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16 abril 2009

Páginas da Vida - Richard Simonetti

Páginas da Vida

Reportando-se ao dia a dia, comenta Chico: Deus nos concede a cada dia uma página nova no livro do tempo. Aquilo que colocaremos nela corre por nossa conta.

Interessante a imagem do livro existencial.

Realmente, a jornada humana é como um livro que estamos escrevendo, usando o lápis da iniciativa.

Em linhas gerais, há um enredo de que cogitamos, ao reencarnar, envolvendo família, profissão, raça, cor, nacionalidade, sempre no propósito de nosso crescimento espiritual.

Infelizmente, com raras exceções, inspirados nas ilusões da Terra, tendemos a dar asas à imaginação, afastando-nos do enredo proposto, o que sempre resulta numa obra conturbada e nada edificante.

***

A propósito do assunto, vale lembrar um tema instigante: o confronto entre determinismo e livre-arbítrio.

Há quem proclame que o fio do destino é tecido por Deus.

Tudo aconteceria segundo os Desígnios Celestes, com o instrumental da fatalidade.

Complicado admitir isso.

Se escorrego e quebro a perna…
Se me envolvo numa trombada no trânsito…
Se um enfarte fulminante leva-me para o Além…
Se o casamento não dá certo...
Se um Espírito me obsidia…
Esses e outros males obedecem à inexorável determinação divina?

Diz um amigo:
– Deus tem costas largas. Se alguém nos faz um favor, logo Lhe transferimos o débito, ao dizer: Deus lhe pague!… E não temos nenhum constrangimento em debitar-Lhe todas as atribulações da existência!

Realmente, é cômodo pensar assim, sem assumirmos nossas responsabilidades, sem reconhecer o essencial: os males que nos afligem são fruto, geralmente, de nosso desatino, não do destino.

A perna quebrada não resultou de uma distração?
O acidente de trânsito não teria acontecido por imprudência?
O infarto não seria o somatório de excessos demais e exercícios de menos?
A dificuldade no casamento não seria mera consequência da displicência em relação aos deveres conjugais?
As influências espirituais que nos oprimem não teriam se infiltrado em nosso psiquismo pelas brechas de um comportamento desajustado?

Não somos marionetes, nem meros personagens de um romance cujo autor as submete aos seus devaneios, sem que possam interferir no enredo.

Somos seres pensantes, criados à imagem e semelhança de Deus, conforme o texto bíblico, dotados de suas potencialidades criadoras, responsáveis, portanto, por nossas ações e senhores de nosso destino.
***

O destino, amigo leitor, pode ser considerado em dois aspectos: o absoluto e o relativo.

O absoluto está subordinado à Vontade Divina.

Há uma meta que devemos atingir, no desdobramento das experiências reencarnatórias: a perfeição.

Lá chegaremos fatalmente, quer queiramos ou não, porque essa é a vontade do Todo-Poderoso, que não falha jamais em seus objetivos.

O relativo subordina-se ao livre-arbítrio.

A maneira como vamos atingir aquela meta suprema depende de nós, de nossa maneira de agir, das escolhas feitas, dos caminhos escolhidos, dos livros que estamos escrevendo a cada experiência reencarnatória.

Podemos levar alguns milhares ou milhões de anos nessa jornada.

Depende de nossas escolhas.

Sempre que entrarmos no desvio, atrasando a jornada, virá a Mestra Dor, impondo uma correção de rota.

Assim, seguimos pelos caminhos que queremos, sejam estradas asfaltadas ou brejos espinhentos, caminhos retos ou atalhos enganosos, para chegar exatamente onde Deus quer.

***

Talvez lhe pareça, leitor amigo, inaceitável que Deus interfira em sua vida, impondo-lhe que siga no rumo da perfeição, a contrariar suas próprias disposições.

Não obstante, oportuno lembrar que Deus é, acima de tudo, nosso Pai de infinito amor e misericórdia, como revelou Jesus. Um pai que trabalha incessantemente pelo nosso bem e a nossa felicidade.

Um filho poderá reclamar, em sua imaturidade, das disciplinas impostas pelo genitor, mas reconhecerá, mais tarde, que lhe foram sumamente benéficas.

Assim acontece conosco.

Hoje ficamos amuados, quando Deus nos corrige.

Amanhã, agradeceremos ao Senhor ter limitado nossa liberdade, corrigindo nossos desvios.

E, algo curioso, amigo leitor: quanto mais perto estivermos da perfeição, mais amplo será nosso livre-arbítrio.

Quanto mais evoluirmos, maior será a liberdade de fazer o que a nossa vontade determina, porquanto sempre faremos o que determina a vontade de Deus.

Texto de Richard Simonetti
Edição Abril 2009
Folha Espírita

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