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21 setembro 2017

O que está nos afastando de nossa humanidade? - Adriana Machado



O QUE ESTÁ NOS AFASTANDO DE NOSSA HUMANIDADE?


Não quero falar, neste artigo, da dor dos suicidas que, vendo-se sem forças, optam por um caminho tão drástico e sem retorno. Não quero falar da cegueira que os consome, a ponto de não enxergarem a sua importância no mundo, nem que seja no mundo de um outro alguém!

Eu quero conversar sobre a dificuldade de algumas pessoas para sentirem o que uma outra sentiria caso ela estivesse na mesma situação vivenciada; dela não tentar compreender os sentimentos e as emoções do outro, não procurando experimentar de forma objetiva e racional, mas, na pequenez de nossos sentimentos, o que aquele indivíduo poderia estar sentindo.

Infelizmente, seja pela crise financeira que o mundo está passando (e aqui no Brasil não é diferente), seja pela corrida exacerbada em que todos nós nos metemos (onde se exige que o Ter é mais importante que o Ser), o número de pessoas insatisfeitas, desesperadas e desesperançosas ao nosso redor somente aumenta. Tais sensações e sentimentos podem nos fazer acreditar que não somos capazes de superar as dificuldades, que não há mais caminhos a serem trilhados, que não temos mais outras escolhas a fazer...

Tal é essa a realidade que, em 2015, foi criada uma campanha de cunho nacional chamada “Setembro Amarelo”, para que a conscientização e prevenção ao suicídio tomassem força e chamassem a atenção de muitos para essa triste realidade. Desde que ela começou, cada um de nós pôde compreender um pouquinho mais sobre esse assunto pois, até pouco tempo atrás, falar sobre isso era um “tabu” e não falar sobre isso significava não sabermos identificar ou como ajudar a quem precisava.

Que a dor dos nossos irmãos tem um motivo, todos nós sabemos, mas o que faz aquele que não vive essa dor menosprezar a dor alheia? Como podemos olhar para um irmão em desespero e dizer que tudo o que ele sente é “frescura”, que o que lhe falta é “vergonha na cara”, que ele é um “covarde” por não enfrentar a vida ou que o que ele quer “é chamar a atenção”?

Nenhum filho de Deus quer morrer. Essa é a verdade! Todos temos um senso de preservação pautado nas leis perfeitas e imutáveis do Pai. Para infringirmos tais leis, a dor sentida ou a sua incompreensão em nosso ser precisa ser imensurável e para chegar a tal ponto, leva tempo! Só isso já seria bastante para compreendermos que toda ação junto a um possível suicida tem que ser preventiva.

Mas, como agir preventivamente junto a este irmão se estamos nos anestesiando diante da dor alheia? Se não queremos compreendê-lo ou, pior, o criticamos veementemente com escárnio ante a sua tentativa ou efetiva ação?

Infelizmente, nestes últimos tempos, tive conhecimento de algumas tentativas de suicídio na minha cidade. Surpresa, ouvi, não uma nem duas vezes, quando alguém tentava se suicidar (e por isso “atrapalhava” o movimento da ponte movimentada em que estava), que “ele deveria escolher melhor o horário de fazer isso porque estava atrapalhando a vida de todo mundo”. Em outra situação, ouvi também que “ele deveria se jogar logo e não ficar fazendo drama”. Oh, meu Deus! No que, realmente, essas pessoas estão baseando a sua vida? Onde está a sua humanidade quando escarneia diante da dor alheia? Os bombeiros levaram, em uma dessas tentativas, três horas para demover tal pessoa de cometer aquele ato fatal e algumas pessoas, que queriam passar pela tal ponte, diziam que eles estavam “gastando” tempo demais! Fico eu a pensar que, se fosse um filho ou um dos pais daquelas pessoas, se elas não desejariam a mesma dedicação e o mesmo tempo “gasto” para socorrerem alguém que lhes é caro!

Essa vida é passageira e tudo o que estamos conquistando, materialmente falando, é mais passageiro ainda. Precisamos estar atentos para não nos perdermos na busca desenfreada dos tesouros equivocados, porque acumular somente os tesouros mundanos não nos salvarão de nossa consciência culpada quando a vida nos mostrar que aqui pobres chegamos e pobres poderemos retornar.

Que estejamos atentos às nossas necessidades, mas jamais cegos às necessidades do nosso próximo, porque aí também está a essência da conquista de nossos verdadeiros tesouros.

Valorizemos aquilo que nos dá o direito de sermos chamados de seres humanos: nosso raciocínio aliado às nossas emoções e sentimentos. São eles que nos fazem empáticos à presença e necessidade do outro e que nos demonstram, através de nossas ações, o quanto já nos adiantamos em nossa jornada evolutiva.

Valorizemos a vida como um todo, para que não percamos a nossa tão preciosa humanidade.





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