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17 janeiro 2008

Os Nazistas de Biafra - Luciano dos Anjos e Hermínio Corrêa de Miranda

Os Nazistas de Biafra

Pior, tragicamente pior que a do Vietnam é a guerra interna de Biafra, onde uma disputa fratricida pelo poder extermina diariamente milhares de criaturas absolutamente alheias ao processo político da Nigéria. São mães e crianças aparentemente inocentes que sofrem na carne a conseqüência da discórdia de seus lideres fanáticos, especialmente o diabólico general Ojkwo. Mas, então – é de se cogitar – onde está Deus? Como é possível explicar a hediondez que se vem praticando ali, num quadro incontestavelmente dantesco, contra populações civis inermes que só querem e só desejam a paz, não importa o governo que lhes dêem? Não consola a ninguém justificar tais atos de barbárie com os ignotos desígnios do Criador ou as origens pecaminosas dos seus ascendestes. Onde está a bondade de Deus? Onde, a justiça de Deus?

Meu caro leitor, somente o Espiritismo pode explicar a incongruência dessa cruel realidade. Somente a Doutrina de Allan Kardec consegue fazer luz nas trevas dessa incógnita, que, nos termos em que se nos oferece à razão, sem uma cabal explicação, resulta em desconsolo, desesperança e até revolta.

No “Grupo Ismael”, de que faço parte, na Federação Espírita Brasileira, em plena reunião, meu companheiro Francisco Thiesen interpreta para nós a mensagem do entendimento em torno do doloroso processo coletivo de Biafra. A ponderação é justa e precisa. Não há por que estranhá-la, tais os elementos de aclaramento que alinha.

Morrem em Biafra, sofrem ali os piores horrores duma guerra irracional, são torturados, queimados, dilacerados em Biafra, exatamente aqueles Espíritos que, há quase um quarto de século, integravam a horda nazista que tantas desgraças impuseram aos seus semelhantes! Repare-se que, essencialmente os jovens, as crianças acima de tudo, são as principais vitimas do abominável movimento separatista. Observe o leitor as imagens que as revistas nos transmitem: criaturas esquálidas, cadavéricas, morrendo de inanição no meio das ruas; esqueletos se arrastam nas sarjetas e a antropofagia começa a generalizar-se; os corpos se amontoam em tétricas pilhas, misturados aos quais há alguns que ainda se estertoram, mas para quem não há a mais mínima esperança de socorro; a cremação é a única solução e nela alguns mortos vivos vão gemer suas últimas dores. Outros, ainda respirando, acabam devorados pelos abutres, quando não são as formigas que lhes vêm assinalar as derradeiras torturas físicas e psicológicas. A loucura encontra muitos deles; a peste extermina milhares; o suicídio responde pelo desespero de mães que a ele recorrem antes de consumar a dramática e incoercível necessidade de devorar as carnes dos próprios filhos!

Onde foi, mesmo, que já vimos esse quadro aterrador? Certamente em Auschwitz, em Dachau, em Buchenwald, campos de concentração alemães, nos quais os sanguinários nazistas faziam sabão de judeus e “abat-jours” da pele dos prisioneiros...

Não há por que por em duvida: alguns desumanos nazistas já voltaram e resgatam na própria carne os seus repulsivos crimes. É essa dura mas justa resposta que o Espiritismo oferece e que, antes de macular a perfeição de Deus, dá-lhe configuração equânime e sábia. O Cristo fora portador dessa implicação: “A cada um será dado segundo as suas obras”... A Lei da Reencarnação é a única justificativa honesta e sem rebuços, que o Espiritismo trouxe aos homens e que basta para coloca-los diante dos efeitos da alegria ou da dor, da tormenta ou da paz, conscientes da sua verdadeira causa. Isto vale dizer (e aqui entra o maior benefício que a Doutrina dos Espíritos legou ao mundo): devemos sopesar cada ato, cada palavra, cada pensamento nosso, pois em função deles faremos desenrolar o nosso amanhã, que bem poderá ocorrer na tranqüilidade e na despreocupação das areias de Copacabana, ou nas aquerônticas terras de Biafra...

E agora, se me perguntam, ainda, onde está Deus, posso responder conscientemente: Deus estava no Reich e não foi ouvido...

Autor:
Luciano dos Anjos
Hermínio Corrêa de Miranda
Livro: Crônicas de um e de Outro

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