SOMOS DESCARTÁVEIS?
“Não ajuntem riquezas aqui na Terra, onde as traças e a ferrugem
destroem e onde os ladrões arrombam e roubam. Pelo contrário, ajuntem
riquezas no Céu, onde as traças e a ferrugem não podem destruí-las, e os
ladrões não podem arrombar e roubá-las. Pois onde estiverem as suas
riquezas, aí estará o coração de vocês”. (1)
O sinal mais característico da
imperfeição é o interesse pessoal, sendo notório de inferioridade o
apego às coisas materiais. (2)
Quando o nosso ego domina nossas ações
temos atitudes egoísticas de somente satisfazer nossos desejos e
vontades, sem medir as consequências por essa escolha.
Aprendemos que é necessário nos
desapegarmos, para tanto se faz necessário mantermos a nossa alma livre
das coisas exteriores, procurando nos libertar das paixões, do ódio e de
todos os impulsos que o geram.
Precisamos praticar a abnegação e o desprendimento de nós mesmos. Desapegar-nos da ideia, da imagem que os outros têm de nós.
A felicidade consiste em desapegar-nos
das situações e sentimentos que impedem que fechemos ciclos, com o
objetivo de iniciar etapas novas. É importante assegurar de que tenhamos
o cuidado de não ficarmos magoados e, principalmente, não deixarmos
mágoas nos outros.
Não significa que devemos amar menos ou
nos descuidarmos, ao contrário, enquanto o amor liberta e cuida, o apego
aprisiona e sufoca.
O verdadeiro amor é aquele que liberta, rompendo as algemas do egoísmo, do orgulho e do ressentimento.
A libertação pelo amor, como afirma o
Espírito Joanna de Ângelis, é o luminoso caminho para encontrarmos a
plenitude e praticarmos a caridade. As atitudes de caridade moral,
representadas pelo perdão, pelo sorriso generoso, pela doação de ternura
e pela renúncia aos embustes do nosso ego, são as expressões mais
elevadas da caridade. (3)
Numa hora como esta, em que vivemos com
tanta violência, desagregação e conflito, que o amor luarize a nossa
saudade! Que o amor pacifique a nossa ansiedade! Que o amor, à
semelhança de um punhal, penetre-nos a alma, rasgando-nos a treva
interior e deixando brilhar a luz da esperança, a fim de que a
felicidade seja como uma legítima fada, cantando um hino de paz dentro
de nossas vidas. (3)
No mundo informatizado em que vivemos,
na atualidade, estamos transferindo o desapego para pessoas. Vivemos um
modelo descartável de relacionamentos. Basta um clique e adicionamos
mais um amigo a uma lista cada vez mais interminável, lista essa que
alimenta um ego cada vez mais poderoso, sustentando curtidas e
visualizações.
E nesse mundo condicionado a cliques,
imagens, emoticons, somos cada vez mais visualizados e aplaudidos, desde
que digamos, postemos, fotografemos o nosso lado luz, tal quais as
luzes de um teatro que ao levantar as cortinas dá-se inicio ao show das
ilusões, do efêmero.
Não temos paciência para os
desagradáveis, para aqueles que questionam. Aproximamo-nos e tão
rapidamente nos afastamos, porque é o momento do desapego, do
descartável. A estes respondemos com um novo clique e com a agilidade de
dedos de um ilusionista e apagamos o enfadonho amigo.
“Pertencemos à geração do descartável, ‘desinventamos’ o duradouro”.
Resistência e boa qualidade tornaram-se palavras sem sentido, o máximo que admitimos é a obsolência planejada.
Tudo tem prazo de validade, precisa mudar.
Esse “descartismo” contaminou os sentimentos.
Os sentimentos não mudaram, mas agindo como se eles fossem descartáveis magoamos e oferecemos sofrimento.
Os relacionamentos estão sendo como conexões, facilmente se ligam e se desligam. Vivemos na cultura da substituição.
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. (4)
Cativar significa fazer o outro gostar de você e implica uma responsabilidade.
Se criamos laços com as pessoas é para
que elas gostem de nós, por isso somos bonzinhos, educados e amáveis.
Usamos esses argumentos para cativar. Sem pensar na responsabilidade que
é o outro gostar de nós e a consequência disso. A consequência de ter
uma pessoa que investiu em você, investiu em sentimentos.
As coisas que vivemos aqui passam, mas o
bem que praticarmos aqui é o que vai embora, que vai conosco, que nos
leva a evoluir. Construímos laços, exatamente, para realizarmos as
provas que vivemos aqui.
Não pensamos muito nas
responsabilidades, porque responsabilidade sufoca. Preferimos viver na
superficialidade dos relacionamentos e não criarmos vínculos.
Às vezes, estamos diante de uma fonte generosa e continuamos sedentos, porque nos negamos a beber a água pura. (5)
Precisamos aprender a amar com desapego,
ampliar o número de nossos afetos, sem a ilusão da posse. Se formos
chamados a nos ausentar, pela desencarnação, continuemos a valorizá-los,
respeitando-os e ajudando-os. Estaremos no caminho do desapego, mas
continuaremos a amá-los, da mesma forma. (6)
Ângela Maria Telles
Fonte: Agenda Espírita Brasil
Referências Bibliográficas:
(1) Mateus 6:19-21
(2) O Livro dos Espíritos – Questão 895
(3) Sexo e Consciência. 1 ed./ Divaldo Pereira Franco; Lopes, Luiz Fernando (org.). Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 2013.
(4) O Pequeno Príncipe/ Antoine de Saint-Exupéry, (2001.p.74).
(5) O Despertar do Espírito/ pelo Espírito Joanna de Ângelis; psicografado por Divaldo Pereira Franco. Salvador, BA; Livraria Espírita Alvorada, 2000. Cap.7 (Relacionamentos Humanos)
(6) O Voo da Gaivota, cap. Colóquio Interessante, Espírito Patrícia – psicografia de Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho.
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