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30 abril 2010

A Importância da Educação - Raul Teixeira

A Importância da Educação

Há uma questão fundamental, na vida da sociedade, que tem sido alvo de muitas discussões, tanto em nível de família, em nível governamental, em nível geral. Essa questão é a que se relaciona à educação. Ninguém pode imaginar que uma sociedade se construa e se mantenha em boas bases, longe dos princípios educacionais.

Mas, o que temos visto costumeiramente é que a educação não tem sido bem trabalhada, bem desenvolvida por aqueles responsáveis por ela. Exatamente por uma deficiência básica, uma questão conceitual. O que se vem chamando de educação? O que é que nós entendemos por educação? O que as classes sociais admitem seja a educação?

A partir dessa questão conceptiva, todas as coisas começam a ganhar mais ou menos expressividade. Quando pensamos em educação, costumeiramente pensamos em instrução. As tradições culturais norteamericanas e europeias trataram de chamar de educação ao aprendizado intelectual.

Uma criatura muito bem instruída, dizia-se e afirma-se, ainda hoje, que é muito bem educada. Por terem estudado nos melhores colégios, por terem tido excelentes professores, por terem feito bons cursos, diz-se que essas pessoas têm ou tiveram uma boa educação.

Não resta dúvida que a questão educacional passa por esse viés instrucional, mas educação não é propriamente a instrução. Se a instrução representasse a educação, a Humanidade estaria um pouco melhor. Mas há dúvidas relativamente a isso exatamente porque, quando se fala em educação, se está referindo a essa arte ou a esse ofício de plasmar o caráter dos indivíduos.

Sempre que se trabalha o caráter das pessoas se está trabalhando a sua educação. Educar é a arte de moldar ou de formar os caracteres. Se se pensa a partir disso, temos que admitir que teremos boa educação e teremos má educação.

Se é a arte de formar o caráter dos indivíduos, encontramos indivíduos cujo caráter é muito mal formado. Ele foi educado para isso, recebeu implementos para isso, obteve incrementos para isso. Uma criança mal educada quase sempre nós dizemos que é sem educação. Ninguém é sem educação. Pode ter uma má educação mas tem educação.

É aquela criança que foi recebendo no seu habitat, no seu meio ambiente, de seus pais, dos adultos, das pessoas que com ela conviveram esses elementos que reforçaram as deficiências próprias. Cada vez que um pai, que uma mãe diga para o seu filho: Não me traga desaforo para casa, se apanhou bata também, está criando um violento deseducado. Não me traga desaforos para casa é crucial porque seria importante que os pais dissessem: Traga para casa, porque em casa conversamos, dialogamos, explicamos e desaguamos as pressões, as tensões daquilo que se viveu na rua.

Os antigos diziam que Quando um não quer dois não brigam. Essa é uma verdade. Então, é muitíssimo importante que verifiquemos que essa criatura violenta, muitas vezes aprendeu a ser violenta na contextualidade da sua família ou do seu grupo social.

São muitos os pais que ensinam aos filhos a tirar vantagem de tudo, a explorar as pessoas parvas, as pessoas tolas. Isso começa de casa, quando os próprios pais contratam servidores domésticos de baixo nível intelectual para lhes pagar salários de fome. A criatura trabalha como um boi ladrão, trabalha como um animal de tração e ganha salários de fome. Essa exploração, que as crianças vão aprendendo, desde sua própria casa, é deseducação ou, se quisermos, uma má educação.

Estaremos formando os nossos pequenos, nossos jovens para que sejam adultos exploradores. Daí começarmos a pensar, a refletir maduramente na importância do fenômeno educativo. Jamais teremos uma sociedade bem posta, jamais encontraremos uma sociedade bem estruturada, bem ordenada sócio- politicamente, sócioeconomicamente, sócio-políticoeconomicamente, longe das bases da educação.

* * *

A partir do momento que se der atenção ao fenômeno educacional, começaremos a plasmar uma nova estrutura da sociedade. Os nobres guias da Humanidade estabeleceram que, enquanto as instituições não mudarem seus valores estruturais, não adotarem posturas éticas, ético-morais de boa qualidade, será muito difícil que a Humanidade se modifique, uma vez que tudo conspira para manutenção do egoísmo.

A fim de que o egoísmo bata em retirada e que possamos pensar numa sociedade plural, com pessoas diferentes, de variados níveis, de variadas culturas, de múltiplos interesses, ao respeitarem-se reciprocamente, o fenômeno educacional ter-se-á implantado.

Uma das grandes deficiências do processo educativo está no educador. O educador, seja pai, mãe, professor, seja quem for é uma pessoa que carrega em si seus próprios conflitos, suas aberrações, suas insanidades, suas perversões. É muito difícil não deixar que essas coisas vazem, no momento ou durante o processo em que se elabore a educação.

Como é que se vai educar crianças ou jovens sem que esses valores estejam devidamente assentados na sua própria intimidade? Quando se falar para a criança ou para o jovem a respeito desses elementos educativos não se falará com verdade, não se falará com convicção, não se terá a crença necessária para que o ouvinte admita e assimile.

Será fácil para o educando ler na voz, na tremura da voz, no desvio do olhar do educador que aquilo que ele está propondo, aquilo que ele está falando, aquilo que ele está dizendo, não corresponde à verdade. Daí, a educação precisar trabalhar desde a figura do educador para que haja transparência na relação educador - educando, para que haja verdade, uma vez que temos entregue aos nossos jovens, às nossas crianças uma herança discurso muito bonita porque todos os governantes candidatos falam na grandeza, na importância da educação.

Ainda que eles estejam pensando na escolaridade, ainda que estejam admitindo essa educação escola, ainda assim é um discurso vazio porque eles não acreditam que a educação valha, porque uma vez que as comunidades estejam bem educadas nunca mais votarão neles. Uma vez que as comunidades estejam devidamente bem formadas, não aceitarão as falcatruas, as corrupções, toda essa vilania que estamos encontrando no mundo, nas estruturas sócio- políticas, econômicas, religiosas a que temos acesso.

É muito importante o fenômeno da educação, mas a educação mais eficaz não pode ser admitida, não pode ser tida como um mero verniz social. Não é educada a pessoa que fala manso, que dobra o pescoço para falar, que tem um monte de maneirismos, de trejeitos, de salamaleques ou de mis em scène.

Essa é uma pessoa maneirosa. A pessoa educada é aquela que vive de maneira educada, que imprime essa boa educação à sua vida, à sua relação com seus filhos, à sua relação com seu esposo, à sua relação com a família como um todo e, gradativamente, à sua relação com a sociedade.

É muito triste, é lamentável mesmo encontrarmos pessoas bem formadas academicamente, intelectualmente, mas que dizemos que tem pavio curto. Elas não conseguem ouvir nenhuma discordância, são incapazes de suportar alguém que não as aplauda, que não lhes apoie as ideias.

Não adianta ter uma boa cultura acadêmica se não consegue fazer bom uso dessa cultura acadêmica. Daí encontramos médicos, pneumologistas tabagistas! Como é que ele passa a verdade para o seu paciente ao pedir-lhe para que pare de fumar?

Encontramos pessoas que dão classe de moral, cuja língua é uma verdadeira chibata do comportamento alheio, da vida alheia. Encontramos pessoas que têm um discurso completamente alienado, distanciado do curso de sua vida.

A importância da educação é que para que banhemos o outro com as suas águas cristalinas é indispensável que nos banhemos primeiro. A educação é profundamente importante, por isso precisamos enfatizar que, sem as bases de uma educação - mudança de comportamento, uma educação que nos ensine a viver na Terra e a nos relacionar com os outros, muito dificilmente a nossa sociedade encontrará o desfecho feliz a que faz jus e que espera.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 159, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em julho de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 21.02.2010.

29 abril 2010

Não Tenha Medo do Bem - Raul Teixeira

Não Tenha Medo do Bem

Para onde nos voltamos, hoje em dia, as notícias são as piores. Notícias de escândalos, notícias de dor, de misérias humanas. Temos tido a impressão, nesses dias humanos, nesses tempos terrestres, que a criatura é movida estranhamente a sangue, a vergonha, a corrupção, às notícias de morte.

Temos uma sensação estranha de que a engrenagem do psiquismo humano aprendeu a se nutrir de corrupção. São policiais mancomunados com o crime, são autoridades jungidas à corrupção. Criaturas que vendem a própria consciência a troco de algumas cédulas ricas em suas contas bancárias. Para onde nos voltamos, temos encontrado essa figura da tragédia, pelos caminhos humanos.

Começamos a nos perguntar se é isto mesmo o que nós esperamos encontrar no planeta. Para onde nos voltamos, as notícias televisivas, dos telejornais, dos jornais, as notícias radiofônicas são de acidentes nas estradas, de balas perdidas, estupros, contaminação dos mananciais, contaminação dos mares, por navios que derramaram substâncias. E para tudo haverá inquéritos intermináveis.

Parece que nos acostumamos a essa sombra que se abate sobre a Terra. Ninguém responde por nada, as criaturas fazem questão de alcançar os altos cargos, principalmente os cargos públicos. Há brigas, há guerras, há competições para que alguém seja diretor dali, comandante de acolá, dirigente mais adiante. Mas, quando surgem os problemas, ninguém sabe, ninguém viu.

As pessoas só veem os salários, nunca assumem responsabilidades. Para onde nos voltamos, as notícias são essas. Os desfalques, as falcatruas, o roubo, a conivência, até de autoridades. Até quando nos alimentaremos disso?

Porque são essas notícias que têm vendido jornais e revistas. O escândalo é que tem mantido as verbas das grandes emissoras. Temos a impressão que nada de bom acontece no mundo. Os desastres ocorridos no Japão, na China, na Índia entram em nossa casa como se tivessem acontecido na nossa rua! As mortes, os crimes, acontecidos em qualquer parte do Oriente nos aturdem, como se fossem fatos da nossa praça, no bairro onde moramos.

É justo isso? É lógico que essas coisas aconteçam? Em nome da informação, periodistas, jornalistas, em nome de que interesses nós não sabemos, explicam para a coletividade como é que se produz a droga, onde é que se acha a droga, como é que a polícia descobriu, o que deveria ser segredo de trabalho, segredo profissional.

E, desse modo, vamos vendo que as tragédias ocorridas nas cidades grandes agora também estão nas cidades menores. Em qualquer recanto do nosso país, as mesmas tragédias das megalópoles, dos grandes centros urbanos. É preciso que façamos uma pausa para analisar isto que estamos consumindo, sem nenhuma reflexão.

Passamos horas e horas consumindo o que está nas páginas de sangue dos jornais e absorvendo aquilo que vemos pelas cenas televisivas que nos são mostradas. Até quando pagaremos para sofrer? Para nos encharcar dessas notícias tão infaustas, tão desesperadoras, como se estivéssemos com medo do bem? Há que se mudar essa fase para que o mundo encontre a saída que espera.

* * *

Se sairmos desse carreiro de tragédias ao qual nos acostumamos pouco a pouco, se deixarmos um pouco de ouvir e de assimilar as ideias de assaltos, de sequestros, de homicídios, começaremos a ter olhos para o lado bom das coisas.

Não significa que tenhamos que ser pessoas ingênuas e que acreditemos que, em nossa sociedade, essas coisas não ocorram. Sabemos que elas ocorrem, no entanto, se olharmos com outra visão, se tivermos um pouco mais de boa vontade para com o bem, passaremos a ver, em nossa comunidade, quantas são as famílias que adotam crianças órfãs e que não merecem nenhum destaque nas mídias; quantas são as instituições que acolhem velhinhos, pobres ou não, e que os atendem com carinho, que lhes dão um novo lar. Muitas vezes, velhinhos cujos filhos os abandonaram, nem sempre filhos pobres, filhos que se envergonhavam deles.

Se olharmos um pouco mais, encontraremos a criação de escolas patrocinadas por gente simples do Interior, que se reuniu e que resolveu alfabetizar. Lavradores, donas de casa, adultos. Encontraremos pessoas ligadas à música, que criaram orquestras de grande qualidade, com meninos que estavam pedindo nas ruas, com meninas que estavam se prostituindo, nos sinais de trânsito, nas estradas e que, hoje, estão ganhando a vida, graças à arte da sua musicalidade.

Se prestarmos atenção no bem, veremos jovens que saíram dos guetos, das favelas, que acreditaram que podiam, que receberam apoio de algum mecenas. São bailarinos, são cantores, são artífices os mais variados, espalhados pelo Brasil e por tantos lugares do mundo. Porque o bem age sempre. Se dermos oportunidade ao bem, ele funciona. Enquanto ouvimos falar dos jovens que se matam de overdose, jovens que se acabam nas festas rave, jovens deprimidos vestidos de negro e pálidos, esquecemos daqueles outros que trabalham de dia, que estudam à noite, que passam os finais de semana cuidando dos seus deveres comuns para que, durante a semana, trabalhem de dia, estudem à noite, para que possam vencer. Não merecem uma linha no jornal. Mas, se um jovem cheira cola, merece meia página; se assalta, se arrebenta as caixas dos bancos merece respaldo do noticiário. Que mundo é que estamos querendo? Que paz estamos buscando? Se o bem não tem merecido comentário, se o bem não tem se tornado notícia?

Apenas o mal. Para as mentalidades frágeis, é mais vantajoso fazer o mal. Ninguém fala de um notável professor que tem uma técnica excelente de alfabetizar seus alunos ou de retirá-los da ignorância. Ninguém fala de um médico da nossa cidade que descobriu uma terapia nova para velhos males da saúde. Ninguém. Absolutamente ninguém. Quando nos reunimos, nós que nos dizemos religiosos, é para comentar o mal. Raramente comentamos o bem. As curas que Deus tem feito recair sobre Seus filhos, pelas mãos de médicos abnegados, pelas mãos de Espíritos queridos que nos inspiram, que nos tratam com essas energias formidáveis do mundo superior.

Nada disso merece notícia porque as pessoas nem acreditam em Deus, nem acreditam nos seres espirituais, nem acreditam nessas coisas. É importante não termos medo do bem. Onde estivermos, falemos o bem.

Como é que a gente vai falar do bem? Falemos dos nossos filhos, as notas que tiraram, os estudos deles, estão tocando violão, piano, estão cantando, estão ajudando na obra da Instituição como voluntários, estão trabalhando no escotismo. Vamos falar das coisas boas. Não importa que as pessoas digam que nós só falamos dos nossos filhos, se eles são da luz, se eles são do bem. Vamos falar o que convém à sã doutrina, propôs o Apóstolo Paulo.

Não tenhamos medo do bem porque será graças ao bem que nós alcançaremos esse Caminho, essa Verdade e essa Vida que Jesus Cristo representa para nós.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 185, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em janeiro de 2009. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 28.02.2010

28 abril 2010

Competições - Raul Teixeira

Competições

Quando olhamos a Magna Grécia, nos tempos mais recuados de sua História, encontraremos ali a pratica das Olimpíadas. Foi na Grécia que teve começo esse pensamento olímpico, quando jovens, para homenagear aos deuses, para honrar a paz, festejar as estações primaveris, se colocavam em pelejas notáveis. Batiam-se, competiam, no sentido de superar os próprios limites dos seus corpos.

Era bonito de se ver, nas terras atenienses quanto em Esparta, como a juventude se posicionava diante das próprias possibilidades. Treinavam à exaustão. Corriam, atiravam dardos, setas, faziam de tudo em honra das Olimpíadas. Aí começamos a pensar nos móveis daquelas competições. O que é fazia aqueles jovens competir? Era o desejo da autossuperação.

Naturalmente, isso se constituía numa competição muito saudável porque exigia dos jovens disciplina. Disciplina de treinos, de nutrição alimentar, disciplina de hábitos, disciplina geral. Ora, quando temos uma juventude disciplinada em torno de um esporte, em torno de lazer, em torno de uma Olimpíada para verificar quem é capaz de superar, não apenas o recorde do outro, mas o seu próprio recorde, verificamos como é saudável essa competição.

Nas nossas sociedades contemporâneas, encontramos ainda as competições. As escolas, na sua estrutura acadêmica, levam os alunos a competir uns com os outros. Aqueles alunos que desejam ser os primeiros da classe têm que estudar bastante, devem se esforçar bastante. Há aqueles alunos que querem ser os melhores na Educação Física, nos torneios desportivos. Eles têm que se disciplinar muito, obedecer a regras, adotar determinadas alimentações, certas posturas, dormir cedo.

Como é importante para o indivíduo em formação esse tipo de orientação que as competições costumam oferecer. Sempre que vemos essa forma de competir, vemos que é saudável. Se existe um número de vagas que deve ser preenchido por um número pequeno de pessoas, há que se fazer concursos. Então, os concursos são todos competitivos. São experiências competitivas da sociedade com as quais já nos aclimatamos. Estudamos, nos preparamos e vamos fazer os concursos. Vamos competir. Em verdade, não estamos competindo no sentido de prejudicar os outros, estamos competindo no sentido de que disputamos com os outros os mesmos espaços, que são poucos, as mesmas vagas, que são poucas.

Daí começamos a ver a competição tendo esse caráter social bastante plausível, bastante respeitável e necessário, uma vez que não há vaga para todo mundo, em determinado concurso, seja escolar, acadêmico, seja profissional. Não há uma empresa do governo ou privada que possa empregar todos os homens e mulheres de uma sociedade. Há um número limitado de vagas e, para que se as disputem, as pessoas têm que prestar concursos. São competições. É muito válida essa espécie de competição.

A competição passa adotar um caráter nefasto, negativo quando partimos para o erro, para querer passar por sobre as pessoas a qualquer custo. Quando queremos bater os outros, pagando qualquer preço. Saímos do campo da ética, fugimos às experiências éticas e começamos a buscar aquilo que não corresponde ao espírito olímpico da Grécia, a autossuperação. Estaremos mesmo, sem portarmos as devidas condições, querendo tirar o lugar dos outros. É bem diferente da primeira proposta que era conquistar o nosso lugar. Agora encontramos os que querem tirar dos outros esse lugar que os outros conquistaram devidamente.

* * *

Quando a pessoa chega nesse ponto de querer passar sobre as outras, a qualquer custo, estamos diante de sérios gravames. Esse tipo de competição desonesta pode levar os indivíduos a cometer crimes, desatinos, causando infortúnio a si mesmos e causando infortúnio aos outros. Quando encontramos indivíduos dispostos a comprar diplomas, a comprar trabalhos acadêmicos, que serão colocados em seus nomes, quando vemos indivíduos falsificando documentação para tirar o espaço de outros, as vagas de outros, o lugar de outros, essa não é uma competição honesta.

Quando encontramos aqueles que compram o voto do povo e aqueles que vendem seus votos, já não é uma competição salutar. Estamos diante de uma selvageria social. É muitíssimo importante pensar numa competição que nos dê alegria de viver, a partir de cujas experiências consigamos ainda olhar nos olhos das pessoas. Ter essa certeza de que o que conseguimos foi à custa do nosso próprio esforço.

Mas, encontramos na sociedade contemporânea a prática dos nepotismos, dos apadrinhamentos sociais, políticos, religiosos quando os meus parecem ter mais valor do que os outros e os dos outros. Isso nós só poderíamos saber se houvesse uma honesta competição. Se os nossos parentes, se os nossos afetos, se os nossos amigos têm tantos potenciais, têm tanto valor, por que é que se negam a competir com os outros? Por que fogem dos concursos? E por que as autoridades não fazem os concursos, se têm tanta confiança nas possibilidades dos seus apadrinhados?

É nesse momento que a sociedade eclipsa-se, é nesse momento que a sociedade se atormenta, é nessa hora que a competição vira tragédia. Competir não é o problema, desde que seja transparente, desde que seja honesta a competição. Quando partimos para esse bas fond, para esse fim de linha, para esse pântano dos interesses escusos das atividades soezes, aí a competição ganha outro sentido. É por isso que precisamos aprender a valorizar a nossa própria luta, cada qual aprender a estudar, a desenvolver seu próprio potencial. É lamentável encontrar alguém que não goste de estudar, que se negue ao aprimoramento pessoal, convicto de que, na hora em que precise de dinheiro, haverá um padrinho para colocá-lo onde ele não merecia estar.

É muito triste ver que alguém, nesse estado de coisas, nessa situação, se candidata a, isso sim, a sofrimentos terríveis nessa mesma existência ou em existências futuras, em outras encarnações. Tudo aquilo que não conquistamos com o nosso mérito, não nos pertence, é uma usurpação e essa usurpação nos custa muito caro, cada vez que a cometemos.

Foi Jesus Cristo que disse-nos: A cada um será dado conforme suas obras. Em termos espirituais, isso é verdade, nós somente recebemos aquilo que fizemos por merecer. Mas, no campo das sociedades humanas, não. Encontramos muita gente ocupando cargos que não mereceriam ocupar. Ocupando posições sociais, políticas, econômicas, funcionais, de modo geral, para o que não fizeram nenhum esforço a não ser o de arranjar os apadrinhamentos. Isso é contra a sociedade saudável que estamos querendo construir. Isso é contra a ética, contra os bons costumes.

Que a competição exista, mas que seja uma proposta de autossuperação. Que cada qual de nós faça seu esforço. Não é porque eu sou negro, amarelo, pobre, branco, que eu seja dessa etnia ou de outra etnia, que eu more no bairro X, Y, Z que eu tenho que merecer tratamento especial. A competição é saudável, quando saudável é o caráter daqueles que selecionam.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 176, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em setembro de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 10.01.2010

27 abril 2010

A Amizade - Raul Teixeira

A Amizade

Dentre os ensinamentos notáveis de Jesus Cristo, destacamos um que nos chama muito a atenção. Em dado momento, afirmou Ele, o verdadeiro amigo é aquele que dá a sua vida pela vida do amigo.

Se levarmos ao pé da letra essa afirmativa de Jesus Cristo, não acharemos amigos na Terra. São raras as criaturas capazes de dar a sua vida pela vida do outro. Isso, em termos literais. Se pensarmos, porém, no sentido figurado dessa imagem, acharemos muitos amigos. Porque dar a vida ao outro não significa propriamente morrer pelo outro. Dar a vida é dedicar-se ao outro. Isso é um trabalho da amizade, é um trabalho dos amigos. Somente os amigos podem se dedicar um ao outro.

Muitas vezes encontramos essas amizades tão profundas, tão viscerais, tão importantes na própria família. Costumam ser os melhores amigos dos filhos, os seus pais. A mãe faz de tudo pelos seus filhos, renuncia por eles, dá a vida por eles. Os pais, para os quais não há fim de semana, não há descanso, não há repouso, não há férias, desde que os filhos tenham escola, lazer, comida, roupa, brinquedo. São verdadeiros amigos, mesmo quando os filhos não se dão conta disso e se tornam máquinas de exigência para com seus pais.

Esses pais correspondem aos melhores amigos que os filhos têm. Dão-lhes de tudo e dá um prazer muito grande ao filho perceber que seus pais não lhe cobram nada. É muitíssimo importante esse apercebimento de que a amizade é alguma coisa que segue essa trilha, a gratuidade.

Por isso a amizade não se cobra, por isso a amizade é espontânea. Ela é forjada em bases de sintonia, de afinidade.

Temos amigos dos mais curiosos. Cada qual de nós os tem. Amigos que são religiosos, amigos que são ateus, amigos que são religiosos só de superfície, no fundo não são nada. Amigos que são ateus convictos, outros que são ateus de brincadeirinha. Temos amigos que são falantes, outros quietos. Amigos que são fofos, gordinhos. Outros são magricelas. Temos amigos que são figuras importantes no esporte, nas artes, na política, na vida científica, da cidade, do society. Temos amigos pobrezinhos, do gueto, da favela, do morro, dos lugares pobres.

Não importa. Quando nosso coração pulsa de maneira diferente junto deles, eles se tornam nossos amigos, gostamos deles e eles gostam de nós.

É tão importante a amizade porque, muitas vezes, o amigo tem conosco maior abertura e nós com ele, do que tem com seus consangüíneos, como nós também, às vezes, temos mais liberdade de tratar assuntos íntimos com os amigos do que com familiares consanguíneos.

Por isso a amizade é tão importante. Diante dos amigos, respeito. Não é pelo fato de alguém ser nosso amigo, nossa amiga que nós lhe podemos dizer qualquer coisa, agredi-lo com palavras, com censuras indevidas. Não se justifica.

Quanto mais gostamos das pessoas, mais as deveremos respeitar. Podemos até discordar dos pontos de vista dos amigos, mas isso não é motivo para que briguemos, para que nos indisponhamos com eles. Não, não. É importantíssimo que nossos amigos tenham trânsito livre na nossa intimidade como nós queremos transitar livremente junto deles, na intimidade da convivência com eles.

É muito importante essa consciência de que o amigo é aquele capaz de dar a sua vida pela vida do outro amigo. Daí, a amizade ser quase irmandade. Uma pessoa que é amiga é uma pessoa irmã.

* * *

Essa alma irmã, que se tornou amiga da nossa, merece de nós a fidelidade na amizade. É muito importante sermos amigos fiéis, daqueles que se diz são amigos para toda obra, paus para toda obra, amigos em quaisquer circunstâncias.

Encontramos na Terra alguns que são amigos da onça. Só são nossos amigos quando tudo está bem, quando temos dinheiro, quando a casa está farta, quando gastamos com eles, quando lhes prestamos ajuda. Quando as coisas ficam diferentes, quando acaba o dinheiro, quando acaba a fama, quando já não lhes podemos prestar qualquer assistência desaparecem do nosso convívio.

Mas temos amigos com os quais fazemos as mesmas coisas. Há amigos que só buscamos quando estamos precisando. Há amigos que só recorremos, só lembramos de lhes telefonar quando as coisas estão difíceis para nós.

Num revés da vida, num problema afetivo, conjugal, aí nós os procuramos. Seria tão importante se aprendêssemos a ser fiéis aos nossos amigos e fôssemos amigos deles em quaisquer ocasiões.

Do mesmo modo, gostamos dos amigos que nos são amigos em qualquer clima da vida, em qualquer momento do mundo. Ao lado dessa fidelidade ao amigo não há porque desconfiar deles. Se as pessoas são nossas amigas por que desconfiar delas?

Amigos verdadeiros. Não confundamos a ideia de amigos com colegas. Na nossa repartição de trabalho, temos muitos colegas que a gente não se visita, não vai à casa deles, eles não vão à nossa casa. São colegas ali do ambiente, do métier profissional.

Temos colegas da rua, do campo de futebol, da peleja, da bola, da pelada. Temos colegas de todo o tipo mas não passam de colegas.

A amizade pressupõe uma confiança, uma abertura, uma transparência que o coleguismo não importa. É muitíssimo importante que os nossos amigos sejam valorizados por nós. Não nos esqueçamos de que, um dia, Jesus Cristo nos disse, conforme os textos exarados no Evangelho de João: Já não vos chamo de servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Tenho vos chamado amigos porque tudo quanto aprendi do meu Pai, vos tenho revelado. Notemos bem porque é que Jesus Cristo nos diz que Ele é nosso Amigo: Tudo quanto aprendi do meu Pai vos revelei. Então, o amigo tem esse caráter de abertura, de não esconder do outro, de não mentir para o outro mas de oferecer ao outro a mesa farta da nossa sinceridade, a mesa farta da nossa honestidade.

Já não vos chamo servos porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor foi a expressão de Cristo. Tenho vos chamado amigos. Por quê? Porque tudo quanto aprendi do meu Pai vos tenho revelado. É natural que pensemos que essa também é uma expressão simbólica porque Cristo não poderia nos ter passado Tudo o que Ele aprendeu do Pai Celeste.

Não porque não quisesse mas porque não poderia. Nós não suportaríamos toda a verdade que Cristo aprendeu de Deus, nas limitações em que ainda nos encontramos hoje, mais de dois milênios passados do Seu berço. Imaginemos ao Seu tempo. Éramos ainda muito mais frágeis, intelectualmente, moralmente, emocionalmente. Daí, Ele dizer que tudo quanto o Pai lhe ensinara, Ele nos estava passando. Tudo o que correspondia ao grau de nossa capacidade de assimilação, de aprendizagem.

Então, o amigo também tem que ter esse cuidado com seus amigos. Passamos para o amigo todas as coisas que ele suporta, que ele consegue administrar para que não joguemos todo o peso da nossa intimidade, da nossa mentalidade, da nossa vivência sobre ele e ele não suporte e não tenha condições de segurar.

A amizade é quase irmandade. Ser amigo é ser fratello, é ser irmão. Por isso, vale a pena ampliarmos o leque de nossa amizade no mundo e diminuir tanto quanto possamos as inimizades, enquanto na Terra.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 181, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em setembro de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 03.01.2010.

26 abril 2010

Atividades para a Paz - Raul Teixeira

Atividades para a Paz

Nunca se ouviu falar tanto de paz na Terra, como nestes tempos que estamos vivendo. Para tudo e para qualquer coisa, fala-se da paz. Desde há muito se conhecia a pomba da paz. Há muito se fala da bandeira da paz, dos tratados de paz ou de armistício.

Mas, afinal de contas, o que vem a ser mesmo a paz? É muito difícil para quem não é pacífico saber o que venha ser a paz. Para muita gente, a paz é a postura das águas paradas; para outros, a paz é a inércia, é o não fazer nada, é o não ter que se incomodar, se importunar, que sair do seu lugar, não ter ninguém que o aborreça, que o importune, que o chateie. Parece que a paz se torna, para muita gente, uma virtude estanque, parada, ancilosada, quando, em realidade, a paz é exatamente o oposto.

Quando vemos a superfície espelhada no lago jamais suporemos que na intimidade do lago exista paralisia. Há vida que ferve, há vida que exubera. Existe vida que se mostra, que se multiplica, que se revigora.

Quando se fala em harmonia ou em paz estamos tratando de uma postura de vida porque a paz é uma virtude ativa e também pró-ativa. A paz engendra outras tantas virtudes. A paz realiza muitíssimos trabalhos. Por causa disso, cada vez mais é preciso aprender a identificar que paz é essa a que estamos nos referindo. É a paz dos cadáveres? A preguiça rançosa dos cadáveres? Ou estamos falando em paz: atividade, atitude, consciência tranquila, disposição para o bem, para o trabalho, para a luta? Isso é paz.

Quando pensamos nos ases da paz que o mundo conheceu, à semelhança de Gandhi, o grande líder da paz indiana, vemos que a vida de Gandhi teve de tudo, menos inércia. Era um homem de atividade. Atividade social, na política, atividade religiosa. Era um homem de atividades em prol do bem geral. Era um homem de paz.

Quando pensamos em Teresa de Ávila, a conhecida Santa Teresa D’Ávila, freira, religiosa por excelência, constatamos que ela não vivia rezando pelos cantos o dia inteiro. Ia à luta, buscava recursos para seus velhos, buscava elementos que pudessem ajudá-la a manter, a construir e a manter o lar de idosos. Sofreu o convite devastador de um príncipe, um convite indecoroso, indecente, trocando-o por uma ajuda que ela rechaçou com a maior tranquilidade. Verificamos, na vida dessa mulher de paz que a sua paz tinha de tudo, menos inércia.

Lembramo-nos do Prêmio Nobel da Paz, que foi Madre Teresa de Calcutá. Naquela mulher pequena e magra havia tudo, menos inércia. Alfabetizou crianças, cuidou de leprosos, tuberculosos, de velhos abandonados jogados às lixeiras da Índia. Era uma mulher ativa, exuberantemente ativa e era da paz.

Quando nos lembramos desses vultos tão recentes na Humanidade, lembramos de Martin Luther King Junior que, em 1968, tão próximo de nós, fez a grande marcha sobre Washington contra o apartheid americano, o preconceito étnicoamericano.

Verificamos que a paz carrega em seus ingredientes essa capacidade de sairmos do lugar, de nos movimentarmos; essa capacidade de agir, de fazer, de provocar mudanças positivas para a sociedade. É por causa disso que, todas as vezes que falarmos de paz, será necessário estabelecermos se estamos falando verdadeiramente de paz ou se nos referimos à inércia dos mortos, à inércia do pântano, à inércia da morte.

* * *

Sendo a paz essa virtude, por excelência, que está dentro da criatura e que é bem diferente do que se costuma imaginar, evocamos um dos ensinamentos do Homem de Nazaré, quando nos disse: A minha paz vos deixo, a minha paz vos dou, mas não vo-la dou como o mundo a dá. Neste ensinamento de Jesus Cristo percebemos algo fabuloso porque, em verdade, ninguém pode dar do que é seu, espiritualmente, para o outro. Mas Jesus Cristo nos dizia que deixava Sua paz como modelo para nós, como proposta e, mesmo assim, não deixava da mesma maneira que o mundo deixa. A paz do mundo, vale a pena rever, é como a paz dos cadáveres, a paz da inércia, a paz do não fazer nada. É uma paz que não deveria ser chamada de paz, é uma tranquilidade, um sossego, um ócio. A paz do Cristo é trabalho dignificante.

Notamos, ao longo da História, homens e mulheres que se dedicaram ao trabalho da paz e o fizeram com rara maestria. Se olharmos, por exemplo, o gênio de Madre Teresa de Calcutá: com que garra essa mulher trabalhou pela paz. Em sua vida encontraríamos todos os problemas, menos a inércia. Alfabetizou crianças, amparou a leprosos, tuberculosos, retirou das lixeiras os velhos que eram ali atirados pelos próprios filhos. Madre Teresa foi Prêmio Nobel da Paz, tamanho o trabalho que realizou nesse campo da paz.

Mas, se olharmos a saga de Gandhi, de Mohandas Gandhi nós acharemos em sua vida tudo, menos a inércia. Porque foi um grande líder político, social, religioso, um homem de massa, um homem que falava para que os outros ouvissem, falava com bom senso. Lutou contra um império inteiro que dominava seu país, apanhou, foi preso, sofreu, preservando a paz. Decidiu não fazer qualquer movimento contra a violência, porque ele afirmava que qualquer movimento contra a violência seria igualmente violento, teria que ser igualmente violento. Ele propôs um movimento pela paz.

Era o movimento da não violência e é por causa disso que percebemos que todas as pessoas que lidam em prol da paz são criaturas ativas, dedicadas, trabalhadoras do seu ideal, operosas no seu ideal.

Temos que destacar, então, o que é a pessoa pacífica da criatura passiva. Vale a pena lembrar ou relembrar que o individuo pacífico não está protegendo a própria pele, não tem interesses personalísticos. Ele visa o bem comum, ele está sempre propenso a trabalhar em prol do bem comum. A criatura passiva está pensando em si, em não se incomodar, em não se aturdir. É por causa disso que vemos tanta gente que dá abraço simbólico nas árvores mas derruba as plantas, corta as florestas. Encontramos pessoas que dão abraços simbólicos em prédios públicos que depois vão pichar.

Outros que abraçam os lagos, as fontes, os rios, mananciais diversos em nome da paz, do verde, da ecologia mas atiram-lhes detritos, atiram, pelas janelas dos seus veículos, ou dos ônibus, latas, garrafas, sacos plásticos, pets, em nome da sua passividade. O pacifico procuraria uma lixeira para preservar a natureza, o passivo atira em qualquer lugar, ajustando-se à ideia de que aquilo já estava sujo, já estava assim. Empurra cada vez mais os problemas para frente, alegando que os problemas já existiam.

É a paz que carregamos por dentro de nós que gradativamente explode, vaza da nossa realidade e faz com que as pessoas em torno se banhem na nossa paz. Essa paz que extravasa de nós contagia a sociedade em que vivemos e a sociedade em que vivemos apaziguada, com a nossa influência, com a nossa participação, espalhará a paz para o mundo e todos seremos, sem dúvida, muito mais felizes.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 155, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em julho de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 27.12.2009.

25 abril 2010

Lidando com a Ingratidão - Raul Teixeira

Lidando com a Ingratidão

Essa é uma questão bastante interessante, a do agradecimento. Curiosamente, não temos costume de agradecer. Parece que o nosso agradecimento é essa coisa formal: Obrigado, obrigado, obrigado.

E nisso, nessa única palavra, parece que já dissemos tudo. Mas o agradecimento não é bem dizer obrigado, às vezes contrafeito, às vezes aborrecido. É muito importante agradecer.

O agradecimento é dessas dádivas para com o benfeitor que engrandecem aquele que recebeu a benfeitoria. O benfeitor o faz porque faz. Mas agradecer é um gesto de reconhecimento de que as pessoas não são obrigadas a fazer para nós. Se fizeram, algum movimento de seu coração as inspirou para que fizessem.

Muitos imaginam que sua mãe, que seu pai, que seus irmãos tenham obrigação de atender às suas questões pessoais. Os pais têm obrigações de criar os filhos, de educar os filhos, mas quando trazem um doce da rua, trazem um brinquedo da loja, uma camisa nova ou nos levam para um passeio é um acréscimo, é algo além.

Quando sentam conosco e conosco conversam, quando nos permitem ampliar a nossa cultura, trabalhar a nossa sensibilidade, nos põem numa aula de música, de violão, de karatê, de judô, de capoeira, é algo extra.

Quando pensamos nisso, verificamos quão pouco agradecemos aos nossos pais mas, quero repetir, não se trata do agradecimento com as palavras: muito obrigado. Trata-se do agradecimento com a nossa maneira de ser com eles, de viver com eles, de atuar junto deles.

Quantos são os filhos ingratos para com suas mães, para com seus pais. Parece, em muitas situações, que a mãe é uma serva desrespeitada dos seus filhos porque nem os servos se deve tratar com desrespeito.

Quantos são os filhos que gritam, que batem portas, que se atormentam de tal maneira que agridem, até fisicamente, as suas mães. Não é necessário dizer que estamos num território terrivelmente complicado da ingratidão.

Há muitos que dizem: Minha mãe não me entende, Meu pai não me entende, Não há diálogo, mas qual é o diálogo que estamos querendo?

Muitas vezes queremos o diálogo em que eles nos aprovem sempre ou façam o que estamos pedindo, ou comprem o que a gente deseja. Cada vez que eles nos dizem Não, Não pode, Não pode ser, Não podemos, não há diálogo.

Interpretações nossas. Esse é um tipo de ingratidão indesculpável porque os filhos devemos tudo aos nossos pais. Nós, os filhos, devemos a vida aos nossos pais.

Minha mãe é analfabeta, Minha mãe é nervosa, Minha mãe... Nossa mãe pode ser o que for mas é nossa mãe. Foi graças a essa mulher analfabeta, tensa, nervosa que nascemos. Há tantas outras mulheres calmas, cultas que odeiam filhos, que detestam crianças. Só por essa razão nossa mãe merece o nosso respeito, o nosso carinho, a nossa atenção, a nossa gratidão e, curiosamente, somente quando elas partem é que reconhecemos o quanto elas eram importantes para nós.

Quantas vezes dizemos que o nosso pai não nos dá carinho, não nos abraça, nunca teve um gesto de ternura com a gente, nos tratava sempre de certa forma distante. Mas esses pais nunca nos deixaram faltar nada, sempre nos acobertaram com a sua proteção. Jamais tiveram fim de semana para si, trabalhando sempre a fim de que pudéssemos nos banquetear com os benefícios domésticos. Isso tudo precisa ser muito bem pensado porque quando lemos os mandamentos recebidos por Moisés, no Sinai, um deles nos chama atenção: Honra teu pai e tua mãe, a fim de viveres longo tempo na terra que o senhor teu Deus te dará. Quem não consegue respeitar, honrar, agradecer a pai e mãe, não fará isso com mais ninguém.

* * *

Quando pensamos nessa gratidão para com os pais é porque quando não conseguimos ser gratos com eles, será muito difícil ser agradecido a qualquer outra pessoa. Os nossos pais são a base da nossa vida, representam o roteiro que nós todos seguimos.

É natural que eles tenham obrigações para com os seus filhos, é comum. Mas há coisas que eles extrapolam, fazem além, nos dão cursos de música, de arte, nos põem para estudar violão, canto, karatê, judô, pagam nossas viagens, fazem mil coisas com esforços, com sacrifícios, que merecem a nossa gratidão.

Independentemente de nossos pais, existem outras tantas pessoas que nos ajudam a viver. Quem lava a nossa roupa, quem cozinha para nós, quem nos presta um favor pagando uma conta, cuidando de um animal nosso, quem nos ajuda a fazer um serviço, uma construção, um conserto, quem nos ouve as queixas, quem tem ouvidos em nome da amizade para as nossas reclamações... todas essas pessoas deveriam ser alvos de nosso agradecimento.

Então, agradecer não será propriamente dizer palavras mas viver de tal maneira essas relações que as pessoas nelas envolvidas se sentissem gratificadas.

Como é importante sermos fiéis aos amigos, aos nossos bons amigos. O respeito que devemos a eles, nada obstante a liberdade que tenhamos. Mas há uma parede de vidro entre nós, que se chama respeito. Respeito ao outro, à individualidade, aos gostos. Nada isso impede a nossa amizade, o nosso bem querer.

Quando pensamos naqueles que são alvos da ingratidão será importante que eles não se amofinem, não se atormentem com isso. Sei que é difícil alguém que serve, que ajuda, que estende a mão e recebe a bofetada, o escárnio, o azedume ou a indiferença como resposta. No entanto, o gostoso, para quem ajuda, é o próprio ato de ajudar. Aquele que ama se sente gratificado, não com a gratidão dos outros mas com a possibilidade de amar, de ter amado, de vir a amar.

É tão importante fazer o bem que essa realização já nos gratifica. É tão bom fazer o bem porque nos enquadramos nas Leis de Deus. Fazer o bem não é uma atitude religiosa.

Parece que vinculamos fazer o bem com o fato de alguém ser religioso. Não, fazer o bem é Lei da vida. O Bem é Lei de Deus. Quando o realizamos, não estamos fazendo nenhum favor. Lamentavelmente chegamos a um nível, em nossa sociedade, de desrespeito ao bem, de desatenção ao bem que, quando uma pessoa, por exemplo, é honesta, acha um documento, uma carteira de dinheiro e devolve, ela vira herói nacional.

Essa deveria ser a coisa mais comum porque a coisa mais comum é o hábito de tirar proveito em tudo, de explorar o outro, de não agradecer, como se as pessoas tivessem obrigação de nos servir.

É tão bom quando quem faz o bem não tem nenhum desejo de receber agradecimento. O agradecimento já está na própria consciência de ter agido de conformidade com a Lei da vida. E a Lei da vida é a Lei de Deus.

Fazer o que seja cabível, distinguir o bem do mal, isso faz parte dos nossos deveres. Fazer o bem não deveria ser uma atitude para aguardar gratidão de ninguém. Ninguém se frustre. Faça o bem sabendo que poderá não receber nenhuma reciprocidade.

É muito comum percebermos que as pessoas têm mágoa de quem lhes faz o bem. Parece que se voltam contra, se sentem magoadas por terem sido ajudadas, se sentem humilhadas, como muitos verbalizam. São criaturas orgulhosas, muitas vezes, e que, por isso, não se dobram, não sabem agradecer. Quem fez por elas não fez mais que a obrigação, admitem.

Mas, quem faz o bem, quem realiza essa proeza de amar, de servir ao próximo, de servir ao semelhante, não se atormente quando não houver gratificação, quando não houver agradecimento porque a nossa consciência, que é onde residem as Leis de Deus já assimiladas por nós, nos gratificou, disse que somos parte do rebanho do nosso Criador, dos amigos de Cristo, realizando luz pela Terra inteira.

Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 163, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Programa gravado em julho de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 13.12.2009.

24 abril 2010

Portal de Lucidez - Camilo Chaves

Portal de Lucidez

O Espiritismo é o portal excelente por onde podem adentrar todos quantos estejam dispostos a executar, com segurança, o programa da própria encarnação.

Em cada hora, em cada experiência humana, apresentam-se inúmeros desafios que exigem o indispensável descortino de todas as razões que nos trouxeram às novas lidas do mundo corpóreo.

É no conhecimento espírita que achamos, com lucidez e simplicidade, os motivos pelos quais todos os encarnados devem utilizar do melhor modo as oportunidades benditas de estarem usufruindo as horas importantes da atividade terrena.

Quantas dúvidas, quantas inseguranças, quantos temores se espalham pelas pautas da exuberante vida? É na Doutrina Espírita que temos o locus em que desfazemos dúvidas, galgamos os campos da segurança e solucionamos o drama dos medos humanos, pelas explicações de todo convincentes que nos oferta.

O ensejo de conhecer as nossas origens e de saber, de fato, quem somos, o papel que devemos desempenhar ao largo da trajetória no mundo bem como a destinação da alma, após o despojamento carnal, são elementos grandíssimos de ajustamento da nossa razão ao sumo bem, incentivando-nos a aderir às práticas dos atos enobrecidos em toda e qualquer relação social, pelo mundo afora.

Há, em múltiplos setores da vida na Terra, a concepção de que, por si mesma, a matéria propriamente dita seja apta a conceder todas as respostas ansiadas pelo indivíduo enredado no campo das suas provações terrestres. Nos fundamentos do Espiritismo, no entanto, identificamos a sobrevalência do ser espiritual que responde pela própria dinâmica da matéria bruta, desfigurando de modo expressivo toda a empafiosa manifestação das teses materialistas, irrompidas aqui e ali.

Pelos movimentos sociais do mundo, nas relações entre as criaturas, vulgarizou-se a ideia de que se vive bem quando se pode acumular bens materiais, produtos, moedas, joias, fama ou poder. É o Espiritismo, no entanto, que alumia esses territórios das mentes e comprova, por sua imbatível logicidade e pelo bom senso em que se exprime, que todas as coisas servem apenas para as nossas lidas do mundo, ajudando-nos a desenvolver aptidões e mentalidade. Deverão permanecer no chão terrestre, nada obstante, sem qualquer chance de adentrar com as almas os campos da Vida Imortal.

O Espiritismo demonstra a utilidade do uso de todas as coisas, desde que com grandeza moral, para o progresso da individualidade imortal, tendo-se em consideração que elas existem para que possam auxiliar o ser perene em sua escalada ascensional.

Vemos porque vale a pena considerar o Espiritismo como portal luminoso, por onde sonham adentrar os Espíritos ansiosos por viver melhor e por tornarem sua vida bem-aventurada, mais plena e significativa para si mesmos.

Sem embargo, não nos deverão faltar o bom senso eminentemente kardequiano nem a firmeza de propósitos, que nos capacitam ao bom aproveitamento do tempo que a todos nos é concedido.

Espiritismo: conhecimento – trabalho – amor – renovação.Uma vez que nos ponhamos atentos a essas dimensões pertinentes à eminente Doutrina, conseguiremos participar dos programas do Cristo, com relação à regeneração planetária e à emancipação espiritual de cada um de nós.

Camilo Chaves

Mensagem psicografada por Raul Teixeira, em 7.11.2009, durante a Reunião Ordinária do Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira, em Brasília, DF.

23 abril 2010

Pureza em Branco - Irmão X

PUREZA EM BRANCO

Quando Anésio Fraga deixou o corpo físico, ele, que fora sempre considerado puro entre os homens, atingiu a Fronteira do Mundo Espiritual à semelhança de um lírio, tal a brancura de sua bela vestimenta.

Pretendia viver nas Esferas Superiores, respirar o clima dos anjos, alçar-se às estrelas e comungar a presença do Cristo - explicou ao agente espiritual que o atendia ao policiamento da passagem para os excelsos Planos da Espiritualidade.

O zeloso funcionário, contudo, embora demonstrasse profundo respeito para com a sua apresentação, submeteu-o a longo teste, findo o qual, não obstante desapontado, explicou que lhe não seria possível avançar.

Faltavam-lhe requisitos para maior ascensão.

- Eu? Eu? - gaguejou Anésio, aflito. - Como pode ser isso? Fui na Terra um homem que observou todas as regras do Santo Caminho.
- Apesar de tudo. - falou o fiscal, reticencioso.
- Não me conformo, não me conformo! - reclamou o candidato à glória divina.

E sacando do bolso uma lista, exclamou agastado:
- Pensando na hipótese de alguma desconsideração, resumi em dez itens o meu procedimento irrepreensível no mundo.

E leu para o benfeitor calmo e atento:
- Respeitei todas as religiões.
- Cultivei o dom da prece.
- Acreditei no poder da caridade.
- Nunca aborreci os meus semelhantes.
- Confiei sempre no melhor
- Calei toda palavra ofensiva ou desrespeitosa.
- Calculei todos os meus passos.
- Jamais procurei os defeitos do próximo.
- Evitei o contato com todas as pessoas viciadas.
- Vivi em minha casa preocupado em não ser percalço na estrada alheia.

O mordomo da Grande Porta, no entanto, sorriu e comentou:
- Fraga, você leu as afirmações, esquecendo as demonstrações.
- Como assim?

O amigo paciente apanhou a ficha e esclareceu que o Plano Espiritual possuía também apontamentos para confronto e solicitou-lhe a releitura da lista.

E seguiu-se curioso diálogo entre os dois.

Principiou Anésio:
- Respeitei todas as religiões.

E o examinador acentuou, conferindo as anotações:
- Mas não serviu a nenhuma.
- Cultivei o dom da prece.
- Somente em seu próprio favor.
- Acreditei no poder da caridade.
- Todavia, não a praticou.
- Nunca aborreci os meus semelhantes.
- Entretanto, não auxiliou a quem quer que fosse.
- Confiei sempre no melhor.
- Mas apenas em seu benefício.
- Calei toda palavra ofensiva ou desrespeitosa.
- Não se lembrou, porém, de falar aquelas que pudessem amparar os necessitados de consolo e esperança.
- Calculei todos os meus passos.
- Para não ser molestado.
- Jamais procurei os defeitos do próximo.
- Contudo, não lhe aproveitou os bons exemplos.
- Evitei o contato com todas as pessoas viciadas.
- Atendendo ao comodismo.
- Vivi em minha casa preocupado em não ser percalço na estrada alheia.
- Simplesmente para não ser chamado a tarefa de auxílio.
Anésio, desencantado, silenciou, mas o benfeitor esclareceu, sem afetação:
- Meu amigo, meu amigo! Não basta fugir ao mal. É preciso fazer o bem. Você movimenta-se em branco, veste-se em branco, calça em branco e brilha em branco, mas a existência na Terra passou igualmente em branco. Volte e viva!

Angustiado, Anésio perdeu o próprio equilíbrio e rolou da Altura na direção da Terra.

De "Contos desta e doutra vida"
de Francisco Cândido Xavier
Espírito Irmão X

22 abril 2010

Sempre Matéria - Richard Simonetti

SEMPRE MATÉRIA

Define-se geralmente a matéria como sendo - o que tem extensão, o que é capaz de nos impressionar os sentidos, o que é impenetrável. São exatas essas definições? Do vosso ponto de vista, elas o são, porque não falais senão do que conheceis. Mas a matéria existe em estados que ignorais.

Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma Impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para vós, porém, não o seria.

Livro do Espíritos - Questão nr. 22

Em 1944 o Departamento Editorial da Federação Espírita Brasileira lançou um livro que desde logo provocou grande impacto:

Nosso Lar, psicografia de Francisco Cândido Xavier.

O autor, médico desencarnado que o usou o pseudônimo André Luiz, descreve suas experiências no Plano Espiritual, a partir da morte física e do estágio que fez no Umbral, região de sofrimentos que circunda a Terra. Seria o Purgatório do Catolicismo.

Não foi o primeiro livro a abordar o assunto.

A literatura sobre o Além é vasta, envolvendo publicações em todos os continentes.

São famosos no Brasil A Vida Além do Véu, do reverendo inglês Roberto Dale Owen e Cartas de Uma Morta, do Espírito Maria João de Deus, mãe do médium Francisco Cândido Xavier, que o psicografou.

Na codificação kardequiana há O Céu e o Inferno, que desfaz milenárias fantasias, oferecendo-vos valiosas informações sobre o que nos espera após deixar a carcaça na "cidade dos pés juntos".

Nenhum livro, entretanto, é tão completo, tão claro e minucioso sobre a vida espiritual.

André Luiz é muito bem informado e, sobretudo, um autêntico literato, com uma linguagem elegante, sóbria e notável capacidade de síntese. Não perde tempo com firulas. Vai direto ao assunto.

Revela-se conhecedor profundo da ciência médica. Isso favorece muito a abordagem dos problemas psíquicos, de Espíritos encarnados e desencarnados, um dos pontos altos de sua obra, que inclui mais doze livros.

Consta que seria Carlos Chagas, grande médico brasileiro, autor de pesquisas que o tornaram conhecido internacionalmente.

Particularmente famoso é o seu estudo sobre o trypanosoma cruzi, protozoário transmitido por um inseto, o barbeiro, que causa a tripanossomíase americana, hoje conhecida como o Mal de Chagas, em sua homenagem.

Sua identidade foi confirmada pelo médium em reduzido grupo de confrades. São pessoas respeitáveis, de plena confiança, que nos passaram a informação. Segundo Chico a opção pelo pseudônimo foi do próprio autor desencarnado.

* * *

O que causou impacto em Nosso Lar foi o fato de André Luiz descrever uma cidade no Plano Espiritual, cujo nome dá título ao livro.

Há casas, veículos, ruas, parques, árvores, vegetação, lagos, campos... Há uma organização administrativa e social, sede de governo, escolas, hospitais, centros de cultura...

Um espanto!

Emmanuel, o mentor espiritual que assina o prefácio, comenta:

Certamente que numerosos amigos sorrirão ao contato com determinadas passagens das narrativas. O inabitual, entretanto, causa surpresa em todos os tempos. Quem não sorriria na Terra, anos atrás, quando se lhes falasse da aviação, da eletricidade, da radiofonia?

Mais do que sorrisos, a obra de André Luiz suscitou dúvidas e críticas.

Como imaginar o mundo espiritual um xérox da Terra?

Mas poderíamos inverter a pergunta:

Como imaginá-lo diferente?

O que vai acontecer quando batermos as botas?

Porventura nos transmutaremos em etérea fumaça?

Perderemos a identidade?

Desapareceremos no todo cósmico?

Onde quer que o Espírito instale sua morada, fatalmente irá defrontar-se com sua própria forma e entrará em contato com seres e coisas que também tem forma.

Mesmo as fantasias teológicas reportam-se a paisagens infernais e celestiais, seres demoníacos e angélicos, chifres e asas, jardins e cavernas, caldeirões e harpas...

A natureza não dá saltos.

A Espiritualidade, principalmente nas proximidades do plano em que vivemos, forçosamente assemelha-se à Terra.

Ao contrário do que se imagina, o mundo físico é uma cópia muito imperfeita do mundo espiritual, mais densa, mais pesada, de matéria mais grosseira.

Os cientistas admitem hoje a existência de universos paralelos, em outras dimensões, que poderíamos definir como planos habitados por Espíritos, de acordo com seu estágio evolutivo.

***

A chave para entender e aceitar Nosso Lar, está em conceber que a morada dos mortos é feita de matéria.

Isso não deve ser motivo de surpresa.

Consideremos os estados conhecidos da matéria:

Sólido, líquido e gasoso.

Uma pedra de gelo é matéria em estado sólido.

Derretendo o gelo temos matéria líquida.

Se colocarmos a água a ferver teremos a matéria em estado gasoso a dispersar-se, oferecendo-nos a impressão de que se esgotou quando apenas tornou-se invisível.

Algo semelhante ocorre com o Continente Espiritual.

Não o visualizamos porque nos faltam sentidos para identificar os elementos que o estruturam.

Não o detectam os mais sofisticados aparelhos de que dispõe a ciência terrestre porque ainda não possuem a necessária sensibilidade.

***

Superada essa dificuldade, poderemos ler tranquilamente. André Luiz, colhendo valiosas informações sobre as regiões para onde nos transferimos quando a morte nos contemplar com seu irrecusável convite.

Usaremos, então, outro corpo, feito de matéria sutil, em outra faixa de vibração, denominado perispírito por Allan Kardec.

O perispírito guarda a mesma morfologia do corpo físico. É cópia fiel. Assim o Espírito tende a conservar tende a conservar a aparência compatível com sua idade ao desencarnar.

Isso nos permite compreender certas ocorrências, envolvendo os Espíritos.

Diz o vidente na reunião espírita:

- Fulano está presente.

Como sabe?

É que o vê em seu corpo espiritual.

Reclama um comunicante pela psicofonia mediúnica:

- Ninguém me dá atenção em meu lar. É como se eu falasse com as portas...

Não percebe que morreu.

Por quê?

Porque não enxerga nenhuma diferença entre o perispírito, que lhe serve hoje à exteriorização, e o corpo que o serviu enquanto encarnado.

***

Mas Nosso Lar não é só informação sobre o além-túmulo.

Situa-se, sobretudo, como vigorosa advertência, quanto a nossa postura existencial. Demonstra incisivamente que, encarnados ou desencarnados, é fundamental que superemos os pruridos de individualismo que se manifestam em desânimo, tristeza, inquietação, quando somos contrariados em nossos desejos. Sem esse empenho nossa vida será uma interminável sequência de perturbações.

André Luiz oferece ilustrativo exemplo de ordem pessoal.

Após a desencarnação, esteve oito anos no Umbral. Sofreu muito na condição de suicida inconsciente.

Alguém que morreu antes do tempo, em virtude das extravagâncias que cultivava; que jamais encarou a evidência de que estava agredindo e corrompendo a máquina física.

Internado num hospital, recebeu a visita de Clarêncio, generoso benfeitor espiritual.

Carinhoso, o visitante perguntou-lhe:

- Como vai? Melhorzinho?

André Luiz fez o que é próprio do comportamento humano.

Explicou tudinho, em tom desolado.

Reclamou de mal-estar, angústia, depressão, ansiedade... Falou do peso de sua cruz, de doridas saudades da família...

Lastimou estarem a esposa e os filhos sem sua presença...

Sentia-se enfermo, infeliz...

Terminou enfatizando:

- Que será, então, a vida? Sucessivo desenrolar de misérias e lágrimas? Não haverá recurso à semeadura da paz? Por mais que deseje firmar-me no otimismo, sinto que a noção de infelicidade me bloqueia o Espírito, como terrível cárcere. Que desventurado destino, generoso benfeitor!...

Debulhou-se em lágrimas...

Clarêncio, aproveitando o intermezzo naquela sinfonia de lamúrias, perguntou:

- Meu amigo, deseja você, de fato, a cura espiritual?

Recebendo resposta afirmativa, continuou:

Aprenda, então, a não falar excessivamente de si mesmo, nem comente a própria dor. Lamentação denota enfermidade mental e enfermidade de curso laborioso e tratamento difícil. É indispensável criar pensamentos novos e disciplinar os lábios. Somente conseguiremos equilíbrio, abrindo o coração ao Sol da Divindade. Classificar o esforço necessário de imposição esmagadora, enxergar padecimentos onde há luta edificante, sói identificar indesejável cegueira d'alma. Quanto mais utilize o verbo por dilatar considerações dolorosas, no círculo da personalidade, mais duros se tornarão os laços que o prendem a lembranças mesquinhas...

Falou-lhe longamente, como um mentor compassivo e amigo, mas enérgico e realista, chamando-o à razão.

Conclui André Luiz:

A palavra de Clarêncio levantara-me para elucubrações mais sadias.

Enquanto meditava a sabedoria da valiosa advertência, meu benfeitor, qual o pai que esquece a leviandade dos filhos para recomeçar serenamente a lição, tornou a perguntar com um belo sorriso:

- Então, como passa? Melhor?

Contente por sentir-me desculpado, à maneira da criança que deseja aprender, respondi, confortado:

- Vou bem melhor, para melhor compreender a Vontade Divina.

***

Uma boa pedida, leitor amigo:

Meditar sobre as ponderações de Clarêncio com situações assim:

Quando nos elegemos vítimas do destino...

Quando resvalamos para estados depressivos...

Quando sentimos pena de nós mesmos...

Quando a dor nos parece insuportável...

Quando cultivamos a queixa...

Em qualquer lugar, encarnados ou desencarnados, estaremos bem, se procurarmos entender que as lutas e os problemas do mundo não são abismos de angústia e sofrimento.

Constituem valiosos desafios para o exercício de nossas faculdades criadoras, sugerindo-nos o aproveitamento das experiências em que Deus nos situa como oportunidades grandiosas em favor de nossa edificação.

Se os enfrentarmos com serenidade e bom ânimo, dispostos a fazer o melhor, verificaremos que apesar de tudo, na Terra ou no Além, jamais haverá espaço em nosso coração para angústias e perturbações que fazem a infelicidade de tanta gente.

De "A presença de Deus"
De Richard Simonetti

21 abril 2010

A Receita da Felicidade - Néio Lúcio

A RECEITA DA FELICIDADE

Tadeu, que era dos comentaristas mais inflamados, no culto da Boa Nova, em casa de Pedro, entusiasmara-se na reunião, relacionando os imperativos da felicidade humana e clamando contra os dominadores de Roma e contra os rabinos do Sinédrio.

Tocado de indisfarçável revolta, dissertou largamente sobre a discórdia e o sofrimento reinantes no povo, situando-lhes a causa nas deficiências políticas da época, e, depois que expendeu várias considerações preciosas, em torno do assunto, Jesus perguntou-lhe:

- Tadeu, como interpreta você a felicidade? - Senhor, a felicidade é a paz de todos.

O Cristo estampou significativa expressão fisionômica e ponderou:

- Sim, Tadeu, isto não desconheço; entretanto, estimaria saber como se sentiria você realmente feliz.

O discípulo, com algum acanhamento, enunciou:

- Mestre, suponho que atingiria a suprema tranqüilidade se pudesse alcançar a compreensão dos outros. Desejo, para esse fim, que o próximo me não despreze as intenções nobres e puras. Sei que erro, muitas vezes, porque sou humano; entretanto, ficaria contente se aqueles que convivem comigo me reconhecessem o sincero propósito de acertar. Respiraria abençoado júbilo se pudesse confiar em meus semelhantes, deles recebendo a justa consideração de que me sinta credor, em face da elevação de meu ideal. Suspiro pelo respeito de todos, para que eu possa trabalhar sem impedimentos. Regozijar-me-ia se a maledicência me esquecesse. Vivo na expectativa da cordialidade alheia e julgo que o mundo seria um paraíso se as pessoas da estrada comum se tratassem de acordo com o meu anseio honesto de ser acatado pelos demais. A indiferença e a calúnia doem-me no coração. Creio que o sarcasmo e a suspeita foram organizados pelos Espíritos das trevas, para tormento das criaturas. A impiedade é um fel quando dirigida contra mim, a maldade é um fantasma de dor quando se põe ao meu encontro. Em razão de tudo isso, sentir-me-ia venturoso se os meus parentes, afeiçoados e conterrâneos me buscassem, não pelo que aparento ser nas imperfeições do corpo, mas pelo conteúdo de boa-vontade que presumo conservar em minh’alma. Acima de tudo, Senhor, estaria sumamente satisfeito se quantos peregrinam comigo me concedessem direito de experimentar livremente o meu gênero de felicidade pessoal, desde que me sinta aprovado pelo código do bem, no campo de minha consciência, sem ironias e críticas descabidas. Resumindo, Mestre, eu queria ser compreendido, respeitado e estimado por todos, embora não seja, ainda, o modelo de perfeição que o Céu espera de mim, com o abençoado concurso da dor e do tempo.

Calou-se o apóstolo e esboçou-se, na sala singela, incontido movimento de curiosidade ante a opinião que o Cristo adotaria.

Alguns dos companheiros esperavam que o Amigo Celeste usasse o verbo em comprida dissertação, mas o Mestre fixou os olhos muito límpidos no discípulo e falou com franqueza e doçura:

- Tadeu, se você procura, então, a alegria e a felicidade do mundo inteiro, proceda para com os outros, como deseja que os outros procedam para com você.

E caminhando cada homem nessa mesma norma, muito breve estenderemos na Terra as glórias do Paraíso.

Pelo Espírito Neio Lúcio
Do livro: Jesus no Lar
Médium: Francisco Cândido Xavier

20 abril 2010

Renovação - Emmanuel

RENOVAÇÃO

As revelações dos Espíritos convidam naturalmente a ideais mais elevados, a propósitos mais edificantes.

Para as inteligências realmente dispostas à renunciação da animalidade, são elas sublime incentivo à renovação interior, modificando a estrutura fluídica do ambiente mental que lhes é próprio.

Se a civilização exige o desbravamento da mata virgem, para que cidades educadas surjam sobre o solo e para que estradas se rasguem soberanas, é indispensável a eliminação de todos os obstáculos, à custa do sacrifício daqueles que devotam ao apostolado do progresso.

A Humanidade atual, em seu aspecto coletivo, considerada mentalmente, ainda é a floresta escura, povoada de monstruosidades.

Se nos fundamentos evolutivos da organização planetária encontramos os animais pré-históricos, oferecendo a predominância do peso e da ferocidade sobre quaisquer outros característicos, nos alicerces da civilização do espírito ainda perseveram os grandes monstros do pensamento, constituídos por energias fluídicas, emanadas dos centros de inteligência que lhes oferecem origem.

Temos, assim, dominando ainda a formação sentimental do mundo, os mamutes da ignorância, os megatérios da usura, os iguanodontes da vaidade ou os dinossauros da vingança, da barbárie, da inveja ou da ira.

As energias mentais do habitantes da Terra tecem o envoltório que os retém à superfície do Globo. Raros são aqueles cuja mente vara o teto sombrio com os raios de luz dos sentimentos sublimados que lhes fulguram no templo íntimo.

O pensamento é o gerador dos infracorpúsculos ou das linhas de força do mundo subatômico, criador de correntes de bem ou de mal, grandeza ou decadência, vida ou morte, segundo a vontade que o exterioriza e dirige. E a moradia dos homens ainda está mergulhada em fluidos ou em pensamentos vivos e semicondensados de estreiteza espiritual, brutalidade, angústia, incompreensão, rudeza, preguiça, má-vontade, egoísmo, injustiça, crueldade, separação, discórdia, indiferença, ódio, sombra e miséria...

Com a demonstração da sobrevivência da alma, porém, a consciência humana adquire domínio sobre as trevas do instinto, controlando a corrente dos desejos e dos impulsos, soerguendo as aspirações da criatura para níveis mais altos.

Os corações despertados para a verdade começam a entender as linhas eternas da justiça e do bem. A voz do Cristo é ouvida sob nova expressão na mais profunda acústica da alma.

Quem acorda converte-se num ponto de luz no serro denso da Humanidade, passando a produzir fluidos ou forças de regeneração e redenção, iluminando o plano mental da Terra para a conquista da vida cósmica no grande futuro.

Em verdade, pois, nobre é a missão do Espiritismo, descortinando a grandeza da universalidade divina à acanhada visão terrestre; no entanto, muito maior é muito mais sublime é a missão do nosso ideal santificante com Jesus para o engrandecimento da própria Terra, a fim de que o Planeta se divinize para o Reino do Amor Universal.
Pelo Espírito Emmanuel
Do livro: Roteiro
Médium: Francisco Cândido Xavier

19 abril 2010

Páginas de Saudade e Ternura - Noêmia

Páginas de Saudade e Ternura

Minha querida filha:

Deus abençoe a vocês todos, concedendo-lhes muita saúde, alegria e paz.

Suas preces e pensamentos me buscam, na vida espiritual, como vivos apelos do coração.

Nossas lágrimas de saudade se confundem.

Morrer, minha filha, não é descansar, porque o amor, principalmente das mães, é sempre uma aflição permanente do espírito.

Ainda não pude habituar-me à ideia de que nos separamos, no mundo, apesar de sentir-me amparada, incessantemente, por minha mãe e pelo carinho de seu pai.

Quando você se encontra a sós, pensando... pensando... muitas vezes, sou atraída por suas meditações, e, em sua companhia, revejo nossos dias escuros e difíceis em minha viuvez iniciante. Uma ansiedade dolorosa me constrange o coração, nesses encontros...

É que desejava fazer-me visível aos seus olhos e acariciar seus cabelos, como em outro tempo. Em vão, procuro dizer a você, que estou viva, que a morte é ilusão. Inutilmente busco um meio de arrancá-la das reflexões tristes, arrebatando-a das sombras íntimas, para restituir seu espírito à alegria; mas sou forçada a receber suas perguntas doloridas e esperar...

Filha do meu coração, rogo-lhe se reanime.

Não estamos separadas para sempre.

O túmulo é apenas uma porta que se abre no caminho da vida, da vida que continua sempre vitoriosa.

Quando você puder, interesse-se pelos estudos da alma eterna.

Guarda a sua fé em Deus, como lâmpada acesa para todos os caminhos do mundo.

Tudo na Terra é passageiro.

Ainda ontem estávamos juntas, conversando, unidas, quanto aos nossos problemas; e, hoje, tão perto pelo coração, mas tão longe pelos olhos da carne, uma da outra, somos obrigadas a colocar a saudade e a recordação no lugar da presença e da comunhão mais íntima, em nossa alma.

Tenha paciência, minha filha, e nunca perca a serenidade.

Estarei com você, em todos os seus passos.

Abraçada às suas orações e às lembranças carinhosas, que me fortalecem para a jornada nova, e rogando a você muita tranquilidade e confiança em Deus, sou a mamãe muito amiga, que vive constantemente com você pelo coração,

Noêmia
De "Relicário de Luz"
de Francisco Cândido Xavier - Autores diversos

18 abril 2010

Viver é Amar - Joanna de Ângelis

Viver é Amar

Caminhas, na Terra, experimentando carência afetiva e aflição, que acreditas não ter como superar.

Sorris, e tens a impressão de que é um esgar que te sulca a face.

Anelas por afetos e constatas que a ninguém inspiras amor, atormentando- te, não poucas vezes, e resvalando na melancolia injustificável.

Planejas a felicidade e lutas por consegui-la, todavia, descobre-te a sós, carpindo rude angústia interior.

Gostarias de um lar em festa, abençoado por filhos ditosos e um amor dedicado que te coroassem a existência com os louros da felicidade.

Sofres e consideras-te desditoso.

Ignoras, no entanto, o que se passa com os outros, aqueles que se te apresentam felizes, que desfilam nos carros do aparente triunfo, sorridentes e engalanados.

Também eles experimentam necessidades urgentes, em outras áreas, não menos afligentes que as tuas.

Se os pudesses auscultar, perceberias como te invejam alguns daqueles cuja felicidade cobiças...

A vida, na Terra, é feita de muitos paradoxos. E isto se dá em razão de ser um planeta de provações, de experiências reeducativas, de expiações redentoras.

Assim, não desfaleças, porquanto este é o teu carma de solidão..

Faze, desse modo, uma pausa, nas tuas considerações pessimistas e muda de atitude mental, reintegrando-te na ação do bem.

O que ora te falta, malbarataste.

Perdeste, porque descuraste enquanto possuías, o de que agora tens necessidade.

A invigilância levou-te ao abuso, e delinqüiste contra o amor.

A tua consciência espiritual sabe que necessitas de expungir e de reparar, o que te leva, nas vezes em que o júbilo te visita, a retornar à tristeza, rememorar sofrimentos, fugindo para a tua solidão...

Além disso, é muito provável que, aqueles a quem magoaste, não se havendo recuperado, busquem-te, psiquicamente, assim te afligindo.

Reage com otimismo à situação e enriquece-te de propósitos superiores, que deves pôr em execução.

Ama, sem aguardar resposta..

Serve, sem pensar em recompensa.

O que ora faças no Bem, atenuará, liberará o que realizaste equivocadamente e, assim, reencontrar- te-as com o amor, em nome dAquele que permanece até agora entre nós como sendo o Amor não amado, porém, amoroso de sempre.

Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Do livro: Viver é Amar
Médium: Divaldo Franco - Editora LEAL

17 abril 2010

Beneficência Esquecida - Emmanuel

Beneficência Esquecida

Reunião pública de 19-1-59 - Questão Nº 920 de "O Livro dos Espíritos"

Na solução aos problemas da caridade, não olvides a beneficência do campo mais íntimo, que tanta vez relegamos à indiferença.

Prega a fraternidade, aproveitando a tribuna que te componha os gestos e discipline a voz; no entanto, recebe na propriedade ou no lar, por verdadeiros irmãos, os companheiros de luta, assalariados a teu serviço.

Esclarece os Espíritos conturbados e sofredores nos círculos consagrados ao socorro daqueles que caíram em desajuste mental; contudo, acolhe com redobrado carinho os parentes desorientados que a provação desequilibra ou ensandece.

Auxilia a erguer abrigos de ternura para as crianças abandonadas; todavia, abraça em casa os filhinhos que Deus te deu, conduzindo-lhes a mente infantil, através do próprio exemplo, ao santuário do dever e do trabalho, do amor e da educação.

Espalha a doutrina de paz que te abençoa a senda, divulgando-a, por intermédio do conceito brilhante que te reponta da pena, mas não olvides exercê-la em ti próprio, ainda mesmo à custa de aflição e de sacrifício, para que o teu passo, entre as quatro paredes do instituto doméstico, seja um marco de luz para os que te acompanham.

Cede aos necessitados daquilo que reténs no curso das horas...

Dá, porém, de ti mesmo aos semelhantes, em bondade e serviço, reconforto e perdão, cada vez que alguém se revele faminto de proteção e desculpa, entendimento e carinho.

Beneficência! Beneficência!

Não lhe manches a taça com o veneno da exibição, nem lhe tisnes a fonte com o lodo da vaidade!

Recebe-lhe as sugestões de amor no imo do coração e, buscando-a primeiramente nos escaninhos da própria alma, sentiremos nós todos a intraduzível felicidade que se derrama da felicidade que venhamos a propiciar aos outros, conquistando, por fim, a alegria sublime que foge ao alarde dos homens para dilatar-se no silêncio de Deus.

De "Religião dos Espíritos",
de Francisco Cândido Xavier,
pelo Espírito Emmanuel