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30 junho 2019

O direto a evolução - Armando Correa de Siqueira Neto



O DIREITO A EVOLUÇÃO


A Lei de Atração entre os seres humanos demonstra ser a evidência acerca da qualidade do estado em que nos encontramos no gráfico evolutivo, pois, ao que tudo indica, somos todos seres inferiores. Se os holofotes dos fatos incidem sobre o considerável volume de transgressões existente na atualidade — da mentira prejudicial à violência que traumatiza ou extingue —, por mais que tantos padeçam pelo conflitante medo e inquietante mal-estar da convivência tão marcada por extremos de mentalidades, ainda assim nos encontramos na mesmíssima escola, e o que varia, observa-se, é o grau de avanço no qual se situa cada aluno.

Embora existam fileiras iniciais na classe, é na equivalente coexistência que o pessoal do fundão busca, mesmo sem o perceber, dar novos passos em direção aos confins da espiritualidade à luz da consciência; esta, caríssima de se obter por sua natureza transformadora, cuja exigência impõe colossal esforço, além de dedicação por incontável tempo.

Os espíritos, sempre estudantes na escola da vida, mantêm-se inquietos e provocadores uns aos outros, sobretudo àqueles em que os graus de desenvolvimento são distantes e aversos, aproximando-se, no movimento inverso, quando a sutil atração faz encontrar seus pares naturais mediante a similaridade pertinente. Exemplo interessante, o Brasil e seu descontrole relacionado aos crimes de toda ordem, manifesta forte atração pelo ingresso reencarnatório de espíritos significativamente atrasados, cuja moral lhes escapa com facilidade desde a infância, dificultando a luminosidade ética adulta de se instalar com a devida lucidez, restando, pois, a obscura ignorância como obstinada companhia e a deficiente educação a corroer as oportunidades. Ainda que outros países denominados de primeiro-mundistas possam revelar o seu quinhão no submundo do atraso ao baixar as guardas da vigilância, a sua maioria populacional contida, e ajustada aos moldes civilizatórios, impede o volumoso fluxo de renascimentos de tais entidades que abundam em oportunidades espirituais e geográficas qual o mapa brasileiro.

Todavia, a visão global pode nos contemplar com importantes aspectos neste panorama de apreensões, os avanços tecnológicos, quais os remédios cujas substâncias químicas tomaram o lugar da fé de outrora (não houve soma, só subtração), debilitando o uso de “poderes” naturais interiores, enfraquecendo, assim, os “milagres” de cura e de apoio mútuo às necessidades que também aproximam (e influenciam o desenvolvimento) uns aos outros. E, ainda, os avanços materiais relacionados ao conforto e as facilidades, mas, de irremediável priorização quanto ao status, à absurda competição além da conta, e da ilusória e desmedida ganância para atingi-los em nome do ego que tanto busca o troféu da importância própria diante do vazio que as relações humanas, grosso modo, atingiram em tempos de inebriante superficialidade e falta de profundo propósito.

Ainda, a explosão demográfica que concentrou gente demais em grandes centros e regiões e ofereceu recursos naturais de menos (e sua disputa mundial), a não ser através das gigantescas corporações comerciais que se aglutinam e se tornam cada vez mais tão poderosas quão assustadoras, no controle da qualidade de seus produtos, notadamente os alimentícios, e na quantidade que teima em não chegar aos subnutridos, uma massa humana que assusta ao vociferar seus gementes números: mais de um bilhão ao redor do triste planeta, segundo dados da ONU – a Organização das Nações Unidas. Salve-se quem puder…

São medonhas notícias, mas elas talvez carreguem uma inevitabilidade em seu bojo? Por ventura não é em meio à tamanha agitação social e caótico vendaval psicológico que os espíritos encontram terreno fértil para evoluir mais do que o comum? Quanto pior, maior a possibilidade de evoluir? Provas difíceis atestam maior honraria aos estudantes zelosos, e os promovem aos vizinhos e prósperos passos? Quem quer aproveitar a ocasião? E, ao desfrutá-la, quem estenderá a mão ao próximo, para que ele também se adiante e enriqueça a teia comum que nos une, fazendo ganhar ainda mais mutuamente? Contudo, e se estiver muito difícil para renovar o fôlego, imprescindível semente que faz florescer o jardim da perseverança?

Na intolerância de tal convívio (não nos esqueçamos do débito cármico ao qual estamos cativos e somos direcionados naturalmente), a saída estratégica, pergunta-se, não é se distanciar no que for possível, e sacudir as nossas sandálias que eventualmente carreguem o pecaminoso pó de qualquer resquício culpável? Vale o provérbio “os incomodados que se retirem”, em certos casos, defensivamente — quem não há de tirar o espinho que por ventura tenha entrado no dedo? A afronta, sob o manto do desejo de encarcerar ou de exterminar o lado que se opõe, a despeito de ser uma resposta defensiva ao temor, é fruto de rebelde cegueira daquele que “se esquece” que já esteve em tal posição um dia, e que, com toda justiça que nos cerca, merece as chances de tentar progredir, cuja centelha espiritual, sempre disponível em potência, permite alcançar o sagrado momento do ato, em repetidas inspirações de descoberta pessoal evolutiva.

Compartilhar do mesmo educandário, ainda que ligados a divergentes consciências e riscos, portanto, é um direito assegurado pela amorosa e paciente lei evolutiva, dado que sempre estaremos, com as nossas patinadas estudantis, um nível abaixo de um próximo já ocupado na escalada de tantos espíritos que, por seu mérito (não obstante terem de conviver com outros de peculiaridade inferior), também servem de exemplo e podem influenciar e atrair ao crescimento através de tais relações essenciais.


Armando Correa de Siqueira Neto


29 junho 2019

Mágoa e Perdão - Nilton Moreira,



MÁGOA E PERDÃO


Um dos mais belos gestos que podemos praticar é o perdão. Ele pode ser ostensivo ou de foro íntimo, pois que muitas vezes a pessoa que estamos perdoando nem precisa saber que o estamos fazendo, já que em muitos casos quem nos ofende muitas vezes nem sabe que o fez e não está preocupado com nossa atitude. Fazem o mal sem saberem as consequências.

Sempre dizemos que o perdão liberta, mas principalmente a quem perdoa, pois vivermos com mágoa pelo mínimo tempo que seja causa um grande mal ao organismo físico. A mágoa de alguém se assemelha a tomarmos um veneno e querer que o outro morra.

Quando perdoamos nos sentimos mais leve, é como se nos liberássemos de algo que nos estava entravando a capacidade de seguir em frente. A mágoa corrói, é sentimento que de momento em momento nos vem à mente e ocupa o nosso raciocínio nos reportando a uma energia pesada passada, fazendo a gente reviver novamente fato perturbante.

O exercício do perdão só existe em razão de conservarmos em nós magoas.

Mas o perdão também pode ser exercido sem existir a mágoa. Isto acontece quando nós é que fomos à causa do mal realizado e assim devemos então nos perdoar. Cometemos erros que muitas vezes apenas nós sabemos e ficamos entristecidos todas as vezes que nos lembramos do cometido, e isto nos causa um mal estar. Quando é assim, é momento de nos perdoarmos e seguir em frente.

Se o que cometemos tem reparação, o façamos, mas se não, deixemos que os próprios desígnios de Deus se encarregue de providenciar no resgate que certamente acontecerá no momento propício.

O perdão é tão importante que Jesus ao ser questionado sobre ele, disse que devemos perdoar setenta vezes sete, isto é, perdoar sempre, até por que pedimos perdão ao Criador e recebemos sempre o perdão Dele, ocasião que recebemos nova oportunidade de vida para proceder aos devidos reparos.

O perdão é algo tão sublime e faz parte dos sentimentos dos adultos, já que é nesta fase que ele seja possível de ser entendido e aplicado, em razão da capacidade intelectual do ser pensante, pois notemos que uma criança não dispõe desta capacidade. É só verificar quando contrariamos uma criança, ela custa, ou às vezes não esquece o que lhe fizemos.

A partir do momento que perdoamos a quem nos fez mal, liberamos essa pessoa de ter de nos encontrar em vida futura para resgatar o mal que nos foi feito. Quer dizer: não vamos nos encontrar em vida futura, o que é benéfico para nós, pois não sabemos se numa próxima vida concluiríamos a desavença.

Perdoemos sempre. Isso será melhor para nós e enaltecedor ao Olhos de Deus.


Nilton Moreia 
Coluna Semanal Estrada Iluminada 
Fonte: Spirit Book


28 junho 2019

Estamos esquecidos - Orson Peter Carrara



ESTAMOS ESQUECIDOS


No livreto O Espiritismo em sua expressão mais simples, da FEESP, de Allan Kardec, que é dividido em 3 partes (Histórico do Espiritismo, Resumo do Ensinamento dos Espíritos e Máximas extraídas do ensinamento dos Espíritos, além das Notas), encontramos essas preciosidades que parecem esquecidas de todos nós na atualidade do movimento espírita:

(transcrevo pequenos trechos parciais)

a) Item 35 no item “Máximas”: O objetivo essencial do Espiritismo é o melhoramento dos homens. Não é preciso procurar nele senão o que pode ajuda-lo para o progresso moral e intelectual;

b) Item 36 no mesmo item: O verdadeiro espírita não é o que crê nas manifestações, mas aquele que faz bom proveito do ensinamento dado pelos Espíritos. Nada adianta acreditar se a crença não faz com que se dê um passo adiante no caminho do progresso e que não o faça melhor para com o próximo.

c) Item 38, continuando: A crença no Espiritismo só é proveitosa para aquele de quem se pode dizer: hoje está melhor do que ontem.

d) E para concluir as transcrições, no item 60: Com o egoísmo, os homens estão em luta perpétua; com a caridade, estarão em paz (...). Estamos esquecidos dessas orientações? Por que estamos nos perdendo tanto em polêmicas e discussões absolutamente dispensáveis, que só desviam o foco do principal objetivo da Doutrina: nosso melhoramento moral. Quanta discussão vazia, quanta perda de tempo, entre acusações e disputas absolutamente dispensáveis??!!

Temos um tesouro nas mãos, com o dever de espalhá-lo em benefício da humanidade!

Enorme responsabilidade essa! E ficamos em disputas internas, em acusações e polêmicas desnecessárias, absolutamente dispensáveis, desviando focos e desvirtuando objetivos.

Melhor não será prestarmos atenção nessas máximas e concentrarmos esforços para a proposta do Espiritismo. Agora que o filme Kardec desperta interesse, exatamente pela movimentação na mídia, deverá naturalmente haver uma demanda maior nas instituições.

Estamos preparados para atender essa nova demanda? Analisemos com imparcialidade para responder: estamos preparados, estruturados? OU anda estamos em discussões vazias, concorrendo opiniões e pontos de vistas?

O que verdadeiramente buscamos no Espiritismo? Com que objetivo? Quais nossos propósitos? Não é melhor despertarmos desses pesadelos e agirmos na direção do bem? Que autoridade tenho para questionar isso? Nenhuma, também sou um aprendiz, necessitado igualmente desse olhar interno, mas entristecido do esquecimento de nosso dever maior de estudar e viver a Doutrina Espírita, embalados que estamos pelas ilusões da vaidade, da disputa de opiniões e de posturas personalistas que ainda imperam em nós.... Voltemos a estudar Kardec para viver o Espiritismo. A pergunta é para mim, para você, para todos nós: estamos esquecidos?


Por Orson Peter Carrara


27 junho 2019

Exorcismo - Érika Silveira




EXORCISMO


Paralelamente, criou-se uma grande polêmica em torno do assunto que divide opiniões e crenças. O tema ultrapassou as barreiras da Igreja e invadiu o mercado literário, as produções cinematográficas e programas de TV. As evidências mostram que a existência e atuação dos espíritos (que recebem diversas nomenclaturas, de acordo com cada credo) sempre exerceram fascinação sobre as pessoas.

A palavra exorcismo significa oração e cerimônia religiosa com que se esconjura o demônio, os espíritos maus etc.

Nas culturas egípcia, babilônica e judaica, um grande número de doenças e calamidades eram atribuídas à ação dos demônios, sendo que o exorcismo era adotado como um dos meios de afastá-los. Com o reconhecimento oficial do cristianismo pelo imperador Constantino, os exorcismos, realizados informalmente por qualquer cristão, foram institucionalizados. Segundo a Igreja Católica Apostólica Romana, os métodos para afastar o "diabo" do possesso teriam sido ensinados por Jesus Cristo aos seus discípulos. Os métodos adotados são vários, tais como a utilização da água benta, imposição das mãos, conjurações, sinais da cruz, orações, salmos, cânticos, entre outros.

A Idade Média é conhecida como um período de medo e perseguições a todos aqueles que contradiziam os princípios da Igreja. Os chamados feiticeiros e bruxos foram punidos e queimados nos Tribunais da Inquisição e qualquer traço que fosse considerado como paganismo era combatido rigorosamente, a fim de manter a todo custo o monopólio da cultura que lhe era ideal e que não violasse seu poder político e religioso. Aplicava-se, além dos métodos tradicionais de exorcismo, chicotadas e até a pena de morte na fogueira. O caso mais famoso é o da médium Joana D’Arc, considerada bruxa.

Embora a Igreja Católica sempre tenha afirmado a existência das possessões, para os mais ortodoxos, os exorcismos ordinários ainda são práticas raríssimas e só permitidas mediante permissão episcopal a sacerdotes muito experientes, pois acreditam que Jesus tenha confiado autoridade espiritual à Igreja para libertar as pessoas do domínio das forças malignas. Somente na ausência de um sacerdote é que uma pessoa leiga poderia realizar o exorcismo, claro que com a permissão do clero. Para tanto, crêem ser fundamental, antes de dar início ao ritual, certificar-se de que se trata mesmo da presença do demônio e não de uma doença, principalmente psíquica, cujo cuidado pertence à ciência médica.

Por outro lado, com o passar dos séculos, surgiram correntes mais liberais, como é o caso do movimento carismático, que permite o exorcismo como uma prática mais constante.

Os demônios


Na visão católica, os demônios representam anjos caídos por causa do pecado, providos de grande inteligência e poder, que utilizam a astúcia para desviar a humanidade do caminho de Deus.

A tentação e a expulsão de Adão do paraíso, narrada pelo Antigo Testamento, reconhece a atuação do demônio na figura sagaz da serpente. Mas é no Novo Testamento que se encontram as referências aos chamados exorcismos, praticados por Jesus e seus discípulos. As citações referem-se à expulsão maléfica do corpo de possessos, e da cura de enfermidades atribuídas à ação do demônio. Os exorcismos, realizados pelos evangelistas, aparecem como forma ilustrativa da vitória de Jesus sobre Satanás, ou seja, do bem contra o mal. Na verdade, a Igreja distorceu a idéia do demônio, cuja origem vem do termo grego daimon, que significa espírito, gênio. Ou seja, não tem nenhuma relação com um ser maligno.

Na Era Moderna


O racionalismo do século XVIII conseguiu explicar muitos mistérios supostamente sobrenaturais, o que se intensificou com a utilização do hipnotismo e da psicologia no século XIX. Felizmente, a liberdade de expressão evoluiu junto com a humanidade. Diversas correntes de pensamentos e religiões puderam manifestar-se com mais liberdade.

No novo século, tanto a Igreja Católica, quanto algumas denominações protestantes admitem exorcismos ordinários. Um dos padres exorcistas mais famosos da atualidade é Gabriele Amorth, com três livros publicados sobre o assunto, entre eles Um Exorcista conta-nos, escrito em 1990 e traduzido para 94 idiomas. O padre é considerado uma grande autoridade em exorcismo. Ele diz que os exorcistas fazem parte da história da humanidade e que a influência diabólica aparece em todas as religiões. Em entrevista à revista Catolicismo, em agosto de 2000, o padre relata que as pessoas podem libertar-se da possessão com o exorcismo, que é uma oração oficial da Igreja, mas reservada aos exorcistas, que são pouquíssimos. Outra maneira, que é permitida a todos, são as orações de libertação.

Além da visão católica sobre o exorcismo, existe a ciência, como é o caso da parapsicologia, que visa discernir os fenômenos naturais e paranaturais dos de origem espiritual.

Nos EUA e na Europa tem crescido o interesse da população pelo ocultismo ou pelas ciências sobrenaturais. O grande número de livros publicados, artigos, cursos e palestras provam que não só o exorcismo, mas a reencarnação, a vida após a morte e temas ligados à espiritualidade despertam, cada vez mais, a atenção de um número maior de pessoas em todo o mundo.

Cinema e TV 

O exorcismo também virou tema de programas de TV. Em horário nobre e em rede nacional são exibidas cenas de fiéis "possuídos" e que são submetidos a rituais de exorcismo. Se são casos verídicos ou momentos de encenação de pseudo-atores cabe a cada um usar seu bom senso e perceber a verdade.

Não somente na TV, mas também nas telas do cinema, o exorcismo tem sido ao longo do tempo tema de vários filmes de terror e suspense produzidos em Hollywood. O filme O Exorcista foi baseado no livro de William Peter Blatty, de 1971. Segundo o autor, o livro foi baseado em um caso real de exorcismo, ocorrido nos EUA em 1949. Em breve será lançado o quarto episódio da série, que tem por título Exorcista: O Começo. Na verdade, a problemática da obsessão tem sido relatada na mídia de forma aterrorizante e macabra, o que, ao invés de levar esclarecimento, causa mais distorção da realidade.

A visão espírita


Segundo o espiritismo, a possessão não é um fenômeno sobrenatural, devido à atuação do demônio, mas sim, um processo que obedece a uma lei natural: a da sintonia mediúnica. A comunicação entre encarnados e desencarnados se manifesta por intermédio da mediunidade, muitas vezes mal conduzida. A atuação do "demônio", é compreendida na doutrina espírita como a influência de espíritos perversos ou simplesmente desequilibrados sobre os encarnados. E mediante a lei da sintonia, isso significa que as pessoas atraem os afins. Essa influência pode se tornar tão grande a ponto de gerar um processo obsessivo. Sabe-se, também, que a obsessão pode se apresentar em diversos graus, ou seja, de uma obsessão simples a uma fascinação ou uma subjugação, que pode acarretar conseqüências muito mais graves se não tratada adequadamente. O capítulo XXIII de O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, traz explicações detalhadas e completas sobre os gêneros de obsessão e como identificá-las.

O capítulo XXVIII, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz: "A obsessão é a ação persistente que um mau Espírito exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diferentes, desde a simples influência moral, sem sinais exteriores sensíveis, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais".

Os espíritos recomendam a prece, feita com sinceridade, como o mais poderoso antídoto contra os espíritos obsessores e, é claro, a reforma íntima. Transformando seus sentimentos e pensamentos, o obsediado deixará de ser perturbado por espíritos obsessores. Muitas vezes, para assegurar a libertação verdadeira, é preciso fazer brotar no espírito obsessor o arrependimento e o desejo de mudança. Este é o objetivo maior das sessões de desobsessão praticadas nos centros espíritas e umbandistas.

Diz a questão 477 de O Livro dos Espíritos: "As fórmulas de exorcismo não têm qualquer eficácia sobre os maus Espíritos?" "Não. Estes últimos riem e se obstinam, quando vêem alguém tomar isso a sério".

Torna-se claro, por meio desses esclarecimentos contidos nas obras da codificação, de que nada adiantam os rituais de exorcismos se forem praticados de forma mecânica, sem fé e vontade sincera de libertação interior dos que procuram ajuda para os males do espírito.

Um caso de exorcismo


Em agosto de 1973, foi comunicado ao Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas – IBPP – um caso singular de poltergeist. O comunicante foi um sacerdote da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em São Paulo. Conhecemos este sacerdote há muitos anos. Trata-se de pessoa culta, inteligente e idônea. Entre suas atividades, ele pratica o exorcismo, para o que possui excepcional dom inato, tendo dado inúmeras provas de suas faculdades. O relato a nós fornecido é o seguinte.

Certa noite, o referido sacerdote foi acordado pelo administrador da Irmandade. Este fora despertado por insistentes batidas na porta da igreja. Ao descer para atender a pessoa que o procurava, o sacerdote deparou-se com um cidadão transtornado, de pijama e descalço. Este agarrou-se ao sacerdote e solicitou-lhe que fosse à sua casa, sem demora, pois lá estava se manifestando um caso de assombração!

O sacerdote procurou acalmá-lo, visando primeiro inteirar-se a respeito do que se passava realmente. Pediu ao homem para contar-lhe mais detalhadamente o que estava acontecendo em sua casa. A resposta foi a seguinte: "Desde a meia-noite, estão atirando tijolos nas paredes da sala de visitas..."

Antes que ele concluísse a sua narração, o sacerdote recomendou-lhe que chamasse a polícia. Aí o homem completou aflito: "Não vai resolver, pois a sala está completamente fechada, as janelas e as portas da casa estão trancadas, mas os tijolos aparecem lá dentro, batem nas paredes e caem espatifados no chão, Eu apanhei alguns pedaços e são os mesmos tijolos. Ajude-me pelo amor de Deus!"

O homem falava sinceramente, manifestando grande pavor e aflição. O sacerdote ainda quis demovê-lo da idéia de exorcizar a sua casa àquelas horas (eram quatro da madrugada). Prometeu que iria a sua residência assim que raiasse o dia. Mas o homem insistiu, disse que não voltaria para a casa sem o sacerdote, afirmando ficar ali na igreja o resto da madrugada e ir, pela manhã, junto com o sacerdote para resolver o caso. Diante da insistência, ele resolveu vestir-se, e foi ver o que se passava realmente. O homem morava na Vila das Mercês, e viera de lá a pé.

O sacerdote conta que, ao chegarem, encontrou no portão da casa a esposa e a filha do cidadão, ambas de camisola e tiritando de frio. Entraram, e realmente ele viu inúmeros pedaços de tijolos espalhados pelo chão da sala. Nas paredes viam-se marcas do impacto dos tijolos. Sendo um sensitivo bem treinado, o sacerdote sentiu arrepios característicos da presença de forças sutis que perpassavam pelo ambiente. Então, imediatamente iniciou as orações exorcistas e aguardou os acontecimentos.

Passaram-se longos minutos de expectativa, sem que acontecesse qualquer fenômeno. Finalmente, os fenômenos se reiniciaram, e os tijolos começaram a surgir e a espatifar-se contra as paredes. Após três ou quatro impactos, o sacerdote aprofundou as orações e, de acordo com o ritual exorcista, ordenou que o causador dos distúrbios se manifestasse. Em menos de um minuto, as tijoladas cessaram, o próprio dono da casa entrou em transe e começou a falar: "Eu sou o espírito Maria Luiza. Não poderia descansar em paz se não voltasse para dizer-lhes que a minha verdadeira mãe, aquela que me gerou, não está morta como como vocês pensam. Ela está internada em um sanatório psiquiátrico no Estado do Rio de Janeiro, cidade tal, e registrada sob número tal, qualificada como de origem ignorada. Não fiquem tristes, porque vocês sempre me amaram como uma verdadeira filha e ainda os estimo como meus verdadeiros pais. Agora posso descansar em paz. Adeus e que Jesus os recompense; cuide bem da minha irmã Maria Antônia".

Logo após, o referido senhor saiu do transe e perguntou o que estava acontecendo. Nisso, ele viu sua outra filha abraçada à sua esposa, chorando e dizendo: "Não, não, vocês são os meus verdadeiros pais".

O sacerdote, a essa altura, já não estava entendendo mais nada. Foi preciso que o dono da casa, após ter sido cientificado do ocorrido, esclarecesse aquele drama: "Padre, uma das minhas irmãs teve a infelicidade de ser seduzida por um mau indivíduo. Após engravidá-la, abandonou-a. Como resultado, ela se desequilibrou totalmente e teve de ser internada em um sanatório psiquiátrico. Nasceram-lhe duas gêmeas: Maria Luiza e Maria Antônia. Como não tínhamos filhos, resolvemos registrar as crianças como nossas filhas."

"Maria Luiza faleceu há três meses atrás. Minha irmã permaneceu oito anos sendo internada periodicamente em vários hospitais. Do último em que se encontrava, ela fugiu. Foram empreendidos intensos esforços e inúmeras buscas para encontrá-la. Finalmente, não conseguindo mais localizar o seu próprio paradeiro, concluímos que provavelmente ela teria morrido. Muito tempo já se passou, pois a Maria Luiza – que faleceu há três meses – e a Maria Antônia já fizeram 16 anos."

Todos estavam comovidos e choravam diante do que acabava de ser revelado pelo espírito Maria Luiza: aquele senhor e sua esposa eram, na realidade, os tios das gêmeas, fato que as garotas ignoravam totalmente. A verdade só foi revelada após a morte de uma delas. Paralelamente, o casal também ignorava que a mãe das meninas ainda estivesse viva.

O referido senhor procurou investigar a exatidão das informações fornecidas pelo espírito. Foi à Baixada Fluminense e, na cidade indicada, encontrou o hospital mencionado na comunicação. Uma vez ali, deu o número fornecido pelo espírito, e na ficha do arquivo realmente constava: "Origem e qualificações ignoradas". Após falar com o diretor, foi –lhe permitido avistar-se com a paciente. Para seu espanto, reconheceu a irmã que fora dada como falecida e que, no entanto, se achava internada há mais de sete anos! Infelizmente, ela estava totalmente alienada e sem esperança de cura mental.

Esse caso é um fato verídico, cujos elementos comprobatórios foram-nos comunicados pelo sacerdote, pessoa de absoluta idoneidade. Apenas ocultamos os nomes dos protagonistas e os das meninas são pseudônimos. Agora, vamos à análise do caso.

Trata-se de um fenômeno típico denominado popularmente poltergeist. Vocábulo, este, de origem alemã e que significa "Espírito barulhento, desordeiro etc..."

A parapsicologia ortodoxa não aceita a interpretação embutida na palavra poltergeist. A maioria dos parapsicólogos nega qualquer possibilidade da ação de espíritos sugerida na conotação espiritualista contida na denominação desse fenômeno. Prefere a sigla RSPK (do inglês: Recurrent Spontaneous Psychokinesis), ou seja: "psicocinesia espontânea recorrente". Em outras palavras, eles adotam uma posição materialista reducionista, isto é, atribuem os fenômenos de poltergeist à ação psicocinética de uma pessoa viva presente no local dos fenômenos. Essa pessoa acionaria inconscientemente os objetos, devido às suas faculdades paranormais psicocinéticas. Não aceitam a intervenção de agentes incorpóreos espirituais. A essa pessoa assim dotada e inconscientemente causadora dos fenômenos de poltergeist, dão o nome de epicentro.

De acordo com o posicionamento reducionista dos parapsicólogos ortodoxos, no episódio que acabamos de relatar, o dono da casa teria sido epicentro do fenômeno, pois o arremesso dos tijolos havia cessado enquanto ele esteve fora à procura do sacerdote. O poltergeist voltou à atividade novamente quando ele retornou à sala. Além disso, o referido senhor caiu em transe quando o exorcista ordenou que o "causador" dos fenômenos se manifestasse.

O estranho de tudo isso é o fato de, em lugar do "inconsciente" do epicentro se manifestar dizendo: "quem está aqui sou eu, o inconsciente do sr. Fulano de tal (o dono da casa)", ele disse que era a finada Maria Luiza, justamente a gêmea falecida! Além disso, o "suposto inconsciente", que se identificou como sendo o espírito Maria Luiza, sabia que a irmã do dono da casa ainda estava viva, e indicou o local onde ela poderia ser encontrada, fornecendo o nome da cidade, do hospital psiquiátrico, número e qualificação da interna! Coisas que o "consciente" do epicentro ignorava totalmente.

É verdade que não falta imaginação aos parapsicólogos reducionistas para criar as mais engenhosas teorias e assim enquadrarem tais fatos dentro dos estreitos limites de suas "crenças racionais". Todavia, diante dos fatos, preferimos aceitá-los como eles são. Desse modo, ousamos propor uma tese que, com igual direito, inclui a existência do espírito imortal, a sobrevivência da personalidade após a morte do corpo físico, e a possibilidade da comunicação do morto com o vivo.

Reforma íntima


Como podemos ver, nem sempre um espírito que se utiliza de meios grosseiros para chamar a atenção é um espírito perverso. Neste caso, o espírito que se manifestou teve, provavelmente, o apoio de espíritos superiores, que dominam as leis que regem o mundo atômico, desagregando e tornando a agregar moléculas. Não podemos nos esquecer que matéria é energia em estado condensado. Para obter maiores informações, leia a matéria sobre Apport e Endoport publicada na Revista Cristã de Espiritismo edição especial 05.

O que fica claro é que o maior exorcismo que podemos praticar é a nossa iluminação interior, equilibrando sentimentos e pensamentos, harmonizando nossos hábitos e conduta no dia-a-dia a fim de garantirmos nossa saúde e paz espiritual, imunes às ações deletérias dos espíritos perversos, os "demônios".



Escrito por Érika Silveira
Publicado na Revista Cristã de Espiritismo ed. 29


26 junho 2019

Déjà vu - Marco Tulio Michalik



DÉJÁ VU


A expressão déjà vu é de origem francesa e pode ser traduzida como "já visto". Como já ter estado em um determinado lugar ou já ter vivido certa situação presente, quando na realidade isto não era de conhecimento anterior. Em alguns casos ocorre a habilidade de predizer os eventos que acontecerão em seguida, o que é denominado premonição. Outras vezes, a pessoa pode determinar o tempo exato e o local onde a experiência original ocorreu.

Quando pensamos já ter visto um filme, lido um livro, conhecido uma pessoa, estado em um lugar sem nunca ter ido neste local, ficamos confusos, com dúvida, e temos a sensação de uma experiência déjà vu. Porém o déjà vu clássico nos dá a sensação de estranheza, de estarmos vivenciando uma experiência do passado.

Hans Holzer, em seu livro Vida Além Vida, descreve o seguinte: "a maioria dessas experiências déjà vu pode ser explicada com base na precognição. Uma experiência é prevista e não é registrada na hora. Mais tarde, quando a experiência se torna uma realidade objetiva e a pessoa passa por ela, de repente lembra-se "em um piscar de olhos" que já a conhecia. Em outras palavras, a maioria das experiências déjà vu nada mais são do que incidentes precógnitos esquecidos. Contudo, existe uma pequena parte dessas experiências que não pode ser explicada dessa maneira. Entre elas está em ir a uma cidade ou a uma casa pela primeira vez e prever com exatidão como é a casa ou a cidade – a ponto até de conhecer os cômodos, os móveis, a disposição de objetos e outros detalhes que estão muito além do âmbito da precognição normal. (...) Em geral, as experiências precógnitas são parciais e enfatizam certos pontos notáveis, talvez alguns detalhes, mas nunca todo o quadro. Quando o número de detalhes lembrado torna-se muito grande, temos que desconfiar sempre de que se trata de lembranças de uma encarnação passada".

A explicação médica

Os psicólogos e psiquiatras explicam que o sistema de memória temporal – que nos informa a idade, a data dos acontecimentos memorizados - sofre um lapso e nos informa como se fosse antiga uma memória que na verdade foi armazenada centésimos de segundos antes. Ou seja, você tem a sensação de já ter estado em um lugar, e já esteve mesmo, mas dois centésimos de segundos atrás, e fica achando que foi ontem ou há uma semana ou até anos.

Em 1955, Wilder Penfield fez uma experiência em que estimulava eletricamente lóbulos temporais, encontrando um bom número de experiências de déjà vu. As estatísticas mostram que cerca de 30% da população já teve alguma experiência déjà vu. Porém, este fenômeno ocorre com mais freqüência em indivíduos com distúrbios neuropatológicos, como a esquizofrenia e a epilepsia. Há também uma predisposição maior por fatores não patológicos, como fadiga, estresse, traumas emocionais, excesso de álcool e drogas.

É um assunto muito interessante, considerada a forma como o fenômeno se processa. Há diversas teorias sobre esse fenômeno, como a psicodinâmica, reencarnação e sonhos, ilusão epiléptica, holografia, distorção do senso de tempo e transferência entre hemisférios cerebrais. Na psicodinâmica, Freud dizia que o déjà vu resultava da lembrança de desejos inconscientes ou fantasias do passado que eram ativadas pela situação presente. Também o déjà vu poderia ser uma autodefesa, ou seja, nosso inconsciente processava a informação de que aquilo já havia acontecido, por isto, não devia temer, pois já havia passado por aquela experiência anteriormente. Essa teoria não explica os casos de premonição, nem de lembranças de datas e locais onde ocorreram eventos no passado e que ninguém conhecia. Nas teorias que associam o déjà vu a sonhos ou desdobramento do espírito, onde o espírito teria realmente vivido estes fatos, livre do corpo, surgiriam as lembranças de encarnações passadas, o que levaria à rememoração na encarnação presente.

Na ilusão epiléptica, há a teoria do dr. John Jackson, que associa o déjà vu a um sintoma de epilepsia psicomotora, devido à grande incidência de casos de "déjà senti" entre os pacientes epilépticos.

A holografia seria a memória que pode ser armazenada no cérebro como holograma tridimensional, em que pequenas partes de uma figura podem ser utilizadas para reconstruir o todo. Segundo essa teoria, o déjà vu ocorreria quando uma peça de um holograma presente fosse coincidente com outra peça de um holograma no passado. Ou seja, você vê uma foto de uma determinada cidade; tempos depois, você esquece estas imagens e as deixa armazenadas na memória como um holograma. Algum dia, quando você visitar essa cidade da foto, poderá ocorrer um déjà vu, por você se sentir familiarizado com as imagens, sem recordar-se de onde elas vêm.

Estado de percepção alterado

A distorção do senso de tempo é quando sem ter entrado ainda no estado de consciência, percebemos a situação ao nosso redor. Dessa forma, o tempo parece ser maior do que o normal. Quando entramos no estado de consciência, a situação que já havíamos percebido no estado inconsciente parece-nos uma lembrança do passado. A transferência entre hemisférios cerebrais significa a transferência de informações entre os dois hemisférios do cérebro, que normalmente ocorre em alguns milésimos de segundos. Porém, se esse tempo aumentar para cerca de um minuto, o hemisfério não dominante receberá a informação duas vezes, sendo uma diretamente e outra do outro hemisfério. Dessa forma, ele terá a sensação que os eventos presentes já aconteceram no passado.

Há carência de publicações e depoimentos sobre este assunto. Um rapaz descreveu sua experiência déjà vu na internet, num site renomado. Ele conta que no passado já sofreu catalepsia e teve muito déjà vu, que duravam desde dois a quinze minutos. Ele diz que em uma determinada época de sua vida teve que sair do Brasil e foi trabalhar em um posto de gasolina em Portugal. Um dia chegou um caminhão para abastecer. Enquanto ele se dirigia até o cliente, ativou-se espontaneamente um dèjá vu. Ele sabia que era um processo bioquímico e estava convencido de que aquela cena já tinha acontecido. Ele também podia pensar que a única coisa que não tinha acontecido era justamente ele saber que era um déjà vu. Então, em frações de segundos, pensou: "ora, aqui estou eu mais uma vez com esta ‘coisa’. Vou aproveitar para fazer um teste: se o déjà vu for informação somente do passado que está sendo processada por vias não convencionais, eu não serei capaz de adivinhar a quantidade de óleo diesel que o cliente vai desejar". Após ter esse pensamento extremamente rápido, aquela própria sensação de que tudo aquilo já tinha acontecido, modificou-se e passou a incluir também a sensação de que o cliente iria querer 2.000 escudos de combustível. Lembrou-se, enquanto se aproximava do caminhão, de que aquela quantidade era muito improvável, devido ele já estar acostumado a abastecer no mínimo 5.000 escudos para aquele tipo de veículo pesado. Foi tudo muito rápido e o cliente pediu 2.000 escudos. A sensação de déjà vu continuou, com a idéia de que aquilo já tinha acontecido, com exceção de sua operação mental discursiva; ele sabia que aquilo era um déjà vu e ele tinha livre arbítrio para alterar, seja para confirmar ou para prever o evento seguinte. Ele comenta que seu acontecimento poderia ser interpretado de forma diferente por um terceiro observador porque poderiam argumentar de que houve uma adivinhação, porém, antes de atender o cliente, ele digitou os 2.000 escudos na máquina de combustível, de forma que isto não poderia ser interpretado mais como uma simples operação mental inversa, devido ao fato de que o evento real se concretizou no devir de outras pessoas sem estado de déjà vu.

Experiências com o déjà vu

Como achei interessante seu depoimento, pedi, via e-mail, mais explicações. Essa pessoa me respondeu o seguinte: "um aspecto importante que gostaria de observar é que por muito tempo estive atento à percepção desta ocorrência o suficiente para poder discriminar quando há somente um déjà vu e quando ocorre a possibilidade de adivinhação concreta em torno de eventos particulares. Isto é, quando o déjà vu ocorre há em minha consciência um ‘discurso livre’ cujas operações mentais permitem inferências antecipadas sobre eventos futuros. Por outras palavras, naquele estado há um discernimento concreto do que é a sensação imediata do ‘já visto’ e do que é pensamento on-line sobre qual evento vai efetivamente ocorrer no futuro independente do déjà vu".

Relatos interessantes são encontrados sobre esse fenômeno. Isso não quer dizer que todas as respostas serão encontradas, mas poderão ter uma visão mais ampla do fenômeno e analisar com mais precisão as teorias defendidas nesta experiência específica.

Voltemos ao livro de Hans Holzer, numa história em que ele descreve a experiência déjà vu de um soldado: "durante a Segunda Guerra Mundial, um soldado se viu na Bélgica. Enquanto seus companheiros se perguntavam como entrar em determinada casa em uma cidadezinha daquele país, ele lhes mostrou o caminho e subiu a escada à frente deles, explicando, enquanto subia, onde ficava cada cômodo. Quando, depois disso, lhe perguntaram se havia estado ali antes, ele negou, dizendo que nunca havia deixado seu lar nos Estados Unidos, e estava dizendo a verdade. Não conseguia explicar como, de repente, se vira dotado de um conhecimento que não possuía em condições normais".

Devemos ter cuidado para que uma ilusão não se confunda com uma experiência déjà vu. O termo déjà vu se tornou popular dando amplo sentido a tudo que nos parece familiar. A experiência déjà vu é muito profunda e o sentimento é de estranheza. Devem ser separadas, as teorias de reencarnação, sonhos ou desdobramentos, das teorias de desejos inconscientes, fantasias do passado, mecanismo de autodefesa, ilusão epiléptica, entre outras, para melhor discernimento do que realmente é um déjà vu e o que é apenas uma ilusão de nossa imaginação fértil.


Escrito por Marco Tulio Michalik
Este artigo foi publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 35


25 junho 2019

Os bons e os maus - Momento Espírita



OS BONS E OS MAUS


Qual deve ser a postura dos que desejamos ser homens e mulheres de bem neste mundo irrequieto?

Certamente, aqueles que nos propomos a uma vida mais digna, mais interessada no bem comum, encontramos muitos desafios.

Há incompreensão, ingratidão e até indignação, por parte daqueles que pensam diferente.

Importante lembrar que não estamos em guerra uns com os outros. Estamos juntos buscando crescimento, evolução integral.

Assim, evitemos posturas separatistas, segregadoras e um tanto maniqueístas, que colocam de um lado bons e do outro os supostos maus.

No século III, o filósofo Mani ou Maniqueu, criou uma doutrina, que conhecemos sob o nome de Maniqueísmo, e que influenciou muitas correntes filosóficas e religiosas ao longo do tempo.

Segundo seus preceitos, há no mundo um dualismo eterno entre dois princípios opostos. De um lado o bem e de outro o mal, de um lado Deus e do outro o demônio.

Ainda conforme esse conceito, tudo que é matéria representa essencialmente o mal, enquanto o Espírito está ligado intrinsicamente ao bem.

A Doutrina Espírita nos deixa claro que a matéria é instrumento precioso de progresso, um importante meio de progredirmos.

Os desequilíbrios se dão quando nos ligamos, de forma excessiva ou quase exclusiva, ao que é apenas material e transitório.

Também nos ensina que não existe essa força poderosa oposta ao Criador, que lhe faz frente em igualdade. Afinal, Deus não criou nenhum ser destinado ao mal em sua essência.

O Universo e suas leis são bons, isto é, trabalham pela evolução de tudo e de todos.

O que seria então o mal? Esse mal que nos assombra os dias? Por que há tanta maldade em nós e naqueles que estão ao nosso redor?

Primeiro, importante saber que o bem é tudo o que está conforme a Lei de Deus. O mal, tudo o que é contrário. Assim, fazer o bem é proceder conforme a Lei Divina, que está inscrita na consciência humana. Fazer o mal é infringir essa Lei.

O mal é, portanto, uma infração à Lei natural. Consequentemente, toda ação maléfica gera a necessidade de correção, de ajuste.

O mal em nós não é eterno. Tem uma curta validade, uma vez que basta que nos esclareçamos um pouco mais, para que deixemos de praticá-lo intencionalmente.

Por isso, recebemos a inteligência, que nos compete desenvolver, pois é determinante para que saibamos distinguir melhor o que nos é bom e o que nos faz mal; o que é do bem comum e o que não é; o que está de acordo com as Leis Divinas e o que vai contra.

A opção pela infração é sempre pessoal. Os que somos maus o somos por vontade própria.

Então, precisamos educar a vontade. Esta é a razão de estarmos neste planeta: nos educarmos individual e mutuamente.

* * *

O sábio não critica o ignorante. Procura esclarecê-lo fraternalmente.

O iluminado não insulta o que anda em trevas. Busca, ao contrário, lhe iluminar o caminho.

O orientador não acusa o aprendiz. A ovelha insegura é a que mais reclama os cuidados do pastor.

O forte não culpa o fraco. Compromete-se a erguê-lo.

O cristão não odeia, nem fere. Segue ao Cristo, servindo ao mundo.


Redação do Momento Espírita, com base nas questões 629 a 646 de O Livro dos Espíritos de Allan Kardec, e no cap. 17, do livro Agenda Cristã, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ambos ed. FEB.


24 junho 2019

Trajes nos recintos espíritas - Jorge Hessen



TRAJES NOS RECINTOS ESPÍRITAS



Em determinada ocasião, à tarde, visitei uma casa espírita localizada num certo estado do litoral brasileiro. Naquele espaço “doutrinário” senti um grande desconforto quando desfilaram diante de mim algumas pessoas trajando vestuários arrojados e sensuais que avaliamos impróprios para o local.

Compreendemos que não há nos códigos espíritas quaisquer prescrições com regulamentos proibitivos, todavia, será que em nome da liberdade podemos fazer o que “der na telha” dentro do ambiente kardeciano?

Atualmente não há muitos textos debatendo sobre o “uso de roupa adequada no recinto de uma instituição espírita”. Apesar de ser assunto desinteressante para alguns, estamos convencidos de que os trabalhadores de uma casa espírita devem utilizar vestes de conformidade com os desígnios do ambiente. O bom senso determina isso!

Nos espaços do centro espírita é indispensável que seja cultivada a decência e o respeito entre frequentadores e trabalhadores, a fim de que decorra a máxima atenção às tarefas que são ofertadas na instituição. Os que aí convivem necessitam desenvolver discernimento e de maneira muito especial os que estão compromissados nos setores das reuniões mediúnicas, estes devem obrigatoriamente usar roupas aconselhadas.

Assim como em qualquer ambiente respeitável, deve ser sustentada a seriedade e o comedimento com o vestuário. Até mesmo nas programações de mutirões de limpeza, consertos e conservação das instalações os trajes devem ser sóbrios e adequados para a ocasião.

Por questões de sensatez deve-se evitar: shorts, bermudas, blusas decotadas sensuais, vestidos ou saias curtas, minissaias, calças apertadas seja para homens e seja para mulheres. Uma casa espírita não é passarela para espetáculos de vaidades terrenas e sim abrigo para meditações do espírito. Por isso, é importante vestir-se com decoro e simplicidade, sem prender-se à veneração do próprio corpo.

Critério e moderação garantem o equilíbrio e o bem-estar.

É inaceitável as pessoas procurarem as paragens de reflexões do Espirito envergando trajes lascivos. Até porque os Centros Espíritas são prontos-socorros para os doentes do espírito.

Os ensinamentos Espíritas respeitam o nosso livre arbítrio, mas isso não equivale afirmar que o Espiritismo aguente a baderna.

Centro Espírita sem boa orientação doutrinária é reduto de espíritos malévolos e o comportamento dos frequentadores e trabalhadores estabelece a harmonia ou a algazarra geral.

Devemos chegar a elas com trajes discretos e que não façam desviar a atenção dos frequentadores para a nossa pessoa. Uma roupa sensual pode causar transtornos em algum espírito menos evoluído.

As vestimentas sensuais não são apropriadas para quem deseja orar. Ao contrário do que se imagina, os mais pertinazes obsessores são os encarnados voluptuosos. Estes , na verdade, é que amofinam os Espíritos aventureiros do além.

Uma instituição espírita não é recinto para se aguçar a imaginação erotizante das pessoas improvidentes e sim paragem para aperfeiçoamento e sustentação da FÉ RACIONAL.

23 junho 2019

O Hospital toca as Feridas das Pessoas - Fernando Rossit



O HOSPITAL TOCA AS FERIDAS DAS PESSOAS


Recebi uma mensagem pelo WhatSapp que dizia mais ou menos o seguinte:

Paredes de Hospitais já ouviram preces mais honestas do que igrejas.

Já viram despedidas e beijos mais sinceros que aeroportos.

É fato: a dor e o desespero nos tornam mais humanos e cientes de nossas limitações.

Não enxergamos outra saída senão recorrermos a um Ser Supremo. 

Aquele que nos deu a vida se torna o Único com o poder de nos salvar.

E as pessoas capazes de nos ajudar são enviadas por Ele, são Seus representantes junto de nós.

É no Hospital que vemos um homofóbico ser salvo por um médico gay.

Uma médica fria e que teve tudo fácil na vida, salvando a vida de um mendigo.

É lá também que vemos na UTI um enfermeiro judeu cuidando de um racista.

Na mesma enfermaria é possível encontrar o policial e o criminoso recebendo os mesmos cuidados.

No hospital vemos um rico aguardando um transplante de um pobre desconhecido, muitas vezes esquecido e desprezado por ele.

Nessas horas o Hospital toca na ferida das pessoas, expondo a fragilidade humana.

Universos que se cruzam em um propósito Divino.

E nessa comunhão de destinos nos damos conta de que sozinhos não somos ninguém.

A verdade absoluta das pessoas, na maioria das vezes, só aparece no momento da dor ou na ameaça da perda.


Fernando Rossit
*com base numa mensagem de autor desconhecido

 

22 junho 2019

Gasparetto: o médium dos pintores invisíveis - Wilson Garcia



 GASPARETTO: O MÉDIUM DOS PINTORES INVISÍVEIS


Conheci-o no começo da década de 1970. Antes, havia conhecido seus pais, Zíbia e Aldo, que atuavam como expositores nos cursos da Federação Espírita do Estado de São Paulo, onde me matriculei com o desejo de aprofundar meus conhecimentos espíritas. Zíbia, na ocasião, já despontava com sua mediunidade psicográfica, tendo publicado dois livros: O amor venceu e O morro das ilusões. Já como integrante da equipe do jornal Correio Fraterno do ABC, recebi de Zíbia os direitos de publicação do livro Entre o amor e a guerra, que teve ali duas edições. Zíbia cancelou os direitos por conta da contrariedade que teve com uma crítica publicada no Correio, feita por especialista em literatura, apontando deficiências técnicas na obra. Nem a resenha ao lado, exortando as qualidades do conteúdo do livro foi suficiente para demovê-la da decisão. A partir de então, Zíbia passou a publicar seus livros em sua própria editora.

Estive mais próximo de Luiz Antônio Gasparetto depois que Elsie Dubugras entregou-me a responsabilidade de planejar e publicar o livro Renoir, é você?, obra bilingue cujo título resultou de um programa de tv veiculado na Europa, programa este que teve ampla repercussão e foi reprisado inúmeras vezes, no qual Gasparetto produz telas mediúnicas com a assinatura do conhecido pintor francês. Durante o período de preparação do livro, acompanhei Gasparetto em diversas apresentações na cidade de São Paulo, testemunhando de perto o extraordinário fenômeno, bem como reunindo-me com ele e Elsie por inúmeras ocasiões. O livro Renoir, é você? foi o primeiro publicado sobre a produção mediúnica de Gasparetto, mas é muito pouco conhecido hoje e sequer consta da bibliografia do médium. É assinado por Elsie, Gasparetto e Espíritos que possuem obras reproduzidas no livro.

A saga de Luiz Antônio teve em sua primeira fase a presença forte de Elsie Dubugras. Foi ela que o introduziu na Europa, abrindo as portas para que se tornasse conhecido mundialmente, como um fenômeno que chamava a atenção das pessoas nos vários países em que Gasparetto se apresentou, aumentando, de forma considerável, o interesse por ele no próprio Brasil. Elsie era a mão de ferro que imprimia ao médium uma rígida disciplina capaz de garantir as condições ideais para a produção do fenômeno e, sem dúvida nenhuma, nem sempre encontrando no médium a aceitação plena. Mas era a condição imposta por Elsie para o seu apoio.

Quando, enfim, os caminhos de Gasparetto e Elsie se separaram, o médium deu início a uma atuação pessoal e independente, de forma a imprimir sua própria marca junto à produção dos espíritos. Inteligente, tinha o seu olhar pessoal sobre as pessoas e o mundo. Foi um processo de libertação de um período em que se sentia oprimido por lhe ser negada a possibilidade de comportar-se e exprimir-se segundo o seu modo de ver, que desde cedo se opunha à tradição moral das práticas espíritas.

Daí em diante Gasparetto vai distanciar-se cada vez mais do movimento espírita e vai levar consigo toda a família. A mãe, que fundara e dirigia Associação Cristã de Cultura Espírita Os Caminheiros, localizada dentro de uma favela na cidade de São Paulo, cujo trabalho social teve grande repercussão pela amplitude, cedeu à influência do filho permitindo-lhe introduzir modificações grandes no funcionamento da obra, a ponto de descaracterizá-la completamente em relação ao espiritismo. Havia em Gasparetto a ideia infeliz de que a prática do bem, a solidariedade, que se resume em caridade verdadeira, não promove o ser humano, só atrapalha, porque torna as pessoas preguiçosas e sem mérito. Dizia que era preciso deixar que os necessitados se esforçassem, por conta própria, que pagassem pelos cursos, palestras e livros, para darem valor ao que recebiam. Somando-se isso às ideias pessoais de Gasparetto que já repercutiam na sociedade, o fato rendeu-lhe críticas acerbas nos meios espíritas, levando-o à decisão, bem como de sua mãe, de tornar público o seu afastamento do espiritismo. Era como se o rótulo de espírita trouxesse a Gasparetto e sua família um certo sentimento de vergonha constrangedora.

Gasparetto nutria forte discordância em relação à maneira como os espíritas, com base nos ensinamentos doutrinários, defendiam a prática mediúnica desinteressada monetariamente como base no ensino do “dai de graça o que de graça recebestes”, por entender que o médium deveria ter a liberdade de decidir em casos dessa ordem, não lhe sendo nada imoral receber pelas obras que produzia e aplicar os recursos recebidos a seu favor e como quisesse. De preferência vivendo uma vida abastada, porque isso resulta de seu mérito e do direito que tem de saborear o seu sucesso. Esse pensamento, que se estendeu à edição e venda dos livros de Zíbia, levou-o a fazer severas críticas a Chico Xavier, duramente desrespeitosas, não aceitando que este vivesse uma vida quase miserável enquanto seus livros psicografados vendiam aos milhares. Entendia que Chico deveria usufruir dos recursos financeiros que os livros produziam e viver ricamente. Foi o que Gasparetto fez com os recursos financeiros advindos da venda dos quadros que produzia mediunicamente, embora já tivesse uma vida pessoal e familiar suficientemente farta, filho que era da classe média alta.

Na ocasião em que essas opiniões de Gasparetto vieram a público em entrevista concedida a uma revista, externamos também nossa opinião contrária não simplesmente para defender Chico Xavier, mas especialmente em razão dos ensinos espíritas, expostos com muita clareza por Allan Kardec no Livro dos médiuns. A questão ética – e não simplesmente a moral e os costumes – é fundamental para o bom exercício da mediunidade. E a caridade, ou seja, a capacidade de ser solidário com a dor e as necessidades do outro é o caminho de formação do homem de bem. É dessa maneira que Kardec vê, ao definir o lema: “Fora da caridade não há salvação”.

O extraordinário médium tinha divergências mais amplas com o espiritismo, pois considerava-o produto de uma época sem o mesmo valor para os dias atuais, ou seja, via-o como doutrina ultrapassada, entendendo que os tempos atuais haviam introduzido uma outra maneira de viver, que a moral para ele rígida do espiritismo não permitia. Mas, assim como muitos que atribuíram ao espiritismo a pecha de doutrina ultrapassada, Gasparetto não logrou oferecer nenhum novo olhar filosófico que pudesse ser acrescentado, por mais que escrevesse e tivesse seus livros lidos por imensa quantidade de pessoas. Esses livros, considerados de autoajuda, compuseram o período mais superficial de sua vida, como a própria crítica especializada reconhece. Aqui e ali, os livros tentam interpretar este ou aquele princípio básico do espiritismo, sem, no entanto, conseguir superar a superficialidade de seu pensamento e menos ainda se aproximar da profundidade da obra de Kardec.

A verdade é que Gasparetto construiu sua trajetória de sucesso sem dispensar um só e único princípio básico do espiritismo; ao contrário, prosseguiu utilizando-os à sua maneira, segundo o seu jeito de interpretar pessoal e nada singular, mas tendo-os por válidos e até mesmo imprescindíveis. A imortalidade do espírito, suas relações com o mundo e os seres nele encarnados, as vidas sucessivas, a vida no mundo espiritual, etc., estavam no cerne de sua cultura pessoal e familiar. Sua contrariedade era firmada principalmente no que chamava de moral católica presente, segundo ele, na doutrina espírita, moral essa que lhe dificultava a liberdade de pensamento e comportamento, dentro daquilo que pretendia para sua vida em termos de expressão da sexualidade e da maneira de praticar a mediunidade. Dir-se-ia que o médium inigualável trocou a insegura segurança da prática mediúnica por uma carreira profissional em que ele, e não outrem, era o pensador e a fonte.

Desligar-se do espiritismo não era apenas uma forma de responder aos espíritas que criticavam aberta ou veladamente o comportamento, a moral e as opiniões de Gasparetto, especialmente quando ganhou projeção no rádio e na tv; era mais do que isso: a maneira de conquistar independência e autonomia para dizer ao mundo que para além do médium existia um homem capaz de pensar por si mesmo com propriedade e eficácia, inclusive contrariando o pensamento espírita dominante. A produção mediúnica, embora lhe trouxesse sucesso mundial, não era vista por ele como obra genuinamente sua, senão dos espíritos. Os louros que lhe atribuíam eram mais devidos à sua eficaz “passividade”, que aparentemente não resulta da inteligência, mas de uma certa subserviência à inteligência alheia. Para quem se sente capaz de pensar e criar com igual ou até melhor conteúdo, essa situação se torna, sem dúvida, um peso. Como aceitar que uma multidão de pessoas fique boquiaberta ante o fenômeno mediúnico, enquanto que ao lado existem excelentes ensinamentos que podem tornar mais livres e mais autônomos esses indivíduos ingênuos?

Dessa maneira, Gasparetto inclui-se entre os médiuns excepcionais, de capacidade reconhecida, mas que lutam diuturnamente para firmar a ideia de que não são meros objetos dos espíritos, mas espíritos iguais ou até melhores que aqueles que por eles se manifestam. E querem demonstrar isso, afinal, pensam e precisam dizer o que e como pensam, senão para diferenciá-los dos espíritos que os utilizam, também para deixar claro a personalidade carente, merecedora de distinção e da mesma respeitabilidade. Não querem parecer-se simplesmente insatisfeitos com os espíritos que o utilizam, mas acima de tudo estão contra os que não reconhecem sua inteligência e não são capazes, assim, de o colocarem no mesmo nível dos espíritos.

Quando do evento da separação da família Gasparetto do espiritismo, as lideranças doutrinárias preconceituosas respiraram, aliviadas, mas deveriam ter aproveitado a oportunidade para repensar os rumos dados à doutrina. Gasparetto lutava contra a falsidade dos julgamentos, a moral das aparências, o misticismo igrejeiro, não importa se desejoso de divulgar seu modo pessoal de interpretar tudo isso. Essa moral dos costumes que enoja e envergonha, porque se prende a julgamentos do comportamento alheio a partir de uma compreensão superficial da doutrina e de uma postura condenável de sentinelas da vida alheia. Não houve nenhum movimento conhecido nos meios espíritas para lidar com a situação, apesar de Gasparetto e sua mãe já terem dado mostras suficientes de sua dedicação à causa. Gasparetto foi julgado e condenado no silêncio dos corações frágeis e comprometidos com essa falsa moral. Ninguém moveu uma palha, não se escreveu uma única linha sequer de reconhecimento ao médium e da grande contribuição que dera à divulgação doutrinária. O movimento espírita foi silêncio tétrico, e nada mais. Como se dissesse, covardemente: que se vá o filho infiel e impuro!

Gasparetto parte do corpo físico reconhecendo erros em decisões tomadas, sem esclarecer quais. Viu uma estranha nuvem escura nas manchas de seus pulmões e disse para si mesmo que eram decorrentes do abrigo que dera a pensamentos ruins. Disse também não temer a morte, mantendo o ensinamento espírita da vida material breve sucedida pela imortalidade dinâmica. Mais viveria se pudesse e muitas outras coisas faria se lhe fossem dadas as condições ideais que ele mesmo negara ao seu corpo. O tempo escoou pelas frestas do destino.

Eu que o vi pintando com as mãos e os pés ao mesmo tempo, não consigo tirar da retina aquele momento fabuloso das telas saindo de seus poros manchados de cores e vida, como numa súplica do invisível para que os seres humanos percebessem que há muito mais coisas além dos sentidos físicos. Se aqueles quadros valiam algum dinheiro, a mensagem das inteligências por detrás delas continham um tesouro impagável: o convite à liberdade, à verdadeira liberdade que é pensar, decidir e agir. Se feriam o olhar extasiado do homem imaturo, eram mais do que isso, eram a senha para penetrar no mundo invisível e, ultrapassadas as sombras do portal, descobrir a grandeza da vida. Nem o ouro mais puro reluz tanto.


Wilson Garcia

21 junho 2019

Conceito de Arte na Visão Espírita - Ricardo Di Bernardi



CONCEITO DE ARTE NA VISÃO ESPÍRITA


Deus, ou o Amor Cósmico Universal Onipresente é a suprema perfeição e beleza, além do artista por excelência.

Através das Leis da Natureza, que são as Leis de Deus, foi artisticamente concebido o espírito humano.

Ao sermos criados recebemos, pelo toque divino, a semente da mais pura arte, que permanece latente em nosso inconsciente. Cumpre a cada um de nós criar as condições, no solo fértil do estudo, para desenvolver o embrião dos pendores artísticos.

A arte legítima é como a religiosidade, uma manifestação de nosso espírito na busca incessante de nossa origem, a busca do belo e da perfeição.

Acreditamos que a Educação Especializada seja importante para fertilizar o solo à semente da arte, porém, acima de tudo acreditamos que cada artista já traz em seu espírito, pelas experiências anteriores, um pendor inato que apenas desabrochará nas flores de suas realizações.

Há gênios da arte que jamais cursaram um ensino superior, mas suas múltiplas existências anteriores como artista geraram um potencial notável para a arte. Trazem no seu Espírito as vivências nesta área.

O artista, normalmente, é um inspirado. Vive mais na esfera espiritual do que na física. Capta as mensagens do mundo transcendental com facilidade e as materializa na sua obra.

O artista sente mais intensamente as recordações de seu passado, tanto desta vida como das anteriores.

Através da expansão de sua consciência efetua um mergulho nas águas profundas do inconsciente, trazendo inspirações para a superfície de sua consciência atual.

Projeta-se às vezes em sonho, fora do corpo físico e filtraas percepções artísticas que vão além do convencionalismo do mundo.

Lamentavelmente, existem talentos que, na preocupação excessiva da originalidade, tornam-se cortejadores da glória efêmera e se distanciam da arte legítima, nada mais conseguindo refletir do que a perturbação dos tempos que passamos. Fixam-se na futilidade do mundo e expressam na sua arte concepções extravagantes e doentias.

O verdadeiro artista também é capaz de perceber na natureza o livro divino onde Deus escreve a história de sua sabedoria. Sentir o acorde sonoro dos pássaros, a música dos ventos e da cachoeira, observar o desenho das flores, as mensagens plásticas ou cênicas das matas e oceanos, enfim expressar sensibilidade e amor em suas obras.


Dr. Ricardo Di Bernardi
Fonte: Intelítera