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13 janeiro 2016

Tolerância - Giselle F. Machado


TOLERÂNCIA


Escrevo este texto para que ecoe em meu próprio universo interior.

Tenho me surpreendido executando ações que já critiquei ferozmente em indivíduos ligados a grupos que defendem idéias diferentes daquelas nas quais acredito. A minha História como espírita é longa. Já sofri discriminação, censura e preconceito. Em todas as oportunidades senti asco em relação à atitude e compaixão em relação ao ofensor. Procurei entender que a ignorância leva a essas manifestações e sempre acreditei que a educação sanaria esse mal e difundiria a democracia do livre pensamento.

Os espíritas têm em comum o firme e obstinado propósito de evolução e por isso tendem a estudar bastante e acumular conhecimentos técnicos e filosóficos.

Tenho notado que, algumas vezes, durante esse processo de crescimento intelectual, ocorre a construção de um sistema de pensamento inflexível que pretendendo ser acertado, torna-se cruelmente intolerante. Defendemos tanto o aperfeiçoamento através do estudo dedicado que aqueles que não são capazes ou não querem seguir nosso modus vivendi passam a ser considerados como ignorantes, despreparados ou limitados.

Na realidade, o exercício do amor prescinde de preparo intelectual. Nós somos ainda incapazes desse exercício de forma natural e por isso necessitamos de argumentos e justificativas para nos mobilizarmos neste sentido.

Mesmo em relação às inúmeras religiões espiritualistas reencarnacionistas, os espíritas se colocam em um nível muito pouco modesto.

O método científico e normatizador de Allan Kardec nos deixa seguros e confiantes para uma certa e plena libertação espiritual futura. Seu exemplo foi exuberante em dedicação e estudo. Foi exuberante, também, em respeito e tolerância às religiões dominantes na época em que viveu como Hippolyte Léon Denizard Rivail.

Os Espíritas não devem ser proselitistas, como nos orientou o Codificador.

Por que?

Por que a iluminação espiritual não é propriedade de nenhuma organização religiosa e a Verdade não pertence a nenhum grupo ou ser Humano. Ou seja, não existe necessidade de estarmos ligados a qualquer estrutura religiosa para que tenhamos sucesso no caminhar rumo aos planos celestiais da existência.

Se cremos que todos podemos chegar a Deus através das inúmeras Igrejas voltadas para o bem, ou mesmo independente delas, devemos ser tolerantes, respeitosos e admiradores de todos os que professem o amor como meio de vida.

A intolerância religiosa não pode ser encontrada em um ambiente como o nosso, que pretende ser mais avançado e democrático. Devemos respeitar e louvar a liberdade de exercício da fé de todo e qualquer grupo religioso voltado para o bem.

Sendo assim, não devemos formar guerrilhas da fé, pois estas não só se defendem mas ... atacam, e de forma sorrateira. Devemos sim, defender a Doutrina Espírita, de forma equilibrada, moderada, doce e caridosa.

Existem pessoas que precisam da forma e do ritual.

Outros precisam do rigor de leis severas para não caírem novamente no erro. A liberdade que temos em exercer nosso livre-arbítrio gera consequências e responsabilidades que nem todos os seres querem ou são capazes de suportar.

Como cada um deve fazer o que pode de melhor, nós devemos respeitar os limites de entendimento e as necessidades de nossos semelhantes, já que certamente estivemos em situação igualou pior em passado recente.

Assim, creio eu que devemos nos policiar e seguir os passos do Mestre Jesus, ele nos revelou há mais de 2.000 anos apenas o que éramos capazes de suportar naquela época. Deixou para nos enviar o Consolador mais de 1.500 anos depois. Foi paciente com nossa incapacidade. Sejamos, portanto, pacientes com a diversidade.

Defender a Doutrina Espírita é lícito em caso de ataque. Nesta situação devemos responder com respeito, tolerância, clareza didática e argumentos fortes.

O ataque não nos é lícito. Não devemos invadir o ambiente de outros grupos e criticá-los. Não devemos nos sentir pessoalmente ofendidos quando taxados de hereges ou de predicados ainda piores.

Devemos estudar, sim, e também devemos preparar-nos para responder às críticas mais frequentes. Diante de críticas inéditas devemos rebatê-las após um estudo sereno e quando isto for útil para uma divulgação salutar da Doutrina Espírita.

Em algumas oportunidades seremos mais sábios e prudentes se reconhecermos as falhas apontadas por nossos opositores. A análise rigorosa, profunda e honesta do nosso ponto fraco será construtiva e como não somos perfeitos, certamente temos muitos progressos a realizar.

Assim, devemos deixar a arrogância de lado e humildemente abraçarmos nossos irmãos de caminhada.

O exemplo de tolerância deve partir de nós. Quando combatemos nossos oponentes sem respeito, de forma jocosa, irônica ou depreciativa, estamos trabalhando contra a Doutrina Espírita e nos associando, por sintonia, às entidades que militam nas trevas.

Essas brechas não devem ser abertas. Devemos sintonizar apenas com a Luz Cristã. Exercer diuturnamente o "Orai e Vigiai".

Nossos inimigos não são os adeptos de outras religiões, mas sim nossas próprias fraquezas, especialmente a vaidade e o orgulho que são poderosos, dissimulados e destrutivos.

Esses defeitos só podem ser vencidos com o amor e a caridade. No caso, a caridade da tolerância se dirige aos nossos opositores. E esperemos que os ofendidos por nós nos dirijam a caridade da compaixão.


Giselle F. Machado
Jornal O Semeador - Julho/09

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