A VINGANÇA
Considerações iniciais sobre a vingança
Em mais uma de suas esclarecedoras lições, trazidas ao nosso
conhecimento a través da psicografia de Divaldo Pereira Franco, a
benfeitora Joanna de Angelis nos instrui sobre a ação maléfica da
vingança sobre nosso vaso físico, com repercussão no espírito imortal
que somos.
Começa dizendo que quando algo perturbador acontece, gerando
sofrimento ao indivíduo, a sua imaturidade psicológica se sente
ameaçada, por algo muito forte, que mesmo raciocinando
conscientemente, não consegue se desvincular das manifestações
desconhecidas que traz, armazenadas em seu inconsciente, a lhe exigir
reparação, desforra, e até mesmo a aniquilação do seu opositor.
Inicia-se então neste instante, uma acirrada disputa entre o seu lado
racional, procurando resistir a esse tipo de atitude, por identificar essa
falha do caráter, e o seu lado irracional, revestido de toda sua
bagagem sombria de manifestações inesperadas, e inconseqüentes,
desconhecida da personalidade do indivíduo que lhe aflora, armando
verdadeiras ciladas, atirando o ser nos despenhadeiros da vingança de
conseqüências funestas.
Esses impulsos doentios, emergem de áreas desconhecidas do ego, que
não conseguem identificação com o Ser espiritual e induze-o, a um
trabalho de desenvolvimento perseverante da odiosidade, instaurandolhe
no imo, a revolta e o desconforto ante o opositor que se lhe
apresenta como um perigo constante para sua segurança, merecendo
por isso ser destruído.
O fenômeno ocorre, tanto individualmente com as pessoas como com as
Nações, dando nesse caso ensejo ao desencadeamento das guerras
nefastas e hediondas, que prejudicam gerações deixando seqüelas
lastimáveis em suas vítimas.
No indivíduo, esse comportamento provoca o perverso mecanismo
conflitivo, que o leva ao desespero, e mesmo quando o outro já não
mais lhe representa perigo algum, mesmo depois de se render ou ser
aniquilado, os efeitos desastrosos da vingança não desaparecem
frustrando a quem aparentemente estaria vitorioso.
Ação danosa da vingança
Invariavelmente neurótico, o enfermo indivíduo que assim age, vitimado
quase sempre pela repressão sexual infantil ou, dominado pela sede do
poder e da ambição, vive a competir com os demais, os quais passa a
invejar por se encontrarem em melhores situações psicológicas que a
dele, podendo em certos casos até aceitá-los enquanto os manipulam,
tirando dessa forma proveito da situação, até que se ergam, quando
então mostram suas garras nas lutas com os recursos da tirania e da
insensatez. A vingança é transtorno neurótico soez, que liberta do
inconsciente as forças desordenadas que jazem aí adormecidas,
irrompendo com ferocidade e ligeireza sob o estímulo do aniquilamento
do inimigo.
Curioso é notar, que o inimigo não é aquele que se torna combatido,
mas o inconsciente transfere dos refolhos d’alma a inferioridade do seu
Ser, que é inimigo do progresso, do bem, da ordem, para atirar
noutrem, em fenômeno de projeção e que guarda internamente,
detestando-o.
Ao armar-se de calúnia e de outros mecanismos de perseguição,
contra aquele a quem odeia, está realizando uma luta
inconsciente contra si mesmo, pois que está apenas projetando o
lado escuro e sombrio da sua personalidade que se lhe mantém preso à
ignorância.
Fixa-se no adversário com implacável disposição de conseguir a sua
extinção, do que para ele dependerá sua liberdade a partir desse
momento em diante. Assim transtornado aplica-se com empenho em
emitir ondas deletérias contra o outro, estabelecendo uma comunicação
psíquica, se encontra receptividade em quem lhe padece a perseguição,
que termina por minar as forças daquele que considera seu opositor.
Além da inferioridade moral que tipifica o vingador, o seu primarismo
emocional elabora razões ponderadas que são arquitetadas pala mente
em desalinho, para justificar o prosseguimento da façanha, nascidas no
inconsciente pessoal profundo, que remanescem de outras existências
no Eu profundo do Ser, quando se desarmonizou com o opositor que ora
enfrenta e desafia para o duelo covarde.
Em outras oportunidades, em que sua inferioridade se projeta, e não se
sente devidamente capaz de competir contra valores significativos que
não possui, cultiva internamente a antipatia que se avoluma a cada dia,
transformando-se em fúria incontrolável que somente se aplaca quando
está lutando contra aquele que o atormenta mesmo que este não saiba,
que nada tenha contra ele, pois que até ignora a situação infeliz de seu
oculto adversário.
Se por acaso, tiver a oportunidade de se harmonizar com o inimigo, não
o perdoa interiormente, embora, seja na verdade, o maior merecedor de
perdão ruminando o que considera sua derrota, até encontrar novos
argumentos para dar prosseguimento à sanha doentia de vingança,
impelido pela sua libido atormentada.
Aqueles que se apóiam em mecanismos vingativos sempre foram
vitimas de repressão infantil e juvenil, sentiram-se desprezados pelo
grupo social e transferem agora suas frustrações para quaisquer outros,
desde que isto lhes transformem em pessoas portadoras de poder e
ambiciosos dirigentes de qualquer coisa, em que a personalidade
doentia passa a ser homenageada, fruindo de destaque, embora a
conduta esquizóide, maneirosa, falsamente humilde, ou
pretenciosamente dominadora.
Conseqüências prejudiciais da vingança
Os indivíduos que assim procedem, levados pelo sentimento
desequilibrado e doentio da vingança, estarão sempre sujeitos a esgares
ou convulsões epilépticas, ou mesmo a simples ausências, tornando-se
personalidades psicopatas perigosos, traiçoeiras, que sabem simular
muito bem os sentimentos íntimos e urdem planos macabros sob o
açodar da psique ambivalente, doentia, e com predomínio da faceta
mórbida.
Ação salutar de combate
Todo um trabalho psicoterapêutico, deve ser utilizado como proposta de
recuperação para pacientes dessa natureza, remontando a uma
psicanálise que lhe chegue à infância, de forma a erradicar pela catarse
os traumas e conflitos arraigados, procurando assim alterar-lhe a
conduta pessoal com base em novos valores que lhes serão
apresentados de maneira afável e duradoura, não raro com a ajuda
também de terapia psiquiátrica para a remoção de possíveis extratos
epilépticos ou esquizofrênicos, que se fazem necessitados de fármacos e
barbitúricos específicos.
Ação eficaz do Amor
O amor, que tudo fazem para não desenvolver, é-lhes de grande valia,
embora reajam inicialmente com desconfiança, e ambivalência de
conduta, gera no enfermo um clima de simpatia e amizade,
normalmente difícil de ser estruturada, em razão dos muitos tormentos
que o avassalam. Pois todos sabemos que só amor cobre a multidão de
pecados.
No Capítulo XII do Evangelho Segundo o Espiritismo, Instruções dos
Espíritos, item 9 A Vingança, o Espírito Júlio Olivier, nos esclarece: “Ah!
o covarde que se vinga, é assim cem vezes mais culpado do que o que
enfrenta seu inimigo o insulta em plena face”.
E continua; “Fora, pois com esses costumes selvagens! Fora com esses
processos de outros tempos! Todo espírita que ainda hoje
pretendesse ter o direito de vingar-se seria indigno de figurar
por mais tempo na falange que tem como divisa: Sem caridade
não há salvação! Mas, não, não posso deter-me a pensar que um
membro da grande família espírita ouse jamais, de futuro, ceder ao
impulso da vingança, senão para perdoar”.
Fim.
José Francisco Costa Rebouças
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