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13 novembro 2019

Boa Nova - Amélia Rodrigues



BOA NOVA


A história da Boa Nova é a epopéia do homem atormentado buscando as fontes inexauríveis da Divina Misericórdia e recebendo a linfa refrescante da paz, que vem sorvendo lentamente através dos dois últimos milênios.

Por enquanto, condicionado às circunstâncias da própria necessidade, não tem sabido valer-se do gral asseado da abnegação e a toma em vasilhames impregnados de sujidades que impedem a absorção total e lenificadora do refrigério de que se faz instrumento.

Seguindo Jesus, o Amigo Excelente, não tem sabido o homem abandonar a estreiteza das limitações ideológicas em torno das quais circunvaga, para buscar os horizontes ilimitados da solidariedade onde se pode realizar e adquirir plenitude.

Asfixiado pela volúpia dos gozos imediatos, e suserano das paixões reluta no momento de abdicar as velhas acomodações derrotistas, plasmando o esforço nobre da sublimação dos ideais.

Confundido pelas ideologias estranhas de classes e nações, padronizando direitos e deveres conforme os preconceitos que vitaliza estoicamente, aferra-se ao mundo conquanto o conhecimento comprove a invalidade da estrutura das chamadas realidades objetivas.

Por isso amargura-se, demorando lamentavelmente vinculado aos hábitos anestesiantes nos quais se amolenta e envilece, surpreendendo-se com a morte e desesperando-se, odiando o sofrimento e fomentando-o, fugindo ao medo e espalhando-o, experimentando a própria alucinação justiçando-o.

No entanto, a Boa Nova em sua epopéia representa a história do homem atormentado que bate às portas dos céus, ansiosamente, e recebe a resposta da esperança e do amor, atendendo-o generosamente.

Por toda parte a figura do Singular Galileu era um raio de luz na noite dos apelos humanos, clareando por dentro as necessidades gerais.

Combatido a Seu tempo não é aceito hoje, ainda, pela falsa cultura que entroniza o crime e desdenha a honra, arrazoando contra o amor, por meio de despeito azedo, por identificar na vitória que os desconsiderados pelo mundo conseguem em si mesmo, como sendo Sua derrota ante o malogro das suas aspirações.

.. . E a epopeia do Cristo canta com toda a pujança.

Aí está no dia-a-dia a representação das vidas que a Sua Vida levantou. Repontam em abundância as existências que Ele soergueu e no incessante re nascer das mesmas aflições como reflorescimento das velhas árvores da angústia, parecem aguardar o Jardineiro doutrora…

Aqui estão embrulhadas na dor as aflitas mães viúvas em evocação à de Naim, rogando ajuda com as almas em frangalhos, desesperançadas; vestida? de ilusão, derrapando na ociosidade alucinada, virgens loucas desfilam em contínuo cortejo de insensatez esquecidas da responsabilidade, embriagando-se para logo tombarem sonolentas nos resvaladouros do erro, perdendo os noivos, quando chegam; os onzenários que preferem a algaravia cambial e o sonido expressivo dos valores que perseguem, em detrimento da jóia de alto preço, que merece adquiri-rida com o resultado arrecadado pela venda de todas as pequenas jóias, porque estão desatentos perdem a mais preciosa: a paz interior; interrogantes os príncipes da ciência e da filosofia, indagando e indagando sempre, sem reflexionar, fixados aos compêndios tradicionais e aos conceitos dúbios a que se aferram, são surpreendidos pela desencarnação para constatarem, arrependidos, tardiamente…

Rareiam os novos centuriões cuja fé rutila nos olhos e clareia por dentro, prosternando-se ante Ele para esperar a cura do servo e consegui-la, ou da mulher siro-fenícia cujo ardor deu-lhe intrepidez para tocar-lhe as vestes e arrancar-lhe “a virtude” da saúde; ou a obsidiada de Magdala que rompeu em definitivo a noite interior para que a Sua luz a incendiasse por dentro, haurindo n’Ele o combustível que a manteria em claridade contínua até a vitória final.

Ele, no entanto, continua esperando.

Sua voz utiliza para ensinar a singeleza de um grão de mostarda, de redes a secarem ao sol, de peixes e varas verdes, de uma figueira brava, de talentos, de pérolas, de fermento, conhecidas de todos essas expressões, arrancadas da experiência diária de cada um, como lição sempre nova, abrindo clareiras de sabedoria na floresta dos conceitos complexos e inexpressivos que não conduzem a mente atormentada a lugar nenhum.

A Boa Nova ressuma esperança, pois é a história do homem angustiado, batendo e Jesus respondendo, em forma de socorro lenificador incessante, como a dádiva de Deus para a libertação do ser.


Amélia Rodrigues
Médium: Divaldo Pereira Franco
Livro: Luz no Mundo

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