SERENIDADE
A vida moderna, com os seus múltiplos e complexos mecanismos para uma existência com saúde, harmonia e rica de valores ético-morais e culturais, exige esforços quase sobre-humanos. Os vários processos que estimulam e realizam o crescimento interior impõem expressiva quota de disciplina e de serenidade.
A aplicação desses recursos exige uma bem planejada programação, a fim de poder-se atender a todos sem sobrecarga física, mental ou emocional, mantendo o ritmo do equilíbrio. Nem sempre, porém, se consegue esse roteiro aplicado nas atividades do dia a dia. E pode-se notar os resultados numa sociedade ansiosa, cansada, excitada e em contínua fuga da realidade, procurando soluções que não conseguem acalmar o ânimo nem manter o bem-estar.
A tecnologia voltada para facilitar as atividades também abre espaço para os prazeres e divertimentos que tomam muito tempo, tornando-se fugas psicológicas para uma autorrealização impossível. Como consequência imediata, o individualismo domina grande número de pessoas que se acomodam nos jogos e futilidades da comunicação virtual, não se aprofundando nos objetivos reais do existir.
A celeridade das comunicações facilita a multiplicação de compromissos e o seu elevado número desanima todos aqueles que desejam estar a par de tudo, participar de todos os eventos, ser notícia constante, brilhar nas telas dos aparelhos de divulgação. Ante a ocorrência sem interrupção, se vão instalando distúrbios emocionais, entre os quais se destaca a irritação, resultante do natural cansaço das atividades, entre as quais aquelas de somenos importância.
Esse nervosismo disfarçado com sorrisos televisivos e destituídos de real alegria desorganiza o emocional, e a serenidade indispensável a uma existência feliz desaparece. Discute-se por quase nada, vive-se armado como se os relacionamentos devessem ocorrer num campo de batalha, e o ego inquieto, inseguro, soma experiências malsucedidas, levando a transtornos de perturbação. Afinal, as conquistas da ciência e da tecnologia têm por fim o bem-estar do cidadão e a sua perfeita integração na coletividade.
Cada indivíduo deve esforçar-se para manter a calma em qualquer situação em que se veja colocado, extraindo, daquelas desafiadores e afligentes, os melhores proveitos para manter-se no clima da alegria de viver e de fomentar o progresso moral do mundo. Sem serenidade, tudo aquilo que se adquire perde o brilho e o significado, sendo indispensável o comportamento amparado numa filosofia otimista e coroado por uma crença religiosa confortadora e lógica, explicando o sentido da vida, que é amar.
Há uma ânsia perturbadora para se ter, possuir e brilhar. No entanto, é necessário ser sereno e amar para bem viver.
Divaldo Pereira Franco
Artigo publicado no jornal A Tarde,
coluna Opinião, em 27.6.2019.
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