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04 novembro 2006

As aparências enganam - Orson Peter Carrara

AS APARÊNCIAS ENGANAM

Era uma mendiga. Parada em frente à loja de instrumentos musicais, dizia ter sido muito rica, ter vivido na França e conhecer tudo de piano. Os funcionários a expulsaram da porta por várias vezes, mas ela sempre voltava com a mesma história. Mal vestida, sem banho, faminta, sua aparência repugnava. Mas os conhecimentos musicais revelados na insistência para tocar o piano exposto na vitrine chamaram a atenção de um cavalheiro bem distinto que a levou para casa, hospedou-a, providenciou-lhe banho, novas roupas e descanso.

No dia seguinte voltou a loja e como antigo cliente pediu que permitissem àquela mulher tocar o piano. Qual não foi o espanto de todos ao verem ela executar conhecidas melodias dos mestres musicais. Seu benfeitor comprou o piano e fez um pedido à loja: que a contratassem para tocar piano durante o expediente. O resultado? A loja ficou pequena para abrigar tanta gente que ali comparecia para ouvir a antes mendiga agora tocando com brilhantismo. As vendas tomaram então enorme vulto fazendo o crescimento da loja.

A pequena estória faz pensar em muita coisa. Utilizemos a realidade do Brasil:

Os meios de comunicação produzem tanto estardalhaço em torno de uma má notícia, como a rebelião em presídios, o tiroteio numa favela, um desastre com muitas vítimas, o desvio de verbas públicas, que temos a impressão que a sociedade está completamente sem rumo e que o homem não tem mais jeito. Isso é um engano, é tomar o efeito pela causa., é deixar-se levar pelas aparências por demais exaltadas pela televisão, pelo rádio e pela imprensa em geral.

Sim, os males existem, e de toda ordem, mas não somente isso. Você tem idéia de quantas pessoas estão, neste exato momento de sua leitura, fazendo bem ao próximo? Você tem alguma idéia da extensão dos programas sócio-educativos desenvolvidos por centenas de Organizações Não Governamentais no Brasil?

Nada está perdido, mas nem todos temos consciência disso e da necessidade de fazermos a nossa parte na construção de uma sociedade melhor. Vivemos preocupados em criticar, apontar erros, descobrir obstáculos, mas não fazemos nada para melhorar a atual situação...

Isto lembra a história do professor que condoeu-se da situação de sua pobre aluna, sempre suja, mal vestida. Resolveu por dar-lhe um lindo vestido azul. Com o belo presente, sua mãe achou que não ficava bem a filha ir para a escola com vestido tão bonito, mas sem banho. Passou a cuidar melhor da filha e todo dia a banhava antes de ir a escola.

O pai, por sua vez, achou vergonhoso para a família que uma filha tão arrumada morasse numa casa tão desarrumada e começou por querer pintar a casa, arrumar o quintal... Ao fim do mês, os vizinhos acharam que poderiam melhorar suas residências, pois sentiram-se envergonhados com suas casas de má aparência diante do vizinho, agora tão caprichoso.

Deste modo todo o bairro melhorou. Quando o político passou e vendo um bairro tão arrumado achou que aqueles moradores mereciam maior atenção das autoridades...

E pensar que tudo começou com um simples vestido azul dado de presente pelo professor...

Bem, é difícil consertar o mundo, mas ele fêz a sua parte.. Sim, pensando bem, é possível presentear com um lindo vestido azul...

E para concluir, pensemos que a realidade não é tão negra como parece. Está apenas precisando que nos valorizemos mais uns aos outros. Um elogio, um estímulo, uma oportunidade, uma iniciativa para o bem da coletividade não fazem mal a ninguém.

Orson Peter Carrara

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