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12 agosto 2020

O que não se entende, venera-se - Rogério Coelho




O QUE NÃO SE ENTENDE, VENERA-SE


O Espiritismo simplificou e eliminou o que há de incompreensível, de ababelado, e obtuso nas equações da vida

“Se eu não entender o que significam as palavras, serei um bárbaro. Se oro numa língua que não entendo, meu coração ora, mas a minha inteligência não colhe fruto”. – Paulo. (I Cor., 14:11.)

Por séculos, as missas foram celebradas em latim, ficando o sacerdote de costas para o povo que, qual cordeiro domesticado e sonolento, submetia-se, dócil, ao alienante regime de escravidão mental imposto sob o aguilhão do baraço e cutelo, coadjuvados pelas ignominiosas e desumanas fogueiras inquisitoriais…

Não falece dúvida que o latim e o grego foram os dois berços linguísticos destinados a acolher a Boa Nova nascente; mas também não podemos perder de vista que o “Pentecostes”, em Jerusalém, testemunhado por filhos da Mesopotâmia, da Frígia, da Líbia, do Egito, cretenses, árabes, partos e romanos, que se aglomeravam na praça extensa, não foi apenas um espetáculo de fenômenos físicos revelador da realidade espiritual, senão um altissonante recado dos Céus, mostrando que o Evangelho deveria ser propagado na língua própria de cada nação que O acolhesse…

Mas, desastre total!… Quando o sacerdote postou-se de frente para o povo, abandonando o latim e falando a mesma língua de seus fiéis, passou a apresentar um “evangelho” todo truncado, permeado de enxertias, no qual foi realçada a “letra” que mata em detrimento do “espírito” que vivifica. E como se não bastasse, a idolatria e o mercantilismo pagãos ganharam título de cidadania e até hoje imperam, mesclados a cerimoniais ricos e complicados, que nada têm a ver com o que Jesus ensinou e exemplificou.

Hodiernamente, quando os escândalos de variegados matizes assolam o seio das Igrejas, quando a incredulidade atinge o seu ponto máximo por não haver mais espaço para tanta obtusidade, o Espiritismo vem colocar a definitiva “pá de cal” nesse império de iniquidades com mofos e azinhavres da Idade Média. Não existe mais espaço para a arrogância clerical e tampouco para os engodos em que se locupletavam.

A novel Doutrina Espírita oferece as explicações para os enigmas da vida e do “post-mortem” em termos claros e simples ao alcance até mesmo das inteligências mais acanhadas, e das criaturas mais incultas.

Ao contrário das religiões que se dizem cristãs, mas prestam um desserviço ao Cristianismo, cujo prestígio e preponderância entre os homens se ancoram principalmente na forma obscura, intricada e incompreensível em que formulam seus empoeirados dogmas e teorias esdrúxulas, tão nebulosos que só podem ser acatados por mentes frustas e pela fé cega, o Espiritismo trabalha com a razão, com o bom senso, com a lógica, com a transparência… Nada de mistérios e tampouco milagres!… Nada de apetrechos para rituais! Nada que fique acima do âmbito da compreensão de seus profitentes! Nada de intermediários assalariados entre Deus e as criaturas! Nada das sendas ínvias, tortuosas e ladeirentas dos meandros dogmáticos! Nada de lazeira espiritual insaciável! Nada de fé amissível!…

O Espiritismo arrasou as dificuldades, desmantelou as dúvidas e eliminou as arestas das sutilezas farisaicas. Provou de forma eloquente e insofismável que Deus é um Pai Bom e Justo que jamais condenaria um filho Seu a penas eternas e irremissíveis. Ele tornou clara a reencarnação, a pluralidade dos mundos habitados, a Imortalidade da alma e a comunicabilidade dos Espíritos como fatos contra os quais não existem argumentos possíveis. Sua ação demolidora fez ruir os pesados e ancilosados dogmas medievais que “engessaram” o pensamento impedindo-lhe o voo aos alcandorados proscênios da vida imortal… Enfim, o Espiritismo simplificou e eliminou o que há de incompreensível, de ababelado, e obtuso nas equações da vida, descortinando os painéis do futuro, não mais como hipótese, mas como fatos incontestáveis.

Com a Doutrina Espírita, já sabemos de onde viemos, o que estamos fazendo aqui e para onde vamos. Ela nos faz compreender que de nossa livre sementeira atual depende a futura e compulsória colheita, ratificando o inolvidável axioma messiânico, exarado no livro de Mateus, capítulo dezesseis, versículo vinte e sete: “a cada um será dado de acordo com as suas obras”.

Portanto, a humanidade não carece de falíveis e imperfeitos intermediários assalariados para ter acesso aos altiplanos da Espiritualidade: somos artífices do nosso próprio destino.

Aos espíritas compete o cuidado para que o mercantilismo não penetre os arraiais espiritistas, levando-lhes a contaminação dos despautérios mundanos, bem como lhes compete, também, a preservação doutrinária impedindo as imiscíveis enxertias, atavios e incoerências que muitos teimam em acrescentar-lhes em (até agora) baldadas tentativas de adulterações. O Espiritismo deve permanecer tal qual nos foi legado por Kardec e os Espíritos Superiores que o assessoraram, para que continue cumprindo o seu papel de iluminar mentes e corações em sua missão emancipadora, livre dos prejuízos e das consequências da obtusidade dos ecônomos infiéis.

Segundo Kardec (1), “(…) O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra, não mais como coisa sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das forças vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como a fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e, por isso, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. É a essas relações que o Cristo alude em muitas circunstâncias e daí vem que muito do que Ele disse permaneceu ininteligível ou falsamente interpretado.

O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil”.

Rogério Coelho

Referência:

(1) KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 125.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, cap. I, item 5.

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