FENÔMENOS NEM SEMPRE SIMULTÂNEOS
Normalmente damos às palavras morrer e desencarnar o mesmo significado – fenômeno através do qual o Espírito retorna ao mundo espiritual.
No entanto, com mais rigor, podemos dizer que morte é o fenômeno biológico que acontece com a paralisação permanente dos órgãos vitais; e desencarnação, porém, é a libertação total do Espírito dos laços magnéticos que o prendem ao corpo físico.
Com base nesta diferença conceitual também podemos afirmar que morte e desencarnação nem sempre acontecem simultaneamente, pois existe entre ambas um intervalo de tempo que varia de alguns minutos a vários dias.
Talvez o leitor menos afeito à literatura espírita considere estranha tal afirmação, e isso nos convida ao necessário esclarecimento.
A mente é instrumento poderoso, e através do pensamento ela imprime no perispírito (corpo fluídico) marcas profundas ou superficiais, em forma de dependências maiores ou menores, que não serão extintas de imediato com o fenômeno da morte.
Se a morte não interrompe de imediato as impressões que o Espírito fixou em si mesmo, também não é de imediato que os laços que prendem o Espírito ao corpo se desfazem; daí a desencarnação não ser imediata à morte biológica.
“Impressões longamente fixadas, e sensações vividas com sofreguidão, assinalam profundamente os tecidos sutis do perispírito, impondo necessidades e dependências que a morte não logra de imediato interromper.” (1)
Quando consideramos as diferenças naturais resultantes do nível de evolução entre dois Espíritos, havemos de convir que, mesmo que a morte aconteça de forma idêntica e no mesmo instante para ambos, o tempo exigido para o processo desencarnatório poderá variar de minutos até meses ou anos.
André Luiz no livro Ação e Reação relata a desencarnação de 14 pessoas em um acidente de aviação, o que nos oportuniza sérias reflexões sobre o assunto:
“Oito dos desencarnados no acidente jaziam em posição de choque, algemados aos corpos mutilados ou não; quatro gemiam, jungidos aos próprios restos, e dois deles, não obstante ainda enfaixados às formas rígidas, gritavam desesperados, em crises de inconsciência”.
Atentemos neste exemplo, para o fato de que a causa e o instante da morte foram os mesmos para todos, no entanto, o despertamento foi diferente.
A lição a respeito dessa diferença entre morte e desencarnação torna-se mais surpreendente, neste caso estudado, quando André Luiz narra sobre o requerimento comovedor de um ancião desencarnado, rogando à mansão a remessa de uma equipe adestrada para a remoção de seis das catorze entidades desencarnadas no acidente.
A pergunta do leitor poderá surgir de imediato, como fez Hilário, companheiro de André Luiz, a respeito do motivo de auxílio para a remoção de seis desencarnados, quando na verdade eles eram catorze.
A resposta dada por Druso, orientador espiritual, como veremos a seguir, apenas confirma o que já falamos no início deste artigo: morrer (biologicamente) não é a mesma coisa que desencarnar (libertar-se do corpo). De certa forma, morrer é fácil, pois bastam uma parada cardíaca ou uma parada respiratória prolongadas para que, em alguns instantes, a vítima morra. No entanto, diferente do que muitos possam imaginar, a desencarnação requer mais ou menos tempo, de acordo com as conquistas interiores de cada um.
Respondeu Druso: “No momento serão retirados da carne tão-somente aqueles cuja vida interior lhes outorga a imediata liberação. Quanto aos outros, cuja situação presente não lhes favorece o afastamento rápido da armadura física, permanecerão ligados, por mais tempo, aos despojos que lhes dizem respeito”. (2)
Quanto mais, por própria deliberação, nos escravizamos às fortes impressões dos sentidos através dos vícios e apegos à matéria, mais tempo gastaremos para esgotar as energias acumuladas no nosso perispírito. Quanto mais nos submetemos às disciplinas do Espírito, com equilíbrio e sublimação, mais facilidades conquistaremos para nos libertarmos da carne, quando surpreendidos pelo fenômeno da morte.
F.Altamir da Cunha
Referências:
(1) Temas da Vida e da Morte, FEB − Manoel Philomeno de Miranda / Divaldo Pereira.
(2) Ação e Reação, FEB, André Luiz/F. Cândido Xavier, p. 243.
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