecnologias pessoais, sobretudo os smartphones, revolucionaram o formato com que as pessoas se expressam no dia-a-dia na atualidade, e a selfie faz parte dessa transformação. Experimenta-se a neurose do selfie (derivada do termo inglês self (eu) junto ao sufixo “ie” – um tipo de fotografia), para indicar uma espécie de autorretrato, tradicionalmente exposto na rede social que tem contagiado a muitos, principalmente no Instagram e Facebook. O indivíduo aponta o smartphone para o próprio rosto e busca o melhor ângulo para tirar uma fotografia esmerada. Pode ser na praia, na festa, no parque, no restaurante ou em situação de alto risco de vida. A obsessão é tamanha que neste último caso chega a causar acidentes fatais.

Quando falamos em selfies aqui, os números não são nem de longe inexpressivos, ou seja, nada menos que 880 bilhões de fotos foram feitos apenas em 2014. Uma parcela relevante de auto-exposição na forma de autorretratos. Tais imagens podem camuflar ameaças, sobretudo quando as fotografias revelam uma conotação erotizante, uma posição lasciva. Obviamente a exposição de dados pessoais, informações e fotografias supostamente inocentes pode servir de matéria prima para os criminosos sempre de plantão.

Uma pessoa equilibrada, na maioria das vezes, posta selfies com imagens mais espontâneas, ao invés daquelas estrategicamente montadas e editadas. Pessoas mais invigilantes tendem a postar selfies às vezes mais erotizadas e exibicionistas, com o intuito de receber o maior número de “curtidas”, e com isso obterem uma falsa percepção de que são “amadas”. Há aqueles que fazem selfies nas academias retratando os corpos “sarados”, e se não tiverem “curtidas” e “comentários” ficam frustrados, deprimidos e ampliam os exercícios para esculturar o visual.

Pessoas que possuem pouca autoestima hipervalorizam o “olhar” do outro, ou seja, a aprovação do outro tende a ser muito importante para elas. Há alguns transtornos que podem estar associados ao comportamento descontrolado da produção de selfies, como depressão, fobia social, transtorno afetivo bipolar e transtorno dismórfico corporal (termo usado para designar a discrepância ou diferença entre aquilo que a pessoa acredita ser, em termos de imagem corporal, e aquilo que realmente é). Tais transtornos trazem prejuízos concretos à vida do indivíduo, como isolamento social, anorexia, bulimia, automutilação e até suicídio.

Neste sentido, o vício de tirar centenas de selfies não é uma prática recomendável, até porque a “auto representação seletiva” não aumenta a autoestima e nem a autoconfiança. É preciso então estabelecer limites, critérios e cuidados para evitar os excessos. 

Ademais, o que leva um indivíduo a necessitar das curtidas e compartilhamentos da rede social?

Normalmente, carências afetivas são as principais causas da necessidade de se expor, de chamar a atenção. Quando não preenchidas, comumente provocam situações psicopatológicas extremas. Há pessoas (insanas) que vão tirar selfie próximas a animais ferozes, subindo no trilho de um trem, equilibrando-se no parapeito de uma ponte, nas culminâncias das torres ou ainda nos pontos mais altos de edifícios gigantes, que aliás têm sido uma das “modas” mais perigosas dos últimos tempos, e isso tem trazido consequências graves.

Os ‘selfies’, muito comumente têm o poder de desencadear a procura descomunal por atenção e dependência social, indicativas da precária autoestima e do patético egocentrismo. Essa forma de narcisismo excessivo pode ter efeitos trágicos sobre as relações pessoais, mormente quando não há limite entre o prudente e o extravagante no contexto da autopromoção visual, obviamente se isso transformar-se em prática muito frequente.

Será que estamos exagerando no diagnóstico de uma tendência inofensiva? Ou existem efeitos colaterais sociais e psicológicos graves no horizonte? A tecnologia precisa estar a nosso favor e a benefício da sociedade. Que tal se, em vez de postar constantemente o próprio retrato, postássemos imagens com informações culturais ou compartilhássemos projetos sociais importantes? Isso sim seria muito útil à sociedade. Porém não será através da postagem de milhares de fotos de si mesmo que se estará colaborando com a melhoria da vida no planeta. É necessário construir uma sociedade menos individualista e menos egocêntrica, colaborando para que as redes sociais possam ter sobretudo uma função de contribuição para a sociedade!

O nosso avanço espiritual consiste, exclusivamente, na forma de ver a vida, e isso nada mais é do que a demonstração de uma nova visão de nós mesmos e do mundo ao nosso redor. O sentimento de inferioridade ou de baixa autoestima associa os viciados nas selfies a uma auto-exposição exagerada, a uma autonegligência ou desmazelo das coisas pessoais.

A incapacidade de avaliação do senso de autoconhecimento é também decorrência do sentimento de inferioridade, que nos remete à vivência entre “hábitos egoísticos” e a uma “hibernação dos sentimentos”. Portanto, o máximo sentido de nossa atual encarnação deve ser a conscientização da prosperidade de nosso mundo íntimo. Somos essências grandiosas à procura da perfeição relativa, cuja porta de entrada é o autodescobrimento.

Jorge Hessen

26 dezembro 2015

Os Orfãos - Leda de Almeida Rezende Ebner

 

OS ORFÃOS

Esta mensagem, de Um Espírito Protetor*, embora escrita em 1862, é atualíssima, considerando a quantidade de crianças pelas ruas, pedindo dinheiro nos semáforos e, considerando também, que órfãos hoje, não são somente as que não têm pais e mães, mas as que são consideradas carentes, que vivem nas ruas durante o dia indo para casa a noite, as abandonadas ou as que fugiram de casa, as exploradas por adultos, as que não freqüentam escolas, com pais ou sem eles...

A mensagem toda é um apelo a que os homens amem essas crianças, cuidem delas, as amparem, considerando que, se Deus permite que elas existam, pela imperfeição dos próprios homens, no respeito ao livre-arbítrio do Espírito imortal, espera que elas despertem os sentimentos bons, que todos possuem, em maior ou menor grau de desenvolvimento, amparando-as, servindo-lhes de pais.

Criança abandonada, sem a proteção da família é presa fácil de adultos inescrupulosos, que as usam para seus próprios interesses.

Criança abandonada encontra motivos para desenvolver ódio, rancor, inveja, tristeza, em relação aos homens e em relação à vida.

Criança abandonada não tem parâmetro de uma estrutura familiar, que facilite seu julgamento em relação aos fatos da vida e dos

comportamentos humanos.

Criança abandonada desenvolve a desconfiança em relação aos adultos, à vida, que abafa aquela simplicidade e confiança, que levou Jesus a dizer que os céus pertencem a quem a elas se assemelharem.

Criança abandonada, na sua curiosidade natural, sem a estrutura familiar, é, mais facilmente, atraída pelas drogas, viciando-se, e envolvendo-se nas suas conseqüências.

Criança abandonada desenvolve a esperteza, a malícia, a malandragem, na luta pela sobrevivência, não se preocupando com valores morais, considerados inadequados no meio onde vive.

Quantos adultos infratores das leis humanas e divinas, poderiam não existir, se tivessem sido amparados na infância! Quão grande é a responsabilidade da sociedade como um todo, na existência de crianças abandonadas!

Lembra o autor que, “freqüentemente, a criança que agora socorreis vos foi cara numa encarnação anterior, e se o pudésseis recordar, o que fazeis não é caridade, mas o cumprimento de um dever.”

Cita que “todo sofredor é vosso irmão e tem direito à vossa caridade. Não a essa caridade que magoa o coração, não a essa esmola que queima a mão que a recebe, pois, os vossos óbolos são freqüentemente muito amargos! Quantas vezes eles seriam recusados, se a doença e a privação não os esperassem no casebre!”

No auxiliar alguém, assim como em tudo que se faz, a maneira como se faz é que diz da verdadeira intenção de quem age.

Auxiliar criticando, sem consideração e respeito ao que pede como ser humano que é, auxiliar apressadamente, como querendo libertar-se de um dever desagradável, auxiliar impondo condições, pode amenizar a situação do auxiliado, mas, não concorre para o desenvolvimento do amor em quem assim faz e em quem recebe.

Não estabelece vínculos de simpatia, de gratidão, de afetividade, entre ambos, que é uma importante conseqüência da verdadeira caridade.

Por isso, o autor escreve “Dai com ternura, juntando ao benefício material o mais precioso de todos : uma boa palavra, uma carícia, um sorriso amigo. Evitai esse ar protetoral, que revolve a lâmina no coração que sangra, e pensai que, ao fazer o bem, trabalhais para vós e para os vossos.”

Procuremos oferecer às crianças, a toda e qualquer criança, nossos melhores sentimentos, nossos melhores pensamentos e nossas melhores ações em seu favor. Estaremos assim , contribuindo com a melhoria da humanidade em um futuro mais próximo.

Leda de Almeida Rezende Ebner
* Evangelho Segundo o Espíritismo - Allan Kardec - Capitulo XIII - Item IV
Tradução José Herculano Pires

 

25 dezembro 2015

O verdadeiro sentido do Natal para o Espírita



O VERDADEIRO SENTIDO DO NATAL PARA O ESPÍRITA


O Natal para o Espírita representa a comemoração do aniversário de Jesus.

O dono da festa é o Mestre, quem deve receber os presentes e as homenagens é o aniversariante e não nós. O aniversariante tem os seus convidados que são os pobres, os deserdados, os coxos, os estropiados, os sofredores, etc...

Será que realmente somos convidados do Cristo nessa festa?

Qual o presente que deveremos lhe oferecer?

O que Ele gostaria de receber?

Sabemos que o que Ele mais quer é que cumpramos a vontade de Deus, Nosso Pai. E todos os dias renovamos os nossos compromissos no "Pai Nosso", dizendo: "Seja feita a Vossa vontade"

Será que estamos fazendo a nossa parte?

Será que estamos nessa festa ou fomos barrados?

A maioria de nós, mesmo espíritas, ainda vemos o Natal como uma festa de consumo, reforçando o culto ao materialismo e à materialidade, trocando presentes entre si, quando, em verdade, não somos os homenageados, nem a festa é nossa... Será que o Cristo se sente feliz com isso?

A nossa reverência ao Cristo deve ser em Espírito e Verdade apenas, buscando somente materializar a Vontade do Pai que está em todo o Evangelho.

E como deve ser essa comemoração?

Com uma prece, uma reflexão sobre os objetivos alcançados, com uma análise crítica interior onde possamos verificar se os compromissos assumidos antes do reencarne estão sendo cumpridos, porque o único e maior objetivo que temos na presente existência é de edificar em nós o Bem.

Para esse desiderato, acertamos de forma pessoal e intransferível com o Cristo, um mandato de renovação. Nosso compromisso é o de nos conhecermos melhor, conformando nossa vida com a Vontade de Deus, de nos reformarmos intimamente e nos tornarmos homens e mulheres de Bem, edificando dentro de nós o Belo, o Bem e a Justiça.

Infelizmente, papai Noel ainda é mais importante que o Cristo. O Cristo ainda se encontra desvalorizado e esquecido dentro de nós. Nossas mesas estão fartas e se fala muito de solidariedade, mas não se tem sensibilidade ainda com a dor alheia.

Nos falta consciência, falamos muito, mas ainda não sentimos a fraternidade pulsar o coração. Estamos reféns e prisioneiros das aparências, do materialismo, dos cultos exteriores, do consumismo, colocando em segundo lugar o Reino do Espírito, o Reino de Deus.

Os interesses espirituais ainda não tem vez nem voz em nossos corações.

Qual o verdadeiro sentido do Natal? Deve ser o de auto-conscientização, buscando a comunhão com os valores do Bem, ligados aos interesses do Espírito e da vida imortal, porque a Terra, para os encarnados, é apenas um curso de pequena duração e ninguém fica na Escola a existência inteira, um dia voltamos para Casa para avaliar os deveres realizados. O que nos atrai não são as boas idéias, mas os interesses. A Doutrina do Cristo, cheia de boas idéias, está conosco a mais de dois mil anos e não mudamos o suficiente. infelizmente, ainda não fomos atraídos por esses ideais. Mas a medida que evoluímos pelo estudo, pelo amor e pela dor, mudam os nossos interesses e vamos crescendo;

Quanto mais sepultamos as nossas vaidades, o nosso orgulho e o nosso egoísmo, mais somos atraídos pela luz do Cristo e nos tornamos felizes.

O que representa a Estrela de Belém para os Espíritas: representa a Luz Protetora dos Planos Superiores, resumindo uma Infinidade de Espíritos Luminares que vieram assistir e dar o suporte ao Cristo em sua tarefa de orientação e exemplos para todos nós.

Será que lembramos dos companheiros que estão nas zonas umbralinas no Natal? Como se sentem esses Irmãos? A espiritualidade nos ensina, pelas penas de Chico Xavier, que alguns nem sabem dessa data ou comemoração. Outros, que se encontram em situações melhores, sentem-se extremamente tristes por estarem afastados dos seus familiares; outros ainda vivem refletindo e lamentando as oportunidades perdidas e sofrendo a dor da saudade e da separação em razão da resistência e da rebeldia em não aceitar o processo de mudança e transformação no caminho do Bem.

A falta de Reforma íntima nos afasta de quem amamos.

Muitos filhos, maridos, esposas, demoram a encontrar-se na erraticidade, em razão do mau direcionamento do livre arbítrio, tendo em vista seus investimentos no mundo material, nas fantasias, nas ilusões, em detrimento do sentido real da própria existência. A fuga no enfrentamento dos desafios ou o desprezo de buscar a prática das lições do bem nos causa muita dor moral.

NATAL é isso aí, renovação permanente.

Todo segundo é hora de mudar para melhor, Amando, Servido e passando nesta vida com trabalho no Bem, na Solidariedade, na Tolerância, com muita Fraternidade.

E então? Vamos pensar nisso?


24 dezembro 2015

A Prevenção da Depressão de Natal à Luz do Espiritismo - Ercília Zilli


A PREVENÇÃO DA DEPRESSÃO DE NATAL À LUZ DO ESPIRITISMO

As festas natalinas e os dias que as antecedem, para muitas pessoas pode ser uma época triste, que vem acompanhada por sentimentos de solidão, desamparo e desânimo, onde são tomadas por uma angústia e uma tristeza aparentemente sem motivo. Uma melancolia crescente que chega a incomodar, sintomas que se assemelham a um quadro depressivo. Essa condição é chamada Depressão de Natal ou “Christmas Blues”.

Mas o que é a Depressão de Natal? Por que isso ocorre? Como a luz do conhecimento espírita pode ajudar em sua prevenção? 

A psicóloga Ercília Zilli, fundadora da ABRAPE – Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas e comunicadora da Rádio Boa Nova, fala sobre a depressão de natal e a sua prevenção à luz do Espiritismo.

O que é depressão? Ercilia Zilli: A palavra depressão tem a sua origem no latim deprimire e significa prensar de alto a baixo, comprimir. A depressão, bem como os transtornos mentais são preocupações que datam de 2.600 AC.

Hipócrates (460-370 a.C.), o pai da medicina e seus discípulos, foram os primeiros a falar sobre “melancolia”, descrevendo um conjunto de sintomas próximo do atual conceito de depressão.

A depressão é um estado patológico de sofrimento psíquico com gravidade de ânimo, tristeza, sentimento de menos valia e sensação de impotência para trabalhar e pensar. Pode ser causada por traumas emocionais, envelhecimento, ou ser conseqüência de uma predisposição genética.

A depressão surge a partir de uma alteração na comunicação entre as células cerebrais, que são os neurônios, realizada, principalmente, por dois neurotransmissores: a serotonina e a noradrenalina. Quando os níveis desses neurotransmissores se desequilibram, causam alterações químicas e fisiológicas.

O que os especialistas chamam de depressão, é algo muito mais grave do que sentir-se triste, eventualmente, pois o indivíduo não consegue ter controle sobre o seu estado emocional.

E a depressão de Natal?
Ercilia Zilli: Como vimos, a depressão é resultado de alguma pressão e o Natal tem um profundo significado de união, amor e trocas afetivas. Portanto, pode ser ocasião de percepção de solidão, sensação de não ser amado, carências afetivas, entre outras, conscientes ou inconscientes, reconhecidas ou não. A obrigação de sorrir, de perdoar e de ser fraterno pode não ser compatível com os sentimentos de uma pessoa nessa época do ano, fazendo com que ela se sinta falsa e inadequada.

Quais são os principais sintomas da depressão?
Ercilia Zilli: A depressão é uma doença que se caracteriza por um estado de humor deprimido, no qual a pessoa fica angustiada, profundamente triste, entediada, e, às vezes, indiferente a estímulos. Como os sentimentos são embotados e confusos, o indivíduo não demonstra afetividade em relação às pessoas que o cercam. As atividades cotidianas parecem não ter significado e mesmo aquelas mais simples, demandam um grande esforço.

Os sintomas mais frequentes são a sensação de vazio, tristeza, choro, irritabilidade, pressão no peito, ansiedade, perda ou ganho de peso significativos, insônia ou hipersonia, agitação ou retardo motor, dores de estômago, nas costas e espalhadas pelo corpo. Dores de cabeça, redução da libido, falta de concentração, indecisão, sentimento de culpa e aparente perda do amor pela família, são queixas muito relatadas. O desejo de morrer pode acontecer, resultando numa tentativa de suicídio. O indivíduo deixa de ter a percepção do outro e fecha-se em si mesmo e a vida parece totalmente desinteressante, da mesma forma que os familiares, amigos, passeios, hobbies e sexo.

Existem maneiras de lidar com a depressão de Natal?
Ercilia Zilli: A maneira de lidar com a depressão de Natal é a mesma que para outros tipos de depressão. O diagnóstico precisa ser realizado por profissionais especializados, bem como o tratamento. Nenhuma depressão pode ser banalizada e, se necessário, é importante tomar medicação apropriada. A solução, no entanto, é o autoconhecimento e um novo posicionamento diante de si próprio e da vida. Em algum momento, a pessoa vai precisar se olhar com coragem, reconhecer as suas carências e necessidades, entender o que está acontecendo e buscar a solução através de uma nova forma de pensar e agir. A psicoterapia é de grande valia nesse processo e a sua função é ajudar o paciente a entender o seu quadro, buscar e analisar fatos da sua vida que possam ter contribuído para o surgimento da depressão, fortalecer e potencializar esse indivíduo para que ele possa reassumir a direção de sua vida, realizar escolhas, elaborar perdas, vencer medos e fantasias e buscar o eixo da sua existência.

Quais são as principais razões para que a depressão cresça a cada ano?
Ercilia Zilli: A depressão sempre existiu, porém hoje, temos mais conhecimento para entender melhor esse transtorno. Também está deixando de ser tabu reconhecer o problema, buscar tratamento adequado e falar sobre esse tema. A vida moderna, agitada, apressada, competitiva, vai quebrando vínculos e afogando afetos. A depressão é uma manifestação de imaturidade emocional, aliada a outros fatores. Com o acúmulo de cobranças externas e internas, é possível que o indivíduo não tenha equilíbrio para fazer as escolhas mais coerentes com o que sente. Vai se sobrecarregando, se estressando e, quando não da conta, sente-se fracassado.

Na época das festas de final de ano aumenta a busca por psicoterapia?
Ercliia Zilli: É inevitável que se faça um balanço no final do ano, com revisão dos acontecimentos e das metas estabelecidas anteriormente. Nem sempre alcançamos o sucesso almejado no início do ano, portanto, é importante que as metas estabelecidas sejam viáveis, caso contrário, estaremos plantando decepções, frustrações. Por vezes, é alcançado um bom resultado nesse balanço, mas sabemos que o bom é inimigo do ótimo. Se não for, ótimo é frustrante. Quando estabelecemos uma meta, fazendo um projeto de vida, é importante sabermos que correções de rota terão que ser feitas, bem como adequações diante de fatos novos. Na minha experiência clínica, é comum a busca de psicoterapia no começo do ano, parte do projeto de uma “nova vida”. O objetivo do tratamento psicológico é “trazer para hoje” a emoção e o entendimento de algo que aconteceu no passado próximo ou distante. Um autor muito querido dizia que “a neurose é uma mentira esquecida, na qual ainda acreditamos”.

Algumas pesquisas dizem que o período entre o Natal e o Ano Novo é o que apresenta o maior número de suicídios. Esse fato é real?
Ercilia Zilli: Faltam dados conclusivos para que possamos afirmar que aumenta o número de suicídios entre o Natal e o Ano Novo, mas podemos, sim, dizer que muitas pessoas se sentem deprimidas pelo inevitável olhar para dentro de si próprio nessa época do ano. É comum a saudade de pessoas que já desencarnaram e a falta de formação religiosa leva a uma grande sensação de perda.O distanciamento do objetivo da celebração do Natal, que é a vinda de Jesus ao plano material, contribui para uma grande perda de significado. A figura que mais se vê é a do Papai Noel, e lamentavelmente, não celebramos Jesus. O simbolismo dos presentes que Jesus teria recebido foi substituído pelo consumismo desenfreado.

Como a luz do conhecimento espírita pode ajudar no combate à depressão?
Ercilia Zilli: O conhecimento do espiritismo e os tratamentos espirituais podem ser extremamente importantes no tratamento da depressão. Saber que não estamos abandonados e condenados a um eterno sofrimento, mas no caminho do crescimento espiritual, nos leva a entender as provas que passamos, faz uma grande diferença. Reconhecer que a mente em desequilíbrio é porta aberta a influencia espiritual negativa, leva o ser humano a reconhecer o que é seu e o que não é da sua mente, bem como a uma busca de equilíbrio de pensamentos e ações. Os resultados dos tratamentos combinados: psicoterapia + medicação (quando necessária) e tratamento espiritual são excelentes. A conscientização de uma pessoa quanto ao fato dela ser um espírito em busca de evolução, juntamente com o autoconhecimento propiciado pela psicoterapia, faz uma enorme diferença quando ela se defronta com alguma frustração, decepção ou perda.Muitas vezes, um ego imaturo se frustra com facilidade, porque acha que a vida deve corresponder às suas expectativas infantis. Com o amadurecimento, o indivíduo pára de brigar com a vida e passa a buscar o entendimento e a ação produtiva correspondente. A fé transformadora é luz que clareia os nossos territórios íntimos.

Para saber mais sobre o assunto:

Leia: O Espírito em Terapia – Ercília Zilli – Mundo Maior Editora.

23 dezembro 2015

O sono e a vampirização sexual - Morel Felipe Wilkon


O SONO E A VAMPIRIZAÇÃO SEXUAL

Para onde você vai quando está dormindo? Você sabia que enquanto seu corpo físico repousa você continua em atividade? Você é espírito imortal. Você é um espírito encarnado, revestido dum corpo físico que dificulta seu acesso ao plano astral. O corpo físico só permite experiências com o plano físico.

Quando você dorme, o corpo físico fica deitado, repousando, enquanto você, muitas vezes, aproveita essa liberdade provisória para fazer coisas que normalmente não se permite. Hoje vem se tornando cada vez mais comum o fenômeno da projeção consciente. Em tese, qualquer pessoa pode treinar e desenvolver a capacidade de se manter lúcido enquanto o corpo físico repousa. Nesse caso, a consciência acompanha o corpo astral (ou perispírito).

Mas a projeção acontece quase sempre. Para nos projetarmos, ou seja, para atuarmos com o corpo astral, não precisamos estar conscientes disso. A maioria de nossos sonhos se trata de experiências no plano astral. Como o cérebro físico não participa dessas experiências, já que o corpo físico está dormindo, as lembranças que temos dos sonhos são confusas, dispersas e quase sempre sem nexo.

V Muitas pessoas mantêm durante o período de sono as mesmas atividades rotineiras. Agem como zumbis. Mas quero abordar o caso de quem se aproveita (inconscientemente) desses momentos de relativa liberdade, para praticar coisas que aqui no plano físico são inviáveis. Inviáveis por não estarem ao alcance ou por serem contra a lei, contra a moral, contra as conveniências.

A literatura espírita nos mostra, e é algo que eu pude constatar pela observação e experiência, que grande parte dos encarnados vai em busca de prazeres quando projetados. O sexo é, disparado, o maior atrativo para esses festeiros. Mas também é comum a procura por vícios de toda espécie; como álcool, drogas, jogo, negócios escusos. Inimigos se encontram para brigar, criminosos voltam ao local do crime, ladrões roubam, fofoqueiros fazem intrigas, invejosos sabotam, rancorosos praticam vinganças.

Leitura pesada, né? Prefiro tratar de assuntos mais leves, mas há verdades que não podemos ignorar. Dorme-se grande parte da vida. 

É muito tempo. Esse tempo não pode simplesmente fugir ao nosso controle. Mas como controlar? Isso é quase óbvio. Nossas atividades astrais seguem o padrão de nossos pensamentos no estado de vigília. O que pensamos durante o tempo inteiro, quando acordados, determina o lugar para onde vamos e as companhias que teremos durante o período de sono.

Por isso a atração quase irresistível que o sexo provoca nos encarnados desdobrados do corpo físico. O apelo sexual está ativo como nunca. Nunca se teve acesso tão fácil à pornografia como hoje. Pesquisas têm apontado para o fato de que a quase totalidade dos homens com acesso à internet consome pornografia. Fora a internet, o erotismo está na televisão, para quem quiser ver. Estou parecendo puritano? Sou tão humano quanto você que está lendo. Mas não podemos nos acostumar a isso e pensar que a busca por pornografia é normal.

O desejo sexual descontrolado envolve hormônios, emoções, imaginação, fantasias e fraquezas de todo gênero. Tudo o que você coíbe durante a vida de relação, quando está acordado, você libera durante o período do sono físico. Você acha que quem consome pornografia faz isso sozinho? Os espíritos estão por toda parte, lembra? Por que você acha que deixariam você só nessas horas? Talvez para respeitar sua privacidade!? Seria muita ingenuidade pensar assim.

Há verdadeiras redes no astral inferior (ou umbral) especializadas em sexo sujo. Essas redes têm sua contraparte física aqui. Você ainda não se deu conta do poder e alcance da internet como rede conectora de mentes e pensamentos? Pois se é assim para as amizades virtuais, também funciona assim com os sites pornográficos. Seus frequentadores logo fazem “amizades” espirituais que os aguardam à hora do sono. Tão logo adormecem, esses frequentadores são recepcionados por seus iguais, ansiosos por lhes vampirizarem as energias.

Não existe truque para escapar a isso. Apenas o controle sobre os pensamentos, palavras e ações. Você sabe o que é o certo. Você está no domínio. Você escolhe.


Morel Felipe Wilkon

22 dezembro 2015

Visitas espíritas entre pessoas vivas - Christiano Torchi


VISITAS ESPÍRITAS ENTRE PESSOAS VIVAS

O tema “visitas espíritas entre pessoas vivas” é uma sequência do estudo sobre “o sono e os sonhos”, encartado no cap. VIII da 2a parte de O Livro dos Espíritos, sob o título “Da Emancipação da Alma”. O sono ocorre quando a alma ou Espírito se desdobraou sai do corpo físico. Já os sonhos constituem as lembranças mais ou menos nítidas de fatos ocorridos durante o sono, período em que o Espírito, frequentemente, entra em contato com outros seres.

Os princípios analisados sob o título “o sono e os sonhos” se aplicam ao presente estudo, com a diferença de que, neste, o intercâmbio se dá entre os chamados “vivos”, isto é, entre encarnados.

Existe outra variedade do fenômeno, menos frequente, em que o Espírito encarnado, durante o próprio sono, visita outro encarnadoacordado, podendo o visitante ser ou não visto pelo visitado. No caso de o visitante tornar-se visível ao visitado, o fenômeno é designado como “bilocação” ou “bicorporeidade” espécie do gênero “ubiquidade”, que é a faculdade de estar presente em todos os lugares ao mesmo tempo, na acepção do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

Sendo o Espírito uma unidade indivisível, a ele é impossível estar em dois ou mais lugares simultaneamente, contudo, esta indivisibilidade não o impede de irradiar seus pensamentos para diversos lados e poder assim manifestar-se em muitos pontos, sem se haver fracionado, como acontece com a luz, que esparrama seus raios à sua volta. Contudo, nem todos os Espíritos irradiam com a mesma potência. A capacidade de irradiação está diretamente ligada ao desenvolvimento de cada um.

Uma pessoa, encontrando-se adormecida, ou num estado de êxtase leve ou profundo, pode, em Espírito, semidesligado do corpo, aparecer, falar e mesmo tornar-se tangível a outras pessoas. E, de fato, poder-se-á comprovar que estava em dois lugares ao mesmo tempo. Só que em um lugar estava o corpo físico, noutro o Espírito revestido pelo seu perispírito, momentaneamente visível e tangível.

A bicorporeidade, embora seja um acontecimento importante, tem sido ignorada por muitos, como se fosse, sempre, produto da imaginação, impressão que é reforçada pelo fato de que, na maioria das vezes, pouca ou nenhuma lembrança guardamos do que se passa durante o desdobramento, como elucida Gabriel Delanne. Isso demonstra o quanto desconhecemos a própria natureza espiritual e os nossos potenciais.

Segundo o Espírito André Luiz, em obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier, ainda temos muitas dificuldades de compreender os mecanismos das alterações da cor, densidade, forma, locomoção e ubiquidade do corpo espiritual (perispírito), por não dispormos, na Terra, de mais avançadas noções acerca da mecânica do pensamento.

Kardec explica como se dá a bicorporeidade, concluindo que, por mais extraordinário seja, tal evento, como todos os outros, se enquadra na ordem dos fenômenos naturais, pois decorre das propriedades do perispírito.

Indicamos para consulta o terceiro volume da RevistaEspírita – Jornal de Estudos Psicológicos, março de 1860, editada pela FEB, no qual desponta uma experiência realizada por Kardec, promovida com um encarnado (Dr. Vignal), membro da Sociedade Parisiense de Estudos Psíquicos, que foi invocado durante o sono, de cujo exemplar colhemos interessantes observações comparativas entre as sensações de um “vivo” e de “um morto”, sobre as suas faculdades de ver, ouvir e perceber as coisas, entre outras informações importantes.

Excetuando-se a bicorporeidade, assim como a visita entre encarnados e desencarnados, o encontro de pessoas encarnadas durante o sono é também um fato bem corriqueiro, do qual nem sempre nos damos conta, como vimos, devido à amnésia após o despertamento do sono.

Gustave Geley (1865-1924), cientista renomado, ex-diretor do Instituto Metapsíquico de Paris, médico em Nanci, com base em suas incansáveis pesquisas, assim conceituou morte e vida, fenômenos intrinsecamente ligados ao tema ora em estudo:

“A desencarnação é um processo de síntese, síntese orgânica e síntese psíquica.

v A encarnação é um processo de análise. É a subdivisão da consciência em faculdades diversas, e do sentido único em sentidos múltiplos, para facilitar seu exercício e conduzir seu desenvolvimento.”

As circunstâncias que levam os Espíritos a se buscarem durante o sono é algo semelhante ao que se dá na Terra, quando temos vontade de visitar nossos familiares, parentes e amigos, com a diferença de que, nos encontros espirituais, estamos despojados da máscara do corpo de carne e, de certa forma, despojados dos papéis provisoriamente executados na vida de relação social.

No estado do sono, o Espírito fica preso ao corpo por uma espécie de fio condutor ou filamento, designado por Kardec como “rastro luminoso ou “laço fluídico”,por C por meio do qual passam as impressões e as vontades da alma até o cérebro do encarnado. O mesmo processo se dá nas outras formas de desdobramento, conscientes ou não, como no caso, por exemplo, dos fenômenos mediúnicos, em que o médium empresta seu organismo físico para as entidades se comunicarem por meio da fala (psicofonia) ou pela escrita (psicografia). Portanto, os Espíritos que não apresentam esse laço ou cordão fluídico estão desencarnados.

Há vários relatos na literatura espírita sobre a visita entre pessoas vivas, durante o sono ou desdobramento, como, por exemplo, nos episódios narrados por Kardec em O Livro dos Médiuns, em especialo caso dos “Santos” Afonso e Antonio de Pádua.

Estes dois últimos foramretirados, como diz Kardec, não das lendas populares, mas da história eclesiástica:

“Santo Afonso de Liguori foi canonizado antes do tempo prescrito, por se haver mostrado simultaneamente em dois sítios diversos, o que passou por milagre.

SantoAntônio de Pádua estava pregando na Itália, quando seu pai, em Lisboa, ia ser supliciado, sob a acusação de haver cometido um assassínio. No momento da execução, Santo Antônio aparece e demonstra a inocência do acusado. Comprovou-se que, naquele instante, Santo Antônio pregava na Itália, na cidade de Pádua.”

No homem, a vida se apresenta como se fosse uma moeda de duas faces: a do corpo e a da alma, duas fases de uma só existência. Na primeira, o Espírito está constrangido pelo esquecimento em virtude dos laços carnais, sendo que a influência da matéria é tão grande que, muitas vezes, nem se dá conta de que é um Espírito imortal. Na segunda, vendo-se livre dos laços físicos, as faculdades do Espírito ampliam-se e, conforme o caso, ele pode ajuizar um pouco melhor da sua situação de ser imortal, circunstância que influi grandemente nas suas decisões, durante a vigília.

Comoa primazia é da alma, por preexistir e sobreviver a tudo, o Espírito, durante a encarnação, se sente um “prisioneiro” ou “exilado” no organismo físico, razão pela qual aproveita todas as brechas ou os momentos de desprendimento, para se retemperar no mundo espiritual, onde se encontra com os seus semelhantes, para os quais é atraído por afinidades e por interesses acalentados em seu íntimo, de acordo com o seu estágio evolutivo.

Aqueleque se deu conta desta realidade, antes de se entregar ao repouso noturno, procure fazer uma prece, de modo a ter um repouso tranquilo, oportunidade em que poderá, nesses instantes de liberdade, haurir forças e consolo para continuar lutando pelo próprio progresso, “e, ao despertar, sentir-se-á mais forte contra o mal, mais corajoso diante da adversidade”.


Por Christiano Torchi
Artigo publicado na Revista Reformador n. 2.154, setembro de 2008, págs. 18-20 

21 dezembro 2015

Você também sofre de “amnésia moral”? Ética não é cosmética…Corrupção - Espiritualidade - Fernando Ferragino

 
 
VOCÊ TAMBÉM SOFRE DE "AMNÉSIA MORAL"?
ÉTICA NÃO É COSMÉTICA...CORRUPÇÃO - ESPIRITUALIDADE


Mensalão, fraude do ISS, fraude dos trens, máfia dos fiscais, sanguessugas, anões do orçamento, fraude da previdência, dinheiro na cueca… a nossa capacidade para produzir escândalos de corrupção só perde para a forma sempre criativa com que a Polícia Federal utiliza para nomear as operações de combate às quadrilhas formadas por empresários e políticos corruptos. É só ver ou ler o jornal para se deparar, a cada dia, com novos casos de desvios de dinheiro. É triste dizer, mas já virou parte da paisagem, do “jeitinho brasileiro” de fazer as coisas acontecerem… Tanto na esfera pública, como na esfera privada (os dois lados se retroalimentam). 

Ainda assim, alguns, ou a maioria (assim prefiro acreditar!) fica indignada ao se deparar com novos casos de propina e roubo de verbas públicas. Neste momento, com o dedo em riste, apontamos culpados e exigimos justiça. A questão, entretanto, é: será que nós (mesmo os que ficam indignados) somos tão éticos assim? Ou será que sofremos da mesma “amnésia moral” que acomete grande parte da classe política deste país?

Esta falha ou distorção no capital moral das pessoas atenua dilemas e problemas de acordo com a percepção daquilo que é bom única e exclusivamente para mim, de tal forma que uma transgressão a uma regra vale para todo mundo, menos para mim (isto ajuda a explicar porque algumas leis “pegam” no Brasil, ao passo que outras não). 

Esta mesma amnésia moral é endêmica e encontra-se há muito tempo enraizada na cultura do brasileiro. É onde nasce o notório “jeitinho brasileiro” para solução de problemas, ou aquilo que na gíria popular dos anos 70 e 80 convencionou-se chamar de Lei de Gérson.

Para quem não se lembra ou não viveu na década de 70, segue a explicação: em 1976, o jogador de futebol da Seleção Brasileira Gérson – uma das estrelas da conquista do tricampeonato da Copa do Mundo disputada no México, em 1970, ao lado de Pelé – estrelou uma propaganda de cigarros, onde vaticinava: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também”. A propaganda ganhou repercussão nacional e cunhou a expressão da “lei da vantagem”, do “mais esperto”. Triste mesmo foi constatar, conforme as décadas seguintes mostraram depois, que muitos empresários e, principalmente, políticos brasileiros, adotaram o lema de Gérson como prática sine qua non para a obtenção de sucesso na vida.

A Lei de Gérson ilustra de maneira exemplar o conceito de amnésia moral. Tal comportamento está presente todas as vezes que furamos uma fila, cruzamos o semáforo vermelho, estacionamos em local proibido, fazemos “gato”, sonegamos imposto, nos apropriamos de algo indevido e enganamos o outro sempre em benefício próprio. 

Quando situações como estas acontecem no cotidiano, a amnésia moral faz com que não nos sintamos culpados ou arrependidos pelo nosso deslize moral. Pelo contrário, nos sentimos em vantagem, “espertos”, e ainda estufamos o peito com satisfação ao contar o episódio aos amigos. Confundimos transgressão com virtude. E tachamos de “trouxa” as pessoas éticas, que seguem as regras.

A culpa é do vizinho


A ironia da situação é que a pessoa com amnésia moral normalmente nunca se julga corrupta, mas consegue estabelecer um senso moral quando se trata de apontar o dedo para as falhas morais na conduta dos outros. Nós sempre tendemos a ter uma imagem supervalorizada de nós mesmos. Afinal, é muito mais fácil enxergar os defeitos nos outros do que em nós mesmos.

Uma ampla pesquisa realizada pelo jornal “Folha de S.Paulo” em agosto de 2009 confirma essa tendência. Após entrevistar 2.122 pessoas em 150 municípios de 25 estados brasileiros, o jornal conseguiu estabelecer um retrato da ética no Brasil. O que eles descobriram? Que o brasileiro, de forma geral, possui um senso moral e ético equivalente ao encontrado em países considerados exemplares (como Suécia e Noruega), mas paradoxalmente, se vê cercado de corrupção, como se não tivesse participação alguma na prática de atos, no mínimo, questionáveis.

Quer um exemplo? Entre os entrevistados, 94% declararam ser errado oferecer propinas ou vender votos. No entanto, 79% disseram que os brasileiros vendem voto e 13% admitiram ter trocado votos por emprego, dinheiro ou presente. No mínimo, incoerente. Se transpusermos este percentual da amostra pesquisada para o universo total de eleitores no país, podemos supor que mais de 17 milhões de brasileiros vendem ou já venderam alguma vez seu voto em troca de alguma benesse. Um dado alarmante!

Ainda contradizendo o alto senso moral individual:

– 33% dos entrevistados concordaram com a ideia de que não é possível fazer política sem um pouco de corrupção,
– 13% afirmaram que receberam pedidos de propina (36% destes pagaram a propina),
– 31% colaram em provas ou concursos,
– 27% receberam troco a mais e não devolveram,
– 26% admitiram passar no sinal vermelho,
– 2% compraram carteira de motorista,
– 68% compraram produtos piratas,
– 27% fizeram download de música sem pagar,
– 18% compraram ingressos de cambistas,
– 15% fizeram download ilegal de filmes.


Em suma, 83% dos entrevistados admitiram ter praticado ao menos um ato ilegal. É curioso notar que entre a população mais rica e com estudo, o percentual de infrações foi maior – 97% dos que ganham mais de 10 salários mínimos disseram que cometeram infrações contra 76% dos mais pobres. Apesar disso, 74% dos brasileiros dizem sempre obedecer à lei, mesmo que isso signifique perder oportunidades, 76% afirmam discordar da frase “se quero ganhar dinheiro, nem sempre posso ser honesto”, e 56% acreditam que os outros tentariam tirar proveito deles, caso tivessem chance.

Vários fatores ajudam a explicar esta contradição, ou amnésia moral. Em primeiro lugar, a falta de um modelo idôneo e ético por parte das autoridades políticas que comandam o país (o exemplo vem sempre de cima!). A partir do momento em que a população assiste diariamente ao surgimento e à banalização de infindáveis casos de corrupção entre a classe política, ela também se vê no direito de “tirar a sua lasca”, afinal, “se eles podem, por que eu não?”.

Outra raiz para este comportamento negativo reside justamente na maneira como enxergamos as outras pessoas, algo conhecido como “visão de alteridade” – a capacidade de ver ou perceber o outro como uma pessoa igual a mim. A grande falha de caráter que nos impele a adotar condutas questionáveis, que prejudicam outras pessoas em detrimento de um benefício próprio, está enraizada no fato de que estamos habituados a enxergar os outros como estranhos, como se as outras pessoas pertencessem a uma raça alienígena, sem conexão alguma com a natureza e o propósito de vida humano. Ao ver o quadro limitado desta forma, não me importo em causar danos ou prejudicar os outros. Isto não me afeta, uma vez que não me percebo como igual ao outro. Desta forma, a culpa nunca é minha, é sempre do “outro”! Este pensamento distorcido e alienado permite às empresas e empresários selar acordos antiéticos e adotar condutas que trazem enorme prejuízo aos concorrentes, aos funcionários, ao meio ambiente e à sociedade como um todo. Quando a única coisa que me move é a garantia dos meus interesses, tudo vale para atingir meus objetivos, nem que eu precise passar por cima do outro. Afinal, nesta situação, enxergo o outro como um “estranho” e não como um “igual”.

“Só é possível falar numa ética que promova a vida digna coletiva se eu for capaz de olhar o outro como outro, e não como estranho.”  - Mario Sergio Cortella

Fé na prática


A espiritualidade está intimamente ligada aos princípios éticos que uma pessoa constrói e à consciência moral que ela desenvolve e pratica ao longo da vida. E justamente o maior campo de testes para nossos valores éticos e morais acontece diariamente no local de trabalho. Não é dentro da igreja ou de um templo que eu afirmo minha fé e minhas crenças em Deus ou no divino, mas toda vez que consigo superar os obstáculos e dilemas morais que se sobrepõem a minha frente com dignidade, honestidade e compaixão pelo outro. Aí reside o verdadeiro desafio da fé. Na forma como lido com os problemas no dia-a-dia da empresa e na relação que mantenho com minha família e meus amigos. 

Não adianta nada fazer mil orações a Deus, se não pratico a bondade e os valores espirituais positivos da minha religião no cotidiano. Se não consigo exercer a comunhão verdadeira com meu vizinho. Esta é a verdadeira comunhão com Deus. Esta noção de lealdade e honestidade, antes de tudo com nós mesmos, revela minha espiritualidade e o estágio da minha consciência moral, que me impele a fazer escolhas conscientes com karma positivo para todos a minha volta. A consciência da nossa relação de interdependência no mundo necessariamente nos impõe a responsabilidade de que nossas ações têm impacto direto ou indireto sobre a vida das outras pessoas, sejam elas colegas de trabalho, familiares, consumidores dos produtos que vendo ou clientes de um serviço que realizo. Cabe à ética justamente o papel de garantir, na condição de juiz de valor da minha consciência moral, que meus atos não prejudiquem ou interfiram de maneira negativa na felicidade das outras pessoas. Atos éticos e espirituais caminham lado a lado. Ao objetivar a felicidade de outras pessoas, estes atos e intenções nos beneficiam também e dão sentido às nossas vidas.

“Tudo me é permitido, mas nem tudo convém”


Ética é o conjunto de princípios e valores de conduta que orientam uma pessoa ou organização no momento de tomar uma decisão, julgar e avaliar um cenário ou negócio. Quando a empresa diz ser ética, ela está dizendo em outras palavras que não compactua com qualquer tipo de negócio que possa ferir seus princípios. Ao se comprometer com isto, a empresa sinaliza que à frente de suas relações comerciais e do lucro estão os seus valores. Isto significa que esta mesma empresa pode vir a perder uma excelente oportunidade de negócios que traga rendimentos fabulosos imediatos à organização, caso esta relação comercial, de alguma maneira, macule seus princípios éticos. Ou pelo menos deveria ser assim…

O significado da ética remonta à origem da palavra, do grego ethos, cujo significado é “morada do humano”. “Ethos é o lugar onde habitamos, é a nossa casa. ‘Nesta casa não se faz isso, ‘nesta casa não se admite tal coisa’”, explica Mario Sergio Cortella. Mais do que isto, na visão do filósofo, a ética tem uma importância crucial ao traçar a fronteira daquilo que nos difere dos animais, aos nos propiciar a liberdade de escolha, o nosso “livre arbítrio”. Este livre arbítrio me dá o poder de fazer tudo o que minha consciência desejar, mas me impõem consequências (olha o karma de novo) às minhas ações e intenções. Poder e direito são coisas diferentes! Como Paulo define na Bíblia (I Co.6.12), “tudo me é permitido, mas nem tudo convém”.

As três peneiras: Quero? Devo? Posso?


Enquanto a ética transita na esfera abstrata dos princípios, a moral se traduz em ação e se desdobra nas diversas maneiras que utilizo para aplicar estes princípios na prática. Enquanto a ética determina princípios que devem ser adotados e compartilhados por um grupo de pessoas, a moral é individual, ou seja, é determinada pelo meu capital moral, ou melhor, pela minha conduta particular a responder a um determinado acontecimento ou circunstância. Para Cortella, nossa moral é colocada à prova nas situações em que precisamos responder a três perguntas essenciais da vida: “Quero? Devo? Posso?”. 

Nossas respostas a estas três simples questões determinam o grau do nosso capital ou inteligência moral e revelam o código ético que conduz nossas vidas. Por exemplo, se trabalho no departamento de compras de uma empresa e um de meus fornecedores me oferece propina para que eu o escolha entre os demais concorrentes, logo as três perguntas se apresentam à minha frente:

– Eu quero o dinheiro que me está sendo oferecido? – Preciso realmente deste dinheiro e vou conseguir conviver em paz com minha decisão? Este dinheiro me proporcionará um sono tranquilo quando deitar minha cabeça no travesseiro à noite? É preciso ficar claro que mesmo nos casos quando faço algo a contragosto, porque recebo ordens de alguém (“ou aceitava o dinheiro ou estava na rua, porque lá na empresa as coisas sempre funcionaram assim”), ainda assim, faço porque quero, afinal, sempre temos uma escolha na vida: a escolha de dizer não!

– Devo aceitar o dinheiro? – Devo me “vender” desta maneira? De alguma maneira, esta conduta contraria a minha ética, me ofende e é uma afronta aos meus valores morais?

– Posso aceitar o dinheiro? Existe algum código ético que me impeça de receber o dinheiro? Minha empresa, meu chefe e os acionistas compactuam com este tipo de atitude? E eu, me sinto bem com esta conduta? Aceitar o dinheiro fere a ética da minha empresa, do mercado, prejudica os concorrentes e transita na contramão da minha moral? As respostas a estes dilemas éticos e morais revelam o caráter e a integridade de uma pessoa. Ética não é cosmética! O código ético e moral de uma empresa traduz seu comprometimento com os valores que apregoa e deve pautar para valer (e não só para inglês ver) a conduta de seus funcionários e todas as suas relações comerciais. Se às vésperas de fechar um negócio muito lucrativo com um pretenso parceiro comercial, descubro que esta empresa em questão emprega mão-de-obra infantil e análoga à escrava, ou utiliza madeira de origem ilegal, proveniente de desmatamento de área florestal protegida, devo levar o negócio adiante? Quero? Devo? Posso? Vai depender justamente da bússola moral que orienta seus princípios pessoais e profissionais.

Afinal, ninguém aguenta trabalhar (pelo menos por muito tempo) em um local que não compactua com seus valores pessoais. Você ainda pode ponderar que se fechar o negócio, será promovido e que talvez, se deixar de fechar o negócio, muito provavelmente, outra pessoa irá selar o acordo no seu lugar e você vai ficar chupando o dedo… De novo o dilema se apresenta. Quero carregar este karma negativo comigo? Minha consciência vai ficar em paz? As empresas devem apontar os caminhos certos a serem seguidos. Muitas escolhas, entretanto, continuarão sendo estritamente pessoais.

Dimensão interior


De acordo com o Dalai-Lama, a fórmula para desenvolvermos nosso senso ético e nossos valores morais consiste no exercício constante da empatia, ou seja, nossa percepção e sensibilidade em relação ao sofrimento dos outros. À medida que nos solidarizamos com a dor dos outros e diminuímos nossa tolerância em relação ao sofrimento alheio, gradativamente passamos a aumentar nossos sentimentos de empatia, amor e compaixão para com os outros.

Atingir esta maturidade, ou grau de consciência elevado, por sua vez, é um exercício voluntário que requer tempo, paciência, disposição e honestidade para olhar para dentro de si, reconhecer e enfrentar seus males interiores. Este contato contínuo com nossa dimensão interior, preconizado pela espiritualidade, nos capacita, ao longo do tempo, a adquirir uma percepção real de que nossa mente, sentimentos, experiências e sensações são elementos distintos que interferem na nossa consciência, nas nossas escolhas e na maneira como enxergamos o mundo.

Pouco a pouco, as organizações estão caminhando rumo a um estágio de maturidade que demonstra que responsabilidade é fundamental para agregar valor a produtos e serviços, como diferencial competitivo. Frente ao exposto, nota-se que a sociedade passou a trilhar um caminho sem volta em que o valor de um produto ou serviço é e será cada vez mais influenciado pelo respeito e comprometimento assumido pela empresa frente a seus consumidores, e medido pelas responsabilidades que a organização passará a assumir em prol de um bem coletivo.


Autor: Fernando Ferragino
Fonte:Espiritualidade nos Negócios