ASSISTÊNCIA DOS ESPÍRITOS NAS DIFICULDADES DA VIDA
Confusões entre o meio e o fim acarretam decepções
doutrinárias – O que importa no Espiritismo
é o Reino de Deus e a sua Justiça.
Um dos fatores mais freqüentes de decepções, na prática espí-
rita, é o utilitarismo dos praticantes. Há pessoas que só compreendem
as coisas do ponto de vista da utilidade imediata. Essas pessoas
não se dirigem ao Espiritismo na procura de uma visão mais
ampla da vida, de melhor compreensão, de maior equilíbrio psí-
quico. Desejam, pelo contrário, obter benefícios imediatos: cura,
solução de problemas financeiros ou amorosos, arranjo da vida.
Pretendem fazer do Espiritismo um meio de conquista de vantagens
pessoais. Os resultados dessa atitude só podem ser negativos.
Não é missão do Espiritismo “arranjar a vida” de quem quer
que seja. Os Espíritos superiores não estão a serviço dos pequeninos
e passageiros interesses humanos. Dessa maneira, a pessoa
que deseja benefícios acaba perdendo a assistência dos Espíritos
superiores e sofrendo o assédio dos inferiores. Estes, sim, estão
sempre prontos a atender a todos os pedidos, mesmo os mais
injustos. E, se às vezes fazem alguns benefícios imediatos, não
raro cobram muito caro o que fizeram, causando, mais tarde,
amargas decepções.
O que se deve buscar no Espiritismo é a elevada compreensão
do processo da vida, que ele oferece a todos os estudiosos. Buscando
essa compreensão, colocamo-nos em sintonia espiritual
com os Mensageiros do Alto, que por sua própria benevolência
nos atendem e nos socorrem em tudo o que é possível. Cumpre-se
aquele ensinamento de Jesus, que todos os cristãos estudiosos
conhecem: “Busca primeiramente o Reino de Deus e a sua Justiça,
e tudo o mais te será dado por acréscimo”.
Os interesses, as paixões e as angústias humanas servem,
muitas vezes, como meios de condução da criatura ao Espiritismo.
Mas, não podem transformar-se em finalidade da prática espírita.
É justo que a mão angustiada procure um Centro, um médium ou
um doutrinador espírita, para solucionar o problema do filho
enfermo. É justo que o homem de negócios, aturdido pelos insucessos,
busque uma orientação no meio espírita, como é justo que
a criatura atormentada por questões amorosas procure uma palavra
de consolo na comunicação mediúnica. Mas, uma vez socorridas
pelos Espíritos do Senhor, essas criaturas devem beneficiar-se
com as luzes da doutrina, em vez de permanecerem na estagnação
dos sentimentos comuns.
Não é somente no Espiritismo que isso acontece. Nas várias
religiões, os sacerdotes enfrentam o mesmo problema, com os
crentes interessados em transformar as práticas do culto em instrumentos
de benefícios pessoais. Nas correntes ideológicas, nos
partidos políticos, nos movimentos sociais, há sempre os que
procuram apenas a satisfação de seus próprios interesses. Erram,
pois, os que pensam que somente no Espiritismo somos assediados
por essas questões, que não são privilégio de nenhum movimento,
mas decorrem da própria natureza humana, em seu atual
estado evolutivo.
O Espiritismo ensina que a vida tem um objetivo e, esse objetivo
é o aperfeiçoamento espiritual. O que importa, pois, do ponto
de vista espírita, como ensinava Jesus, é o Reino e sua Justiça, e
não o bem-estar imediato, a felicidade passageira e ilusória. Pessoas
que se aproximam do Espiritismo, tangidas por necessidades
e interesses, mas não lhe absorvem os ensinamentos superiores,
são as que acabam por decepcionar-se com a doutrina. Elas mesmas
causam as suas decepções. De outro lado, como são felizes as
que se servem da oportunidade de uma angústia ou de uma dificuldade,
para assimilarem a mensagem renovadora do Espiritismo!
Essas são as que não se aproximam da luz de olhos fechados,
e nunca se decepcionarão. Para elas, o Espiritismo se transforma
naquilo que os místicos chamam, e com muita razão – a luz no
caminho.
J. Herculano Pires
Obra: O Mistério do Bem e do Mal - Capítulo 18
2ª Edição - Do 6º ao 8º milheiro - Abril de 1992
Editora Espírita Correio Fraterno do ABC
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