Total de visualizações de página

29 fevereiro 2020

O lixo que carregamos para cima e para baixo - Adriana Machado



O LIXO QUE CARREGAMOS PARA CIMA E PARA BAIXO


Quando não sabemos onde jogar o lixo que produzimos em nossa casa, ficamos por um bom tempo com ele armazenado. Se formos proativos, buscaremos saber logo onde poderemos depositá-lo, mas se afirmarmos que não temos tempo, acabaremos ficando com ele até que cheire mal e nos incomode.

Essa visão não é muito diferente daquilo que produzimos e armazenamos dentro de nós.

Quantas vezes, quando sentimos algo, seja bom ou não tão bom, escondemos embaixo das nossas desculpas de ocupados e não nos detemos em descobrir onde e como melhor descartamos tais sentimentos? Quantas vezes, levamos esse lixo para cima e para baixo sem nos atrevermos a questionarmo-nos sobre o que, onde e como achamos que é o melhor jeito de descartá-lo [1]?!

Se vocês observaram acima, eu disse para descartarmos bons ou não tão bons sentimentos... mas, então, o que isso significa? Não seriam somente os ruins que deveríamos jogá-los fora?

Vamos explicar. Qualquer sentimento que portarmos nos trará uma consequência em nosso mundo íntimo e se não compreendermos o que cada um representa efetivamente para nós, poderemos nos prejudicar ao armazená-los em nossos corações.

Vou contar-lhes uma história que li nas redes sociais, da qual o autor eu desconheço:

Um professor pediu aos alunos que levassem uma sacola com batatas para a sala de aula. Disse-lhes que separassem uma batata para cada pessoa que os magoara ou de alguma forma os fizera sofrer. Depois disso que escrevessem o nome de cada pessoa em cada batata e as colocassem dentro da sacola.

Eles começaram a pensar, e foram lembrando e escrevendo uma a uma as pessoas que os tinham magoado... Algumas sacolas ficaram muito pesadas!A tarefa seguinte consistia em, durante uma semana, carregar consigo a sacola com as batatas para onde quer que fossem. Com o tempo as batatas foram se estragando e era um incômodo carregar a sacola o tempo todo e ainda sentir seu mau cheiro. Além disso, a preocupação em não a esquecer em algum lugar fazia com que deixassem de prestar atenção em outras coisas que eram importantes para eles.

Quando damos importância aos problemas não resolvidos ou às promessas não cumpridas, nossos pensamentos enchem-se de mágoa, aumentando o stress e roubando nossa alegria.

Perdoar e deixar estes sentimentos irem embora é a única forma de trazer de volta a paz e a calma.

Jogue fora as suas "batatas"!

Bem, vocês poderiam pensar, mas esse exemplo só fala das coisas ruins que carregamos!!

Sim, é verdade, mas agora sigam comigo em minha reflexão: se houve algum sentimento entre essas pessoas (mágoas, raivas...), ele foi construído, na maioria das vezes, depois de uma construção boa, um laço emocional entre elas. Então, quando pensamos que surgiram sentimentos negativos que nos atolam ao peso que eles produzem, antes houve a construção de algo bom, palpável, real.

Então, usando do exemplo acima exposto, as batatas que carregavam os nomes de quem nos magoou e nos fez “mal”, antes, serviriam para nos alimentar, nos dar prazer, se as tivéssemos preparado ao nosso gosto.

Quando nominamos as “batatas”, compreendemos que elas já faziam parte de nossa vida, elas já eram nossas conhecidas e já nos influenciavam com suas ações e pensamentos. Senão, não nos incomodaríamos com elas.

Mas, vocês poderiam pensar que existem muitas pessoas que não conhecemos pessoalmente, e, mesmo assim, gostamos ou não delas. Sim, mas não podemos esquecer que, de alguma forma, para que produzamos o “lixo”, tendo-as (essas pessoas) como partícipes nesta construção, as ações delas já estão influenciando diretamente na nossa vida, por isso, reagimos, positiva ou negativamente.

Por exemplo, podemos citar as mais comuns:

  • (1) pessoas públicas, como políticos e artistas, por suas ações e ideias, podem nos influenciar, ou a quem amamos, para um caminho tortuoso; a mergulhar em vícios ou valores deturpados; somente com o uso do poder que detém, trazer mudanças significativas em toda a nossa estrutura familiar;

  • (2) criminosos, seja qual for o delito que cometam, nos levam a viver no medo e nos aprisionar em nossos próprios lares; a nos sentirmos agredidos ao sermos alvo de suas ações criminosas; a nos escandalizar quando atuam contra os nossos valores individuais ou coletivos, mesmo quando o alvo não é quem amamos, mas poderia ser...

  • (3) dentre outros...

Tudo isso nos incomoda e até revolta, fazendo com que sintamos algo não tão bom em relação às ações delas (e não contra elas). Se sentirmos contra elas, foi porque personificamos nelas o que não gostamos em suas ações.

Por outro lado, porém, se pensamos em (i) quem amamos e que nos magoam, ou (ii) amamos e nos fazem bem...

... é fácil entendermos, no exemplo, que (i) esse peso deva ser jogado fora através do perdão, da compreensão de que as pessoas só poderão dar aquilo que têm e que somos nós a determinar como iremos interpretar cada situação por nós vivenciada, não é?

Mas, no segundo caso (ii), as que amamos e nos fazem bem, qual peso que carregaríamos? O da exacerbação deste mesmo amor. Mesmo que elas nada tenham feito “contra” nós, se não equilibramos o nosso amor, começaremos a criar sentimentos que nos escravizarão e nos tornarão insatisfeitos com aquela relação. Então, mesmo amando e sendo amados, poderemos carregar batatas podres e viver na insatisfação sem perceber, através do ciúmes, da possessividade, da superproteção...

Carregaremos um lixo que está transfigurado como algo valioso, que não poderemos viver sem ele. É não analisarmos com cuidado aquilo que já nos incomoda, mas, por ser importante, nem analisamos o que estamos sentindo porque não queremos nos livrar dele.

Está na hora de, sabendo o que não nos faz bem, termos coragem para enfrentar tais sentimentos e, se não forem mesmo saudáveis, usarmos dos seus respectivos antídotos para superá-los.

São instrumentos adequados para nos colocarmos aptos a descartar aquilo (i e ii) que já não nos serve mais:

  • (a) o perdão e
  • (b) o autoperdão;
  • (c) o autoamor;
  • (d) a autopreservação; e,
  • (e) o autoconhecimento.

Se antes, aquele “lixo” nos foi útil, agora, utilizando-nos destas ferramentas, perceberemos que ele deixou de ser.

Assim, deixaremos de produzi-lo (lixo) e se o fizermos em um momento de invigilância, teremos condições de o descartarmos em um lugar apropriado sem produzirmos grandes mazelas ao nosso ser. 



[1] Usarei neste artigo as expressões “jogar fora”, “descartar”, em razão da história que nele foi incluída, mas vamos sempre nos lembrar que não há onde depositarmos nossos sentimentos equivocados, e sim transformá-los, reciclá-los em sentimentos que nos consolam e impulsionam.

28 fevereiro 2020

Impressões Negativas - Momento Espírita




IMPRESSÕES NEGATIVAS


Hoje em dia, grande parte dos pais se preocupa em conduzir seus filhos a um templo religioso, em virtude da situação conflitante por que passa a nossa sociedade.

Todavia, esses mesmos pais têm encontrado grande resistência por parte dos filhos, principalmente dos jovens e adolescentes.

Isso nos recorda uma experiência vivida por um casal de amigos.

Eles tinham um filho de 14 anos que não se interessava em freqüentar as reuniões religiosas junto com os pais, apesar de todos os esforços destes por persuadi-lo.

Todas as vezes que os pais lhe falavam sobre a necessidade de se buscar a ajuda de Deus para enfrentar, com fé e confiança, as agruras da vida, o filho se mantinha calado, dedilhando sua guitarra, da qual poucas vezes se separava.

Um dia, já cansados de tentar convencê-lo, sem lograr êxito, os pais foram um pouco mais veementes.

Aproximaram-se do rapaz e começaram a lhe falar da importância de ele os acompanhar ao templo religioso.

O garoto, que até então estava calado, segurou as cordas da guitarra com uma das mãos, fitou-os nos olhos, e disse:

Meus queridos pais, há quanto tempo vocês professam essa religião? O pai imediatamente respondeu que já fazia 20 anos, e a mãe disse que a professava desde o berço.

O jovem abaixou a cabeça e continuou a acariciar sua guitarra.

Mas os pais, inquietos, questionaram com impaciência:

Filho, você está surdo? Por que não fala direito com os seus pais? Diga-nos, por favor, os seus motivos.

O rapaz levantou a cabeça novamente, olhou-os com um certo ar de tristeza e falou:

Eu não queria magoá-los, mas, se vocês insistem...

Vocês acabaram de me dizer os anos que cada um freqüenta o templo religioso e eu, que na verdade já sabia disso, peço que me digam, com toda sinceridade:

Para que serve a religião, se vocês vivem brigando dentro de casa? De que adianta buscar um Deus que não consegue fazer com que vocês se entendam e se perdoem, ao invés de viverem aos gritos um com o outro? Respondam, com sinceridade, de que vale uma religião se de vez em quando eu vejo o pai dormindo no sofá e a mãe se debulhando em lágrimas, lá no quarto? Será que vocês me acham tão infantil a ponto de me convencer que a sua religião é boa para mim, quando não consegue fazer vocês felizes? Não! Eu realmente não perderei tempo com essas coisas que não são eficientes nem para vocês mesmos.

* * *

A história desses amigos vale como motivo de sérias reflexões para todos nós.

Esquecidos de que nossos filhos são portadores de inteligência e bom senso, queremos que acreditem no que falamos e não no que eles observam no cotidiano, portas adentro do lar.

É importante que aprendamos a ensinar pelo exemplo e não tentar convencer com teorias vazias.

* * *

Geralmente os responsáveis pelo distanciamento dos jovens do Criador, são os pais, com sua falta de fé ou hipocrisia.

As religiões trazem, em seus postulados, as diretrizes que conduzem a Deus, mas os religiosos, ou os que se dizemos tais, é que não as entendemos ou as desvirtuamos.

Assim sendo, se quisermos, sinceramente, aproximar nossos jovens de Deus, aproximemo-nos dEle primeiro.

Pensemos nisso!


Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no livro Crepúsculo de um coração, de Jerônimo Mendonça cap. Necessidade de Exemplo.

27 fevereiro 2020

Um coração de mãe perante a desencarnação dos filhos - Jorge Hessen

(Lorelei Go e seus três filhos)

UM CORAÇÃO DE MÃE PERANTE A DESENCARNAÇÃO DOS FILHOS


Se há circunstância bastante desafiadora para o coração de mãe é ter que sepultar o próprio filho. Lorelei Go, mãe de três filhos , “perdeu” os 3 filhos para o câncer de fígado em um pequeno intervalo de 4 anos.

Rowden, o seu filho mais velho, foi diagnosticado com câncer de fígado em estágio 4 e desencarnou em 2014. Apenas um ano mais tarde, Lorelei Go estaria enterrando o seu filho do meio, Hasset que sofria do mesmo câncer de fígado. O filho mais novo, Hisham também foi diagnosticado com câncer de fígado e embora tenha se submetido a diversos tratamentos, incluindo uma criocirurgia experimental na China, pouco mais de dois anos após o falecimento de Hasset, Lorelei teve que sepultar o seu último filho de apenas 27 anos.

Conquanto Lorelei tenha experimentado um momento no qual questionou as leis de Deus, porém percebeu que aquele era um teste de fortalecimento das suas convicções. Como uma pessoa de fé, ela decidiu pensar em seus filhos em condições mais agradáveis no além tumba, e preserva a esperança do momento no qual ela poderá se reencontrar com eles. Isso, segundo ela, é o que a dá forças. 

Quando falou com o GMA Public affairs, Lorelei disse que sabe que tudo isso faz parte dos planos de Deus para “testar e fortalecer a minha fé”, como citado pela goodtimes.my .

Poucos são os que estão preparados para receber a notícia de que um filho tem um câncer voraz. E muito menos para ver o filho perder a batalha para a doença. Contudo, urge que pacifiquemos a consciência em vez de nos infelicitarmos quando for dos desígnios de Deus retirar do corpo um de nossos filhos deste planeta de prova e expiação.

Segundo interpretações apressadas, concebemos que muitas situações chamadas de infelicidade, cessam com a vida física e encontram a sua compensação na vida além-túmulo. Emmanuel, com a nobre sensibilidade que lhe assinala o modo de ser, considera que “nenhum sofrimento, na Terra, será talvez comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde transporta para o grande silêncio. E acentua, convincente: “Digam aqueles que já estreitaram de encontro ao peito um filhinho transfigurado em anjo da agonia. [1]

Em realidade, ante aqueles que demandam a Vida na Espiritualidade, o comportamento do espírita é algo diferente, ou pelo menos deve ser diferente, variando, contudo, de pessoa a pessoa, com prevalência, evidentemente, de fatores ligados à fé e à emotividade. 

Nesses instantes cruciais do sepultamento de um filhinho o espírita chora discreto, mas se fortalece na oração. Na certeza da Imortalidade gloriosa, domina o pranto que desliza na fisionomia sofrida e busca na esperança uma das virtudes evangélicas, o bálsamo para a saudade justa. 

O Espírita consciente nunca se entrega à desesperação. Não fraqueja ante os convites da rebeldia, porque sabe que revolta é insubordinação ante a Magna Vontade do Criador, que o espírita aprende a compreender e acolher, paradoxal e inexplicavelmente jubiloso, por dentro, vergado conquanto ao peso das mais agudas agonias.

Jorge Hessen


Referências bibliográficas: 

 [1] , J. Martins Peralva. O pensamento de Emmanuel, RJ: Ed FEB, 1990


26 fevereiro 2020

Prece é Oração - Nilton Moreira



PRECE É SOCORRO


Normalmente quando acontece algo em nossa vida que enseja perigo para a segurança pensamos na Polícia. As crianças pensam no pai ou na mãe e alunos quando em sala de aula se socorrem do seu professor.

Diz um ditado que na eminência de ameaça a integridade física ou ao patrimônio, lembramos primeiro da Brigada (Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Sul) e depois de Deus.

Não somos condicionados para no primeiro momento de desespero elevar o pensamento a Deus. Às vezes nem mesmo os religiosos conseguem isso, indo acontecer a conexão só na sequencia dos fatos, e depende ainda de fé.

Mas quando essa elevação de pensamento é realizada com toda nossa força mental, convictos de que vamos ser ouvidos, certamente algo acontece. Às vezes não da maneira que almejamos, pois que existe o ditado de que “fazemos um plano e Deus faz outro”, mas tenhamos a certeza de que algo acontecerá, e certamente será benéfico, pois o Pai jamais nos vai proporcionar algo que seja ruim ao pedirmos algo de bom.

Chico Xavier na psicografia de um de seus milhares de livros publicados, diz que na maioria das vezes quando estamos atravessando uma dificuldade que nos causa angústia, os benfeitores espirituais já nos vieram em socorro mesmo antes de pedirmos. É que todos nós temos um espírito protetor/anjo de guarda que está sempre atendo as nossas ansiedades, e já providencia o atendimento necessário ao que está acontecendo conosco.

Também Chico tem uma frase que diz: “quando uma mãe faz uma súplica, ela arromba as portas do céu”. Imaginemos então o poderio que tem a prece profetizada com a devida coerência!

Quando nos referimos à prece, não estamos falando daquelas rezas que são ditas maquinalmente, sem concentração de pensamento, pois já vi muita gente orando e ao mesmo tempo olhando para os lados para ver o que se passa, e muitas vezes reparando no vestir ou na maneira que o outro ora, ou com quem se faz acompanhar no recinto para depois ter assunto a comentar na roda de amigos. Esse tipo de súplica não tem efeito algum nos dizem os Espíritos Superiores.

Devemos proceder a oração nos moldes que Jesus nos exemplificou quando se dirigiu ao Pai, e ter a certeza de que vamos conseguir a ajuda merecida, apesar de sabermos que muitas tristezas, dificuldades e entraves fazem parte de nossos resgates de outras vidas e que temos de transpor, mas sempre a prece será nosso socorro no sentido de obter força para superar o momento.

Prece é coisa séria e devemos fazer apenas visando o bem. Se nossa prece for ensejar o mal de alguém não a façamos, pois é uma energia que reverterá em nosso prejuízo.

Portanto saibamos que prece sempre será nosso socorro. É um canal de ligação com o Altíssimo.


Nilton Moreira
Coluna Semanal - Estrada Ilustrada
Fonte: Espirit Book

25 fevereiro 2020

Carnaval – não há outra disposição que não seja o da abstinência espontânea do folguedo



CARNAVAL - NÃO HÁ OUTRA DISPOSIÇÃO QUE NÃO SEJA O DE ABSTINÊNCIA ESPONTÂNEA DO FOLGUEDO

Não fossem os excessos de toda ordem, o carnaval, como festa de manifestação sociocultural, poderia se tornar um evento como outro qualquer. Há pessoas que buscam fazer da “festa” uma ocasião de perspectiva econômica, oportunizando empregos, abrigando menores, e isso talvez tenha lá o seu valor social. Todavia, a bem da verdade, a relação de custo-benefício do saldo da homenagem a Momo se resume em três palavras: violência, ilusão e sensualidade.

A rigor, o que o carnaval proporciona ao Espírito? Alegria? Divertimento? Cultura? É de se perguntar: será que vale a pena pagar preço tão elevado por uns dias de insano delírio coletivo? Muitos histéricos adoradores de Momo destroem as finanças familiares para degustar a atração efêmera de curtir três dias de completa demência. Marmanjos e donzelas se abandonam nas emboscadas viscosas das drogas lícitas e ilícitas.

Malfeitores das escuridões extrafísicas se conectam aos apatetados fantasiados pelos invisíveis hipnotizadores dos nevoeiros umbralinos, em face dos entulhos lascivos que semeiam no mundo mental. O Espírito Emmanuel avisa: “Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. (…) Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem.” [1]

Pactos lúgubres são preparados no além-tumba e levados a efeito nessas ocasiões em que Momo domina voraz sobre as pessoas que se consentem desmoronar na festa assombrosa. Os três dias de folia, assim, poderão se transformar em três séculos de penosas reparações.

A princípio, o Espiritismo não estimula nem recrimina o Carnaval e respeita todos os sentimentos humanos. Porém, será que a farra carnavalesca, vista como uma manifestação popular, consegue satisfazer os caprichos da carne sem deteriorar o espírito? Será lícito confundir “diversão” passageira com alegria essencial?

Os cínicos foliões declaram que o carnaval é um extravasador de tensões, “liberando as energias”… Entretanto, no carnaval não são serenadas as taxas de agressividade e as neuroses. O que se observa é um somatório da bestialidade urbana e de desventura doméstica.

Aparecem após os funestos três dias momescos as gravidezes indesejadas e a consequente proliferação de abortos, incidem acidentes automobilísticos, ampliação da criminalidade, estupros, suicídios, aumento do consumo de várias substâncias estupefacientes e de alcoólicos, assim como o aparecimento de novos viciados, dispersão das moléstias sexualmente transmissíveis (inclusive a AIDS) e as chagas morais, assinalando, densamente, certas almas desavisadas e imprevidentes.

Não vemos, por fim, outro caminho que não seja o da “abstinência espontânea dos folguedos”, do controle das sensações e dos instintos, da canalização das energias, empregando o tempo de feriado do carnaval para a descoberta de si mesmo; o entrosamento com os familiares, o aprendizado através de livros e filmes instrutivos ou pela frequência a reuniões espíritas, eventos educacionais, culturais ou mesmo o descanso, já que o ritmo frenético do dia a dia exige, cada vez mais, preparo e estrutura físico-psicológica para os embates pela sobrevivência.



Jorge Hessen

Referência bibliográfica:

[1] XAVIER , Francisco Cândido. Sobre o Carnaval, mensagem ditada pelo Espírito Emmanuel. Fonte: Revista Reformador, Publicação da FEB fevereiro/1987

24 fevereiro 2020

O espírita, a interdição ao corpo e o carnaval - Pedro Camilo



O ESPÍRITA, A INTERDIÇÃO AO CORPO E O CARNAVAL


O espírita é, antes de tudo, uma pessoa, um ser humano, um “ser no mundo” que, como tal, vive o mundo e suas possibilidades conforme suas necessidades, carências e expectativas. Não perder essa dimensão humana de si mesmo é caminho de segurança para a própria felicidade, pois o contrário significaria viver uma ilusão, talvez a pior delas, que é a ilusão sobre si mesmo.

Sendo assim, é natural que o espírita, como pessoa que é, viva o mundo e no mundo, sem que isso signifique seu apequenamento evolutivo, se assim me posso expressar. Pensam de modo diferente, porém, aqueles que ainda estão marcados por um religiosíssimo atávico, idiossincrasia não só reencarnatória, mas também da atual existência, segundo o qual “experimentar as coisas do mundo” é pecado, é um erro, especialmente quando esse “experimentar” guarda relação com o corpo.

É que o corpo, para quem se pauta por um viés religioso-tradicional, é tratado como sinônimo de sujo, de animalidade. O corpo simboliza a matéria, densa e bruta, enquanto o que se sonha é o vaporoso, o diáfano, o espiritual. Daí porque os discursos religiosos costumam seguir na interdição ao corpo, a tudo aquilo que pareça exaltá-lo, experienciá-lo, considerando que isso é marca daqueles que se entregam a “desejos mundanos” e, por isso, ainda demais inferiorizados e distantes do ideal de perfeição a que se aspira. Os espíritas, nada obstante o Espiritismo seja uma doutrina progressista e libertária, ainda seguem por esses caminhos. Na vivência espírita, o “corpo” não tem vez, sendo sempre barrado das mais variadas formas: na mediunidade, o “corpo” deve permanecer impassível, sem movimento, pois isso indicaria “indisciplina” para aplicar o passe, o “corpo” não pode ter atividade sexual no dia anterior, pois isso “macularia” os fluidos; diante de uma palestra que agrada, encanta, não se pode aplaudir (expressar “corporalmente” um estado de felicidade e contentamento), pois isso “desequilibra” o ambiente; se estamos em férias, não se deve curti-las em demasia, pois isso seria entregar-se ao jugo do “corpo”, numa espécie de ostracismo imerecido; se há uma festa, não se pode dançar (movimentar o “corpo” para aliviar as tensões e buscar satisfação, inclusive física), pois “dançar” é demonstração de necessidades menores…

O corpo, assim, segue sendo o grande vilão evolutivo, pois é sinônimo de “carne”, que é “fraca”, e se impõe a necessidade de fugir do seu império…

Discursos e posturas desse tipo desembocam em erro de percepção. Acredita-se que “negar o corpo”, que seria o mesmo que “negar os desejos”, seja a melhor forma de se espiritualizar. Entretanto, a negação só promove distanciamento, fuga e sofrimento, pois é o reconhecimento do corpo e, consequentemente, dos desejos, que torna o ser consciente de si mesmo, de suas necessidades, capaz de avaliar seu alcance, sua extensão e seu impacto. De tal tomada de consciência depende uma “clareza evolutiva”, característica de espíritos maduros, que garantem um estado de tranquilidade interior, marcado pela compreensão de possibilidades e limites que, por via de consequência, conduz à “vivência do mundo” e à “experiência do corpo” sem sentimento de culpa.

Tudo isso tem a ver com o carnaval. O Espiritismo não o condena, mas os espíritas, em sua maioria, sim, especialmente alguns espíritos que, ou viveram um despertar espiritual marcado pela percepção dos próprios excessos, ou tiveram experiências religiosas de plena “interdição ao corpo” (celibato, clausura, mortificações…). E usam da “interdição ao corpo” para disseminar um discurso de terror, de amedrontamento e de interiorização, olhando-se para os possíveis e reais “excessos”, cometidos por alguns, como se fosse algo inevitável a quem vá “curtir o carnaval”, esquecidos de que a experiência da “educação pelo temor” não produz efeitos salutares, há muito fracassou.

Se pensarmos pela via do excesso, outras tantas festas abrem portas para tanto, como o Natal, as confraternizações de final de ano, as festas de aniversário, uma comemoração em família… E que dizer dos “excessos morais”, praticados sobretudo por aqueles que interditam o próprio corpo, mas se esbaldam em maledicência, orgulho, intrigas e julgamentos morais de todo tipo?

No carnaval há espíritos vampirizadores daqueles que se entregam ao uso desenfreado do álcool e outras drogas, bem como de práticas sexuais desequilibradas?

- Sim, há. Mas também os há no cotidiano, em casa, no clube, numa festa de aniversário. A questão não é o lugar, mas o sujeito; 

No carnaval, posso me contaminar com fluidos deletérios?

- Sim, pode. Mas também pode se contaminar no trabalho, na escola, na faculdade, na via pública, numa festa de formatura. A questão, novamente, não é onde você está, mas a que tipo e influência você se sujeita;

No carnaval, há pessoas mal-intencionadas e dispostas à violência?

- Sim, há. Mas também se encontram na esquina da rua de nossa casa, na saída do trabalho, no ponto de ônibus ou de metrô. Em todos os lugares, temos que saber onde, como e com quem andar. Não é diferente no carnaval ou de onde quer que seja;

No carnaval, há excessos de todo tipo?

- Há, sim. Mas também os há em todos os momentos da vida, desde que as pessoas estejam dispostas a esses excessos. Também há relatos de médiuns que veem espíritos desta ou daquela forma, com tais ou quais características... mas também não existem na rua, nas festas de aniversário, de formatura, nas escolas e faculdades, onde há excessos e intenções infelizes? E será que o "saber antes" que tais espíritos estão por lá não "predispõe" a pessoa a vê-los ou senti-los? Em outro texto, abordarei essa questão com o exemplo do Mercado Modelo de Salvador.

A questão é muito clara: 

- Se você reconhece suas fraquezas e sente que pode se influenciar, não vá;- Se você não consegue vencer o medo da violência, não vá;- Se você acredita que vai te fazer mal, não vá;- Se você não gosta de multidões, como eu, não vá;- Se você acha que é errado ir, não vá mesmo!

Agora, se você está em paz, não sente medo, gosta, acha certo e quer ir, a decisão de ir ou não é sua, não dos espíritos ou de quem quer que seja. Talvez você corra alguns riscos, mas comer azeitona também é perigoso...

Conheço milhares de pessoas que gostam, vão e voltam e continuam suas vidas. Aliás, é o que acontece com a grande maioria. A “carne” só é “fraca” para o espírito que é mais fraco do que ela. 

Para os que reconhecem as próprias fraquezas e as próprias virtudes, a carne (corpo) é um instrumento, um caminho de realização de si mesmo, dos próprios desejos, dos objetivos superiores da encarnação, buscando fugir dos excessos de todo tipo e “experienciando” a vida material em tudo aquilo de bom que ela tiver para oferecer, segundo gostos e preferências. Que cada um construa seu próprio caminho, que se reconheça como sujeito, e não mero objeto da evolução, e reconheça seus próprios limites e possibilidades. E que não se esqueça dois aspectos muito importantes em todo esse contexto: responsabilidade e respeito. Somos responsáveis por tudo que fazemos, a nós mesmos e aos outros. Se agirmos sempre com respeito, pelo outro e por nós mesmos, que mal há em “viver”?


Pedro Camilo

23 fevereiro 2020

Não se deixe enganar - Orson Peter Carrara



NÃO SE DEIXE ENGANAR


Se você se sente perturbado, angustiado, necessitado de orientação e busca respostas ou ajuda, fique atento. Nem sempre essa ajuda será oferecida por pessoas honestas ou comprometidas com o bem-estar do semelhante. Por ignorância (não no sentido pejorativo, mas sim no sentido de não saber mesmo), despreparo ou más intenções mesmo (como infelizmente tem ocorrido até com certa frequência), muita orientação oferecida se transforma em desdobramentos lamentáveis, com prejuízos emocionais e psicológicos de expressão na vida de muita gente.

Ao procurar um centro espírita, por exemplo, para pedir ajuda ou buscar respostas, preste atenção. Se a pessoa que te atender te amedrontar, te assustar, ameaçar, chantagear ou mesmo te cercar de informações esdrúxulas, detalhando seu passado ou seu futuro e até fizer previsões ou mesmo indicar perseguições espirituais, esqueça! Isso não é uma orientação espírita. O grupo que você foi pode até estar preparado, pode desfrutar de bom conceito, mas a pessoa que atendeu está completamente despreparada ou não foi bem orientada. Essa pessoa está usando pontos de vista pessoais e não conhece o Espiritismo.

O serviço de atendimento fraterno de uma instituição espírita ou mesmo qualquer pessoa chamada de espírita que você procure para conversar e pedir orientação, não existe para te assustar ou te ameaçar. O diálogo com qualquer pessoa de bom senso deve primar-se pela ordem, pelo respeito mútuo, numa análise ponderada, sem uso de argumentos ou citações que piorem a situação.

Ninguém tem o direito de ameaçar, explorar, ditar procedimentos, exigir. Podemos sugerir, claro, o que não significa que será aceito, o que se enquadra na liberdade individual da escolha a ser feita. Portanto, se você está diante de pessoa que ameace, ordene, exija ou tente qualquer tipo de exploração, esqueça. Isso não é orientação espírita. Esse não é um espírita.

Isso contrasta totalmente com a orientação espírita.

Num centro espírita sério não há revelações do passado ou do futuro, não há previsão de datas ou acontecimentos, não há consultas a torto e direito (usando expressão popular) aos espíritos para as mínimas questões que nós mesmos podemos discernir ou resolver. Aliás, dependência de espíritos é outro equívoco que você pode prestar atenção. Não temos que seguir pessoas, médiuns ou espíritos, temos que seguir a Jesus, o único infalível que pisou neste planeta.

Se você perceber que há dependência de tal médium, de tal espírito, isso deixa de ser prática espírita. Poderá ser prática mediúnica, mas não espírita. O fenômeno pode ser real, mas deixa de ser espírita, pois que o fenômeno espírita se prima pelo desejo único de auxiliar as pessoas, sem qualquer tipo de ritual ou dependência de médiuns ou espíritos, atendentes ou palestrantes, todos instrumentos da Bondade Divina, mas livres para escolher caminhos de equívocos, aos quais responderão pelos desdobramentos advindos, no devido tempo. Cuidado e prudência, pois. E você, naturalmente, vai ser perguntar: Mas como vou saber a quem procurar com segurança?

É simples e fácil: basta observar com atenção. Qualquer prática que traga em seu contexto ausência do bem e mistura de personalismo, ou indique malícia, exploração de qualquer tipo ou mesmo imposições e até mesmo previsões e também informações fáceis sobre passado e futuro, esqueça. Isso não é prática espírita. Isso é mediunismo sem responsabilidade.

E se exigir que você faça algo, seja um pagamento ou um comportamento, afaste-se. Isso não é Espiritismo. Pode ser o que for, mas não é Espiritismo. Espiritismo é simplicidade, fé, fraternidade. Se não houver bondade com simplicidade, está manchado pelo egoísmo humano que busca outros propósitos.

Não se deixe enganar, pois. Busque ajuda sempre precisar, com quem lhe mereça confiança.

Sempre que houver exigências ou imposições, desconfie. Busque sim, um grupo sério, espírita ou de qualquer outra crença, onde haja sinceridade e desejo do bem. Isso é o que importa.

Nenhum de nós pode se colocar no pedestal de orientadores. Somos todos aprendizes, desejando aprender uns com os outros. Toda vez que alguém se coloca na posição de sábio e infalível, pronto, já começou aí sua derrocada. Se encontrar alguém assim, ele é digno de nossa compaixão e precisa de preces, pois está se perdendo na própria vaidade.


Por Orson Peter Carrara


22 fevereiro 2020

O grande desafio - Amélia Rodrigues



O GRANDE DESAFIO


Jamais igualado, Jesus é o grande desafio para a Humanidade.

Nascendo e vivendo em pequenos lugares comuns a todos os lugares, entre pessoas simples e desatentas, que existem em toda parte e em todos os tempos, a Sua é a existência global, divisória dos acontecimentos históricos, que se fizeram assinalar pelo berço de palha, sinal épico das épocas passadas e futuras.

Péricles e Augusto, que deram os seus nomes aos séculos em que nasceram; Fídias, Sócrates e Heródoto, que marcaram o pensamento literário, artístico e histórico profundamente; Júlio César, Carlos Magno, Francisco de Assis e Michelangelo, que alteraram os acontecimentos humanos; Voltaire, Beethoven e Freud, que reformularam os conceitos filosóficos, musicais e psicológicos, ao lado de Edison, Fulton e Einstein, que sugeriram técnicas preciosas e decifraram enigmas, não se Lhe equiparam.

Não obstante a grandeza das suas realizações, vários deles se inspiraram nos Seus ensinos e não lograram sensibilizar outras pessoas na profundidade em que Ele o conseguiu.

A Sua mensagem inspirou as mais belas páginas da Literatura, da Arte e da Filosofia, arrebanhando o maior número de mártires que jamais se conheceu.

A Sua figura, que impressionava todos aqueles que O fitavam, ultrapassou o período em que viveu, abalou o Império Romano e alterou completamente a História do Ocidente.

Amado ou odiado, Jesus não deixa ninguém indiferente à Sua comunicação ímpar.

Usando linguagem simples e atual em todas as épocas, revoluciona interior e exteriormente os indivíduos que travam contato com o Seu conteúdo.

*

A indiferença não viceja em relação à Sua vida.

Mensageiro incomparável do amor, utilizaram-nO para guerras de interesses inconfessáveis.

Libertador por excelência, foi usado para justificar comportamentos escravocratas e absurdos.

Amigo de todos, tomaram-nO, através das paixões mesquinhas, como divisor de grupos e indivíduos.

Filho de Deus, confundiram-nO, propositalmente, com o Criador, dando margem a conflitos de toda ordem.

Amor ímpar, fizeram-nO símbolo de força terrena, enganosa.

Simples e abnegado em todos os atos, alçaram-nO aos tronos equívocos e aos poderes transitórios.

Imensurável na Sua grandeza, permanece incompreendido na mensagem de que se fez portador.

Para explicá-la, elaboraram teologias complexas e confusas, surgiram exegetas especializados e intérpretes exigentes, quando os puros de coração e os simples de espírito podiam compreendê-la e vivê-la sem rebuços nem afetação.

Adornam-na de símbolos e rituais, cerimônias luxuosas e sacramentos inócuos, desvestindo-a dos caracteres de amor e espontaneidade que vicejavam nos Seus lábios e conduta.

Criaram uma casta sacerdotal para ensiná-la, quando Ele sempre se levantou para profligar tal comportamento.

Convocam-nO para amaldiçoar e matar, olvidados de que Ele é vida, e vida abundante...

São os paradoxos humanos.

*

Todas as pessoas que O entenderam pelo coração, ofereceram-se em holocausto de amor ao Seu amor.

Marchavam felizes para o martírio, certas da vitória, além do corpo...

...E prossegue arrebatando milhões de indivíduos, apesar das alterações que introduziram no Seu pensamento inatacável.

O Evangelho, esta perene alegria, rico de Boas-novas, narrado pelos quatro amigos, inunda de esperança qualquer vida e enriquece de felicidade quem o lê e medita.

Dois milênios quase, depois de Ele haver morrido e ressuscitado, permanece mais vivo e amado do que qualquer outro vulto da Humanidade.

Jesus rompe com a superficialidade e penetra o âmago dos homens, alterando-lhes totalmente a existência, porque lhes demonstra a sua realidade espiritual e divina, num mundo transitório e portador de planos e oportunidades para experiências evolutivas, libertadoras.

Com algumas frases, compôs o poema de liberdade - as Bem-aventuranças, que são o momento glorioso da Sua palavra e vida.

Perseguido, crucificado, após as infamantes traição e negação dos amigos frágeis, continua convidando-nos a segui-lO e amá-lO, única forma de se alcançar a plenitude.

Amélia Rodrigues
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, da obra Pelos caminhos de Jesus, cap. 1, ed. LEAL, Salvador, Bahia.


21 fevereiro 2020

O Mito da Alma Gêmea - Momento Espírita



O MITO DA ALMA GÊMEA


Aristófanes, poeta cômico grego, contemporâneo de Sócrates, afirmou que no começo os homens eram duplos, com duas cabeças, quatro braços e quatro pernas.

Esses seres mitológicos eram chamados de andróginos.

Os andróginos podiam ter o mesmo sexo nas duas metades, ou ser homem numa metade e mulher na outra.

Bem, isso tudo Aristófanes criou para explicar a origem e a importância do amor.

O mito fala que os andróginos eram muito poderosos e queriam conquistar o Olimpo dos deuses, e para isso construíram uma gigantesca torre.

Os deuses, com o intuito de preservar seu poder, decidiram punir aquelas criaturas orgulhosas dividindo-as em duas, criando, assim, os homens e as mulheres.

Segundo o mito, é por isso que homens e mulheres vagueiam infelizes, desde então, em busca de sua metade perdida.

Tentam muitas metades, sem encontrar jamais a certa.

A parte do mito sobre a origem da humanidade perdeu-se ao longo das eras, mas a idéia de que o homem é um ser incompleto, em sua essência, perdura até hoje.

Talvez seja em função disso que o ser humano busca, incessantemente, por sua alma gêmea para preencher sua carência afetiva.

Embora o romantismo tenha sustentado esse mito por milênios, e muitos de nós desejemos que exista nossa metade eterna, é preciso refletir sobre isto à luz da razão.

Se fôssemos seres incompletos, perderíamos nossa individualidade.

Seríamos um espírito pela metade, e não poderíamos progredir, conquistar virtudes, ser feliz, a menos que nossa outra metade se juntasse a nós.

É certo que vamos encontrar muitas pessoas na face da Terra com as quais temos muitas coisas em comum, mas são seres inteiros, e não pela metade.

O que ocorre é que, quando convivemos com uma pessoa com a qual temos afinidades, desejamos retê-la para sempre ao nosso lado.

Até aí não haveria nenhum inconveniente, mas acontece que geralmente desejamos nos fundir numa só criatura, como os andróginos do mito.

E nessa tentativa de fusão é que surge a confusão, pois nenhuma das metades quer abrir mão da sua forma de ser.

Geralmente tentamos moldar o outro ao nosso gosto, violentando-lhe a individualidade.

O respeito ao outro, a aceitação da pessoa do jeito que ela é, sem dúvida é a garantia de um bom relacionamento.

Assim, a relação entre dois inteiros é bem melhor do que entre duas metades.

As diferenças é que dão a tônica dos relacionamentos saudáveis, pois se pensássemos de maneira idêntica à do nosso par, em todos os aspectos, não teríamos uma vida a dois.

Pessoas com idéias diferentes têm grande chance de crescimento mútuo, sem que uma queira que o outro se modifique para que se transformem num só.

Assim, vale pensar que embora o romantismo esteja presente em novelas, filmes, peças teatrais, indicando que a felicidade só é possível quando duas metades se fundem, essa não é a realidade.

Todos somos espíritos inteiros, a caminho do aperfeiçoamento integral.

Não seria justo que nossos esforços por conquistar virtudes fosse em vão, por depender de outra criatura que não sabemos nem se tem interesse em se aperfeiçoar.

Por todas essas razões, acredite que você não precisa de outra metade para ser feliz.

Lute para construir na própria alma um recanto de paz, de alegria, de harmonia e segurança, como espírito inteiro que é.

Só assim você terá mais para oferecer a quem quer que encontre pelo caminho, com sua individualidade preservada e com o devido respeito à individualidade do outro.


Baseado no cap. II, do livro A Filosofia e a Felicidade, de Philippe Van Den Bosch

20 fevereiro 2020

Se alguém deve um centavo não pode “fingir” que esqueceu tal dívida - Jorge Hessen



SE ALGUÉM DEVE UM CENTAVO NÃO PODE "FINGIR" QUE ESQUECEU TAL DÍVIDA


Não somos o primeiro, o único, ou o último a divulgar sobre o cortejo de práticas desonestas entre os religiosos. A mídia em geral, frequentemente, anuncia e expõe tais fatos, francamente, abomináveis e com grande repercussão negativa. Não conseguimos ver coerência numa pessoa “meio honesta”, “quase honesta” ou “mais ou menos honesta”. Ou se “é honesto”, ou “desonesto, não há meio termo. Seja sua palavra Sim! Sim! – Não! Não! Ensinou-nos Jesus.

Proferimos palestras em várias casas espíritas sobre esse tema e destacamos da tribuna que o lídimo cristão é honesto em tudo que banca. Se alguém deve um centavo que seja, obrigatoriamente, tem que quitar esse débito com seu credor, por simples questão de integridade moral. Não se pode “fingir” que deslembrou tal dívida (quer seja de um centavo).

Por elevadíssima razão é indispensável haver transparência na prestação de contas, mensalmente, com os contribuintes da casa espírita. Cremos que é simples obrigação afixar, no ‘quadro de avisos’ ao público, a comprovação da correta aplicação dos recursos recebidos.

Os dirigentes que assim procedem veem patenteadas a credibilidade da instituição que administram e a pureza de suas intenções. Por outro lado, evitam-se rumores, do tipo: -“fulano (a) está cada vez mais rico (a)”; -“sicrano (a) construiu uma mansão com o dinheiro doado ao centro” e, -“beltrano (a) comprou um carro do ano, caríssimo”, olhem só para isso!

Aconteceu conosco. Certa vez , após uma palestra sobre o “incômodo” tema, houve rumores nos corredores do centro, alguns dirigentes da casa nos arremessaram saraivadas de ‘chumbo grosso’ pela maledicência. “Fraternalmente” proscreveram-nos da escala de oradores. Porém, tal decisão em nada nos afetou, mesmo porque isso implicaria em que admitíssemos contemporizar com as artimanhas obscuras que faziam com dinheiro dos frequentadores.

Nos surpreendemos com as atitudes de alguns deles, desarmonizados moralmente, mas são confrades que fingem gestos de “santidade”, usam palavras “dóceis”, olhares de superioridade, julgam-se donos da verdade, determinando normas de conduta sem sustentáculo doutrinário para exemplificá-las.

É evidente que ficamos atônitos e envergonhados quando sabemos, pela imprensa, que algumas instituições “filantrópicas” desviam recursos, emitem recibos forjados de falsas doações, etc..

Há centros que dão, até, uma ‘ajudazinha’ aos confrades, driblando o Imposto de Renda retido na Fonte… imaginem!

Instituições outras recebem, à guisa de doações, roupas, calçados, alimentos, eletrodomésticos, etc., e os dirigentes se apropriam delas, com a maior naturalidade.

Temos conhecimento de instituições que aceitam doações, até, de objetos valiosos e que os dirigentes se apropriam dos melhores, é claro, antes de os exporem em bazares ditos “beneficentes”, objetivando arrecadar fundos para obras “assistenciais”. Daí, indagamos: isso é fruto da “minha” imaginação?

Será que estamos obsedados ao abordar tal assunto?

Não, meus irmãos! Estamos completamente conscientes da responsabilidade cristã. A prudência continua sendo a nossa melhor conselheira. É imperioso salientar que nossos argumentos não estão sendo direcionados para a instituição A, B, ou C. Dirigimo-nos a todas, indistintamente, como alerta geral.

Difundimos esses alertas sem expor esse ou aquele grupo espírita, mas por questão de consciência ética, acreditamos que um autêntico espírita tem que ser fiel aos princípios que a doutrina estabelece e saber que HONESTIDADE é prática IMPERIOSA para todo ser humano, que dirá, para um espírita cristão?

Portanto, que seja definitivamente esconjurado todo e qualquer subterfúgio, que tente justificar sistêmicas concessões fraudulentas, como se fossem naturais para certas ocasiões.

As falanges do mal de “cá” e do “além-túmulo” se organizam para obstruir muitos projetos cristãos. Os obsessores (encarnados e desencarnados) são inteligentes, organizados e vão dando um passo de cada vez, por conhecerem muito bem pontos vulneráveis dos incautos. É urgente advertir sobre a obrigatoriedade da conduta honesta para que o ideal espírita seja cada vez mais ético, transparente consoante os preceitos estabelecidos por Jesus.

Jorge Hessen

19 fevereiro 2020

Compromisso reencarnatório e doenças crônicas - Raul de Mello Franco Júnior




COMPROMISSO REENCARNATÓRIO E DOENÇAS CRÔNICAS


Lembra-nos André Luiz, pela pena psicográfica de Chico Xavier, que “renascendo entre as formas perecíveis, nosso corpo sutil, que se caracteriza, em nossa esfera menos densa, por extrema leveza e extraordinária plasticidade, submete-se, no plano da crosta, às leis de recapitulação, hereditariedade e desenvolvimento fisiológico, em conformidade com o mérito ou demérito que trazemos e com a missão ou o aprendizado necessários" (No Mundo Maior). A pedagogia reencarnatória reclama estudo, atenção e atitude para não produzir deteriorações desnecessárias a este corpo, carro material da nossa jornada pelo planeta.

A química fisiológica, como a química espiritual, não é casual ou fatalista. Emerge de nossos atos. Embora seja certo que a dor nos ensina, a ninguém foi dado buscar a doença ou o sofrimento como opção de vida. Incumbe-nos viver de forma cautelosa, escudando a nossa saúde física e espiritual, condição para tornar mais proveitosa a nossa experiência reencarnatória. Neste prisma, ter os olhos abertos para o que ocorre à nossa volta é o primeiro passo para evitar doenças e produzir saúde.

Você sabe o que é doença crônica? São aquelas de progressão lenta e de longa duração. Podem ser silenciosas ou sintomáticas e sempre comprometem a nossa qualidade de vida. Para considerar apenas as não transmissíveis, podemos exemplificá-las com as doenças cardiovasculares, as respiratórias crônicas (bronquite, asma, rinite), a hipertensão, o câncer, as doenças autoimunes (lúpus, doença celíaca, esclerose múltipla etc.) e as doenças metabólicas (obesidade, diabetes, esteatose, osteoporose etc.). Junto às últimas podem ocorrer diversas manifestações psiquiátricas, como o autismo e a depressão. Segundo a OMS, as doenças crônicas respondem por 63% das mortes no mundo (74% das causas dos óbitos no Brasil).

Tive acesso, em data recente, a uma explanação feita pelo Dr. Cícero Galli Coimbra, médico e cientista, acerca de alguns dados estarrecedores da saúde mundial. Na atualidade, 60% da população norte-americana com menos de 25 anos de idade sofrem de pelo menos uma doença crônica. Deste contingente, 45% padecem com duas dessas doenças. Trata-se de amostragem do que ocorre em todo o planeta, num ritmo exponencial que se agravou desde 1980. Na década de 1975 a 1985, duplicaram os casos de autismo no mundo. Nas décadas anteriores, as estatísticas apontavam para o nascimento de 1 criança autista para cada 5.000 crianças normais. No período seguinte, esta proporção já era de 1 para cada 2.500. Em 2012, chegamos a 1 criança autista para cada 88 normais e, em 2018, o índice foi de 1 por 40. Se nada for feito, um enorme contingente de pessoas manter-se-á dependente de medicamentos que a indústria farmacêutica lança no mercado a preços exorbitantes. Essas empresas não estão preocupadas em descobrir ou combater as causas dessas doenças. Orbitam nas cifras milionárias de seus negócios e doenças crônicas constituem a matéria-prima de seus lucros. Os fármacos que produzem combatem apenas os efeitos dessas doenças, o que lhes garante, por tempo indefinido, a fidelidade forçada de um expressivo público consumidor. Em 2016, essa indústria movimentou US$ 17 bilhões apenas com a venda de imunossupressores para o tratamento da esclerose múltipla. Quatro gigantes desse setor projetaram, no mercado de ações, um lucro de US$ 40 bilhões para 2026, gerado exclusivamente com essa doença. Milhares de pessoas tendem a se tornar, ainda jovens, incapacitadas para o trabalho e até para cuidados pessoais.

A boa notícia é que a maioria das doenças crônicas pode ser prevenida ou controlada. O peso da herança genética é pequeno, se comparado a outros fatores de risco que estão sob o nosso domínio e dependem apenas de nossa vontade e determinação. “Não somos vítimas de nossos genes, mas donos do nosso destino.” (Bruce Lipton). Para trabalhar no bem (essência do nosso compromisso reencarnatório) é preciso saúde. Com pequenas atitudes você pode evitar doenças crônicas e permitir uma experiência proveitosa no vaso físico. Mude hábitos para garantir uma alimentação saudável e variada, rica em frutas, vegetais e cereais. Esforce-se para banir o consumo de produtos industrializados, de açúcar, de sódio, de fumo, embutidos e refrigerantes. Mantenha atividades físicas regulares e reduza ao máximo o consumo de bebidas alcoólicas. Não se torne refém de medicamentos. Reserve momentos para desfrutar do prazer merecido, da tranquilidade e do relaxamento. Tudo sem esquecer da atividade mais importante, motriz de saúde física e mental: o trabalho desinteressado em favor do outro.



Raul de Mello Franco Jr.


18 fevereiro 2020

Suicídio na infância e na adolescência: o problema sob a Visão Espírita - Clara Lila Gonzalez de Araujo



SUICÍDIO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA: 
O PROBLEMA SOB A VISÃO ESPÍRITA


(...)para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias.”

(“O suicídio e a loucura”. In: O Evangelho segundo o Espiritismo.) (1)

Crianças e adolescentes, em número expressivo, buscam no suicídio a fuga que lhes parece mais viável aos dissabores e dificuldades que surgem de suas experiências na matéria.

O assunto, de importância vital para análise e reflexão de todos os espíritas, é destacado no temário das Campanhas Viver em Família e Em Defesa da Vida, reativadas pelo Conselho Federativo Nacional, órgão da Federação Espírita Brasileira, em 21 de novembro de 2004, tendo como uma de suas ações, em nível nacional, estimular o aprofundamento de temas dessa natureza, concluindo quão importante torna-se o conviver em família, onde sob todos os aspectos, a vida deve ser preservada e cuidada. (2)

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2000), no mundo inteiro, o suicídio está entre as cinco maiores causas de morte na faixa etária de 15 a 19 anos e em vários países ele fica como primeira ou segunda causa de morte entre meninos e meninas nessa mesma faixa etária.(3) Verificamos que, estatisticamente, o Brasil se coloca como um dos países que possui um índice relativamente significativo neste tipo de morte entre os jovens: nos anos de 1991 a 2000 os suicídios, nessa faixa etária, tiveram crescimento de 28,5% e os dados, atualmente, apresentam, segundo a magnitude da população jovem brasileira, uma taxa de 4 suicídios por 100 mil habitantes. É possível, também, observar que a incidência dos óbitos por suicídio apresenta, a partir dos 10 anos, uma forte tendência ascendente para chegar à sua máxima expressão aos 21 anos de idade. (4)

É entristecedor ver esses Espíritos envolvidos em tantas frustrações, decorrentes de conflitos íntimos e de uma educação mal administrada, por parte dos pais, ou por serem, alguns, portadores de desequilíbrios emocionais que não foram atendidos adequadamente na infância, levando-os a uma atitude tão drástica.

O Espírito Manoel Philomeno de Miranda (1991) aponta para os graves agentes psicológicos que levam ao suicídio, como a angústia, a insegurança, os conturbadores fenômenos psicossociais e econômicos, as enfermidades crucificadoras, o sentimento de desamparo e de perda, todos com sede na alma imatura e ingrata, fraca de recursos morais para sobrepô-los às contingências transitórias desses propelentes ao ato extremo. E, este trágico ato assume gravidade e constrangimento maiores, quando crianças, que ainda não dispõem do discernimento, optam pela aberrante decisão. (5)

Como avaliar o tresloucado gesto de seres tão jovens, sob a visão espírita? Que causas estimulam esses Espíritos, ainda imaturos, a buscarem, no gesto derradeiro, a superação dos problemas que os alucinam?

Mesmo considerando o grande número de suicidas que renascem com as impressões da ação cometida em vidas passadas, é necessária uma análise mais acurada sobre as razões que os impelem a cometer novas transgressões às leis de Deus, agravando ainda mais sua situação espiritual.

Analisaremos, inicialmente, os suicídios que têm por causa a obsessão.

Elucida-nos o venerável Espírito Bezerra de Menezes que Espíritos perversos influenciam os encarnados, sugestionando-os a cometerem o ato terrível, através do sono de cada noite, por uma pressão obsessora do seu desafeto espiritual, (...). Outros existem que não querem absolutamente morrer, não desejam o suicídio (...). Apesar disso, sucumbem, (...) uma vez que, deseducados da luz das verdades eternas, desconhecedores do verdadeiro móvel da vida humana, como da natureza espiritual do homem, não lograram forças nem elementos com que se libertarem do jugo mental (...) cujo acesso permitiram (6). Esses suicídios, levados a efeito por influências obsessivas, apresentam certa parcela de atenuantes para as vítimas e graves responsabilidades para os que os motivaram, respondendo, esses algozes, perante a Justiça Divina, pela crueldade cometida contra os seus adversários.

Intriga-nos, sem dúvida, que esta situação possa ocorrer com crianças e jovens.

A análise feita por Allan Kardec à resposta dada pelos Espíritos Superiores, à questão 199a, em O Livro dos Espíritos, esclarece-nos sobre o problema. Diz o Codificador: “Aliás, não é racional considerar-se a infância como um estado normal de inocência. Não se vêem crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido a educação? Algumas não há que parecem trazer do berço a astúcia, a felonia, a perfídia, até o pendor para o roubo e para o assassínio, não obstante os bons exemplos que de todos os lados se lhes dão?”(7) Conclui Kardec, na mesma nota, que esses Espíritos se revelam viciosos por não possuírem progresso, sofrendo, então, por efeito de sua inferioridade. Essas crianças, geralmente, manifestam comportamentos desequilibrados, como resultante da rebeldia, da insatisfação, do nervosismo, da dificuldade intelectual que apresentam, agravando-se, cada vez mais, a sua existência, caso não recebam os cuidados urgentes dos pais, em forma de afeto, compreensão e providências terapêuticas adequadas, para que consigam superar reminiscências tão dolorosas.

Suely Caldas Schubert (1981), ao referir-se ao problema da obsessão na infância, traz de sua experiência interessantes depoimentos sobre crianças que tentaram o suicídio. Um desses casos foi destacado como gravíssimo. Conta-nos a autora que certa criança de três anos e alguns meses vinha tentando o suicídio das mais diferentes maneiras, o que lhe resultara, inclusive, ferimentos: um dia, jogou-se na piscina; em outro, atirou-se do alto do telhado, na varanda de sua casa; depois quis atirar-se do carro em movimento, o que levou os familiares a vigiá-la dia e noite. Seu comportamento, de súbito, tornou-se estranho, maltratando especialmente a mãe, a quem dirigia palavras de baixo calão que os pais nunca imaginaram ser do seu conhecimento (8).

Os pais da referida criança buscaram ajuda no Espiritismo e, a partir das reuniões de desobsessão, realizadas em seu benefício, foi possível diagnosticar, espiritualmente, as causas do seu estado atual. A oração, o passe e a água fluidificada, usados na terapêutica espiritual, melhoraram sensivelmente o problema obsessivo e outras crianças, que apresentavam sintomas semelhantes, foram amparadas, igualmente. Schubert chama atenção para a importância das aulas de Evangelização Espírita, quando os pequeninos seres são extremamente ajudados pelos ensinamentos ministrados, oferecidos por meio das luzes do esclarecimento espírita-cristão de que tanto carecem (p. 66).

Além das orientações que recebemos da profilaxia espírita é imprescindível procurarmos o auxílio de psicólogos, médicos, educadores e outros, que orientem na utilização de mecanismos preventivos, para o reajustamento dessas crianças. É importante ressaltar, todavia, que ao tratarmos de suicídio, não podemos apenas nos referir às obsessões, que influenciam grandemente essas almas torturadas, mas devemos levar em conta o rol de dificuldades que esses Espíritos trazem consigo, impulsionando-os a cometer desatinos de toda sorte, em prejuízo próprio, não lhes permitindo viver de forma mais tranqüila e segura.

Aos pais cabe a tarefa maior de ampará-los, dispensando-lhes muito amor, a fim de que se sintam amados e possam superar esses estados de sofrimento, choques e dores que necessitam ser atenuados por meio da educação, na prática de exercícios moralizadores, até que consigam transformar suas disposições mentais, na busca do rumo feliz que tanto anelam.

Ao conhecermos os fatores causais dos sofrimentos que nos atingem, passamos a aceitar com resignação e responsabilidade as provas indispensáveis para evoluirmos. Por isso, aceitar filhos difíceis é reagir de forma positiva, envolvendo-os em vibrações de ternura, anulando-lhes as impressões negativas, dialogando constantemente com eles, no uso da palavra envolta em emoção afetuosa e franca, e transmitindo-lhes a confiança de que haverão de se livrar dos problemas íntimos que os oprimem, confiando em Jesus e nos benfeitores espirituais. A criança, se evangelizada desde cedo, tem noção exata do que significa o amparo desses Amigos do além-túmulo.

O problema do suicídio assume dimensões maiores na adolescência, quando, quase sempre, não se recebeu ajuda na fase infantil. O Espírito Joanna de Ângelis (1998) afirma que a desinformação a respeito da imortalidade do ser e da reencarnação responde pela correria alucinada na busca do suicídio. (...) E essa falta de esclarecimento é maior no período infanto-juvenil, (...) facultando a fuga hedionda da existência carnal (...) (9).

Há que se considerar, também, o suicídio indireto, quando o adolescente, vivendo em clima de lutas acerbas e não tendo recebido uma base familiar de orientação segura, desgasta suas forças morais e emocionais, enredando-se no jogo das paixões, principalmente no sexo em uso excessivo, na ingestão de bebidas alcoólicas, do fumo nocivo e das drogas, resultando nas reações comportamentais rebeldes e agressivas, que causarão sobrecargas destrutivas no conjunto do ser, desequilibrando suas condições física e mental (p. 133).

O panorama traçado até aqui mostra que o suicídio de crianças e jovens é constantemente desafiado pelas circunstâncias, muitas vezes imprevisíveis, que surgem dentro do próprio lar.

O lar deve ser escola de real educação, sem o caráter autoritário e impositivo, que torne as relações entre pais e filhos obsessivas e desgastantes, mas com a preocupação sincera de estabelecer-se entre eles uma amizade verdadeira, que lhes permita encontrar a resistência espiritual de que precisam, para enfrentar as vicissitudes e os desafios decorrentes de frustrações e de conflitos íntimos, surgidos, especialmente, dos relacionamentos interpessoais, nem sempre vividos favoravelmente.

A educação que se funda no processo de despertar os poderes latentes do Espírito é a única que realmente resolve o problema do ser. Educação que deve preparar o indivíduo para a vida como realmente ela é, destacando, sempre, a bênção da reencarnação, que permite lutar pelas mais nobres aspirações e reconhecendo, com gratidão, os destinos altaneiros que Deus concebeu e tracejou para o Espírito.

Importa, pois, primeiramente, que a criança e o adolescente tenham uma visão correta sobre a realidade e o futuro do ser, traçando para sivalores éticos e cristãos que constituem a verdadeira vida e que os fará esperar pela concretização de realizações que os estimulem ao progresso.

A missão do Espiritismo é educar para salvar. Tenhamos nós, espíritas, a certeza desta revelação, pois enquanto esse fato não penetrar em nossas mentes e corações não saberemos acolher, com compreensão, essas almas infelizes e enfermas, necessitadas de infinito amor. Quanto a isso, reflitamos sobre a sábia lição de Jesus: “Ninguém acende uma candeia para pô-la debaixo do alqueire; põe-na, ao contrário, sobre o candeeiro, a fim de que ilumine a todos os que estão na casa.” (Mateus, 5:15.) Fonte: Espiristimos da Rede

Clara Lila Gonzalez de Araujo
Fonte: Espiristimos da Rede


Referências Bibliográficas:

(1) KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 105. ed. Rio de Janeiro: FEB. 1991, cap. V, item 15, p. 113.v 

(2) FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA – FEB. Família, Vida e Paz – Subsídios para a Implantação e Desenvolvimento das Campanhas Viver em Família,Em Defesa da Vida e Construamos a Paz Promovendo o Bem! Brasília (DF): 2005.

(3) ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – Departamento de Saúde Mental. “Prevenção do Suicídio: Um Manual para Profissionais da Saúde em Atenção Primária”. Genebra, Suíça. 2000.

(4) WAISELFISZ, Jacob. UNESCO. “Mapa da Violência III”. Brasil (DF). Fevereiro de 2002.

(5) FRANCO, Divaldo Pereira. “Suicídio – Solução Insolvável”. In: Temas da Vida e da Morte, pelo Espírito Manoel P. de Miranda. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991, p. 98.

(6) PEREIRA, Yvonne A. Dramas da Obsessão, pelo Espírito Bezerra de Menezes. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1976, Primeira Parte, cap. VI, p. 28-29.

(7) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 72. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1992, “Sorte das crianças depois da morte”. Parte Segunda, cap. IV, questão 199a, p. 134.

(8) SCHUBERT, Suely Caldas. “A criança obsidiada”. In: Obsessão/Desobsessão. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB. 1981, cap. 12, p. 66.

(9) FRANCO, Divaldo Pereira. “O Adolescente e o Suicídio”. In: Adolescência e Vida, pelo Espírito Joanna de Ângelis. 4. ed. Salvador (BA), LEAL editora. 1997, p: 131-135.

17 fevereiro 2020

Quem nos ama mais? - Adriana Machado,




QUEM NOS AMA MAIS?


Não há resposta mais acertada que Deus. Ele é quem nos ama mais.

Porém, queremos aproveitar a oportunidade para expandir alguns pontos importantes sobre esse assunto.

Há muito estamos procurando quem pode suprir a nossa necessidade de sermos amados e, dia após dia, nos frustramos porque não encontramos quem nos ame tanto quanto gostaríamos.

Em um cenário como esse, fica cada vez mais difícil compreendermos e vivenciarmos um vazio que vai se formando em nós, uma vez que somos seres amorosos que necessitam de amor como combustível para a nossa existência harmônica.

Diante de nossa ignorância sobre a compressão de quem somos, não percebemos contudo que se dependermos sempre de alguém para sermos felizes, infelizes nos tornaremos. O nosso próximo, o nosso semelhante é indomável, seus sentimentos a ele pertencem e jamais conseguiremos moldá-lo para recebermos aquilo que a gente acredita ser o melhor para nós.

ENTÃO, COMO DEVEMOS AGIR?

Se não devemos contar com o amor de nosso próximo e para sobrevivermos à nossa necessidade de sermos amados, Deus, que tudo sabe, nos coloca à disposição uma fonte inesgotável de amor que independe do outro. E precisamos preservá-la adequadamente.

Como toda fonte de águas cristalinas, se não tomarmos conta de sua nascente, se não trabalharmos para que o ambiente ao redor esteja propício, ela pode parecer que se extinguiu ou ser contaminada pelos elementos externos, tornando suas águas turvas e inapropriadas para o consumo.

Essa fonte de amor pode deixar de ser significativamente eficiente para nos auxiliar:
  • se não trabalharmos o seu ambiente para darmos condições dela continuar fluindo;
  • se não bebermos de suas águas cristalinas para que não nos estagne;
  • se não limparmos as suas águas daquilo que a contaminaria.

Diz Maria Modesto Cravo, no preâmbulo do livro Sete Caminhos para o Autoamor:

“O autoamor é algo inato, herança divina, enquanto a autoestima é o serviço laborioso e paciente de resgatar essa força interior, ao longo do caminho de volta à casa do Pai.” [1]

Deus nos conhecendo tão bem e sabendo de nossas necessidades, nos oferece tudo o que é preciso para chegarmos até Ele!

É impressionante que temos tudo para nos sentir amados e progredirmos na vida, mas, em razão de tantos equívocos, nos perdemos de nós mesmos, achando, por exemplo, que o sentimento do outro é sempre melhor ou mais necessário que que o nosso.

Ninguém será capaz de nos suprir a ausência de nós mesmos. Sem nos compreendermos, sem nos enxergarmos como uma a fonte inesgotável de amo

OPS, NÃO VAMOS CONFUNDIR!

É importante compreender também que de tudo o que foi explicitado aqui, em nenhum momento estivemos falando de egocentrismo [2], e ou o chamado narcisismo.[3] Estamos falando de um amor equilibrado por sabermos quem somos, mesmo que ainda sejamos aprendizes desse processo; e da nossa capacidade de podermos superar todas as nossas dificuldades. Mas, vocês podem perguntar: se é inato o autoamor, como Maria Modesto Cravo disse, se ele é uma herança divina, por que não conseguimos manter em alta a nossa autoestima?

Manter a autoestima em alta é um processo de aperfeiçoamento do nosso ser. Cada ferramenta a nós ofertada pela Sabedoria Divina deverá ser amolada, lubrificada e trabalhada por nós para que fiquem aptas para a tarefa a que foram destinadas.

A autoestima é uma ferramenta que nos leva a valorizar quem somos ou nos depreciar profundamente. Se optarmos pela baixa autoestima, não usaremos adequadamente a ferramenta a nós ofertada em nosso favor. Iremos nos menosprezar somente porque não nos enxergamos detentores de todas as respostas, não aceitamos sermos passíveis de erros.

Com o uso depreciativo da autoestima, essa ferramenta se inabilita como apta a nos elevar e dignificar, levando-nos a cair nas armadilhas de nossas emoções em desequilíbrio e decadentes.

“É imperioso educar o homem para aprender a cuidar de si pelo autoamor sem se atolar no egoísmo nem se afundar na avareza, e a se proteger sem caminhar para a agressividade.”[4]

Se nós nos depreciamos, por que os outros não farão o mesmo?

Não existe caminho mais confortável para quem não nos quer bem, do que nos atingir em nossa baixa autoestima. Acreditando-nos impotentes, não resistiríamos ao desejo alheio, nos colocaríamos sempre como marionetes nas mãos daqueles que não querem nossa evolução, estejam estes no plano da matéria, estejam eles no mundo espiritual.

Jefferson, autor espiritual do livro “Um Jovem Obsessor”, nos relatou sobre como pensa um influenciador em relação àqueles que não se fortalecem em sua alta autoestima e nas suas crenças morais. Disse ele a um dirigente de uma casa espírita: “... são espíritos fracos, que na menor das dificuldades têm a harmonia de seu lar estraçalhada. Por nossa vontade, os fazemos de marionetes, e continuarão assim por ser o que são." [5]

Somente quem não acredita em si mesmo, se deixará ser controlado por alguém que o convencerá que nenhum valor tem.

A IMPORTÂNCIA DA NOSSA VIGILÂNCIA ÍNTIMA

Na atualidade, felizmente as questões sobre autoestima está mais do que em alta. Mas a baixa autoestima é considerada, pelos que atuam nas regiões inferiores, uma doença coletiva da humanidade. Assim, eles direcionam suas influências sobre os menos convictos, com o intuito de gerar o caos, a doença e o sofrimento na Terra.

Mas Deus, em sua magnificência, não nos abandonaria sem instrumentos de defesa. Como, então, duvidar que Ele não nos forneceria mecanismos para tanto?

A fonte do puro amor por nós vem de nossa essência, em cujas ondas nos esforçaremos para aprender a amar direito, sem exageros, sem deficiências. Somente nós nos completaremos em autoestima e autoamor. Esta é uma herança divina, um tesouro que reflete a essência do Pai em nós; o autoamor depositado nas entranhas de nosso ser, como força que nos alavanca para jamais desistirmos de nós.

Se deixamos de usufruir dessa nossa própria fonte de amor, não bebendo de suas águas cristalinas que nos retirariam da devastadora solidão a que nos submetemos emocionalmente, todo o amor do mundo será insuficiente!

E isso pode se dar por que:

  • não buscamos nos autoconhecer;
  • não prestamos atenção nas ferramentass que possuímos que nos auxiliam em nossa caminhada;
  • não nos vigiamos intimamente para sabermos quem somos.

ENTÃO, QUEM NOS AMA MAIS?

Se, diante de tudo o que já conversamos, ainda há dúvidas, busquemos no Mestre Nazareno as orientações para o bom entendimento:

“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes." [6]

Se não soubermos amar direito, amaremos o outro com deficiências. Sem amarmos a nós mesmos, deixaremos de amá-lo, porque não podemos dar aquilo que ainda não temos.

É imprescindível que nos abramos ao “amarmo-nos incondicionalmente”, mesmo diante de nossos erros e dificuldades, porque assim, não haverá qualquer dúvida de que quem nos ama, ou deveria nos amar, mais que tudo no mundo somos nós mesmos.

Afirmamos no início deste bate papo que era Deus quem mais nos amava. Quando sentirmos o nosso autoamor, perceberemos o Pai em nós e sentiremos o amor Dele pulsando e nos impulsionando para um crescer sem volta. Deixemos que Suas águas fluam em nossa direção, acreditando-nos merecedores de todo o nosso amor.

“O autoamor, esse patrimônio perfeito, nos primórdios da evolução, e ainda como impulso de vida, confundia-se com o próprio instinto de sobrevivência, a energia da vida trazendo o desejo de avançar e a intenção de amar.” [7]


Adriana Machado

Referências:

[1] Oliveira, Wanderley. Sete caminhos para o autoamor (Locais do Kindle 167-168). Editora Dufaux. Edição do Kindle.

[2] Egocentrismo é o conjunto de atitudes ou comportamentos indicando que um indivíduo se refere essencialmente a si mesmo.

[3] Narcisismo é um conceito da psicanálise que define o indivíduo que admira exageradamente a sua própria imagem e nutre uma paixão excessiva por si mesmo.

[4] Oliveira, Wanderley. Sete caminhos para o autoamor (Locais do Kindle 186-188). Editora Dufaux. Edição do Kindle. [5] Machado, Adriana. Um Jovem Obsessor (Romance Juvenil). Editora Dufaux. Edição do Kindle.

[6] Marcos 12:30,31

[7] Oliveira, Wanderley. Sete caminhos para o autoamor (Locais do Kindle 201-206). Editora Dufaux. Edição do Kindle.