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25 agosto 2019

Colônias Espirituais: Análise Doutrinária - Ricardo dos Santos Malta



COLÔNIAS ESPIRITUAIS: ANÁLISE DOUTRINÁRIA


“O mundo dos Espíritos não é o reflexo do vosso; o vosso é que é uma imagem grosseira e muito imperfeita do reino além-túmulo”. (Revue Spirite, Maio de 1865).

Sabemos que as revelações espirituais devem passar pelo rigoroso método do Controle Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE), que encontra suas bases delimitadas na introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo. Por isso, todo e qualquer ensinamento/revelação que não preencha esse pré-requisito de admissibilidade, não poderá ser considerado parte integrante do Espiritismo.

Cumpre salientar que antes mesmo das obras psicografadas por Francisco Candido Xavier, já existiam outras relatando a existência das cidades espirituais, destacam-se: Além do véu (G. Vale Owen); Raymond: uma prova de sobrevivência da alma (Oliver Lodge); A vida no outro mundo (Caibar Shutel); A crise da morte (Ernesto Bozzano), entre outras.

Após André Luiz, vários Espíritos, por meio de grupos e médiuns distintos, surgiram para confirmar essa revelação.

Ao nosso entender, esses relatos (das colônias espirituais) fazem parte da universalidade do ensino dos Espíritos.

Mas, afinal, o que é uma colônia espiritual?

Seria uma região circunscrita semelhante ao céu teológico?

É o que iremos analisar adiante.

Ora, sabemos que não existem locais determinados e circunscritos no plano espiritual. Todavia, não há como negar que os Espíritos se reúnem por simpatia, isto é, que os desencarnados se agrupam na dimensão espiritual pela lei de afinidade. Por óbvio, essa reunião poderá moldar um ambiente de harmonia ou de perturbação, de acordo com o psiquismo dos seus habitantes.

Pode-se afirmar com segurança que no “mundo dos Espíritos também há uma sociedade boa e uma sociedade má; dignem-se, os que daquele modo se pronunciam, de estudar o que se passa entre os Espíritos de escol e se convencerão de que a cidade celeste não contém apenas a escória popular” (O Livro dos Espíritos. Introdução. Item X).

Uma Colônia espiritual nada mais é do que uma cidade fluídica, criada pelo próprio psiquismo dos Espíritos, que se reúnem em grupos, por afinidade, constituindo “um mundo do qual o vosso dá uma vaga idéia” (LE. Q. 278), ou, nas palavras do ilustre Leon Denis: “Espíritos similares se agrupam e constituem verdadeiras sociedades do invisível.” 

Neste sentido, elucida o psicólogo Adenáuer Novaes:

Através da manipulação dos fluidos, os espíritos constroem suas moradas e se organizam de acordo com sua evolução espiritual. Cidades, colônias, organizações diversas são construídas pela utilização e manipulação do Fluido Cósmico Universal. Quanto mais evoluído o espírito, mais capacidade o tem de utilizar-se dos diferentes tipos de fluidos. É pelos fluidos e suas modificações que se estruturam as cidades astrais.

O Fluido Cósmico Universal (FCU) é “a matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza” (A Gênese. Cap. XIV, Item. 2). O FCU constitui a chave para a explicação de inúmeros fenômenos e também o da criação das colônias espirituais.

Dentro da relatividade de tudo, esses fluidos têm para os Espíritos, que também são fluídicos, uma aparência tão material, quanto a dos objetos tangíveis para os encarnados e são, para eles, o que são para nós as substâncias do mundo terrestre (GE. Cap. XIV, Item. 3).

Os fluidos são uma espécie de matéria prima que os Espíritos manipulam para criar determinados efeitos. Obviamente que, quanto mais evoluído for o Espírito, maior será a sua capacidade de manipular os fluidos conscientemente. Em A Gênese, encontramos maiores explicações desse verdadeiro laboratório da vida espiritual: Os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não os manipulando como os homens manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a vontade. Para os espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas leis. É a grande oficina ou laboratório da vida espiritual. (GE. Cap. XIV, Item 14).

A Doutrina não poderia ser mais clara. Os Espíritos podem, pelo pensamento, “concentrar à sua vontade esses elementos e dar-lhes a forma aparente que corresponda à dos Objetos materiais” (LM. Cap. VIII). Ou seja, nada impede que os Espíritos, reunidos em grupos afins, criem formas e ambientes que constituam verdadeiras sociedades do invisível.

O certo é que tais essências, tais fluidos, são tão reais, tão concretos para os desencarnados como os elementos do mundo em que vivemos o são para nós. Unicamente, os desencarnados construirão, no mundo espiritual, de maneira bem diversa daquela que empregamos na terra.

A força motora dos seus pensamentos poderosamente associados e disciplinados, irradiando energias cuja natureza o homem ainda poderá conhecer, agirá sobre os fluidos e essências e edificará o que antes fora delineado e desejado.

“Algumas vezes, essas transformações resultam de uma intenção; doutras, são produto de um pensamento inconsciente” (GE; Cap. XIV, Item 14). Desse modo, as criações podem ser subdivididas em duas categorias: conscientes e inconscientes.

Observe-se:

a) Criações conscientes: Quando os Espíritos, através do pensamento, imprimem aos fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas leis, não estão eles exercendo uma vontade consciente?

A resposta só pode ser positiva. As cidades espirituais são, pois, criações intencionais. Por óbvio, não podem ser tão instáveis como as criações inconscientes.

b) Criações inconscientes: os Espíritos podem, inconscientemente, criar imagens fluídicas como se fossem fotografias do pensamento. É assim que eles se apresentam portando determinado objeto ou exibindo certa característica física. Pelo fato de não ser o produto de uma intenção, essas criações são tão fugitivas quanto sua causa de origem, ou seja, desaparecendo o condicionamento mental inconsciente (causa) também desaparece o seu efeito.

Corrobora Ernesto Bozzano: (…) a paisagem astral se compõe de duas séries de objetivações do pensamento, bem distinta uma da outra. A primeira é permanente e imutável, por ser a objetivação do pensamento e da vontade de entidades espirituais muito elevadas, prepostas ao governo das esferas espirituais inferiores; a outra é, ao contrário, transitória e muito mutável; seria a objetivação do pensamento e da vontade de cada entidade desencarnada, criadora do seu próprio meio imediato.

Não devemos confundir as criações intencionais, elaboradas por psiquismos elevados, com aqueloutras que são meros efeitos de uma causa volúvel e involuntária. Os Espíritos de baixo escalão são incapazes de criações complexas, que são resultado de uma força intencional elevada. As sociedades do invisível são forjadas por Espíritos de escol para atender as necessidades evolutivas dos desencarnados que ainda se encontram condicionados ao ambiente material.

Sim, em geral, as descrições que recebemos do mundo espiritual são referentes aos agrupamentos de Espíritos condicionados à vida material. Falta-nos a percepção para compreender o que se passa nas esferas mais elevadas.

Ainda de acordo com Ernesto Bozzano, tudo está organizado com o fim de tornar mais fácil, aos recém-desencarnados, o período de transição da existência terrestre para a existência espiritual propriamente dita. Estamos falando de Espíritos condicionados psiquicamente ao ambiente material. É sabido que a natureza não dá saltos. Pelo exposto, conclui-se pela total coerência doutrinária das revelações que trazem em seu bojo os relatos das sociedades organizadas no mundo espiritual, devendo-se, contudo, analisar cada caso criteriosamente.

Desta forma, o presente estudo não tem por objetivo confirmar todas as obras psicografadas que tratam da temática, pelo contrário, reconhecemos que há muita mistificação e exageros anímicos nas prateleiras das livrarias espíritas.


Ricardo dos Santos Malta
Advogado. Pós Graduado em Direito Tributário. Estudioso e Pesquisador espírita.


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