SABER AMAR
Às vésperas do Natal, a poetisa Maria
Dolores nos lembra o mandamento do amor. Se o houvéssemos obedecido, a
Terra seria hoje um mundo tranquilo e feliz. Como não fomos capazes de
segui-lo, vemo-nos envolvidos em lutas inglórias e submetidos a
terríveis ameaças. Quando Jesus advertiu os discípulos contra o fermento
dos fariseus, eles entenderam que o Mestre lhes falava de pão. Dois
milênios depois fazemos o mesmo. O fermento do orgulho e da vaidade nos
leva a desfigurar os seus ensinos e rejeitar as suas palavras. Somos
alunos repetentes de muitos séculos!
O item 5 do capítulo VI de O evangelho segundo o espiritismo,
citado por Chico Xavier, constitui-se de uma mensagem do Espírito da
Verdade, que há mais de um século repetiu-nos, como porta-voz de Cristo,
o seu ensino esquecido: “Espíritas, amai-vos, eis o primeiro
ensinamento; instrui-vos, eis o segundo”. A mensagem é dirigida aos
espíritas, na era da razão, porque eles devem estar em condições de
compreendê-la.
Não basta amar, é preciso saber amar.
Jesus não nos trouxe apenas o amor, mas também a verdade. Ensinou-nos a
raciocinar, a buscar o sentido da vida, a não nos perdermos de novo nas
trevas da vaidade farisaica. Por isso o Espírito da Verdade acentua:
"Instrui-vos".
O espiritismo é a Renascença cristã,
segundo a bela definição de Emmanuel. Inicia na Terra uma fase nova da
Ilustração, de Iluminismo, desalojando a nossa mente do fanatismo
sectário. No Renascimento tivemos a iluminação das ciências. No
espiritismo temos a iluminação da verdade, sob as luzes conjugadas da
ciência, da filosofia e da religião.
Não temos o direito de nos perdermos de
novo em jogos de palavras, como fizeram os sofistas gregos, os rabinos
judeus, os clérigos medievais. Não temos o direito de corrigir os textos
de Jesus e Kardec segundo a medida estreita de nossa miopia mental.
Precisamos instruir-nos, arejar-nos, libertar-nos dos preconceitos para
não confundirmos o fermento do passado com o pão de cada dia que o
padeiro nos entrega.
A prece de Maria Dolores é um convite de
Natal à compreensão profunda das lições do Mestre, à rejeição “das
bagatelas entre as quais nos perdemos”, como crianças que brincam com os
seixos da praia sem compreender a extensão e a profundidade do mar.
Abençoada lição que nos dá a grande
poetisa do além: deixemos de lado os bilros das palavras e cuidemos do
sentido real dos ensinos de Jesus, pondo-nos em prática na realidade da
vida. Neste Natal, o Mestre nos olha compassivo, perguntando a si mesmo
até quando continuaremos apegados à ilusão dos sofismas, tentando
corrigir os seus ensinos.
Irmão Saulo*
*Pseudônimo de J.Herculano Pires
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