RECEITA PARA UM ANO NOVO, UM MUNDO NOVO, UM HOMEM NOVO
Passagem de ano é temporada de oráculos, amuletos e rituais. Para alguns, é obrigatório o uso de roupas da cor que, acreditam, trará paz, sorte, amor, saúde, fazendo questão de pular ondas, consultar horóscopos, videntes, saberem como será o futuro. Há também os céticos, seres que se vangloriam de em nada acreditar. Num quadro extremado, podem os desavisados crerem só termos como alternativas viver com a razão embotada ou com o sentimento atrofiado. Mas a verdade é que trazemos ambas as tendências dentro de nós.
É como se vivêssemos diante de um
personagem de filme de terror com uma serra elétrica que nos pergunta
qual dos membros preferimos amputar. O verdadeiro horror não seria sua
feia figura, a dor que oferece, mas sua tentativa de nos inocular uma
loucura que nos faria participar da própria tortura. É urgente que nos
imunizemos contra a insanidade coletiva, nos rebelemos contra o senso
comum e pesquisemos alternativas lastreadas no bom senso. Mas será
possível alimentar esperanças com base racional?
Pedimos todos um ano sem desemprego,
separações, doenças, mas, todos os dias, deparamo-nos com a cegueira de
nossas expectativas. Empregos melhores, retomada de sonhos e talentos
abandonados, empresas lucrativas surgem com o desemprego; novos relacionamentos e pensamentos brotam após separações;
reavaliações preciosas são realizadas sob uma cama de hospital. É claro
que, imediatamente, não percebemos esses ganhos, mas, depois de pouco
tempo, quase todos compreendemos que, por trás de aparentes
infelicidades, pessoas com mínima boa vontade despertam para mudanças e
aprendizados fundamentais.
Ninguém nos impede de continuarmos a
pedir, infantilmente, que nada nos desagrade, mas temos que admitir que
adultos agindo como crianças são patéticos. Inclusive porque, ano após
ano, descobre-se que, muito pior que os problemas em si, é nossa
insistência em só ver adversidades onde há oportunidades. Propõe-se o
desiludido amoroso a nunca mais se envolver com ninguém, ou a
condicionar sua felicidade ao retorno da antiga relação. Em todos os
aspectos da vida, será igualmente doentio viver como se alguma coisa,
situação ou pessoa nos fosse trazer felicidade, esteja ela no passado,
uma representação mental que não volta mais, ou no futuro, uma
representação mental que tem exíguas chances de se realizar.
A felicidade só pode mesmo estar no
interior, e no presente. É fundamental, em primeiro lugar, não mais
querer planejar o implanejável, não colocar a felicidade em quimeras,
jamais voltar a esmagar possibilidades com expectativas. Em segundo
lugar, concentrar-se no único território que só depende de nós, mudarmos
agora nossa visão de mundo, nossa atitude perante os problemas, nossas
expectativas, nossas mágoas e culpas.
Preciosa a receita de Santo Agostinho
na questão 919-a de O Livro dos Espíritos. Fantástica porque é assim que
a Pedagogia Divina age: estimula, tanto ao encarnar quanto ao
desencarnar, uma revisão, uma recapitulação de tudo o que passamos, como
atestam tanto os relatos das Experiências de Quase Morte, quanto a
passagem, na barriga da mãe, pelas diversas formas que a vida assumiu na
Terra.
Porque a verdade é que, tanto nesse ano
quanto na Nova Era, por trás de situações aparentemente novas, vão se
repetir traições, doenças, decepções, corrupções, crimes e tragédias,
não é preciso consultar um oráculo para saber. A diferença, a novidade
em nossas vidas, estará em revermos nossas posturas, em conseguirmos
enxergar nas experiências as oportunidades que tanto temos relutado em
aproveitar.
Feliz ano novo! Feliz Homem Novo! Feliz Mundo Novo para todos!
E-mail: mauzomi@ig.com.br
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