O que é preciso é entender a solidão! (…) O que é preciso é que a alma vá e venha; e ouça a notícia do tempo, e entre os assombros da vida e da morte, estenda suas diáfanas asas, isenta por igual de desejo e de desespero.” (1)
Obedecendo
a lei da vida, ante as perdas e as dores da alma, a autora nas asas da
poesia retrata sua solidão e a aceitação de tudo o que é indescritível
quando os sentimentos se submetem à imposição do que é real, mas
permanece livre não se detendo ante o tempo que escoa célere, sustentada
pela esperança.
Sofrendo a dor da
perda, quando a morte arrebata nossos amores e não os podemos mais
alcançar em nossa dimensão de vida, busquemos nas asas da prece o enlevo
e a resignação para que nossa alma possa altear nos cimos da esperança
isenta de quaisquer sentimentos de revolta e desespero.
Em
momentos de solidão, evocando os sonhos e a felicidade de tempos
passados nos quedamos silenciosos e tristes, o que é natural em nosso
estágio evolutivo, entretanto, teremos que deixar este estado
melancólico e buscar no entendimento das leis que regem todo o universo,
a motivação maior de nossa existência, o porquê do sofrimento e deste
insulamento.
Somente nos refolhos de
nossa alma, na contemplação de nosso eu mais íntimo é que encontraremos o
refúgio seguro para entender o sentido existencial que nos anima e
através da prece, a energia benfazeja que reerga nosso ser, ajudando-nos
a prosseguir sem esmorecimento.
Entender
a vida para que possamos entender a morte, afastando de nós a dor, o
desencanto e assim, podermos alçar nossa mente à compreensão maior de
nossos compromissos e deveres. Como nos fala a poesia, o que é preciso é
entender a solidão e estando a sós, frente a frente com nossos anseios e
conflitos, buscar o melhor entendimento e soluções para compreender o
que se passa neste mundo quase irreal que criamos em momentos de
reflexões mais profundas, não totalmente explorado nem conhecido por nós
mesmos.
“Solidão é reajustamento
das engrenagens do sentimento; lubrificante fino sobre as peças da
emoção que o abuso enferrujou… O tempo e a constância do esforço
resolvem a questão, perde o valor deprimente de que se reveste no
começo, para facultar júbilo e paz interior pelos logros conseguidos.” (2)
Nestes
instantes em que nos quedamos a sós, sem nos deixar levar pela
descrença e a autopiedade , entendendo que o tesouro do tempo nos é
confiado para servir, amealhar recursos para nosso crescimento
espiritual e assim podermos nos reabastecer de energias para prosseguir
no embate, no aprimoramento moral a que estamos destinados.
Os que estão destinados a servir na sementeira do bem, se nutrem nestes momentos de silêncio interior para buscar o suporte necessário, na recomposição das forças, mas não se deixam ficar no vale da contemplação, como nos recomenda o benfeitor espiritual, Emmanuel:
“Procuremos
as águas vivas da prece para lenir o coração, mas não nos esqueçamos de
acionar nossos sentimentos, raciocínios e braços, no progresso e
aperfeiçoamento de nós mesmos, de todos e de tudo, compreendendo que
Jesus reclama obreiros diligentes para a edificação de seu Reino em toda
a Terra.” (3)
São inúmeras as
advertências dos amigos espirituais em torno da necessidade do
autoconhecimento, de nos refugiarmos dentro de nós mesmos sempre que a
vida nos impuser as dores da alma, para o amplo entendimento diante da
incompreensão, dos infortúnios e dissabores porque somente aí, neste
refúgio de nosso ser, poderemos haurir forças e entender melhor os
desígnios de Deus.
Allan Kardec, indaga aos Espíritos Superiores, na questão 924, de O Livro dos Espíritos:
“Há males que independem da maneira de proceder do homem e que atingem mesmo os mais justos. Nenhum meio o terá de os evitar?
R-
Deve resignar-se e sofrer sem murmurar, se quer progredir. Sempre,
porém, lhe é dado haurir consolação na própria consciência, que lhe
proporciona a esperança de melhor futuro, se fizer o que é preciso para
obtê-lo.” (4)
Não seria esta
advertência dos benfeitores espirituais, concitando-nos a buscar o
entendimento maior na própria consciência, através da autoanálise, do
ajustamento e do equilíbrio de nossos sentimentos em momentos de
contemplação e prece?
O que é preciso, então, é entender com maior profundidade o motivo de estarmos aqui, neste momento, mesmo que a solidão ronde nossos passos tentando nos desencorajar ante os deveres de cada dia. E se conseguirmos, como diz a poesia, entender a solidão, sairemos vitoriosos nestes momentos de reflexão e amadurecimento, porque teremos a esperança de um futuro melhor, se fizermos o que é preciso para obtê-lo e principalmente merecê-lo.
Lucy Dias Ramos
Referências Bibliográficas:
(1) Meireles, Cecília. Dispersos, Poesia Completa. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro – RJ. 2002. P. 1729;
(2) FRranco, Divaldo P. Manoel P. de Miranda. Loucura e Obsessão. 2a. ed. FEB. Rio de Janeiro, 1990, RJ. P. 294;
(3) Xavier Francisco C. – Emmanuel. Fonte Viva. FEB. Rio de Janeiro – RJ. 24a. ed. 2000. P 162;
(4) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB. Rio de Janeiro 84a. ed. 2003. q.429.
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