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23 fevereiro 2017

A Virtude - Quintin López Gómez



A VIRTUDE


Etimologicamente, virtude provém do termo latino virtus, originário, por sua vez, de vir, qualidade distintiva de viril ou masculino.

Para Cícero, virtude é a força viril ou valor moral que se sobrepõe ao sofrimento e à morte.

De forma ordinária ou vulgar, a virtude pode ser considerada como a força física ou moral que produz qualquer coisa.

Desde o ponto de vista físico, a caracterizamos ao dizer: “A aviação tem a virtude de transportar com rapidez...” Além disso, se afirma: “Em virtude da posição de que desfruta o Governador...”

Com referência à virtude moral, esta é uma disposição habitual para fazer o bem. Conclui-se, por isso, que é um estado constante e não esporádico.

E afirmava Aristóteles que “o homem virtuoso é aquele que encontra prazer em realizar atos de virtude”.

Com isso, a virtude se transforma no hábito do bem, pois se incorpora ao modus operandi do indivíduo, tornando-se parte integrante de sua natureza.

A virtude sempre trabalha fiel às manifestações psicológicas e diante das leis, criando necessidade de atuar e produzindo prazer ao realizá-lo.

O homem a adquire com o esforço dirigido ao bem que o inspira e, insistindo em praticá-la, conforma sua vida e seus ditames.

Para conseguir essa disposição é imprescindível adquirir o conhecimento do bem: quer dizer que o homem saiba o valor moral de seus atos, de acordo com as leis morais.

Assim, a tendência ao bem é o primeiro passo para a virtude; sua realização se transforma em experiência estimuladora; porém, só é virtude quando se constituti em um hábito natural, consciente e prazeiroso.

O motivador da virtude e seu alimento é o amor ao bem, como afirmava Aristóteles, que o “Homem virtuoso é aquele que faz do bem uma necessidade imprescindível, que põe sua felicidade no bem”.

Somente os homens livres interiormente possuem a virtude, porque seus atos são resultado de sua livre determinação, por ordem íntima de sua vontade pessoal.

Santo Agostinho, que a adquiriu com grande esforço e perseverança, repassando, mentalmente, antes de dormir, todos os seus atos para verificar nos quais não fora correto e poder corrigi-los no dia seguinte, ensinava: “Virtude é a boa qualidade do ânimo, pelo qual se vive bem e a qual ninguém usa mal”, de acordo com sua argumentação moral.

Assim, o homem se inclina, moralmente, a uma constante ação do bem, que lhe faz bem através das boas ações.

A virtude é o resultado da ação consciente, iluminada pela inteligência e resultante de uma vontade determinada a fazer sempre o bem e amparada pelo sentimento que lhe propicia cooperação para seu cumprimento.

Sócrates, em sua ética, utilizando-se da teoria intelectualista, afirmava que a virtude “é a ciência do bem”, considerando que ninguém é conscientemente mau.

O homem, quando apresenta más ações, certamente está enfermo, fora de sua razão. Há, em todos os seres pensantes, uma tendência inata para o bem, porque todos possuem, em seu íntimo, a presença do psiquismo divino.

Herdeiro de Deus, o homem é deus em sua essência primeira a evoluir constantemente, rumo à perfeição.

Os epicuristas, apoiados em seu hedonismo, consideravam a virtude como a arte ou técnica para um gozo físico ou emocional, que resultasse na moral de seu próprio interesse.

Há, com efeito, virtudes intelectuais e morais.

As primeiras, atuam para o aperfeiçoamento da inteligência e as segundas, para trabalhar em favor da vontade, do sentimento e demais tendências.

A virtude intelectual busca a verdade, mediante o estudo, a reflexão, a atenção, que fortalecem a mente, desenvolvem a inteligência, na direção do objetivo que persegue: a posse da verdade, o conhecimento da ciência, a aquisição da sabedoria...

A virtude moral se desdobra em quatro classes de virtudes essenciais ou básicas, conhecidas desde a antiguidade: prudência, moderação, justiça e fortaleza, conforme as enumerava Aristóteles, fundamentais à sã conduta do homem.

Tradicionalmente, pode-se, ainda, classificar as virtudes como pessoais – para o aperfeiçoamento do indivíduo; sociais – que o preparam para fazer sempre o bem ao próximo; e religiosas – que facultam e dão sentido aos deveres em relação a Deus. É possível acrescentar às virtudes o bom conselho ou arte de bem aconselhar, o reto juízo ou o sentido comum que dá a capacidade para avaliar ou julgar os acontecimentos em seu valor real e às pessoas em sua própria realidade e outras expressões virtuosas...

O maior inimigo da virtude é o vício ou disposição para fazer o mal; este resulta dos apetites inferiores da personalidade com seus consequentes danos morais.

O vício é herança do primitivismo que ainda perdura na natureza humana, cuja vontade moral, débil, se submete a seus impulsos em prejuízo da razão. A virtude é a conquista mais desafiante para o homem, que deve se empenhar em conseguí-la. Ela propicia à vida nobreza e dignidade, trocando as asperezas do processo evolutivo e facultanto alegrias ao superá-las. A arte, a ciência, a tecnologia, facilitam e embelezam, sem dúvida, a vida, porém, somente a aquisição da virtude moral proporciona ao homem equilíbrio, autocontrole, feliz intercâmbio com seus semelhantes e com tudo o que o rodeia, transformando-se na mais alta realização pessoal.

Das virtudes cardinais bem vividas, nascem a fé, a esperança e a caridade, sem as quais o indivíduo não se encontra com seu próprio eu.

Dessas, surgem a humildade, o perdão, a paciência, a abnegação, a renúncia, a beneficência...

Diante de todas, para o perfeito êxito, impõe-se a humildade. Sem esta, as outras enfraquecem e perdem seu valor.

O orgulho, a vaidade, a presunção constituem vícios que impedem o desenvolvimento e a grandeza da virtude.

A ética espírita, examinando as virtudes cardinais ou essenciais para o homem, fiel ao pensamento cristão e paulino, estabelece que a caridade ou ação do bem por amor ao bem em favor de alguém, com conhecimento do bem, é, por excelência, a base mais importante para a consquista de outros relevantes valores morais.

Examinando a necessidade da virtude para o homem, ensina François-Nicolas-Madeleine (Espírito), em O Evangelho Segundo o Espiritismo [de Allan Kardec, capítulo XVII, ítem 8]: “A virtude, em seu mais alto grau, encerra o conjunto de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio e modesto, são as qualidades do homem virtuoso. 

Infelizmente, estas qualidades estão, muitas vezes, acompanhadas de pequenas enfermidades morais que lhes tiram o brilho e as atenuam. O que faz ostentação de sua virtude, não é virtuoso, posto que lhe falta a qualidade principal: a modéstia, e posto que tem o vício mais contrário: o orgulho”.


Quintin López Gómez
Livro: Rumo às Estrelas
Divaldo Pereira Franco, por Espíritos Diversos



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