SURPRESAS DA EXISTÊNCIA
Na cidade de Évora, em Portugal, os franciscanos do passado, desejando encontrar um método eficaz para fixar-se nos postulados da imortalidade da alma, construíram uma capela com ossos humanos, especialmente de pessoas que se encontravam sepultadas em volta das igrejas.
Com as alterações naturais do tempo, o recinto que era dedicado a orações, meditação e profundas reflexões, transformou-se em lugar de turismo.
À entrada encontra-se uma frase muito peculiar: Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos.
Surpreendentemente é uma grande verdade e deveríamos, com certa frequência, pensar na realidade que somos: espíritos imortais!
Observamos que a maioria das criaturas humanas, mesmo aquelas que se vinculam a doutrinas religiosas, vivem como se a sua fosse uma existência eterna, fadada ao prazer e às comodidades, como privilégios que merecem.
Para que sejam alcançadas essas metas frívolas dos gozos ligeiros, entregam-se, não poucas vezes, a comportamentos lamentáveis, distantes de todo e qualquer conceito ético-moral, de respeito a si mesmo, à sociedade, à vida.
Enriquecer, adquirir prestígio social e fama, aumentar o orgulho e a ostentação, zombar do bom senso e das condutas retas, parecem constituir objetivos que devem ser alcançados a qualquer custo.
Os desatinos morais e os crimes de toda ordem predominam em nossa cultura, aureolados como normais, tal o cinismo de quem os comete.
Olvidam-se que a morte espreita, e que, a cada momento, todos somos arrancados do mapa existencial, exatamente quando pensamos estar em máxima segurança.
A fatalidade dessas ocorrências nefastas tem afetado o Brasil, numa sucessão de lances dolorosos, nos quais mulheres e homens notáveis, que trabalham e zelam pelo bem, que confiam no destino histórico da nacionalidade, causando impactos terríveis e dores indefiníveis.
Estamos vivendo um desses momentos cruéis com a desencarnação por acidente aéreo do Exmo. Sr. Ministro do Supremo Tribunal Federal, Dr. Teori Zavascki, cuja existência fez-se caracterizar pela honradez e nobreza de caráter.
Essa tragédia dantesca dá-se num momento muito grave no país, quando S. Exa. deveria prosseguir na tarefa nobre a que se dedicava, trabalhando pela dignidade e justiça contra a corrupção de autoridades insensatas e de outros cidadãos criminosos que se locupletaram nos bens públicos e nos valores que poderiam solucionar os graves problemas do país…
Várias hipóteses têm sido levantadas para esclarecer o infausto acontecimento, no entanto, merece considerarmos que nada impede que se manifeste a Justiça Divina, alcançando-nos a todos, cujos ossos estão sendo esperados por aqueles que edificaram a capela portuguesa.
Divaldo Franco escreve quinta-feira, quinzenalmente.
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, em 26/01/2017
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