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30 janeiro 2008

Espírito, Perispírito e Desobsessão - Ney Pietro Peres

Espírito, Perispírito e Desobsessão

Possessão demoníaca, exorcismo, obsessão... Ao longo do tempo, vem sendo propagada a idéia errônea de que a violência é necessária para "expulsarmos" um espírito obsessor. Hoje, sabemos que só a terapia do amor é capaz de realizar de forma profunda a desobsessão.

Para fundamentar o nosso estudo, vamos analisar os concei­tos de espírito e de matéria inseridos no pensamento do codificador Allan Kardec.

Espírito
O espírito, originado do princípio inteligente do universo, embora de natureza não palpável, é algo que existe como individualização desse princípio. É incorpóreo e não pode ser percebido pelos nossos sentidos. Pode existir independen­temente do corpo que anima e, na sua forma, seria comparado a uma chama, um clarão, uma centelha luminosa, cuja cor pode variar do escuro ao brilho do rubi. Pode penetrar e atravessar a matéria e se deslocar ao espaço tão rapidamente como o pensamento. Mesmo não se dividindo, se irradia para diferentes la­dos, como o sol envia seus raios a muitos lugares distantes ,pare­cendo estar neles simultaneamente.

Entende-se por alma o espírito encarnado, que, não estando enclausurado no corpo, se irradia e se manifesta, se exteriorizando como a luz elétrica através de um globo de vi­dro.

Matéria
A matéria é o segundo elemento geral do universo, tanto como o espírito, é também criado por Deus, constituindo, esses três, o princípio de tudo que existe, a Trindade Universal: Deus, espí­rito e matéria.

A matéria pode ser entendida como aquilo que tem exten­são, é impenetrável e pode impressionar os nossos sentidos, mas ela existe em outros estados desconhecidos, tão etérea e sutil que não produza nenhuma impressão aos sentidos físicos.

Ao elemento material deve-se acrescentar uma de suas for­mas de apresentação, entre as inumeráveis combinações distingüidas por propriedades especiais: o Fluido Universal, que exerce o papel de intermediário entre o espírito e a matéria.

Fluido Universal
Este Fluido Universal, ou Primitivo, ou Elementar, é o prin­cípio da matéria ponderável cujos elementos e compostos quí­micos são transformações dele, nas modificações que as molé­culas elementares sofreram ao unirem-se em determinadas cir­cunstâncias, lhes dando diferentes propriedades, como o sa­bor, o odor, as cores, as ações cáusticas, salutares, nutritivas, radioativas etc.

O Fluido Universal é suscetível de inúmeras combinações com a matéria e, ainda, sob a ação do espírito, produzir infinita va­riedade de coisas. E o agente de que o espírito se serve para animar, agregar, transmitir, alterar, condensar, dispersar, mate­rializar, vitalizar, dar forma e estrutura a todas as constituições físicas, quer sejam minerais, vegetais, animais ou humanas.

Entre as muitas modificações do Fluido Universal, duas se revestem de maior importância para os seres vivos: o Princípio Vital e o Perispírito.

Princípio Vital
O Princípio Vital é a força motriz dos corpos orgânicos. A sua união com a matéria a animaliza, diferenciando-a dos corpos inorgânicos. Ele dá vida a todos os seres que o absorvem e assi­milam. É também chamado fluido magnético ou fluido elétrico animalizado, é o intermediário entre o espírito e a matéria. Ao mesmo tempo que impulsiona os órgãos, a ação destes o man­tém, conserva e desenvolve, como o atrito produz o calor e a cor­rente elétrica produz o campo magnético ou a irradiação lumi­nosa.

O Princípio Vital ou fluido magnético pode ser transmitido pela vontade dirigida do seu portador a outros seres vivos, contri­buindo em favor do seu reabastecimento ou reequilíbrio orgânico.

Perispírito
O Perispírito, ou corpo fluídico do espírito, ou ainda psicossoma, ou corpo espiritual, é um dos produtos mais im­portantes do Fluido Universal, é uma condensação dele em tor­no de um foco de inteligência ou espírito.

Os espíritos compõem seu Perispírito do ambiente onde se encontram. Isto quer dizer que se forma dos fluidos ambientais e, portanto, varia em conformidade com o mundo em que vivem. A natureza do Perispírito está sempre relacionado com o grau de adiantamento moral do espírito.

O Perispírito pode ser entendido como a vestimenta do espí­rito, o que lhe dá propriamente forma.

Entre as muitas atribuições do Perispírito, se coloca aquela de intermediário entre o espírito e o corpo. É ele constituído de substância vaporosa, não visível aos olhos humanos, porém as­sumindo consistência nos planos do Espírito.

Ao Perispírito se pode atribuir a qualidade de estruturador do corpo orgânico, a partir da fecundação, na embriogênese, bem como estar diretamente relacionado à memória biológica, isto é, o registro das múltiplas experiências nos campos dos se­res vivos, no decurso dos milênios, a partir das primeiras mani­festações das formações protoplásmicas. Nele aglutinamos todo o equipamento de recursos automáticos que governam as bi­lhões de células, adquiridos vagarosamente pelo ser através dos tempos, nos esforços de recapitulação pelos diversos setores da evolução anímica.

Pode-se visualizar o Perispírito ou Corpo Espiritual à se­melhança de uma estrutura eletromagnética integrada, enriquecida de informações que se foram acumulando experi­mentalmente num mecanismo de estímulo-resposta, dentro de uma diretriz evolutiva, ou seja, de auto-seleção e auto-aprimo­ramento, conduzida por um principio de conservação de ener­gia, onde o máximo de informações são armazenadas com o mínimo dispêndio de energia.

Esse Corpo Espiritual vem se diversificando e aumentando de complexidade do mesmo modo como se observou nos seres vivos a evolução biológica e a formação dos aparelhos e siste­mas no organismo animal. É ele sensível aos impulsos ou às irradiações dos nossos pensamentos, refletindo as imagens fluídicas plasmadas pelas idéias.

Pode também o Perispírito se alterar no seu equilíbrio mag­nético em decorrência das próprias impregnações que as nos­sas imagens perniciosas e deteriorantes nele se projetem e se gravem. Interligado como se acha, interagindo na intimidade celular por contato molecular, portanto, nas estruturas atômi­cas da matéria, tais desequilíbrios se transmitem ao organismo físico, nas áreas mais sensíveis ao tipo de impulso desencadea­do, determinando desordens físicas, causas de certas moléstias.

Assim, os descontroles emocionais, nos ódios, na irritação, as extravagâncias no comer e no beber, a maledicência, os desequilíbrios do sexo, o fumo, o álcool, os tóxicos, podem ge­rar enfermidades, tais como, respectivamente: cardiopatias, do­enças hepáticas, gastralgias, surdez e mudez, cansaço precoce e distrofias musculares, asmas e bronquites, loucura, idiotia.

Ações magnéticas no perispírito: nas obsessões
Entende-se por obsessão o domínio que alguns es­píritos podem adquirir sobre certas pessoas. Pressupõe-se na obsessão a ação de espíritos inferiores com tal tenacidade que a pessoa sobre quem atua não consegue se desembaraçar.

Na obsessão, não ocorre a simultânea coabitação de corpos pelo espírito encarnado na posição de vítima e pelo espírito desencarnado na posição de algoz. Há, no entanto, o efeito de constrangimento de um sobre o outro, ou seja, de tolher, forçar, compelir, obrigar pela força, induzir.

Os tipos de Obsessão
As principais variedades da obsessão classifi­cam-se em: obsessão simples, fascinação e subjugação.

Na obsessão simples, o espírito malfazejo se impõe, in­trometendo-se contra a vontade do indivíduo, impedindo a ação de outros espíritos que possam vir em seu auxílio e causando-lhe inconvenientes como embaraço nas comuni­cações mediúnicas, insinuações levianas, incentivos à vaida­de e a desejos ilícitos. Evidentemente, essas ações exteriores serão mais acentuadas e exercerão maior influência na medi­da em que mais apoio encontrarem no íntimo das criaturas por elas atingidas.

Na fascinação, a ação do espírito no pensamento do indivíduo é de tal ordem que ele não se considera iludido, nem é ca­paz de compreender o absurdo do que faz, podendo até ser ar­rastado a cometer ações ridículas, comprometedoras ou perigo­sas. Admite-se, nesses casos, estarem agindo espíritos inteli­gentes, ardilosos e com objetivos de maior alcance no mal, pois quase sempre utilizam a tática de afastar do seu intérprete aque­les que possam abrir os seus olhos ou esclarecer sobre seus er­ros. Os homens mais instruídos e inteligentes não estão livres desse tipo de obsessão.

A subjugação é um envolvimento que produz a paralisa­ção da vontade da vítima, fazendo-a agir mesmo contrariamente ao seu desejo. A subjugação pode ser moral ou corpórea. Na primeira, o indivíduo é levado a tomar deci­sões freqüentemente absurdas e comprometedoras. Na segun­da, a pessoa realiza movimentos involuntários, nos momen­tos inoportunos, e até atos ridículos. Na subjugação, estão compreendidos os casos de possessão, cuja denominação pres­supõe a ocupação do corpo da vítima, fato esse não admitido pelo Codificador.

Características
Há uma relação de características pelas quais se pode reconhecer os casos de obsessão. Tais caracteres vão da insistência dos espíritos em se comunicar, ilusão do médium que não reconhece a falsi­dade das comunicações, crença na infalibilidade dos espíritos comunicantes, aceitação dos elogios feitos pelos espíritos, rea­ções agressivas às críticas feitas sobre as comunicações recebi­das, a quaisquer formas de constrangimento moral ou físico, ou ainda ocorrências de ruídos e movimentos de objetos sem cau­sas normalmente explicáveis.

Causas
Os motivos ou causas da obsessão podem ser geral­mente admitidos como originados de:

a) Vinganças de espíritos contra pessoas que lhes fizeram so­frer nessa ou em vidas anteriores;

b) Desejo simples de fazer outros sofrerem, por ódio, inveja, covardia;

c) Para usufruir dos mesmos condicionamentos que tinham quando na vida física, induzem os seus afins a cometê-los;

d) Apego às pessoas pelas quais nutriam grandes paixões quan­do em vida;

e) Por interesse em destruir, desunir, dominar, provocar o mal, manter distúrbios, partindo de inteligentes espíritos das hostes inferiores.

A terapêutica nas obsessões
No estudo de O Livro dos Médiuns, Cap. XXIII, o autor indica alguns meios para se combater a obsessão, aqui apresentados para discussão, como segue:

–“Paciência para com os obsessores”(id., ib. item 249):

No trato com as entidades incorpóreas que estejam agindo mentalmente sobre as criaturas, há que compreender-lhes seus motivos de perseguição e, com espírito humanitário, induzir-lhe pacientemente a mudarem suas disposições. Mesmo entre criaturas humanas, uma abordagem respeitosa e compreensiva transmite sempre um envolvimento fraterno e uma radiação de amor que, certamente, age sobre as próprias estruturas perispirituais, de forma confortadora, carinhosa, estabelecendo importantes apoios para as necessárias mudanças comportamentais. A severidade, no entanto, ao lado da benevolência, ali­adas à prece em favor deles, constituem fatores eficazes na so­lução dessas influências.

– “Apelo ao anjo bom e aos bons espíritos” (id., ib. item 249):

Recorrer à assessoria daqueles que operam no mesmo plano da vida espiritual é fator preponderante em qualquer trabalho dessa natureza quando, na maioria das vezes, todo o encami­nhamento e aproximação com aqueles perseguidores (às vezes, nossas vítimas) realizam-se nos territórios do imponderável, livre ao acesso desses auxiliares espirituais.

– “Interrupção das comunicações escritas”(id., ib. item 249):

Alterando-se o intermediário, na posição de instrumento mediúnico nas comunicações psicografadas, ou mesmo na psicofonia, por ações de mentes perturbadoras (encarnadas ou desencarnadas), a interferir no fluxo das mensagens transmiti­das por meios telepáticos, como providência criteriosa e pru­dente, a interrupção provisória desses exercícios mediúnicos é de todo aconselhável, até que se restabeleçam os canais de va­zão telepática com os bons espíritos e se afastem as infiltrações prejudiciais.
– “Intervenção de um colaborador que atue pelo magnetismo ou pelo império da vontade”(id. ib., item 251):

A ação mental de apoio diretamente sobre o paciente, esti­mulando-lhe os próprios recursos de reação, tanto pela aplica­ção das energias fluido-dinâmicas nos mecanismos do passe, como pelo esclarecimento renovador, elevando-lhe o padrão dos próprios pensamentos e fortalecendo a vontade no bem, atin­ge as estruturas perispirituais e os campos de radiações da psicosfera (ou mente) momentaneamente desarticulados, devol­vendo-lhes a ordem e a sanidade.

Os resultados benéficos obtidos serão tanto mais significati­vos quanto maior for a superioridade moral dos colaboradores e menores as imperfeições do obsediado. Essas imperfeições morais constituem freqüentemente para o paciente obstáculos à sua libertação (id. ib., item 252).

Ensina-nos André Luiz: “... almas regularmente evoluídas, em apreciáveis con­dições vibratórias pela sincera devoção ao bem, com esquecimento dos seus próprios desejos, podem, desse modo, projetar raios mentais, em vias de sublimação, assimilando correntes superio­res e enriquecendo os raios vitais de que são dínamos comuns”.

Artigo publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 08.

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