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31 maio 2019

Vigor da Esperança - Orson Peter Carrara



VIGOR DA ESPERANÇA


Há um paradoxo na vida humana. Habitando um planeta lindo, de paisagens exuberantes, desfrutando de benefícios imensos como a água, o ar e a chuva, a beleza incomparável da fauna e flora variadíssima, e mesmo com toda tecnologia que já conquistamos, ainda vivemos um cenário de conflitos. Dominado pela avareza, a ganância, as intrigas e seus desdobramentos.

Mesmo com o canto dos pássaros, o sorriso das crianças, as artes que nos encantam e todas as possibilidades ao nosso alcance pelos sentidos, e repito, com todo o conforto trazido pelos avanços da ciência em todos os ramos do conhecimento e pesquisa, ainda vivemos os bastidores da calúnia, do crime, da hipocrisia, dos desrespeitos variados que aí estão, sem qualquer necessidade de citá-los, pois que muito conhecidos e vividos em abundância.

Mas, o vigor da esperança também é força presente. Apesar de toda tempestade à volta, continuamos a lutar, a viver, a aprender, a conviver – esse um grande tesouro – guardados pela predestinação do planeta no futuro de ser um mundo feliz.

Isso parece uma ilusão? Compara-se a um engodo? Há perspectivas?

Claro que há, são perenes, permanentes, disponíveis.

Embora tenhamos guerras, miséria, fome, desespero, vingança, egoísmo, descrença, discórdia, mentira, crime, orgulho, preguiça e ódio, entre outras imperfeições morais que o leitor saberá acrescentar, há um caminho incomparável, sereno, roteiro seguro para o alcance da paz que desejamos viver coletivamente.

Ele, esse caminho, é dependente de nossa decisão de começar, agora mesmo, a buscar as lições do bem e a fazer algo em favor da felicidade de todos.

Ora, a afirmação que não é minha, nem o raciocínio, e contida num único parágrafo (o imediatamente acima), é roteiro de paz para o planeta, é o construtor da harmonia que tanto procuramos. Ela comporta um congresso de informações, onde depoimentos, casos, estudos e debates nos podem proporcionar ampliar a questão.

Afinal, podemos indagar sem receio: 

a) O que é exatamente buscar as lições do bem? 
b) O que é algo fazer em favor da felicidade de todos?

As respostas são difíceis ou ainda preferimos ignorar? Agora, nesse instante, como usar as duas opções? Quais as opções de busca do bem nesse momento, onde estamos? O que podemos fazer agora em favor da felicidade de todos? Quem são esses “todos”?

O planeta atual e seu cenário de conflitos apenas reflete nossa mediocridade moral – ainda nos deixamos seduzir por paixões exclusivistas, egoístas, sem pensar coletivamente – e somos donos da mudança desse quadro, bastando apenas a decisão de amar e respeitar o local onde vivemos, as pessoas com quem convivemos e agir em favor do bem geral.

Será tão difícil assim? Por que ainda não aprendemos? É egoísmo, é nossa imaturidade ou nossas ambições ainda são mesquinhas? Ou soma-se tudo isso?

Observemos, com imparcialidade, a conquista de um mundo feliz é consequência da aplicação do Evangelho, é seguir as lições do Mestre de Humanidade. Sem comodismo e com perseverança.

Nota do autor: vali-me das lições Morada terrestre e Mundo feliz, do livro Vivendo o Evangelho, volume I, de Antonio Baduy Filho.


Por Orson Peter Carrara

30 maio 2019

Sobre a Liberdade e a Obsessão - Antônio Carlos Navarro



SOBRE A LIBERDADE E A OBSESSÃO


Em se tratando de obsessão e liberdade sempre haverá o que reavaliar.

O livro Roteiro, ditado por Emmanuel ao grande médium Francisco Cândido Xavier, traz lições altamente esclarecedoras a respeito do intercâmbio mental entre as criaturas humanas, estejam elas encarnadas ou desencarnadas.

No capítulo vinte e cinco da referida obra, intitulado “Ante a vida Mental”, entre outras coisas, encontramos:

“A mente é manancial vivo de energias criadoras.

O pensamento é substância, coisa mensurável.

Encarnados e desencarnados povoam o Planeta, na condição de habitantes dum imenso palácio de vários andares, em posições diversas, produzindo pensamentos múltiplos que se combinam, que se repelem ou que se neutralizam.

Correspondem-se as ideias, segundo o tipo em que se expressam, projetando raios de força que alimentam ou deprimem, sublimam ou arruínam, integram ou desintegram, arrojados sutilmente do campo das causas para a região dos efeitos.

Quem mais pensa, dando corpo ao que idealiza, mais apto se faz à recepção das correntes mentais invisíveis, nas obras do bem ou do mal.

E, em razão dessa lei que preside à vida cósmica, quantos se adaptarem, ao reto pensamento e à ação enobrecedora, se fazem preciosos canais da energia divina, que, em efusão constante, banha a Humanidade em todos os ângulos do Globo, buscando as almas evoluídas e dedicadas ao serviço de santificação, convertendo-as em médiuns ou instrumentos vivos de sua exteriorização, para benefício das criaturas e erguimento da Terra ao concerto dos mundos de alegria celestial.”

E no capítulo seguinte, o de número vinte e seis, intitulado “Afinidade”, esclarece o Grande Benfeitor como que a complementar o acima transcrito:

“O homem permanece envolto em largo oceano de pensamentos, nutrindo-se de substância mental, em grande proporção.

Toda criatura absorve, sem perceber, a influência alheia nos recursos imponderáveis que lhe equilibram a existência. Em forma de impulsos e estímulos, a alma recolhe, nos pensamentos que atrai, as forças de sustentação que lhe garantem as tarefas no lugar em que se coloca.

De modo imperceptível, “ingerimos pensamentos”, a cada instante, projetando, em torno de nossa individualidade, as forças que acalentamos em nós mesmos.

Por isso, quem não se habilite a conhecimentos mais altos, quem não exercite a vontade para sobrepor-se às circunstâncias de ordem inferior, padecerá, invariavelmente, a imposição do meio em que se localiza.

Se nos confiamos às impressões alheias de enfermidade e amargura, apressadamente se nos altera o “tônus mental”, inclinando-nos à franca receptividade de moléstias indefiníveis.

Se nos devotamos ao convívio com pessoas operosas e dinâmicas, encontramos valioso sustentáculo aos nossos propósitos de trabalho e realização.

Falamos sempre ou sempre agimos pelo grupo de espíritos a que nos ligamos.

Somos obsidiados por amigos desencarnados ou não e auxiliados por benfeitores, em qualquer plano da vida, de conformidade com a nossa condição mental.

Daí o imperativo de nossa constante renovação para o bem infinito.

Trabalhar incessantemente é dever.

Servir é elevar-se.

Aprender é conquistar novos horizontes.

Amar é engrandecer-se.

Trabalhando e servindo, aprendendo e amando, a nossa vida íntima se ilumina e se aperfeiçoa, entrando gradativamente em contato com os grandes gênios da imortalidade gloriosa.”

Estas informações são claríssimas, e seria de muito valor revisarmos os referidos capítulos integralmente, quando não o livro todo, para que possamos entender, definitivamente, que os processos obsessivos, ou a experiência da liberdade espiritual, começam em nosso próprio mundo mental, e consequentemente nas ações que perpetramos, porque estas sempre serão construções assentadas sobre o alicerce chamado pensamento.

Pensemos nisso.


Antônio Carlos Navarro


29 maio 2019

A vocação e o amor ao trabalho - Momento Espírita,

 
A VOCAÇÃO E O AMOR AO TRABALHO


Vanessa é médica e, há alguns meses, diante de uma situação de tragédia que se abateu em uma região do país, decidiu se voluntariar para atender, por alguns dias, em uma das cidades afetadas.

Apesar de realizar rotineiramente um trabalho voluntário, não o fazia como médica, e essa oportunidade a fez pensar que poderia ajudar muito. Poderia fazer de sua profissão um verdadeiro ato de amor.

Chegando lá, ela e outros profissionais do mesmo grupo, começaram imediatamente a atender em um posto de saúde. A necessidade era grande e a vontade de ajudar ainda maior.

No segundo dia o posto de saúde estava cheio. As filas eram enormes. Vanessa atendia a todos com muita atenção e carinho. No final da manhã, ao chamar uma paciente, teve uma surpresa.

A senhora entrou, sentou-se e disse: Doutora, preciso lhe contar algo, pois acho que estão cometendo uma injustiça lá na fila. Estão reclamando que a senhora atende muito devagar, e muita gente tem pressa.

Mas eu, continuou a paciente, disse que queria ser atendida pela senhora, pois é bom ter um médico que escute a gente, que examine direito e que receite direito.

A voluntária sorriu e respondeu que uma consulta bem feita leva algum tempo, e que sua obrigação era dedicar-se aos pacientes. Dito isto iniciou a consulta com atenção e carinho para evitar erros.

Durante dias Vanessa lembrou constantemente daquela paciente, e do que ela dissera. Não se ofendera pois sabia que a imagem que se tem de muitas profissões é, na verdade, uma consequência da atitude de alguns profissionais.

Lembrava que, desde criança, desejava ser médica e que não mediu esforços em seus estudos para atingir sua meta. Amava sua profissão e a exercia com amor. Possuía uma situação material estável, mas trabalhava muito.

A medicina fora, para ela, uma vocação e não uma escolha profissional baseada em possíveis ganhos materiais ou no status social.

Conhecia, no entanto, alguns colegas para os quais os pacientes eram somente clientes e o ganho em dinheiro superava qualquer amor pela tarefa. Não se admirava ao ver tantos pacientes descontentes.

O trabalho é qualquer ocupação útil, seja ela física, ou intelectual. O trabalho faz parte das leis da natureza às quais o homem está sujeito.

Muitas pessoas abraçam um trabalho sem ser o que realmente querem, sem ser aquele para o qual sentem que são chamados, devido a necessidades materiais. Mesmo nessas circunstâncias a dedicação deve vigorar.

Frequentemente, pessoas que obtêm sustento de uma ocupação que não corresponda ao seu desejo, estudam e se preparam para, um dia, seguirem sua real vocação.

Todas as profissões estão inseridas na sociedade para um determinado fim. Obviamente que o sustento material é importante para o profissional, pois dá a ele condições de viver dignamente, de progredir, de sustentar a família.

Dedique-se verdadeiramente ao seu trabalho. Mesmo que deseje exercer outra que não seja sua atual profissão, agradeça a oportunidade que lhe é dada quando há tantos que desejariam seu lugar.

Se almeja mudar, busque merecer. Estude, especialize-se e não desista. Mas nunca deixe de se dedicar ao que faz.

Lembre-se do Mestre Jesus, que sempre soube qual era Sua missão na Terra, mas, durante muitos anos exerceu o ofício da carpintaria, com amor e resignação.


Por Redação do Momento Espírita, com base em fato e no cap. 11 do livro Estudos Espíritas, pelo Espírito Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. FEB.

28 maio 2019

Aferição de valores - Joanna de Ângelis


AFERIÇÃO DE VALORES


Quando se leem as páginas gloriosas sobre as vidas dos mártires e dos heróis de todos os matizes, emoções superiores invadem os sentimentos humanos que se prometem renovação e conquista de harmonia.

A coragem desses apóstolos do amor e do sacrifício pessoal ultrapassa o habitual, proporcionando o entendimento em torno do auxílio espiritual que a vitalizava.

Transcendia, às vezes, à compreensão humana, em face da grandiosidade de que se revestia.

Mulheres e homens, adolescentes e anciãos, sadios e enfermos que tomaram conhecimento de Jesus e da Sua doutrina, através de informações daqueles que conviveram com Ele ou de outros missionários, eram dominados por tão peregrina força que nada os atemorizava, quando convidados ao sacrifício.

Avançavam para o testemunho com a alma em júbilo pela honra de dar-Lhe a existência.

Suplícios implacáveis, ameaças perversas e mortes tenebrosas eram-lhes impostos, sem que o temor os assustasse ou o desejo de fugir para prosseguir vivendo os atraísse...

Indubitavelmente, Jesus e os Seus mensageiros fortaleciam-nos nos momentos que antecediam o martírio, logo os recebendo em júbilo além da esfera física.

Mudou a paisagem através dos tempos e os discípulos do Evangelho distraíram-se, afastaram-se do holocausto, da abnegação total e mesmo parcial. Para que não se apagassem na memória dos evos os exemplos sublimes, periodicamente renasceram na Terra os Seus amorosos seguidores que clarearam as noites de perturbação e ignorância, trazendo-O de volta como luz inapagável.

Na atualidade, rica de pobreza moral, ornada de grandezas e de misérias, os sinceros discípulos de Jesus, com as nobres exceções conhecidas, apresentam-se assustados, queixosos, amarfanhados emocionalmente, sem disposição íntima para compreender o significado de fidelidade ao Evangelho.

O bafio pestífero do prazer anestesiante sedu-los e arrasta-os, embora os propósitos sinceros de permanecerem fiéis ao ideal. Esta é a hora de demonstração viva da fé incomparável, que elucida quanto à necessidade de renunciar-se um pouco aos favores do mundo, a fim de fruir-se bênçãos em abundância.

Os Espíritos do Senhor convidam e advertem em momentosas comunicações mediúnicas, sustentando a coragem e o devotamento nos desfalecentes, a fim de alcançarem a reabilitação, a paz de consciência.

Indispensável fazer-se uma releitura das vidas incomparáveis dos apóstolos do Evangelho em todos os tempos, de modo a recompor-se condutas e vivências, aceitando os percalços, os desafios e os chamados infortúnios existenciais com alegria e paz interior.

A aferição dos valores espirituais mediante os testemunhos é inevitável, neste momento, qual ocorre em outras áreas da vivência humana.

Cristo é também evocação de cruz.

Abraçando-a, Francisco de Assis assemelhou-se a Cristo e, transformando-a em asas de sublimação, Cristo elevou Francisco à glória celestial.

Quando o desânimo se te insinue, em tentativa de dominar-te, vigia as nascentes do coração e robustece-te com a coragem de lutar.

Quando o sofrimento se te apresente sob qualquer forma, ora e alça-te além das fronteiras humanas, para que te renoves e superes a circunstância afligente que te leva à angústia.

Quando o cansaço envolver-te nas suas malhas asfixiantes, serve mais e perceberás que a mudança de área de trabalho facilitar-te-á a renovação íntima e o bem-estar.

Quando a maledicência e a calúnia tentarem envenenar-te as emoções nobres, silencia qualquer esclarecimento e o vento tempestuoso do mal passará sem produzir-te dano.

Quando a perseguição gratuita ameaçar-te as realizações enobrecedoras, recorda-te de Jesus, traído por um amigo, por outro negado, não uma, porém três vezes, e prossegue integérrimo.

Quando te sentires em abandono, sorvendo a taça da solidão à borda do desespero, entrega-te ao Mestre e Ele te fará companhia, repletando-te de ternura e de paz.

Não receberás na Terra o salário do amor pela tua ação iluminativa, porque as sombras que dominam os arraiais humanos ainda impedem que tal aconteça.

Serás recompensado de maneira inimaginável depois de percorrido o caminho redentor, assinalado pelas pequenas vitórias sobre as paixões primárias que teimam em fustigar as emoções superiores.

Não te permitas as queixas nem as reclamações que explodem em cólera e combates infelizes.

Escolheste Jesus e não Pilatos ou Anás, ou Caifás, embora por algum tempo houvesses optado por Barrabás...

Esta é a tua oportunidade rica de conquistas, que solicitaste e te foi concedida.

Frui-a, a fim de permaneceres em equilíbrio e alegria em todas as circunstãncias do processo evolutivo.

* * *

Nunca te encontrarás a sós, sem o divino amparo nem o doce e seguro envolvimento do amor.

Se não o perceberes ante o trovejar das ocorrências em desalinho, prossegue fiel e duas mãos cariciosas te sustentarão enquanto a Sua dúlcida voz te dirá: Eu estou aqui contigo, eu sou Jesus!


Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, livro Segue em harmonia, ed. LEAL.

27 maio 2019

Bendita Escola - Antônio Moris Cury



BENDITA ESCOLA


A Terra, com os seus contrastes e renovações incessantes, representará bendita escola de aprimoramento individual, em cujas lições purificadoras deixará você o egoísmo para sempre esmagado1.

Os espíritas e os simpatizantes do Espiritismo certamente já ouviram falar em palestras públicas, por mais de uma vez, que o planeta Terra pode ser um educandário, um hospital, ou uma prisão. E, algumas vezes, em certas circunstâncias e necessidades, pode ser tudo isso ao mesmo tempo. Qualquer uma dessas possibilidades, sem qualquer sombra de dúvida, constitui valioso aprendizado e aprimoramento individual para o Espírito imortal.

Neste artigo procuraremos observar o planeta azul como um educandário, como uma escola, nada obstante de maneira muito ligeira, em pequenas e rápidas anotações.

Como sabemos, a Terra é um planeta de provas e de expiações, de categoria inferior no Universo, onde ainda prevalecem o mal e a imperfeição. Não é difícil concluir, por isso, que aqui nos encontramos fundamentalmente para aprender, muito aprender, a começar pelo aprendizado da fraternidade, enxergando-nos e tratando-nos reciprocamente como irmãos, uma vez que somos filhos do mesmo Pai Universal, que nos criou simples e ignorantes, com todos partindo do mesmo ponto inicial, sem exceção. Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas2.

Se assim nos comportarmos e agirmos, estaremos colocando em prática o ensino máximo de Jesus: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, com o qual Ele resumiu toda a lei e os profetas.

E exatamente por essa razão seremos mais felizes desde agora, aqui mesmo na Terra, porquanto o ser humano só é infeliz quando se afasta das Leis de Deus, como nos orienta e esclarece a veneranda Doutrina Espírita: O homem é quase sempre o obreiro da sua própria infelicidade. Praticando a Lei de Deus, a muitos males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira3.

Alcançaremos tal objetivo quando conseguirmos ver no próximo um irmão e fizermos a ele somente aquilo que gostaríamos que ele nos fizesse; quando formos mais tolerantes diante dos defeitos e das falhas alheias, até mesmo porque também os temos e cometemos e, portanto, dependemos da tolerância dos outros; quando tivermos mais caridade, sendo benevolentes, indulgentes e tendo cada vez mais facilidade para perdoar; quando formos mais pacientes (importante conquista que se obtém a pouco e pouco, visto que a paciência pode ser considerada a ciência da paz); quando formos úteis, e cada vez mais úteis, onde quer que nos encontremos; quando formos cumpridores da parte que nos compete realizar, fazendo-a com qualidade, com dedicação e do melhor modo possível; quando nos tornarmos bem mais confiantes e otimistas. E especialmente quando não tivermos um átimo de hesitação em optar pelo Bem, em qualquer circunstância ou situação.

Por outra parte, a toda evidência, o aprimoramento individual implica deixar para trás também, esmagado (para usar, enfatizando, a palavra escolhida pelo Espírito André Luiz no texto antes reproduzido), o egoísmo que insiste em permanecer conosco e, mais grave ainda, prevalecer em nossas decisões. Egoísmo, o nosso maior mal, a nossa chaga social4.

Vale relembrar: Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nunca encontra ensejo de o praticar. Basta que se esteja em relações com outros homens para que se tenha ocasião de fazer o bem, e não há dia da existência que não ofereça, a quem não se ache cego pelo egoísmo, oportunidade de praticá-lo. Porque fazer o bem não consiste, para o homem, apenas em ser caridoso, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu concurso venha a ser necessário5.

Relacionamos acima apenas alguns exemplos do dia a dia que poderão ser úteis ao aprimoramento, ao aperfeiçoamento, ao crescimento e ao progresso, intelectual e moral, de todos nós. Assim, acreditamos, poderemos ser pessoas melhores, mais otimistas, mais confiantes (com fé inabalável) e mais felizes na atual existência.

Cezar Braga Said escreveu importante e interessante mensagem: Tem havido espaço para o otimismo em sua vida? Como é importante ser otimista! Acreditar em Deus, em si, nas pessoas, na vida… A energia gerada pelo otimismo afasta as nuvens do pessimismo, do derrotismo e faz a pessoa renovar-se por inteiro. Ser otimista não significa ignorar a realidade, criando para si uma outra totalmente ingênua e alienada. Significa ser sábio, pois se na vida tudo é impermanente – beleza, poder, dinheiro, juventude – as dificuldades, por mais áridas que sejam, também são passageiras. E o verdadeiro otimista sabe disso. Quem é otimista não se intimida com a multiplicação dos problemas, não desanima diante dos obstáculos nem se dá por vencido antes de ter tentado. É alguém que ousa, que vai adiante, sem temores irreais. E quanto mais avança, sob a inspiração divina, mais aumenta a sua convicção no seu poder pessoal de remover montanhas. Por isso, o otimista é empreendedor e criativo por excelência. O alicerce do otimismo é a fé raciocinada. Fé que se desenvolve mediante a observação dos fatos, das reflexões em torno das intenções divinas em situar-nos neste mundo, da índole que temos e de tudo o que ocorre à nossa volta. As colunas do otimismo são formadas pela alegria de viver e pela intensidade com que nos envolvemos com o nosso próximo. O otimismo não é só para ser exercitado e posto à prova nos momentos cruciais. É estado de espírito que deve nos acompanhar em todos os instantes da nossa caminhada. Necessitamos dele sempre, pois sua força dilui qualquer onda de pessimismo que tente se acercar de nós. Se é difícil estar assim com os pensamentos e os sentimentos sempre elevados, podemos fazer um esforço para irmos criando condições para tal; de maneira que o pior acontecimento não nos abata tanto, pois estaremos construindo “uma casa sobre a rocha” como ensinou o Apóstolo Paulo. A “casa do otimismo” é confortável, acolhedora e superprotegida contra toda sorte de assaltos. Erguê-la agora ou mais tarde é questão de opção. O que equivale dizer que podemos agora, desde já, ser felizes ou então adiar para mais tarde a conquista desse fantástico e imprescindível estado de espírito6.

Não é difícil concluir, pois, que a Terra é uma bendita escola, um magnífico educandário, que nos permite avançar sempre, até mesmo em circunstâncias que provoquem preocupação, angústia, aflição, dor, sofrimento, medo etc. porque elas funcionam como verdadeiras alavancas de progresso, embora possam aparentar exatamente o contrário. Com elas advirão o exame, a análise profunda, a reflexão acurada, que certamente conduzirão o Espírito imortal a nova postura, a outra compostura, para melhor, com opção por mais humildade, mais simplicidade, mais seriedade, mais amor na mente e no coração.

Antônio Moris Cury
Fonte: Mundo Espírita (FEP)

Referências:

1. Xavier, Francisco Cândido. Agenda cristã. Pelo Espírito André Luiz. 43. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. cap. 39.

2. Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. 88. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. pt. 1, cap. I, q. 1.

3. Op. cit. 4, cap. I, q. 921.

Op. cit.pt. 3, cap. IX, q. 811.

5. Op. cit. pt. 3, cap. I, q.

6. Said, Cezar Braga. Conversando com você. 2. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2007. cap. Otimismo.

26 maio 2019

Não julgueis! - Clayton Reis



NÃO JULGUEIS!


Não julgueis e, não sereis julgados1! O mandamento do Cristo nos conduz a uma profunda reflexão sobre o significado do ato de emitir opiniões sobre pessoa ou sobre sua conduta. Julgar é uma capacidade de avaliar, presente nos seres inteligentes e conscientes. Segundo o Dicionário Houaiss2 proferir, pronunciar sentença em juízo, avaliar, ponderar, emitir opinião sobre ação ou acontecimento ou decidir após reflexão. No geral, refere-se a ato praticado pelos juízes, membros do Poder Judiciário, que emitem juízos de valor em face dos conflitos submetidos à sua apreciação. Segundo o Dicionário Jurídico de De Plácido e Silva3, do latim Judicare, de que se origina o verbo julgar, geralmente é o vocábulo tomado no sentido de decisão ou da própria sentença, proferida pelo juiz ou julgador, e que põe fim à demanda. Todavia, não pretendemos avaliar o ato de julgar dos magistrados. Estamos nos referindo a uma atividade valorativa que é uma faculdade de avaliação que se encontra presente nos seres humanos. Nessa linha Nicola Abbganano4, em seu Dicionário de Filosofia, ensina que a faculdade de julgar consiste em avaliar, escolher, decidir. Nesse sentido, o julgamento é uma atividade valorativa.

Colocada a questão sob essa ótica, vamos analisar em que consiste esse processo de avaliação do outro e seus profundos efeitos no ambiente social. Assim, quando emitimos um juízo de valor sobre os atos praticados por uma pessoa, no geral, esquecemo-nos de realizar antes uma análise do que faríamos se estivéssemos no lugar de quem é julgado. Na maioria das vezes emitimos juízo crítico, que poderá produzir efeitos de grande magnitude na pessoa objeto do nosso julgamento. Nesse caso, é importante destacar que a autoestima é uma qualidade de quem se valoriza com seu estado de ser e confia em seus atos e julgamentos. E, dessa forma, aceita o próximo como ele se apresenta, sem questionar suas qualidades e defeitos, porque todos somos detentores dessa qualidade. Por essa razão, Nicola4, diz que o juízo outra coisa não é senão o modo de reintegrar conhecimentos dados na unidade objetiva da apercepção.i O cuidado com que Jesus tratou essa questão se deve ao fato de que Ele tinha conhecimento que a maior das dissensões, entre os seres humanos, consistia em juízos valorativos equivocados. Daí uma assertiva de expressivo significado quando ditou5: Quem dentre vós não tiver pecados, que atire a primeira pedra. Essa exortação fez com que os acusadores ficassem sem argumentos para uma acusação formal e sem moral perante a multidão que assistia a cena. Nessa senda, o Espírito Emmanuel6 advertiu: A língua detém a centelha divina do verbo, mas o homem, de modo geral, costuma desviá-la de sua função edificante, situando-a no pântano de cogitações subalternas e, por isso mesmo, vemo-la à frente de quase todos os desvarios da humanidade sofredora (…).

Assim, o julgamento do próximo envolve, particularmente, o julgamento de nós próprios. Aquele que não está preparado para julgar a si mesmo, não se encontra apto para proferir julgamentos sobre o próximo. Isso porque o outro se confunde com nós próprios, apenas envolvido com vestimenta diversa! Dessa forma, estamos nos referindo a uma operação subjetiva (por pertencer ao sujeito), mas objetiva por ser universal ou comum, em Kant é o fundamento do juízo e de sua validade, segundo proclama Nicola4. Nessa ordem de ideias, quando julgamos o próximo, estaremos usurpando qualidade inerente a Deus. Somente o Criador possui a faculdade de emitir juízos de valores sobre nossas ações e comportamento que, no tempo devido nos transfere quando adquirimos consciência da nossa realidade física e espiritual.7 Erich Fromm8 pondera que compreender uma pessoa não equivale a justificá-la: quer dizer apenas que não a acusamos como se a gente fosse Deus ou um juiz colocado acima dela.

Por outro lado, o ato de não julgar o próximo se traduz em ato de conhecer, amar e tolerar, porque compreendemos e toleramos as pessoas que amamos. Os pais esquivam-se de julgar seus filhos porque, conhecendo a estrutura da personalidade de cada um deles e, em razão da sua capacidade de amá-los, passam a compreendê-los, alterando o julgamento para atos de educação e orientação. O autoconhecimento da nossa fragilidade e falibilidade é suficiente para instrumentar nossa percepção e prática ao entendimento do ato de não julgar o próximo. Cícero e Sêneca falam da consciência como a voz interior que acusa e defende nossa conduta no que diz respeito a suas qualidades éticas9. Para atingir esse desiderato, será necessário que sejamos Deus de nós próprios. O homem consciente é dono da sua conduta e das escolhas que faz na existência. E, por consequência, sempre será juiz de si próprio!

A compreensão do mecanismo relacional, em que todos estão sujeitos na existência, é consequência de um processo de amadurecimento espiritual da pessoa em relação ao próximo. Para atingir essa esfera de entendimento, será necessário compreender o outro para poder aceitar as diferenças presentes nos seres humanos. A psicologia da relação defendida pelo Cristo era a causa de todos os conflitos existenciais que se operavam entre as criaturas humanas. Mesmo decorridos dois milênios da sua vinda na Terra, ainda hoje esses conflitos continuam presentes em grande escala na sociedade contemporânea. Joanna de Ângelis10 diz-nos que nesse esforço desenvolve-se-lhe o sentimento de amor, que é todo construído através da equilibrada conduta psicológica em relação a si mesmo tanto quanto àqueles que participam do seu convívio. A construção da tolerância sempre será uma conquista pessoal, em que cada um aprende a conviver com o próximo sem se deter nos contínuos julgamentos que fazemos do outro. Certamente, seria melhor olharmos para nós próprios a fim de verificar que possuímos as mesmas dificuldades e, às vezes, maiores daqueles que estamos julgando. Nesse sentido Jesus já advertira11: Vês o argueiro no olho do vizinho e não vês a trave no teu.

Assim, podemos concluir que o julgamento Socrático de si mesmo representa a mais elevada conquista do ser humano, em sua trajetória pela existência. E, por essa inquestionável razão, o Mestre dos mestres assinalou, com maior ênfase, que o nosso primeiro dever consiste na prática da autocensura. Somente através dessa atividade seremos capazes de edificar um mundo melhor e mais pacífico onde impera a harmonia, a tolerância e o amor por todas as criaturas que vivem no planeta. Talvez, o exercício desse modus operandi seja uma prática utópica. Todavia, vale a pena tentar porque os resultados serão de grande valor para a família, para a sociedade, para a Humanidade e sobretudo para nós.

Apercepção – Percepção nítida de qualquer objeto. Faculdade ou ato de apreender imediatamente pela consciência uma ideia, um juízo, intuição. 12

Clayton Reis


Referências:

1.BÍBLIA, N. T. Lucas. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Campinas: Os Gideões Internacionais no Brasil, 1988. cap. 6, vers. 37.

2.HOUAISS, Antonio. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 1691.

3.SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 795.

4.ABBGANANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 680, 681.

5.BÍBLIA, N. T. João. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Campinas: Os Gideões Internacionais no Brasil, 1988. cap. 8, vers. 7.

6.XAVIER, Francisco Cândido. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1982. cap. 170.

7.KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1974. pt. 3, cap. 1, q. 621.

8.FROMM, Erich. Análise do homem. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1961. p. 211.

9.Op. cit. p. 132.

10.FRANCO, Divaldo Pereira. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. O despertar do Espírito. Salvador: LEAL, 2000. cap. Encontro com a harmonia, item O ser humano perante si mesmo.

11.BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Campinas: Os Gideões Internacionais no Brasil, 1988. cap. 7, vers. 3.

12.FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio – Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 164.

25 maio 2019

Os sócios invisíveis dos vícios - Rogério Coelho



 
OS SÓCIOS INVÍSIVEIS DOS VÍCIOS



(…) Espíritos que perderam o corpo físico e, que abandonam-se à viciação, transformam-se em vampiros, à procura de quem lhes aceite as sugestões infelizes.1

Emmanuel O mestre lionês perguntou2 aos Benfeitores Espirituais se o mal não se torna um arrastamento irresistível, quando o homem se acha, de certo modo, mergulhado na atmosfera do vício. Ao que os Espíritos responderam: arrastamento sim; irresistível não!

Realmente nada pode resistir à força de vontade e à motivação para o bem. Quando com vontade firme empreendemos o combate, não há arrastamento que não ceda.

Em que pese a ostensiva influência espiritual, o livre-arbítrio fica sempre preservado. Os Espíritos, portanto, não possuem o irresistível poder de nos induzir ao vício e muito menos de alimentá-lo, a não ser que o permitamos, pois há quem se compraza em comportamentos deletérios. Aqui vige a lei de sintonia… É como dizia o velho axioma popular: assombração sabe pra quem aparece.

De uma maneira eufêmica e elegante, Jesus colocou a mesma linha de pensamento desses axiomas, quando afirmou3: Onde está o tesouro, ali se encontra o coração.

Faz-se necessária a ampliação do conceito da palavra vício, vez que não constitui vício tão somente o tabagismo, a alcoofilia, as drogas e quejandos, mas tudo que, de uma forma ou de outra, caracteriza uma compulsão irresistível, como por exemplo: comer mais do que o necessário, um joguinho inocente de baralho etc… Tudo isso pode ter como corolário uma arruinadora viciação de lamentáveis consequências…

Eis a declaração feita por um Espírito viciado em jogo, evocado em uma reunião mediúnica: Fui um viciado no jogo de cartas. Destruí minha vida por causa disso… Sem o saber, eu era um doente da Alma e jamais atendi aos apelos de meus familiares para parar com o hábito.

Minha iniciação deu-se na infância, vendo meu pai envolvido com esse “entretenimento”. Quando me vi adulto, depois de cuidar de minha vida profissional, dediquei-me totalmente ao baralho.

No princípio, apostava pequenas quantias com os amigos, apenas por brincadeira, mas o que era prazer virou necessidade e as importâncias das apostas cresceram junto com a compulsão de jogar sem parar. Só parava alguns minutos para atender – apressadamente – às necessidades fisiológicas. Acabei perdendo todo o meu patrimônio penosamente amealhado em uma vida inteira de trabalho. Desencarnei deixando minha família em péssima situação financeira…

Aportei no Mundo Espiritual num dos piores estados psíquicos que se possa imaginar…

Depois de ter sido recolhido pelos Benfeitores Amigos, demorei muito em situação de letargia e, mais tarde, eles me ensinaram que o Bem não tem duas faces, e que uma árvore não pode dar frutos bons e maus ao mesmo tempo. Lembrei-me, então, que Jesus já havia dito isso, só que não atinei em aplicar essas palavras em minha vida, como, aliás, nada apliquei do que Ele ensinou ao preço de Sua própria vida.

O jogo é pernicioso ao crescimento das criaturas em toda e qualquer situação.

Quisera ter condições de ajudar aos irmãos, que ainda estão se iniciando nesse caminho traiçoeiro; conscientizá-los dos malefícios causados por essa moléstia tão amplamente acoroçoada pela sociedade.

O jogo escraviza o homem tal qual as drogas, contra as quais combatem com energia. De qualquer natureza ele é sempre um mal, tanto para quem faz uso como para quem o promove. Ninguém pode sequer imaginar o aspecto espiritual da jogatina: verdadeiros vampiros associam-se aos incautos e quanto mais se apaixonam pelo jogo, mais necessidade passam a ter dele, numa estreita e constringente simbiose.

André Luiz desvela4 para todos nós os cinzentos e embaciados panoramas onde estão alocadas no Mundo Espiritual essas Almas enviscadas no vício. Aprendamos um pouco com o ilustre Benfeitor Espiritual: (…) Muitos de nossos irmãos, que já se desvencilharam do vaso carnal, se apegam com tamanho desvario às sensações da experiência física, que se cosem àqueles nossos amigos terrestres temporariamente desequilibrados nos desagradáveis costumes por que se deixam influenciar.

(…) Esses nossos companheiros situaram a mente nos apetites mais baixos do mundo, alimentando-se com um tipo de emoções que os localiza na vizinhança da animalidade. Não obstante haverem frequentado santuários religiosos, não se preocuparam em atender aos princípios da fé que abraçaram, acreditando que a existência devia ser para eles o culto de satisfações menos dignas, com a exaltação dos mais astuciosos e dos mais fortes. O chamamento da morte encontrou-os na esfera de impressões delituosas e escuras e, como é da Lei que cada alma receba da vida de conformidade com aquilo que dá5, não encontram interesse senão nos lugares onde podem nutrir as ilusões que lhes são peculiares, porquanto, na posição em que se veem, temem a verdade e abominam-na procedendo como a coruja que foge à luz.

Chegará o dia em que a própria Natureza lhes esvaziará o cálice (…), utilizando-se de uma infinidade incomensurável de processos de reajuste, no Universo Infinito em que se cumprem os Desígnios do Senhor, chamem-se eles aflição, desencanto, cansaço, tédio, sofrimento, cárcere…

Há dolorosas reencarnações que significam tremenda luta expiatória para as almas necrosadas no vício. Temos, por exemplo, o mongolismo, a hidrocefalia, a paralisia, a cegueira, a epilepsia secundária, o idiotismo, o aleijão de nascença e muitos outros recursos, angustiosos embora, mas necessários, e que podem funcionar em benefício da mente desequilibrada, desde o berço, em plena fase infantil. Na maioria das vezes, semelhantes processos de cura prodigalizam bons resultados pelas provações obrigatórias que oferecem…

No entanto, se as criaturas visivelmente confiadas à devassidão resolverem reconsiderar o próprio caminho, se voltarem à regularidade, através da renovação mental com alicerces no bem, ganhariam tempo, recuperando a si mesmas… Usando a alavanca da vontade, atingimos a realização de verdadeiros milagres; mas, para isso, há que se despender esforço heroico.

(…) Onde há pensamento, há correntes mentais e onde existem correntes mentais existe associação. E toda associação é interdependência e influenciação recíproca. Daí concluímos quanto à necessidade de vida nobre, a fim de atrairmos pensamentos que nos enobreçam. Trabalho digno, bondade, compreensão fraterna, serviço aos semelhantes, respeito à Natureza e oração constituem os meios mais puros de assimilar os princípios superiores da vida, porque damos e recebemos, em Espírito, no plano das ideias, segundo as leis universais que não conseguiremos iludir.

Concluem os Espíritos Superiores6: (…) não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização.

Com todos esses fatos, podemos compreender um pouco melhor o que motivou Jesus a dizer7: Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas! Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamon.


Por Rogério Coelho
Fonte: Mundo Espírita (FEP)

Referências:


1. Xavier, Francisco Cândido. Seara dos médiuns. Pelo Espírito Emmanuel. 11. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. cap. Espíritos perturbados.

2. Kardec, Allan. O livro dos Espíritos. 88. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. pt. 3, cap. 1, q. 645.

3. Bíblia, N. T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Campinas: Os Gideões Internacionais no Brasil, 1988. cap. 6, vers. 21.

4. Xavier, Francisco Cândido. Nos domínios da mediunidade. 12. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1983. cap. 15.

5. Bíblia, N. T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Campinas: Os Gideões Internacionais no Brasil, 1988. cap. 16, vers. 27.

6. Kardec, Allan. O livro dos Espíritos. 88. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. pt. 3, cap. VIII, q. 793.

7. Bíblia, N. T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Campinas: Os Gideões Internacionais no Brasil, 1988. cap. 6, vers. 23 e 24.

24 maio 2019

Eu quero estar grávida ou ser mãe? - Orson Peter Carrara



EU QUERO ESTAR GRÁVIDA OU SER MÃE?


Esta pergunta foi feita a si mesma por uma mãe que não pode engravidar. Esmagadora maioria das mulheres deseja ser mãe, mas existem igualmente vários casos de impossibilidade, por várias razões. Diante das frustrações seguidas, a busca aos exames trouxe o diagnóstico: esterilidade de ambos os cônjuges. Decepção, frustração, tristeza, e em muitos casos até mágoas e revoltas, nas variadas circunstâncias com tantos casais.

O tempo, todavia, abre novas perspectivas. E as reflexões surgem, naturalmente, quando nos fazemos sensíveis e abertos às alternativas à disposição.

E aqui trago a conclusão de uma mãe estéril: “(...) Na minha situação particular, o que me ajudou nesse processo doloroso de não poder conceber um filho biológico, foi de refletir depois de algum tempo que recebemos o diagnóstico de esterilidade: “Eu quero ser mãe ou eu quero ser gravida?” Eu encontrei a resposta no fundo de minha alma e a dor tomou outro rumo (QUERO SER MÃE, e essa porta Deus talvez ainda não tenha fechado, vou buscar minhas alternativas…(...)”.

Essa resposta está numa das respostas da entrevista que fiz com uma mãe adotiva, e ainda inédita. E aí buscou e alcançou a alternativa da adoção. Hoje está feliz com o filho que dissipou mágoas e tristezas, fazendo a felicidade do casal.

E tal reflexão encontrou ainda maior respaldo num trecho que encontrou em afirmativa do Prof. Divaldo Pereira Franco (no Programa Transição, em 2009): "Na adoção, o amor não é menor do que o do filho biológico, creio que seja até maior, porque o filho biológico nós temos porque temos, e o adotado nós temos porque queremos, nós vamos buscá-lo. Feliz daquele que é capaz de adotar o amor, trazer para dentro de casa os seres queridos ou os seres problemas que os recursos orgânicos não permitiram que viessem pelas vias biológicas. Terá lucidez, de que indo buscar alguém necessitado de amor, já se estará integrando na consciência cósmica.”

E aí, na sequência da entrevista perguntei o que diria agora para as mães que adotaram filhos?

Ela respondeu: Eu então diria que abracem a oportunidade iluminativa de experimentar o amor além dos laços corporais. A maternidade é uma benção divina, quando é pelo coração, então, sinto que é um processo de busca ainda mais profunda aos pequenos tesouros de nossa alma.

A pergunta ecoou fundo e eu pensei em homenagear as mães adotivas, que oferecem de seu amor aos pequeninos órfãos. Um amor verdadeiro a quem nos curvamos pela nobreza do gesto!

Gravidez, infertilidade, aborto espontâneo, adoção ou “perda” de bebês prematuros são temas sempre muito abrangentes que abrem vastas perspectivas de análises da experiência de viver, com suas lutas e desafios, alegrias, tristezas, decepções, mas também crescimento intelecto-moral e emocional. Sigamos adiante, a vida é intensivo curso de aprendizado.

A entrevista na íntegra breve estará disponível na revista eletrônica o consolador.


Por Orson Peter Carrara

23 maio 2019

Ser cristão no cotidiano - Alessandro Viana Vieira de Paula



SER CRISTÃO NO COTIDIANO


O Espiritismo, sendo o Cristianismo Redivivo, não deixa a menor dúvida quando nos apresenta a finalidade da vida física, ou seja, o Espírito volta ao cenário terrestre para se iluminar, aprimorando-se intelectual e moralmente.

O Espírito Carlos Torres Pastorino1 assevera que A iluminação interior funciona como sendo o objetivo essencial da reencarnação, que facilita o roteiro para a ação libertadora. (…) Sugestões diversas em favor da morte no mundo para a conquista do grande silêncio libertador, em contato com a Natureza ou em países de tradição mística, são apresentadas na Mídia, como se num passe de mágica fosse possível encontrar-se a plenitude.

Dessa forma, percebemos que crescimento espiritual nada tem a ver com isolamento, afastamento do convívio do próximo, abdicar das festividades saudáveis e de momentos de entretenimento e lazer, elegendo uma expressão facial sisuda e de falsa espiritualidade.

O Espírito Pastorino foi enfático ao desqualificar a morte no mundo, que simboliza uma vida distante de tudo e de todos, de tal sorte que somente encontraremos o Reino de Deus, que está dentro de nós, através da vivência de situações, felizes algumas e desagradáveis outras, e do convívio com outros irmãos de caminhada evolutiva, sendo alguns Espíritos difíceis e exigentes, mas que nos ajudarão a fazer brilhar a própria luz, e outros serão Espíritos equilibrados, que iluminarão nossas almas.

Recordemos Jesus, o Modelo e Guia de nossas vidas, que, ao convidar os discípulos para a epopeia da Boa Nova e para a implantação do amor na Terra, jamais exigiu que eles se distanciassem da convivência do próximo e que abandonassem seus labores profissionais.

Aliás, Jesus foi exemplo de vivência plena do amor e de grande espiritualidade, mantendo a convivência com ricos e pobres, com doutores da lei e pessoas simples, com os saudáveis do corpo e os doentes, bem como teve grande mobilidade social e esteve em diversas festividades (Bodas de Caná, Páscoa em Jerusalém).

Por isso, temos que buscar o aprimoramento espiritual sem fugir das experiências da vida e das pessoas. Todavia, necessitaremos de momentos de solidão reflexiva, de oração silenciosa, de meditação e comunhão com os benfeitores espirituais, a fim de nos fortalecermos, moralmente, para os desafios naturais da vida, num planeta de provas e expiações.

Pastorino1 lembra que Jesus também buscou a solidão física, em lugares ermos, para se reabastecer em Deus, mas impulsionou os Apóstolos para que saíssem de si para servirem o próximo.

Allan Kardec, o nobre Codificador, quando abordou o tema Sede Perfeitos, no capítulo XVII, de O Evangelho segundo o Espiritismo, também inseriu a proposta da vivência de espiritualidade no cotidiano, no dia a dia de nossas vidas.

Na lição O homem no mundo2, Kardec traz à baila uma mensagem espiritual, onde o Espírito, que se denominou Um Espírito protetor, propôs a necessidade de purificar os nossos corações e santificar os nossos atos, mas convivendo com os homens do nosso tempo.

Não julgueis, todavia, que, exortando-vos incessantemente à prece e à evocação mental, pretendamos vivais uma vida mística, que vos conserve fora das leis da sociedade onde estais condenados a viver. Não; vivei com os homens da vossa época, como devem viver os homens. Sacrificai às necessidades, mesmo às frivolidades do dia, mas sacrificai com um sentimento de pureza que as possa sacrificar.

Sois chamados a estar em contato com espíritos de naturezas diferentes, de caracteres opostos: não choqueis a nenhum daqueles com quem estiverdes. Sede joviais, sede ditosos. (…)

Essa notável lição nos remete à proposta do Cristo de viver no mundo sem ser do mundo.

Cabe-nos, portanto, a missão de realizar o melhor, cumprindo o dever moral em cada situação, por mais simples que seja, e com as pessoas que encontrarmos, deixando, no mínimo, uma palavra de esperança, ou uma vibração de felicidade que as contagie.

Quando analisamos a vida de grandes missionários do bem, encontramos esses gestos, menores ou maiores, mas que refletem esse compromisso de viver rico de espiritualidade no dia a dia, e, às vezes, nas situações mais singelas.

Recordo-me de uma história de Chico Xavier que, ao comprar tomates na feira, sempre escolhia um bom e um ruim, e o feirante lhe perguntou o motivo dessa conduta. Chico respondeu que se escolhesse só os bons, o próximo que chegasse não teria tomates de boa qualidade para levar.

Seguindo ainda os passos luminosos de Chico, lembro que, em muitas manhãs, tomava seu cafezinho num bar, onde só havia bêbados. Mas ele ali levava sua boa vibração, sua palavra gentil, criando afinidade com alguns deles que, depois, se sentiam à vontade para buscar o socorro espiritual na Casa Espírita que Chico frequentava.

Assim sendo, é no dia a dia que demonstramos nosso patamar evolutivo, nosso empenho por sermos uma pessoa melhor, mais compromissada com o bem, vivendo as frivolidades do cotidiano, mas sem perder a consciência de que somos Espíritos imortais acendendo a própria luz.

Tanto é essa a proposta maior da vida que, de forma exemplificativa, cito dois livros que merecem o nosso estudo, pois focam a vivência do bem e da ética nas situações comuns da vida: Educação e Vivências, do Espírito Camilo, através da mediunidade de José Raul Teixeira (editora Fráter), e Conduta Espírita, do Espírito André Luiz, através da mediunidade de Waldo Vieira (editora FEB).

Como temos nos comportado no cotidiano do trabalho, da intimidade doméstica, do interior do templo religioso, durante as viagens de férias, diante das pessoas que passam por nós na via pública, nos velórios?

Há necessidade de sermos mais gentis e afáveis com todos, sorrir mais e usarmos a palavra para levantar o ânimo das pessoas, atentos àquelas que estão sofridas e carecem de nosso suporte amoroso.

Não podemos nos omitir diante do sofrimento…

Temos que ser um bom cristão onde estejamos…

O bem tem que predominar em nossas atitudes…

Temos que evitar os altos e baixos da emoção, procurando ser mais estáveis na alegria e no bem…

Não podemos perder o ânimo de construir um mundo melhor…

Jamais desperdiçar as oportunidades do cotidiano para expressar nossa espiritualidade e identificação com as propostas do Cristo…

Diante daqueles que nos odeiam façamos silêncio e oremos por eles…

Não tenhamos dúvida de que no cotidiano é que promovemos o bom combate, procurando sempre fazer o melhor, ousando no bem.

Reflitamos sobre a mensagem da benfeitora Joanna de Ângelis3: A cada instante, a vida se expressa dentro de um esquema que te surpreende.

Procura descobrir a mensagem que te está sendo revelada. Dependerá de ti o esforço de hoje para a tranquilidade de amanhã.

Resolve os problemas existenciais simples ou complexos com cuidado e gentileza, a fim de não produzires lesões emocionais noutrem. (…)

Onde estejas, como te encontres, como te apresentes, recorda que estás construindo o Reino de Deus no coração, a fim de que reflita no teu entorno e se inicie naqueles com os quais convives. Fonte:  Mundo Espírita (FEP)


Alessandro Viana Vieira de Paula


Referências:
  1. Franco, Divaldo Pereira. Impermanência e Imortalidade. Pelo Espírito Carlos Torres Pastorino. Rio de Janeiro: FEB, 2004. cap. Iluminação para a ação.
  2. Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 118. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001. cap. XVII, item 10.
  3. Franco, Divaldo Pereira. Luz nas trevas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2018. cap. 5.
 

22 maio 2019

Pretos Velhos – Richard Simonetti



PRETOS VELHOS


1 – O que dizer da manifestação de pretos velhos no Centro Espírita, com seu linguajar peculiar? Não devem ser estimulados a mudar a postura, instruindo-se?

Parece-me que a evolução não tem nada a ver com a expressão física ou linguística. Espíritos que se manifestam como pretos velhos podem ser muito evoluídos, tanto quanto branquelos podem ser atrasados.

2 – O problema é quando Espíritos apresentam-se como orientadores. Fica complicado aceitar que um mentor não tenha aprendido a falar.

Kardec orienta que devemos considerar o conteúdo, não a forma. Respeitando a opção do Espírito, tudo o que nos compete avaliar é se sua mensagem guarda compatibilidade com os princípios espíritas.

3 – Não devemos, portanto, opor resistência à manifestação de pretos velhos, índios, caboclos?…

Não vejo motivo para cultivar preconceitos, mesmo porque, não raro, Espíritos dessa condição, menos esclarecidos e ainda vinculados às tradições da raça, manifestam-se para serem ajudados, não para receberem lições de português.

4 – E se estivermos diante de um condicionamento mediúnico, médiuns falando como pretos velhos por imitação?

É um problema que compete ao dirigente resolver, avaliando se está diante de manifestação autêntica ou de mero condicionamento a partir da influência de outros médiuns. Não costuma acontecer com médiuns que se preparam adequadamente em cursos específicos sobre mediunidade.

5 – Diante de uma manifestação autêntica, se o preto velho é um Espírito evoluído, não será razoável que se manifeste com linguagem escorreita, sem maneirismos?

Penso que não devemos impor condições ao manifestante. Os Espíritos desencarnados, quando evoluídos, podem adotar a forma e o linguajar que lhes aprouver. É uma opção e um direito.

6 – Por que o fazem?

Pretos velhos revivem, nas manifestações, o tempo em que estiveram em regime de escravidão, que lhes foi muito útil, ajudando-os a superar o orgulho que marca o comportamento humano. É uma homenagem que prestam à raça negra e um exercício de humildade.

7 – Quanto à morfologia perispiritual, tudo bem. Quanto à palavra, não seria interessante usar uma linguagem atual, não africanizada?

Pode acontecer, mas aí vai depender do próprio grupo e de uma adequação dos médiuns. O Centro Espírita Amor e Caridade, em Bauru, foi orientado desde sua fundação, em 1919, por uma corrente africana. Seus representantes, em dado momento, observando a evolução do grupo, na década de 40, disseram: Pretalhada vai vestir casaca. Anunciavam por esta metáfora que a partir daquele momento eliminariam as expressões africanizadas, o que de fato ocorreu.

8 – Devemos, então, admitir que esses Espíritos façam uma adequação do linguajar, de conformidade com as tendências ou necessidades do grupo?

Exatamente. Um confrade, médium vidente, visitou certa feita um grande terreiro de Umbanda, em Vitória, Espírito Santo. Viu algo que o perturbou: o Espírito Frederico Figner, que foi dedicado diretor da Federação Espírita Brasileira, manifestar-se como um preto velho. Julgou estar tendo uma alucinação e logo esqueceu. Algum tempo depois, em visita a Uberaba, ouviu alguém perguntar a Chico Xavier por onde andaria Frederico Figner. E o médium: Anda dando assistência a um terreiro de umbanda em Vitória, no Espírito Santo.

Richard Simonetti é escritor, palestrante espírita e vice-presidente do CEAC (Bauru-SP). Também é diretor de divulgação da Doutrina Espírita, da mesma entidade.