Total de visualizações de página

28 fevereiro 2019

Tratado de Gratidão - Orson Peter Carrara



TRATADO DE GRATIDÃO


Segundo o grande filósofo e doutor da Igreja Católica São Tomás de Aquino, que escreveu o “Tratado da Gratidão”, essa grande virtude apresenta-se em três níveis:

1- Nível superficial: é aquele racional que presta ao outro apenas um reconhecimento por sua atitude. Seria simplesmente a gratidão em si mesma.

2- Nível intermediário: é o de agradecimento, que dá graças, que louva àquele que lhe prestou algum benefício. No caso, vai além da simples manifestação de gratidão, mantendo-se a permanência desse sentimento.

3- Nível profundo: é aquele que se compromete com a pessoa que lhe fez o favor, ou a boa atitude. Ele apresenta um nível de vinculação entre as pessoas.

É muito interessante porque nessa análise, o professor da Universidade de São Paulo (USP) Jean Lauand, durante uma conferência na Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, teve a seguinte conclusão: (o vídeo de poucos minutos está disponível na internet e o leitor encontrará com facilidade, numa fala genial).

Alguns idiomas, como o inglês e o alemão, agradecem no primeiro nível da gratidão. Thank you e zu danken remetem ao reconhecimento no plano intelectual.

Já, a maioria dos idiomas europeus agradece no segundo nível.

Como merci do francês, grazie do italiano e gracias do espanhol que expressam sobre alguém que dá graças ou dá uma mercê, um agradecimento a outro.

No entanto, apenas o português possibilita agradecer no nível mais profundo da gratidão em apenas uma palavra. O “obrigado” traz o sentido da obrigação, “eu me obrigo com você por ter me feito isso...”, gera o comprometimento mútuo, gera vínculos.

Notem os leitores, conforme conclusão do citado professor, que no idioma português está o sentido mais profundo da palavra, o que “obriga-se” ao benfeitor, levando o beneficiado a comprometer-se com seu benfeitor pela gentileza, doação ou benefício recebido, gerando outras ações de vinculação que ligam as pessoas.

Nota do autor: o presente texto é adaptação de textos disponíveis na net...


Por Orson Peter Carrara


27 fevereiro 2019

Palavras proferidas - Nilton Moreira



PALAVRAS PROFERIDAS


Uma boa palavra auxilia sempre. Às vezes, supomo-nos sozinhos e proferimos inconveniências. Desajudamos quando podíamos ajudar. É preciso aproveitar oportunidades. Falar é um dom de Deus. Se abrirmos a boca para dizer algo, saibamos dizer o melhor. A pequena assembleia ouvia atenta a palavra de Sálus, o instrutor espiritual que falava pelo médium em uma reunião espírita.

Não adianta repetir frases inúteis. E é sempre falta grave conferir saliência ao mal. Comentemos o bem. Destaquemos o bem. - Dentre todos os presentes, Belmiro Arruda, escutava em silêncio.

Decorridos alguns dias, Arruda, nas funções de pedreiro-chefe, orientava o término da construção de grande recinto. O enorme salão parecia completo. Tudo pronto. Acabamento esmerado. Pintura primorosa. - Experimentemos a acústica, disse o engenheiro superior. E virando-se para Belmiro disse: - Grite algo. Arruda, recordando a lição, bradou: - Confia em Jesus!... Confia em Jesus!...

O som estava admiravelmente distribuído. Os operários continuavam na sua faina, quando triste homem penetra o recinto. Cabeleira revolta. Semblante transtornado. - Quem mandou confiar em Jesus? – perguntou. Alguém aponta Belmiro, para quem ele se dirige, abrindo os braços.

- Obrigado, amigo! – exclamou. E mostrando um revólver: - Ia encostar o cano no ouvido, entretanto, escutei seu apelo e sustei o tiro... Queria morrer no terreno baldio da construção, mas sua voz acordou-me... Estou desempregado há muito tempo, e sou pai de oito filhos... Jesus, sim! Confiarei em Jesus!...

Arruda abraçou-o, de olhos úmidos.

O caso foi conduzido ao conhecimento do diretor do serviço. E o diretor visivelmente emocionado estendeu a mão ao desconhecido e falou: - Venha amanhã. Pode vir trabalhar amanhã.“

Esta narrativa consta do livro A Vida Escreve, do saudoso irmão Waldo Vieira.

Realmente muito mais do que pensamos, nossas atitudes e palavras ecoam, por isso é importante termos equilíbrio constante, pois assim como influenciamos para o bem podemos ser coniventes com o mal.

Jesus certa ocasião nos disse que o mal é o que sai pela boca, referindo-se as palavras que muitas vezes são ditas sem pensar.

Quantas pessoas magoamos às vezes sem querer, quando proferimos algum comentário desprestigioso!

A palavra contém uma energia que pode concorrer tanto para o bem como para o mal. Chico Xavier dizia: Se não tivermos uma palavra que auxilie é melhor ficarmos de boca fechada.

Assim devemos perseverar amigos.


Nilton Moreira
Coluna Semanal - Estrada Iluminada
Fonte: Espirit Book

 

26 fevereiro 2019

Alerta - Divaldo P.Franco



ALERTA


Vivemos dias muito difíceis e desafiadores para o comportamento ético. Uma onda de loucura varre a sociedade que parece haver perdido o rumo. Agressividade e angústia são os efeitos do desconforto moral que assola, como insatisfação e desconfiança.

Os distúrbios morais e condutas alucinadas tornam-se efeitos imediatos do vazio existencial, que domina o mundo intelectualizado e sob o controle da tecnologia de ponta.

As notícias velozes apresentam maior índice de desespero e crime, de descontrole comportamental que portadoras de esperanças apaziguadoras. A cada instante estoura um escândalo mais perturbador do que aquele que o precedeu.

A visão do futuro é pessimista e a necessidade de gozar de imediato é cada vez mais imposta pelas circunstâncias aziagas.

Pergunta-se o que está acontecendo com a criatura humana? Quais os valores éticos que podem servir de sustentação íntima, neste momento de indecisões e aventuras?

O ser humano é algo mais do que a argamassa celular, e enquanto a conduta materialista domine-lhe o pensamento, somente lhe são válidos o prazer sensual, hedonista e o exibicionismo egoico, mediante os quais se apresenta, ocultando os conflitos que o atormentam.

Ninguém consegue ser pleno, enquanto esteja sob a constrição narcisista que o afasta da convivência social ou propele-o com propósito exibicionista.

Faz-se necessária reflexão em torno do sentido da vida, que tem caráter de imortalidade.

Embora os esforços contrários do materialismo e do utilitarismo, o ser é indestrutível, tornando-se fundamental a sua conduta intelecto-moral durante a jornada terrestre.

Os fatos imortalistas são comprovados amiúdo em toda parte, demonstrando a grandeza da vida e o sentido existencial.

A nova é a mesma ética platônica a respeito do dever retamente cumprido, que faculta a consciência de paz e a solidariedade como forma digna de sobrevivência.

Ninguém consegue ser feliz isolado, tampouco no tumulto das paixões asselvajadas.

A evolução antropológica vem erguendo o ser humano das exclusivas manifestações dos instintos primários para as experiências da emoção superior, à medida que avança com a tecnologia para a condição de homus virtualis, no qual praticamente nos encontramos.

Mesmo os indivíduos que não têm formação espiritualista ou não a desejam, faz-se-lhes urgente a mudança de conduta em forma de equilíbrio e respeito à vida nas suas diversas expressões, como manifestação de cultura e de sabedoria.

A vida humana é o período evolutivo mais nobre do processo evolutivo, que não lhe constitui etapa final.

O nosso alerta baseia-se na experiência do equilíbrio moral e comportamental, construindo uma sociedade pacífica e edificante.


Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 7.2.2019.


25 fevereiro 2019

Qual é a sua razão de viver? - Adriana Machado



QUAL É A SUA RAZÃO DE VIVER?


Começamos a nossa conversa com essa pergunta e, não se iludam pensando que ela é simples, porque muitos terão dificuldades em respondê-la.

Podemos ter respostas prontas do tipo: a minha razão de viver é a minha família, meus filhos, meus pais, minha realização pessoal... somente porque sabemos que seriam as respostas mais “certas” para darmos. Mas, elas estampam a nossa realidade?

Como agimos todos os dias? Como demonstramos a relevância destas pessoas no nosso dia a dia? Será que é somente quando elas partem que analisaremos o nosso comportamento em relação a elas?

Para as primeiras questões, deixo as respostas para a sua análise pessoal, mas para essa última pergunta a resposta é: na maioria das vezes, sim, infelizmente. É somente quando alguém que muito amamos se vai que paramos para sentir a sua falta, a sua relevância em nossa vida e sofremos por não termos dado um pouco mais do nosso tempo para ela em nosso cotidiano.

Em que pensamos quando acordamos? É na família, no trabalho ou na ascensão social que quero alcançar? Tudo junto?

Falamos de nossas famílias, amigos, companheiros de jornada, que nos acompanham, nos amam e nos encorajam a seguir com a vida, principalmente quando ela não está fácil. Falamos de trabalho e ascensão social... mas, será que não falta alguém ou alguma coisa nesta relação?

Existe alguém para quem muito lutamos, mas pouco analisamos a sua relevância; que, normalmente, é esquecido, é desvalorizado, e jamais é poupado de nossos desequilíbrios. Ele é quem mais serve de alvo de nosso julgamento e críticas, de nossa intolerância e descrédito frente às suas dificuldades. Esta pessoa que tanto necessita de nossa atenção e consolo, de nossa tolerância e caridade, de nossa valorização e tempo para ampará-la, amá-la e compreendê-la, deveria ser aquela que jamais daríamos às costas porque sem ela nada poderíamos ser, fazer ou aprender.

Essa pessoa é o seu Eu.

Vai parecer clichê, mas quantos de nós se valoriza? Quantos procuram conhecer a si mesmos? Quantos param para, verdadeiramente, descobrir o que os incomoda, o que precisa ser mudado, o que necessita para um crescer com menos dor? Quantos de nós se dão paz?

Hoje, graças a Deus, muitos são os que estão se voltando para compreender o seu papel nesta grande Escola da Vida. Estão se buscando, porque algo está faltando e este algo é a ligação mais profunda do seu Eu, da sua Chama Divinal, com o ser consciente.

Outros, porém, ainda não acordaram para isso. Enquanto estes continuarem depositando a sua razão de viver em algo ou alguém que não seja o seu Eu mais profundo, tudo ficará sem sentido, não se sentirão aptos para a sua caminhada evolutiva, não acreditarão em sua capacidade de enfrentar os desafios da vida, sofrendo profundamente diante das adversidades porque não se fizeram aliados de si mesmos. Sozinhos sucumbirão ante as dificuldades que lhes fazem ascender.

Lembrei do pontinho preto no imenso lençol branco. No que vocês fixariam a sua atenção? Se a sua resposta é para o pontinho preto que o está incomodando, você acabou de descortinar uma sábia manobra da vida para o seu crescimento íntimo: tudo o que o incomoda o leva a prestar mais atenção nele, o faz querer consertá-lo ou modificá-lo para que fique bem alinhado aos ditames do que você acha ser o certo. Então, concluímos que não são ruins os pontos negros em nossos lençóis, porém, como escolhemos enfrentá-los ou como exacerbamos os nossos incômodos é que fará a diferente!

Por ainda não compreendermos o quanto ele (ponto preto) pode nos fazer progredir, fixamo-nos neste, reclamando do lençol ter sido maculado, e esquecemos que a sua função de cobrir não está perdida e que o ponto preto pode ser lavado.

Reclamamos tanto daquilo que nos incomoda que deixamos de valorizar o que temos de positivo e deixamos de agir com todo o nosso potencial para enfrentarmos as adversidades. Como reflexo desta nossa postura, não nos valorizamos, não nos perdoamos, não aceitamos as nossas limitações, criando um vazio existencial.

Por exemplo, eu não consigo fazer algo que outras pessoas fazem bem. Em razão disso, me condeno pela minha incapacidade. Estaciono no meio do caminho ante o meu cruel julgamento. Mas, se voltamos para nós os olhos da tolerância e amor, perceberíamos que isso nós ainda não conseguimos fazer, mas outras tantas coisas já fazemos com muita competência (= relação do ponto preto com lençol branco). Isso é nos conhecermos.

Sei que podem estar pensando que eu os quero egoístas e pensando somente em si. Claro que não é isso! O que estou dizendo é que, para nos doarmos por inteiro, para estarmos bem com quem amamos e com o mundo, temos que agir da mesma forma conosco. Para tanto, precisamos saber quem somos nas boas ou más tendências. Isso não é egoísmo, isso é auto amor. Quando nos amamos com consciência, conseguimos amar muito mais profundamente o outro que está ao nosso lado.

Infelizmente, ao não nos amarmos com sabedoria, nos fixamos muito mais nas nossas más tendências e nos convencemos que não somos capazes de valorizar quem somos e, por consequência, quem está ao nosso redor.

Conhecer a si mesmo vai além do saber do que somos capazes, é também olharmos para nós sem uma visão deturpada de nós mesmos. Precisamos nos esforçar para nos parabenizar pela caminhada árdua que trilhamos até onde estamos.

A nossa razão de viver deve estar pautada, primordialmente, na vontade de nos “bem compreender”, porque fazendo isso nos “bem capacitamos” na compreensão do próximo e, nesta vibração enobrecedora, tudo se tornará um “bom reflexo” do caminhar seguro do Ser divino que há em nós.




24 fevereiro 2019

O que aconteceu com a diversidade das mediunidades nas reuniões mediúnicas espíritas? - Ligia Inhan




O QUE ACONTECEU COM A DIVERSIDADE DAS MEDIUNIDADES NAS REUNIÕES MEDIÚNICAS ESPÍRITAS?


Escritores, pensadores e pesquisadores de diferentes regiões do mundo e em distintas épocas têm testemunhado a respeito do fenômeno mediúnico. Aparições de Espíritos, objetos que se incendeiam espontaneamente, transporte de pessoas, são só alguns dos muitos casos registrados.

Esse texto busca levantar uma reflexão a respeito da falta de diversidade da prática mediúnica nos centros espíritas.

Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, descreve um quadro sinóptico das diferentes espécies de médiuns. O Codificador afirma categoricamente: “[...] a mediunidade apresenta uma variedade infinita de matizes, que constituem os médiuns chamados especiais, dotados de aptidões particulares, ainda não definidas, abstração feita das qualidades e conhecimentos do Espírito que se manifesta.” (a partir do item 185 e seguintes, grifo nosso).

Ele faz uma distinção bem clara na análise apresentada: a separação do Espírito que se apresenta e o instrumento pelo qual ele se comunica, e utiliza uma comparação entre a qualidade de um instrumento musical e a escolha de um artista competente.

Desse modo, o Espírito pode escolher trabalhar com um ou outro médium em função do gênero de comunicação que queira transmitir e isso independe de qualquer habilidade ou conhecimento consciente do médium. Aliás, esta característica é um dos meios de se checar a autenticidade das comunicações mediúnicas.

Salienta o codificador, que o médium não pode esperar que possua uma ampla gama de tipos de mediunidade, mas se deve entender a natureza do médium, da mesma forma como que se estuda o Espírito, “pois são esses os dois elementos essenciais para a obtenção de um resultado satisfatório”.

Por fim, outro ponto interessante é ressaltado: a intenção do médium, “o sentimento mais ou menos louvável de quem interroga”.

Kardec então relaciona uma variedade impressionante de mediunidades, segundo o modo de execução, o nível de desenvolvimento da faculdade, o gênero de comunicações, dentre outras categorias classificatórias.

No entanto, a FEB vem orientando há décadas o desenvolvimento da mediunidade do tipo de psicofonia nos materiais didáticos para cursos de mediunidade:

“É importante destacar que a psicografia não é a forma mediúnica mais indicada para o atendimento de Espíritos necessitados ou portadores de declarada perturbação espiritual. A psicofonia é, sim, a mediunidade de escolha, favorecendo o diálogo e o auxílio mais efetivo ao comunicante sofredor. Contudo, vale assinalar que os benfeitores espirituais se manifestam, usualmente, tanto pela psicografia quanto pela psicofonia” (Apostila Mediunidade Estudo e Prática. Módulo II, p. 125). (http://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2014/05/Estudo-e-pratic...)

Mas porque a preferência pela psicofonia se Kardec dá preferência à psicografia? Segundo o Codificador, “a escrita tem sobretudo a vantagem de demonstrar de maneira mais material a intervenção de uma potência oculta, deixando traços que podemos conservar, como fazemos com a nossa própria correspondência (O Livro dos Médiuns, item 152).

Podemos perceber esse viés pelas obras do Espírito André Luiz, psicografadas por Chico Xavier. A obra Nos domínios da mediunidade apresenta seções mediúnicas clássicas, com 10 a 12 médiuns, nas quais as comunicações são feitas através da psicofonia.

Mas há tipos de mediunidades diferentes. No capítulo 3, apresenta os quatro médiuns: Eugênia, com a psicofonia consciente intuitiva; Anélio, clarividência, clariaudiência e psicografia; Antonio Castro, psicofonia sonambúlica e de desdobramento; e Celina com clarividência, clariaudiência, psicofonia sonambúlica e de desdobramento.

Há dois pontos interessantes a serem acrescentados aqui: 1) ao que parece, as descrições das reuniões mediúnicas contadas a partir das obras deste Espírito evidenciaria que essa prática já havia se tornado o meio mais comum de intercâmbio com os espíritos, as chamadas “reunião para fazer caridade”, no atendimento prioritário aos Espíritos infelizes. Saber porque houve essa troca de preferências da mediunidade poderia ser um interessante campo de estudos para pesquisadores espíritas no futuro. Por outro lado, não se sabe se a prática já havia sido disseminada desta forma, ou se foi a partir das obras de André Luiz que se estabeleceu um padrão para as que foram criadas após.

2) Alguns leitores poderiam lembrar que a mediunidade de psicografia ficaria mais restrita aos médiuns missionários, cujo papel seria na divulgação, produção de conteúdo espírita e dar continuidade ao precioso intercâmbio espiritual benfeitor.

No entanto, Kardec analisou comunicações de médiuns dos mais diversos matizes, grau de instrução e nível social. Trabalhou diretamente com adolescentes, que não tinham nenhum papel importante a ser desenvolvido para a humanidade individualmente, mas tinham sim, coletivamente. O valor da Codificação Espírita está justamente na diversidade de médiuns, mediunidades, Espíritos e origens.

Kardec ressaltou inúmeras vezes que o desinteresse e o nível moral eram os únicos critérios que conferiam veracidade das comunicações e fez questão de dispensar os nomes de médiuns nas mensagens publicadas, que tinham sido analisadas pelo conteúdo e pelo nome do Espírito, quando este o depunha.

Ao contrário, a dependência de médiuns exclusivos leva ao sério risco de messianismo, pois parece que somente indivíduos sozinhos, com suas missões exclusivas, possuem credenciais para continuar a progressão do conhecimento espírita. Longe de serem especiais, necessitam da assistência de um grupo coeso e, o bom senso aconselha, quanto mais médiuns dedicados e com níveis semelhantes de capacidade e moralidade de um grupo, melhor para esse ou aquele que possa vir a se sobressair.

Essa questão parece ter consequência sobre o desenvolvimento/aprimoramento da mediunidade da psicofonia como forma exclusiva de comunicação dos espíritos. Mas mesmo esta modalidade possui uma ampla gama de matizes que interferem na comunicação.

A título de um testemunho, durante mais de duas décadas frequentando reuniões mediúnicas, fui percebendo a uniformização das comunicações e das mediunidades sem que os médiuns e dirigentes dessem conta dessa deterioração. Sem risco de errar, 100% dos Espíritos comunicantes eram do mesmo nível dos médiuns, falando basicamente das mesmas tragédias, desilusões e desesperanças.

Essa percepção pode estar relacionada com a metodologia de atendimento. A conversa entre esclarecedor e comunicante se assemelhava a uma espécie de Twitter mediúnico: o Espírito se apresenta com algumas poucas frases, que o médium deveria controlar, o esclarecedor respondia sobriamente e em cinco, no máximo 10 minutos, nesta mesma linha de atuação, e na sequência o Espírito era dispensado para os cuidados dos Espíritos benfeitores.

Alguns médiuns se sentiam desconfortáveis com esses esclarecimentos, mas as justificativas eram sempre as mesmas: “isso é só um primeiro socorro”; “a reunião mediúnica é só um pronto-socorro”. Mas mesmo em um pronto-socorro humano há evolução das práticas, aperfeiçoamento das ferramentas e avaliação constante. Aparecem casos extremos e outros menos, há variações no atendimento, mesmo porque o pessoal qualificado melhora suas habilidades com estudo e com a prática.

Algumas dessas dificuldades poderiam ser resolvidas durante a avaliação, que seria o momento ideal para expor-se livremente no grupo, no intuito de entender o que ocorreu durante os transes, imediatamente após as manifestações. O grupo poderia entender as características próprias da mediunidade e das comunicações e quais poderiam ser as técnicas de diálogo que melhor se adequassem aos atendimentos.

No entanto, muitas vezes, no lugar da avaliação, o que ocorria era uma espécie de pacto de silêncio, incluindo os médiuns e esclarecedores. Práticas como essas podem levar a um círculo vicioso, gerando um campo prolífico para o animismo, ou mesmo a mistificação, inconsciente ou não.

Hoje, com os recursos de vídeo e gravação, não há como alegar a falta de instrumentos para avaliação das reuniões mediúnicas.

A prática da avaliação séria e detalhada auxiliaria na distinção entre progresso e estagnação e evitaria um posterior insucesso nos atendimentos aos Espíritos, particularmente no caso deobsessões perigosas dos Médiuns e esclarecedores. Kardec é enfático neste ponto e aconselha peremptoriamente a participação dos médiuns nas reuniões de estudos específicas para fazer a avaliação das comunicações, conforme está no capítulo Reuniões e Sociedades Espíritas, item 329 de O Livro dos Médiuns. Todos os destaques são nossos.

“As reuniões de estudo são ainda de grande utilidade para os médiuns de manifestações inteligentes, sobretudo para os que desejam seriamente aperfeiçoar-se e por isso mesmo não comparecem a elas com a tola presunção da infalibilidade. [...] Graças ao isolamento e à fascinação, podem facilmente levá-lo a aceitar tudo o que quiserem.”

“Nunca repetiríamos demasiado: aí está não somente uma dificuldade, mas um perigo. Sim, podemos dizê-lo um verdadeiro perigo. O único meio de escapar a ele é submeter-se o médium ao controle de pessoas desinteressadas e bondosas, que, julgando as comunicações com frieza e imparcialidade, possam abrir-lhe os olhos elevá-los a perceber o que não pode ver por si mesmo. Ora, todo médium que teme esse julgamento já se encontra no caminho da obsessão. Aquele que pensa que a luz só foi feita para ele já está completamente subjugado. Leva-se a mal as observações e as repele, irritando-se com elas, não há dúvida quanto à natureza má do Espírito que o assiste.”

Neste sentido, quando pegamos o exemplo de vida espírita de Yvonne do AmaralPereira, percebemos que parece haver um verdadeiro abismo entre o que se pratica hoje, como que ela praticava em centros onde frequentou.

No livro À Luz do Consolador, capítulo 5, ela revela: “Nunca desenvolvi a mediunidade, ela apresentou-se por si mesma, naturalmente, sem que eu me preocupasse em atraí-la, pois, em verdade, não há necessidade em se desenvolver a faculdade mediúnica, ela se apresentará sozinha, se realmente existir, e se formos dedicados às operosidades espíritas” (grifo nosso).

Mais à frente, ela ainda desabafa: “Em certa época de minha vida, no Rio de Janeiro, morei sozinha em um pequeno apartamento [...]. Havia oferecido minha colaboração espírita e mediúnica a alguns centros espíritas. Não fui aceita por nenhum. A burocracia repelia-me" (grifo nosso).

Nas reuniões mediúnicas, ela foi psicógrafa, especialista em receituário e produção de livros; psicofônica, com a especialidade no atendimento aos casos de obsessão e suicidas; de efeitos físicos, com as especialidades de materializações, receituário e passes para curas; e também foi médium oradora, entre outros tipos ainda a serem estudados através das suas próprias obras.

Finalizando, percebe-se hoje que as rotinas estabelecidas por cursos,a título de assegurar uma disciplina de comportamento, acabam por focar excessivamente a mediunidade psicofônica, não abrindo espaço para os médiuns perceberem outras formas de comunicação. Uma variedade de mediunidade como as de Yvonne Pereira jamais seriam sequer percebidas pelos médiuns, seja pela falta de autoconhecimento, seja pela falta de avaliação, seja porque os cursos são voltados para a massificação da mediunidade.

A disciplina moral do Evangelho é mais do que a disciplina material, cujas práticas têm se assemelhado às das empresas e dos escritórios do mundo.

Mais uma vez, Yvonne fornece uma resposta adequada:

“Conservei-me sempre espírita e médium muito independente, jamais consenti que a direção dos núcleos onde trabalheibitolasse e burocratizasse as minhas faculdades mediúnicas. [...] Para isso, aprofundei-me no estudo severo da Doutrina, a fim de conhecer o terreno em que caminhava e conservar com razão a minha independência. No entanto, observei a rigor o critério e os horários fixados pelos poucos centros onde servi, mas jamais me submeti à burocracia mantida por alguns” (À Luz do Consolador, capítulo 6).

Estamos na era da comunicação digital que atravessa o mundo em segundos e a comunicação mediúnica está restrita ainda à psicofonia, na sua mais simples manifestação.

Fomentar a diversidade da mediunidade é auxiliar na evolução das comunicações mediúnicas, que consequentemente fará progredir os atendimentos e as reuniões.

Ligia Inhan
Trabalhadora da Sociedade Espírita Primavera, em Juiz de Fora - MG

23 fevereiro 2019

Internet , redes sociais e os pseudomédiuns , ambiciosos e mistificadores - Jorge Hessen



INTERNET, REDES SOCIAIS E OS PSEUDOMÉDIUNS, 
AMBICIOSOS E MISTIFICADORES


Atualmente coexistimos com a volúpia da era digital e recebemos exageradas e detalhadas informações de dados pessoais que são fornecidos desadvertidamente aos bancos de dados virtuais e às diversas redes sociais da Internet. Tal realidade cibernética tem sido um verdadeiro MANÁ para as tramóias “mediúnicas” dos pseudomédiuns, ambiciosos e mistificadores.

É verdade!

De algum tempo para cá, venho recebendo e registrando considerável quantidade de insinuações advindas de pessoas honestas, porém indignadas, revelando-me as malandrices e ciladas “pseudopsicográficas” artificiosas provindo de alguns celebrizados pseudomédiuns nos territórios espíritas. Por esta razão, utilizo-me deste alerta, a fim de prevenir os confrades desavisados do Movimento Espírita Brasileiro. Faço isso por causa dos protestos de inúmeras pessoas, que expressam recriminações ponderadas, como testemunhas que abalizam indícios sobre os atos ardiloso da “psicografia” censurável.

Divulgo aqui o alerta, avaliando os episódios irregulares (e cibernéticos) contra os ilegítimos artifícios “psedomediúnicos” de “pseudopsicografias” praticados por pseudomédiuns , ambiciosos e mistificadores.

Advirto que entre tais pseudomédiuns, ambiciosos e mistificadores existe os que oferecem livros “psicografados” para comercialização, alguns pseudomédiuns são proprietários de editoras inscritas com próprio nome e há os que não têm sequer um emprego fixo.

Existem os pseudomédiuns “injuriados e caluniados” que permanecem reclamando contra ilusória “perseguição” provinda de investigadores probos. Aliás, tais pseudomédiuns, ambiciosos e mistificadores (que deveriam estar nos cárceres), empregam os escudos protetores das ameaças judiciais contra os que o denunciam. Na verdade, sob delírio, os pseudomédiuns, ambiciosos e mistificadores não conseguem ultrapassar o estereótipo de atores de tragicomédias e vêm arremessando no lixo a mediunidade dos médiuns sinceros, iludindo pessoas de boa-fé, valendo-se sempre do embuste das informações “pseudopsicográficas” advindas das redes sociais.

O clímax das suas armadilhas ocorre através de representações e mímicas de camufladas “pseudopsicografias” advindas das redes sociais, sempre armadas nos tablados para shows de prestidigitações teatrais ornamentadas nos impregnados palcos das incautas instituições “espíritas” (ou não espíritas).

A fartura dos subsídios de informações pessoais sobre a identificação do “morto” são previamente memorizados e esquadrinhados após serem extraídos das redes sociais da Internet.

O processo de memorização fica condicionada ao contexto de nomes, CPF, número do telefone, endereço, apelidos, sobrenome, alusão a times de futebol, preferências, gostos pessoais, frases e descrição de conduta de parentes e amigos que compõem um farto conjunto visivelmente transcrevidos das redes sociais (Facebook, WhatsApp, YouTube, Instagram, Twitter, LinkedIn, Pinterest, Google+, Messenger, Snapchat) eis aí as fontes da paródia “pseudopsicográfica” dos pseudomédiuns , ambiciosos e mistificadores..

Nada é mais cruel do que pessoas em luto receberem falsas notícias dos seus “falecidos” através das embusteiras informações (arrancadas da Internet) considerando os ridículos números de CPF’s, endereços e números de telefones dos “finados”.

Como disse, tais informações são públicas e estão disponíveis nos bancos de dados virtuais.

Conquanto alguns se “refugiem” na enganação do consentimento das “entradas francas” para seus shows de falcatruas, não conseguem disfarçar os capciosos projetos de arrecadação financeira, através das vendas de livros “psicografados” de conteúdo doutrinário não-confiável. Além disso recebem os generosos donativos destinados a hipotéticos fins de assistencialismo em nome de instituições, muitas vezes só de “fachada”, considerando que tais entidades não possuem inscrição estadual e nem CNPJ. Por isso mesmo e por motivos óbvios, os recursos financeiros doados são depositados em conta corrente particular. Isso é crime fiscal.

Sobre os embustes dos pseudomédiuns , ambiciosos e mistificadores, sugiro aos leitores que propaguem os seus gritos de alerta. Divulguem para seus amigos e dirigentes espíritas a fim de não convidarem tais embusteiros para eventos “psicográficos” de faz-de-conta. Até porque, os pseudomédiuns , ambiciosos e mistificadores cobiçam a fama, a popularidade e as vantagens pecuniárias.

Sem embargo, apesar deste alerta, se continuarem a convidá-los para o palco da psicografia de coisa nenhuma, eles prosseguirão com suas tapeações, iludindo, matando esperanças, destroçando os corações debilitados de mãezinhas e familiares sedentos de notícia do além para consolação de suas almas.

Este grito de alerta sobre as fraudes psicográficas dos pseudomédiuns , ambiciosos e mistificadores está devidamente amparado nas sugestões de Allan Kardec, portanto, prevaleço-me do crivo da razão doutrinária, da lógica, bem como dos conhecimentos estabelecidos pela Doutrina Espírita, que se apresentam como inadiável dever à minha consciência, visando às adequadas medidas de grito de advertência ao Movimento Espírita Brasileiro. Não obstante os fatos supramencionados serem extremamente graves, por questão de JUSTIÇA é necessário separar o joio do trigo, urge, portanto, considerar o fato de que obviamente existem médiuns, em plena atividade mediúnica, exercendo suas tarefas com dignidade e compromisso com as diretrizes basilares e insuperáveis da Doutrina Espírita.

Porém, cabe destacar algumas características fundamentais destes médiuns psicógrafos honrados que podem ser convidados para suas casas espíritas. Eles consentem as pesquisas científicas a qualquer momento, aliás, desejam ser pesquisados; São médiuns incorruptíveis e exercem suas atividades nas Casas Espíritas idôneas; eles exercem dignamente suas profissões, vivendo de seus proventos profissionais ou os que estão aposentados vivem de seus salários; eles mantêm as suas tarefas conforme vivenciou e exemplificou Chico Xavier no Grupo Espírita da Prece em Uberaba/MG, sendo este o maior médium de todos os tempos.

Chico Xavier efetuava o atendimento das pessoas que o buscavam, uma a uma, consolando e expressando de forma respeitosa os recados advindos da espiritualidade e após o atendimento, culminava a reunião psicografando as cartas consoladoras, trazendo os “falecidos” para a terra nas notícias fiéis que confirmavam a nossa imortalidade.


Jorge Hessen


22 fevereiro 2019

Vaidade ou inveja? - Vladimir Alexei



VAIDADE OU INVEJA?


O movimento espírita brasileiro também tem sido sacudido pelas mudanças e transformações vigentes no mundo. Isso causa dor e alegria. Dor porque o processo de mudança exige adaptação. Alegria porque vislumbram-se novos horizontes.

Ulrich Beck (2016), ousou dizer – e defendeu a sua ousadia –, que não se trata de mudança ou transformação e sim “metamorfose”. Na busca por explicar o processo que se vive na atualidade, o autor alegou “falência” de definições. Se ele tivesse conhecido a doutrina espírita, talvez compreendesse que se trata de um período de “regeneração” com profundos ajustes acontecendo em diversos campos da vida.

A mudança no movimento espírita vem ocorrendo a partir do enfraquecimento de instituições seculares, que antes ditavam o ritmo da divulgação doutrinária e consequentemente dos seus profitentes. A rede mundial de computadores (www.), encurtou distâncias e permitiu a proliferação de pensamentos e sentimentos que demonstram necessidades diferentes daquela estrutura patriarcal estabelecida no campo físico. O exemplo da Igreja Católica é inequívoco: o Papa “saiu” do Vaticano pelas redes sociais e conseguiu arrebanhar mais simpatizantes do que se estivesse apenas em seu trono dourado. Ele apresentou ao mundo um pensamento contemporâneo, sensibilidade e fraternidade, pautados nas diretrizes do Cristo. Aliás, ele foi ousado e demonstrou riqueza de caráter quando trocou o trono de ouro, por uma cadeira de espaldar alto.

Nas décadas de 1980 e 1990, palestrante espírita conhecido em todo Brasil era o Divaldo Franco. Um ou outro, de forma voluntária e anônima, se deslocava pelo país, sem projeção como ocorreu com Divaldo. Divaldo não chegou a ser o que é, em termos de divulgação, de um dia para o outro. Fez o seu trabalho com uma vida de dedicação. Há quem goste e aqueles que não gostam do trabalho de divulgação realizado por ele. É um direito de cada um pensar diferente. É oportuno dizer, em tempos obtusos, que pensar diferente não significa desrespeitar. Criticar o trabalho não significa diminuir o trabalhador, apenas apresentar outros entendimentos sobre o assunto.

Nessa linha de divulgação doutrinária, via rede mundial, muitos nomes surgiram com contribuições relevantes para que o pensamento espírita pudesse alcançar corações sofridos e auxiliá-los no processo reeducativo por meio de palestras, seminários e congressos. Os congressos, ditos, “espíritas”, se perderam em pompas e circunstâncias totalmente materialistas, em lugares amplos, para arrebanhar grupos dispostos a pagar e fazer circular moedas entre palestras, atividades e dinâmicas.

Existe, na rede mundial de computadores, trabalhadores espíritas contabilizando quantas palestras e quantas pessoas participaram de suas atividades ao longo de uma vida, como se esse “quantitativo” significasse “progresso espiritual”. Pasmem: existem ainda, canais de vídeo na rede, de espíritas, que aceitam ofertas financeiras, como uma espécie de “leilão”, para que as perguntas dos ouvintes que ofertaram, sejam atendidas pelo expositor. Será que, às custas de um internauta, vale a pena manter uma estrutura “profissional” para se divulgar opiniões pessoais? Porque não são estudos doutrinários e sim, “bate-papos” com “famosos”. São momentos de tietagem, estimulados pela simpatia e educação dos expositores que se prestam a esse papel, de receber dinheiro por causa da estrutura que se montou.

Isso nos remete ao pensamento de Allan Kardec quando proferiu uma “alocução” (discurso curto, pronunciado em solenidades), para os espíritas de Bruxelas e Antuérpia, narrado na Revista Espírita de novembro de 1864. Kardec ao cumprimentar os espíritas daquelas localidades, demonstrou alegria sóbria ao informar que ele teria direito de envaidecer-se pela acolhida daqueles Irmãos, mas ele sabia que aqueles testemunhos “se dirigiam menos ao homem do que à Doutrina, da qual sou humilde representante”.

Onde há humildade nesses Congressos ou Seminários ou Palestras virtuais em que os expositores se colocam como “seres missionários”? Que falam que os outros são vaidosos, mas incapazes de reconhecerem a própria vaidade?

No passado, os Congressos Espíritas produziam anais. Os primeiros registros sobre “anais” datam da Roma Antiga e hoje seriam registros de trabalhos científicos publicados no contexto do evento. Se o congresso espírita não tem o cunho de apresentar trabalhos científicos, fruto de estudos mais elaborados, ele serve para o que? Angariar fundos para instituições privadas ou interesses pessoais? O objetivo de Allan Kardec realizar visitas aos centros espíritas, ainda no relato de sua viagem de 1864, era para, “além de contribuírem para estreitar os laços de fraternidade entre os adeptos”, colher elementos de observação e de estudo. Os elementos que se colhem na atualidade, demonstram total divergência com os princípios postulados pela Doutrina Espírita. São ações motivadas por interesses pessoais, ainda que traduzidos ou motivados por causas "nobres". Nobre é o que o Cristo disse: "não saiba vossa mão esquerda o que faz a direita".

O texto de Allan Kardec é perfeito para a atualidade. Para concluir essa ilustração, Kardec diz o seguinte: “Está provado que o Espiritismo é mais entravado pelos que o compreendem mal do que pelos que não o compreendem absolutamente (...).” Uma divulgação malfeita, com valorização do “amor próprio”, aquele que se traduz por pessoas que “se acham” detentoras do conhecimento espírita, causa essa perda de referência doutrinária que se encontra no movimento espírita brasileiro.

O que fazer então? Essa pergunta paira no ar, a cada reflexão, porque remete a outro pensamento: seria inveja? É possível, por que não? Cabe análise pela relevância do tema. Se estivéssemos na mesma condição, teríamos feito diferente? Com esse entendimento, ousaria dizer que faríamos diferente, até por ver tudo isso. Entretanto, não é um caminho fácil de se modificar. O despreparo do espírita é tão grande que as repercussões ocorrem no campo pessoal: relacionamentos desfeitos, empregos que se modificam, filhos que se rebelam, olhares de desconfiança, depressão, ansiedade e uma série de outras sequelas que podem ser observadas. Será que estamos realmente preparados para uma profissão de fé Espírita? "Abrir mão" do que é politicamente ou convenientemente adequado, no plano terreno, para as conquistas do espírito?

É necessário e premente que se modifique, para o bem das lideranças que ainda conseguem lembrar, em meio aos holofotes, que a Doutrina Espírita educa, consolando, transforma, orientando, estimula, fazendo-nos trabalhar nas fragilidades egoístas que ainda se manifestam gritantes em seus adeptos. Que essas fragilidades pessoais não sejam superiores ao brilho perene e regenerador da Doutrina Espírita.


Vladimir Alexei


21 fevereiro 2019

Abaixo a Culpa! - Cristina Sarraf



ABAIXO A CULPA!


Cristina Sarraf, Jornal do Cem Estudando o tema Livre Arbítrio, em O livro dos Espíritos de Allan Kardec, acabamos por perceber que a culpa é algo que já pode ser deixado de lado, ou ir sendo deixado de lado, porque nosso entendimento amadureceu o suficiente para verificar que não é um ensino espírita; e também, o quanto cultivar ou guardar a culpa, cria problemas internos e impede a alegria de viver, que é responsável por um crescimento interior mais rápido, saudável e eficiente.

O raciocínio é apresentado da seguinte forma:

Todos possuímos arbítrio, o Livre Arbítrio, o qual vai sendo usado mais profundamente, conforme amadurecemos. Ou seja, desenvolve-se conforme a evolução espiritual;

Inicialmente, nas fases primeiras de nossa existência como Espíritos, somos guiados por Espíritos mais desenvolvidos. Na medida em que vamos evoluindo, automaticamente vamos exercendo as decisões, opções, escolhas, e nos assenhoreando de nós mesmos;

A partir daí, vai havendo uma espécie de alternância de direcionamento na nossa existência, porque passamos a ter que decidir ante as influências variadas que recebemos, perante as quais somos livres para ceder ou resistir, mas que puxarão opções favoráveis ou desfavoráveis para nós mesmos. Assim, nos inclinamos ora para o que chamamos “bem”, ora para o que chamamos “mal”.

As escolhas, as opções, equivocadas ou más, que possamos fazer, sempre dependem de nossa vontade e do grau de discernimento que temos, no momento. O discernimento nasce do uso do livre arbítrio. Acertando ou errando, vamos descobrindo como a vida funciona e discernindo o que é melhor para nós. 

Torna-se então, claro, o absurdo que é culpar-se pelo que escolheu ontem, na medida em que ontem não existiam as condições que hoje temos. Óbvio que reconhecer um erro nos deprime, envergonha e pede concerto, mas, o que sabemos e podemos hoje, não sabíamos nem podíamos ontem. Estamos evoluindo… Apesar da lucidez da análise feita, alguém poderá perguntar: é… mas, e aquilo que fazemos hoje, já sabendo que não é bom. A resposta é a seguinte: seja o que for que escolhamos hoje, mesmo repetir erros ou não perceber as consequências do que já conhecemos, ainda assim, estamos apenas mostrando que conhecer não é saber e que saber não é fazer. Ou seja, a escolha demonstra o nível de maturidade real que temos, apesar das informações recebidas ou do desejo de acertar.

Sim, buscar melhorias é preciso. Estudar, estabelecer boas ligações espirituais, pensar um pouco antes de tomar certas decisões, trocar idéias com pessoas mais equilibradas, são procedimentos inteligentes e oportunos. Mas sempre sua escolha, decisão, opção, reflete seu estado íntimo e sua capacidade, no momento em questão. Ontem e amanhã são diferentes do hoje.

A culpa revela um mau entendimento sobre como você funciona e um alto grau de vaidade, pois a pessoa não se dá a naturalidade de errar, de equivocar-se, na soberba pretensão de ser infalível.

A culpa também tem o mau hábito de tomar para si toda a responsabilidade pelas reações das pessoas frente aos nossos atos, como se fosse possível dominar e controlar os outros, para que sejam como gostaríamos. Por isso, passamos a não ser nós mesmos, para evitar atitudes alheias que não queremos enfrentar e para não nos sentirmos culpados. Como se a mentira e a hipocrisia trouxessem resultados bons.

É um equívoco imaginar que a culpa nasce da virtude, pois a virtude é parceira da naturalidade do agir e entende perfeitamente as variantes de nossa forma de ser, em cada etapa da vida, ciente de que ninguém dá o que não tem.

Analisar esse assunto na teoria e na prática, com cuidado e com espírito investigativo, trará muita lucidez sobre como viver melhor e sem tantas “encucações”.

Aceitar-se, sem ilusões e esconderijos, é o caminho para a felicidade. Porque só após esse inteligente auto-reconhecimento, sem condenações, baseado na compreensão de que hoje estamos como podemos, mas amanhã estaremos mais maduros, é que nos desgruda de hábitos mentais indesejáveis, de idéias limitantes e do medo de errar que nascem da culpa.


Cristina Sarraf
Jornal do Cem
Fonte: Espirit Book


20 fevereiro 2019

Fake News Espíritas - Marcelo Henrique Pereira



FAKE NEWS ESPÍRITAS


2018 é um ano importante para a análise da influência das mídias sociais sobre o pensamento e a conduta dos brasileiros. Independente de eventuais preferências ideológicas – já que ninguém, de fato, é “tábula rasa”, possuindo, cada qual, uma bagagem de experiências e conhecimentos, desta e de outras existências – poucos são os que examinam notícias e publicações com “espírito desarmado”.

Não é que estejamos pregando neutralidade absoluta. Longe disso. Um velho e sábio professor de jornalismo, já me teria dito: “a imparcialidade na comunicação é uma saudável utopia”. Muitos dizem tê-la, alguns sonham com ela, mas ninguém a visualiza, nem experimenta, nas curvas das estradas da vida...

Kardec sempre se pautou pelo exame lógico-racional, construído a partir de suas atividades pedagógicas e ampliado a partir do concurso com as explicações transcendentais dadas por Espíritos – a quem não via, mas ouvia ou lia as mensagens produzidas. Faço este destaque porque a perspectiva me parece ser a mesma, posto que, pelas mídias sociais, não estamos “diante” das pessoas, mas de fatos, de notícias, de postagens ou manifestações de opinião, o que não nos permite, então, verificar a comunicação complementar, a gestual, a facial, a psicológica... Estes são elementos importantes para uma diagnose mais completa, mas a vida (de inter-relações) não é sempre ao vivo e a cores, sabemos...

Neste cenário legitimamente brasileiro, as FakeNews (notícias falsas ou fabricadas) ocupam um papel destacado. Distorcer, alterar os fatos, compor cenários, recortar pensamentos, ou, mesmo, produzir falsidades com a alteração de textos, imagens, áudios ou vídeos, exorbita o bom senso e ataca frontalmente os elementos de utilidade, verdade e bondade. Se a intenção é o que vale, em termos de análise espírita genuína, o objetivo (falsidade) é eivado, desde sempre, de criminalidade. O ordenamento jurídico de todas as nações desenvolvidas e democráticas os qualifica como calúnia, injúria ou difamação e aplica penalidades que visam resguardar a honra e a dignidade de quem seja atingido.

Podemos, entretanto, filtrar o escopo de análise deste tema e abstrair-nos das questões da política-partidária e das disputas eleitorais – em que segmentos afiliados a uma e outra corrente se digladiam – para buscar-lhe a aplicabilidade em termos do conhecimento espírita e espiritual. Ou seja, perguntar-nos-íamos: - Existem FakeNews Espíritas?

Contextualizando, precisamos definir o que é o Espiritismo e quem são os espíritas. Espiritismo é a Doutrina dos Espíritos, concebida a partir do intercâmbio entre dezenas de individualidades desencarnadas, que se manifestaram por meio de médiuns (encarnados) e aquele que organizou, sistematizou, perguntou, reperguntou, introduziu, comentou, ampliou, detalhou e concluiu (ufa!) o arcabouço de conhecimento espiritual sobre um sem-número de temas. E cujas informações obedeceram a um conjunto de PRINCÍPIOS BÁSICOS e que, necessariamente, foram confirmadas pela repetição de abordagens e convergência de manifestações, por espíritos distintos, através de médiuns diferentes, em locais e momentos igualmente apartados entre si. Espíritas, por extensão, são os que aceitam (entendem) tais princípios, buscam segui-los e submetem qualquer outra informação ao cotejo com a base, espírita, kardeciana.

Todos os dias, chegam-nos mensagens novas. Sejam por meio do veículo mediúnico (psicografia ou psicofonia), na forma de textos, livros, áudios e vídeos. A opinião dos desencarnados é elemento de destaque na prática espírita, remontando à época de Kardec (1857-1869), e tendo continuidade até desembocar nos nossos dias. E, do mesmo modo que no período em que o professor francês estava à frente deste movimento de ideias, década após década, expoentes do pensamento espiritista também se manifestam, por meio de entrevistas, palestras, conferências, mesas de debates ou artigos, via de regra. São pensadores espíritas, os quais se utilizam seja da produção textual seja da verbalização para dizerem O QUE PENSAM em alinhavo com os fundamentos da Filosofia Espírita.

Contudo, nem sempre, textos ou manifestações verbais são plenamente condizentes com os elementos que formam a Doutrina dos Espíritos. Há um componente de PESSOALIDADE que não pode ser descartado. E é comum as pessoas, sobretudo os neófitos ou os demasiadamente empolgados ou apaixonados pelo Espiritismo, confundirem uma e outra coisa. E, por vezes, aceitarem ou acatarem o que se diz ou se escreve COMO SE FOSSE Espiritismo, ou como se tivesse o mesmo referencial teórico estabelecido por Kardec, em consenso com as individualidades desencarnadas.

Não havendo, pois, o cotejo, o estudo comparativo, a abordagem sistêmica e aprofundada, as manifestações de médiuns, dirigentes, expositores e espíritos são apenas o que são, ou seja, OPINIÕES. E, por serem assim, acham-se submetidas ao Controle Universal do Ensino dos Espíritos – ou deveriam estar submissas a ele. Como não estão, elas podem ser caracterizadas como FakeNews Espíritas, tendo em vista que aparentam ser verdadeiras, mas não o são, porque incompatíveis, no todo ou em parte, com os axiomas espíritas.

É imperioso, ainda, lembrar a recomendação de Rivail, quando trata da exegese e da metodologia que levou à consagração de textos nas Obras Fundamentais, que os espíritas deveriam primar pelo estudo e exame das comunicações mediúnicas – assim como em face de qualquer manifestação do pensamento, anímica – para permitir o que ele convencionou chamar de PROGRESSIVIDADE DOS CONCEITOS ESPÍRITAS, situação que ainda permanece em branco, desde que o Codificador baixou à sepultura. Ou seja, de 1869 para cá, ninguém mais se “atreveu” a utilizar a sistemática estabelecida pelo professor francês, deixando a cargo do raciocínio individual e autônomo, a apreciação sobre qualquer informação TIDA como espírita.

Mas, poucos o fazem. Muitos permanecem ligados à ideia do maravilhoso e sobrenatural, maravilhando-se ante o “conceito” de mensagem mediúnica, de página inspirada, ou de consulta a “guias” espirituais. Empolgam-se ao dizer coisas do tipo: “Você viu o que o Espírito disse?” ou “Já viu a última palestra do Fulano?”. Ou, ainda, “No Congresso Tal, Beltrano falou isso ou aquilo”. Empolgados com a ideia da COMUNICABILIDADE, que deveria soar natural, já que somos espíritas e reconhecemos, na Mediunidade, o principal canal de aproximação entre as duas realidades, física e espiritual, muitos adeptos do movimento espiritista abdicam, sempre, do exercício do raciocínio lógico, que é (ou deveria ser) a marca que distingue os espíritas dos adeptos de qualquer crença, religião ou filosofia.

Por fim, o que fazer diante das FakeNews Espíritas? Eu diria, agir naturalmente. Realizar o exame (individual, ou coletivo, em grupos ou fóruns de debates), com base nas seguintes premissas, lidimamente kardecianas: 

1) Os Espíritos (desencarnados) não são infalíveis. Eles se manifestam de acordo com o nível de entendimento que possuíam, ainda quando materializados, já que a condição de desencarnado não erige ninguém ao status de missionário, mensageiro espiritual ou arauto de luz; 

2) Os médiuns são criaturas altamente falíveis e imperfeitas, mesmo que apresentem, aqui ou ali, padronagens que as diferenciem do homem comum, em termos de bondade ou humildade – ainda que esta última, francamente, seja algo bastante peculiar, já que a aparência pode não ser a essência e, em muitas situações, as pessoas desempenhem, apenas, papeis culturais ou sociais; 

3) As instituições humanas são, igualmente, imperfeitas e falíveis, porquanto representam o somatório das individualidades que nelas se reúnem, razão pela qual, em termos de Espiritismo, não exista, como no Catolicismo, uma entidade oficial, centralizadora de poder e de conhecimento; 

4) Os espíritas são livre pensadores e isto significa não só a máxima liberdade de se manifestarem e de realizarem estudos e pesquisas, como, também, a noção de que “ninguém é maior do que ninguém”, ou seja, não há a “última palavra” ou “palavra final” em termos de Espiritismo; e, 

5) O conhecimento (ou os conhecimentos) são limitados circunstancialmente ao cenário, ao ambiente e ao quadrante temporal em que forem produzidos e poderão permanecer por algum tempo, até que sejam, tal qual os axiomas das distintas Ciências, derrogados por evidências, provas ou experimentos posteriores. Isto nos faz apear da ideia preconcebida de que temos “a” verdade e que a Filosofia Espírita tenha apresentado, de modo definitivo e permanente, a explicação sobre determinados temas. 

Há que se valorizar o esforço de todos os que pesquisam e estudam. 

Há que enaltecer todos aqueles que se dedicam às inúmeras e diversificadas atividades espíritas. Há que reconhecer a intenção de bondade e utilidade com que pessoas, individual ou coletivamente, se dediquem a atividades, seja dentro ou fora de instituições espiritistas. E há que se qualificar como adiantados aqueles que, além das teorias, conseguirem empreender práticas fraternas na resolução das grandes questões e problemas de cada tempo e lugar. Mas isto não representará, em nenhuma circunstância ou hipótese, que devamos minimizar os efeitos de uma “mentira” dita como se fosse espírita, apenas para agradar alguns, ou porque é inofensiva ao olhar de outros (“que mal faz?”), ou, ainda, porque proveio de uma individualidade ou instituição que carrega a adjetivação espírita ou é reconhecida como tal, por seus pares.

O Espiritismo precisa avançar. E o avanço parte da premissa de que já nos consolidamos enquanto filosofia – entre nós, os seus profitentes – e que a postura de aceitação passiva, comum em agremiações religiosas, de todos os matizes, não é condizente com a proposta espírita de transformação, pessoal e social, a partir do exemplo valoroso de Kardec. O período de transição entre o religioso e o de regeneração social – seguindo a conceituação dada pelo próprio Codificador – inspira a cada um de nós no sentido de evitarmos e rechaçarmos a permanência das FakeNews Espíritas, sem qualquer intenção de banimento de pessoas ou instituições, muito pelo contrário, mas pelo convite diuturno de TUDO EXAMINAR, comparativamente, fazendo, enfim, o próprio Espiritismo, avançar!

Este é o convite para o Século XXI!



Marcelo Henrique Pereira


19 fevereiro 2019

Só rezar não adianta - Nilton Moreira




SÓ REZAR NÃO ADIANTA


Às vezes reclamamos da vida que levamos, isso em razão de ver que muitas pessoas ao nosso redor têm uma vida aparentemente melhor que a nossa, ou talvez menos ruim. De fato é comum em algum momento nos pegarmos avaliando a vida dos outros e até esquecemos um pouco da nossa.

Uma das perguntas que faço sempre para as pessoas que chegam ao nosso grupo de estudos é o que ela está fazendo para resolver o momento difícil pelo qual está passado. Interessante que a resposta mais utilizada é não sei ou estou rezando. Ora o não saber é algo bastante complexo, pois demonstra já que a pessoa está totalmente perdida em seus propósitos, mas responder alegando que está rezando, também não é uma providência que fará com que o momento difícil seja resolvido.

Mas alegam que Deus é poderoso e rezando vai ser resolvida a questão! Não é bem assim, se fosse resolvido qualquer impasse desta vida proferindo oração, religiosos que vivem em recolhimento, por exemplo, não teriam problemas! Deus de fato é poderoso e poderia num piscar de olhos mudar nossa vida se quisesse, mas isto não acontece, pois Deus também é justo e quando Sua justiça se faz presente eclode em nossa vida as dificuldades.

O que nos acontece hoje é um reflexo das vidas passadas, de nossos comportamentos com pessoas que já convivemos. Soma-se a esse reflexo, a nossa capacidade de praticar atitudes errôneas, promovendo muitas vezes discórdia, maldades, maledicências e transgressões a própria Lei Divina que está encrustada em nossa consciência.

É normal termos de passar certos momentos difíceis, resgatando situações de outras vidas, mas ao nos depararmos com as primeiras dificuldades nos rebelamos e acabamos desagradando a Lei Divina e passamos a tomar atitude equivocada que vai piorar nossa situação. Fica então o fardo pesado demais!

Deixemos de lado o reclamar da vida. Façamos sim uma análise do que está acontecendo conosco. Procuremos identificar se pelo nosso comportamento diário não demos causa ao mal que está nos afligindo! Oremos para que sejamos ajudados pelos benfeitores espirituais, Mensageiros de Deus para que nos socorram e nos intuam a seguir o melhor caminho e tomar a atitude mais coerente!

Procuremos resolver um problema de cada vez. Tentar enfrentar vários fica difícil e podemos não obter êxito. Após resolver um, passemos então para o outro e assim por diante. Rezemos, oremos, façamos preces, mas tenhamos a capacidade pelo menos de tentar não incorrer, nos mesmos erros, pois do contrário nossa oração não valerá de nada.

Deus quer atitude nossa, trabalho para o melhoramento moral, esforço nas decisões. Fomos Criados para evoluir e não ficarmos de “mi mi mi” como se diz.

Façamos a nós mesmos a pergunta: o que estou fazendo de prático para superar o momento difícil pelo qual estou passando. Só orar e ficar esperando que a solução “caia do céu” não vai resolver. 

Energia amigos. Energia.


Nilton Moreira
Coluna Semanal Estrada Iluminada
Fonte:  Espirit Book


18 fevereiro 2019

Jeito de Falar - Orson Peter Carrara



JEITO DE FALAR


O escritor Rubem Alves (www.rubemalves.com.br) publicou no Correio Popular, de Campinas, caderno C, página C-2, de 18 de julho de 2004, uma bela crônica intitulada O que é que você faria? Considerei-a muito oportuna. Embora longa (quase uma página), destaco ao leitor o teor principal. Ele traz uma estória no artigo e usa um exemplo médico, desculpando-se pela comparação, para citar como é importante a maneira de dizer as coisas ou se quisermos, como dizemos e a quem. Pois esta maneira pode destruir vidas e sonhos.

A história citada pelo escritor comenta o relacionamento de um casal que muito se ama.

Ela desenvolveu um câncer no seio e teve que extraí-lo, mas isso não abalou o relacionamento do casal, apesar das dores e aflições. Em cinco anos, o outro seio também foi afetado, mas o bom e amigo médico que antes a atendera já havia morrido.

Procuraram outro médico, mas este, completamente insensível às dores do casal e especialmente da mulher, ao vê-la sem um seio, já exclamou friamente: “Mas a senhora já não tem um seio… Seu caso é muito mais grave do que eu imaginava”.

E o escritor, comentando a própria estória, colocou em seu texto: “Fico a me perguntar. Por que é que ele falou o que falou? Não falou para informar mulher e marido de uma coisa que não soubessem. Eles sabiam que ela não tinha um seio. Também não falou para certificar-se de algo que estava vendo, mas não via bem, por ser ruim dos olhos, pois ele enxergava muito bem. E qual a razão do seu frio, imediato e cruel diagnóstico. Para que falou isso? Era necessário? Não, não era necessário. Seu diagnóstico em nada contribuiu para o tratamento daquela mulher. Ou será que ele falou assim por inocência? Não imaginava o veneno que suas palavras carregavam? Não imaginava o efeito de suas palavras sobre aquela mulher despida, sem um seio, humilhada, amedrontada. Se falou por inocência digo que o dito médico só pode ser um idiota que nada conhece sobre os seres humanos.”

E continua: “Crueldade não é algo que somente existe nas câmaras de tortura. Ela se faz também com palavras. Há palavras cruéis que apagam a tênue chama da esperança. (…)”

E pergunta em seguida: “(…) qual é o lugar, nos currículos de medicina, onde tanta coisa complicada se ensina, para uma meditação sobre a compaixão? É na compaixão que a ética se inicia e não nos livros de ética médica. Ah! Dirão os responsáveis pelos currículos – compaixão não é coisa científica. Não entra na descrição dos casos clínicos. Não pode ser comunicada em congressos. Portanto, não tem dignidade acadêmica. Certo. Mas acontece que não somos automóveis a serem consertados por mecânicos competentes. Somos seres humanos. Amamos a vida, queremos viver. Sofremos de dores físicas e de dores da alma: o medo, a solidão, a impotência, a morte. O que esse médico fez não tem conserto. Uma vez feito a ferida sangra. Palavras não podem ser recolhidas. O sofrimento foi plantado.(…)”

E como indagou o autor em seu texto, deixo a pergunta para nós mesmos: o que é que faríamos na mesma situação? Claro que não especificamente como médico, pois o exemplo se aplica a qualquer outra ocorrência de relacionamentos humanos.

A situação traz à lembrança o capítulo X de O Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulado Bem-aventurados os misericordiosos. No subtítulo O argueiro e a trave no olho, em lúcido texto, pondera o Codificador: “Um dos defeitos da Humanidade é ver o mal de outrem antes de ver o que está em nós. (…) Que pensaria eu se viesse alguém fazendo o que faço? Incontestavelmente é o orgulho que leva o homem a se dissimular os próprios defeitos, tanto ao moral como ao físico. Esse defeito é essencialmente contrário à caridade, porque a verdadeira caridade é modesta, simples e indulgente (…). Se o orgulho é o pai de muitos vícios, é também a negação de muitas virtudes; encontramo-lo no fundo e como móvel de quase todas as ações (…)”.

Nessa última palavra, podemos enquadrar as situações do exemplo acima, na questão médica e que pode ser transferida para qualquer outra situação, onde nos permitimos desprezar, discriminar, maltratar com palavras ou acentuar o sofrimento de alguém com nossa maneira de dizer…

Afinal, nada justifica a crueldade, ainda que em palavras.


Orson Peter Carrara